— Vocês podiam ir para um quarto sabia? — Mike chamou nossa atenção e eu senti que morreria ali mesmo, eu não deveria ter dado aquele show, mas pelo menos agora eles vão acreditar mais nesse nosso "namoro".

Matt saiu do meio de minhas pernas e socou levemente o braço de Mike que sorria sem parar, como aquele sorriso era lindo, por Deus! Pessoas tão lindas assim deveriam ser proibidas.

— Eu sei que está com inveja! — Matt falou e Mike pôs sua mão em seu queixo.

— Sem dúvida! Eu gostaria de ter uma namorada como a Mel mesmo... — ele falou sério e novamente as minhas bochechas queimaram, a vergonha estava se tornando parte de mim.

Eu saí de cima daquele carro, a aula que eu queria matar já deveria ter acabado, e cada segundo ali estava sendo vergonhoso.

— Engraçado que antes de namorarmos você nunca reparou nela! — Matt provocou e eu senti que Mike estava vermelho, assim como eu.

Mike se aproximou de mim e enrolou os dedos em uma mecha de meu cabelo, eu estava confusa, ele estava tocando a namorada de seu melhor amigo na sua frente? Não que eu me importasse, mas eu estava com vergonha.

O loiro estava olhando em meus olhos, e novamente, eu perdi a consciência do mundo à minha volta, aquilo sempre acontecia quando ele me olhava, ainda mais de tão perto.

Porém, ele se afastou, tirou os dedos de meu cabelo e voltou sorrindo para Matt que também parecia se divertir com a cena, pelo menos ele não era ciumento.

— Você é um cara de sorte, ter uma namorada com esses olhos... E com essa boca... Não é fácil de se encontrar uma menina que tenha uma beleza tão harmônica e mesmo assim não seja uma arrogante! — ele elogiou divertido e Matt parecia segurar o riso, ele sabia o que eu estava pensando.

Matt no fundo estava certo, provavelmente eu nunca escutaria aquelas palavras da boca de Mike, caso nunca namorasse Matt, eu odiava admitir, mas ele era um gênio, um gênio do mal, mas um gênio.

Eu senti que deveria exercer o meu papel cada dia com mais empenho, pois quando terminássemos, eu poderia namorar Mike e eu teria finalmente, um namoro de verdade, com alguém que eu goste e não com alguém que eu odeio.

Sabia que tinha que fingir não estar derretida por aquelas palavras, então guardei a minha felicidade no bolso e sorri mostrando todos os dentes.

— Obrigada Mike, você é muito gentil. — respondi educada e Matt agora soltou o riso que tanto segurou.

Matt gargalhava alto e Mike e eu nos olhamos confusos, Matt era louco ou o quê? Eu olhei para o moreno que ainda sorria, eu queria socar a cara dele por aquele ataque ridículo.

— Com licença, eu vou beber água! — anunciei e Matt finalmente parou de rir.

— Mike? Porque não a acompanha... — Matt sugeriu e eu senti que iria explodir ali mesmo, aquilo estava sendo demais, ele estava praticamente oferecendo sua namorada à Mike.

— Claro! — ele respondeu e veio até mim, ficando do meu lado.

Mike era alguns centímetros menor que Matt, mas ainda era bem maior que eu, começamos a caminhar no mesmo ritmo, e eu estava me sentindo a tal, do lado meu príncipe encantado, aquilo parecia um sonho e eu tinha medo de acordar.

Depois de alguns anos observando o comportamento de Mike, eu já havia até percebido o jeito que ele caminhava, sempre calmo, ele dava passos lentos como se não tivesse calma, enquanto Matt caminhava rapidamente, sempre rapidamente, eles eram bem diferentes, Matt era bloqueador, enquanto Mike era levantador, posições diferentes em quadra.

Mike não era visto frequentemente com mulheres, enquanto Matt trocava de namorada como quem troca de roupa, Mike era um príncipe e Matt um cafajeste sem limites.

— Parece que chegamos... — Mike exclamou e eu despertei de meu transe.

O bebedouro estava bem à minha frente, eu então peguei um copo descartável e o enchi com água, Mike ainda tinha os olhos em mim e eu mal me movia, pois estar sob seu olhar era uma coisa nova para mim.

— Já terminou de beber água? — ele perguntou e eu assenti.

— Então vamos voltar? — ele perguntou novamente e eu neguei com a cabeça.

— Não... É... eu tenho que falar com a An... quer dizer... com a Vanessa! — respondi inventando uma desculpa qualquer para não ficar próxima daqueles meninos.

— Tudo bem, até a festa então. — ele disse e eu acenei com uma das mãos.

Caminhei pelo corredor até entrar na sala 12, eu teria aulas de Filosofia agora, com o meu professor preferido, o senhor Hedrick.

Sentei-me em minha carteira, eu amava Filosofia, mas me sentia cansada, cansada mentalmente, eu não queria, mas acabei lembrando-me do beijo que dei em Matt e ele retribuiu com prazer.

Eu tinha plena convicção de quem não sentia nada por ele, nada que fosse sentimental, porque desejos carnais... sim, eu sentia e muitos, eu não tinha culpa dele ser tão lindo assim, mas mesmo assim, não conseguia deixar de pensar no ogro que ele era, era o maldito clichê, rosto de anjo e alma de demônio.

— Senhorita Guire, pode explicar porque a modernidade é uma ilusão? — Hedrick perguntou e todos me olharam, eu não devia estar boiando tanto assim.

Foi aí que percebi que Cory estava na sala e provavelmente contaria da minha humilhação para os meus pais.

Por isso fui mais rápida e pus a minha cabeça para funcionar, meu plano era simples.

— Não estou me sentindo bem, vou ao banheiro, com licença! — anunciei e saí da sala.

Corri em direção ao estacionamento, dessa vez vazio e entrei em meu carro, em seguida peguei o meu celular e mandei uma mensagem para Cory.

Para: Irmão Babaca
Arrume carona, estou indo embora, me sinto mal, cólicas...
Beijos e boa aula!

Digitei a mensagem com rapidez e enviei, segundos depois recebi a resposta.

De: Irmão Babaca
Espero que não esteja matando aula para dar uns amassos no Hamilton!
Beijocas e bons amassos, quer dizer, bom descanso.

Taquei o celular com força no banco de trás, o meu irmão ás vezes passa dos limites, até parece que eu seria capaz de fazer uma coisa dessas!

Encostei a minha cabeça no volante de meu carro e respirei fundo, mas fui interrompida por batidas no vidro, ainda surpresa e com os olhos arregalados, abri o vidro e logo reconheci um par de olhos azuis me fitando, o idiota estava ali.

Revirei os olhos e soquei o volante, eu estava irritada e não iria aguentar as suas piadinhas sobre o nosso beijo, então logo mudei a minha expressão.

Mas para a minha grande e total surpresa, ele não estava com seu habitual sorriso malicioso, ele parecia sério, isso era tão raro que senti estar em um sonho.

— Melanie, vista isso na festa da Angela hoje. — ele disse me entregando uma bolsa de uma conhecida loja da cidade.

Eu estava no mínimo pasma, ele havia gastado o seu dinheiro comigo? Isso só podia ser brincadeira, uma brincadeira de mau gosto.

Desconfiada, logo abri a bolsa e fiquei pasma com o que tinha dentro, era um vestido curto e preto com paetes, ele parecia ser colado e era lindo, eu senti vontade de agradecer, mas sabia que ele era meu inimigo e inimigos não agradecem.

— Por que acha que vou usar isso? — perguntei irônica e agora sim, seu sorriso malicioso estava estampado em seu rosto.

— Porque quer me agradar? Além dele ser bem fácil de tirar! — ele respondeu com a mesma ironia que utilizei com ele e logo eu levantei meu conhecido dedo do meio.

Ele riu e eu revirei os olhos, sempre tão idiota!

— E quem andou te iludindo de que você pode tirá-lo? — perguntei ainda irônica e dessa vez ele se aproximou de mim, abaixando a cabeça, nós estávamos novamente próximos demais.

— Você mesma gatinha. — ele falou e encostou seus lábios nos meus, devagar.

Eu me afastei no mesmo momento e ele riu, sempre debochado.

— Então eu disse certo, eu te iludi, não confunda ilusões com realidades! — respondi finalmente fechando o vidro de meu carro.

Dei a partida no carro sem mais nem menos, liguei o som e tocava uma música antiga da Katy Perry, aumentei o som e acelerei com vontade.

Menos de dez minutos depois estava em casa, a única vantagem de sair cedo, seria que eu teria bastante tempo para me arrumar para a maldita festa.

Saí do carro e corri para dentro de minha casa, fui logo subindo as escadas e guardando as minhas bolsas em meu quarto, em seguida corri para o banheiro, onde tomei um demorado banho.

A água hoje não era reconfortante, pelo contrário, parecia uma agonia, ser uma pessoa ansiosa torna as coisas mais difíceis, por exemplo uma festa, eu sabia que eu tinha grandes chances de desistir no último momento.

Quando finalmente terminei meu banho, me enrolei em minha toalha e liguei o aquecedor, eu estava sentindo muito frio.

Meus cabelos pingavam água, então logo depois que vesti uma roupa aleatória, os sequei com o secador e eles perderam todas as suas ondas, meu cabelo agora estava liso.

Me olhei no espelho, eu parecia ridícula dessa forma, meus cabelos eram longos, mas lisos eram maiores ainda, senti vontade de cortá-los, mas não o fiz.

Meus olhos pareciam sonolentos como sempre, mas hoje pareciam ter um brilho especial que eu não entendi, apenas saí da frente do espelho depois de segundos me olhando.

Tirei o vestido da bolsa e foi aí que percebi que ele possuía uma enorme fenda nas costas, minhas costas ficariam à mostra caso eu o usasse, e ele era bem curto, o que deixaria as minhas enormes pernas à mostra também, Matt com certeza havia feito aquilo de propósito.

Prendi meus agora alisados cabelos, em um coque, então experimentei o vestido, para o meu azar/minha sorte, ele havia ficado incrível em mim, parecia ter sido feito sob medida, o único problema foi o meu bumbum que ficou ainda maior, aquilo sempre me incomodava, mas eu tentei não reparar nisso.

Olhei para o relógio, faltavam cerca de trinta minutos para o início da festa, o tempo estava passando rápido demais e eu não estava pronta, comecei a ficar ainda mais ansiosa, e se eu não ficasse pronta a tempo?

Ainda com o vestido no corpo, peguei toda a maquiagem que tinha e deixei em cima de minha cama, comecei com o pó, espalhando pelo meu rosto, em seguida passei lápis de olho preto e sombra da mesma cor, finalizei meus olhos com rímel, apliquei um batom vermelho quase vinho e apliquei uma pequena quantidade de blush pêssego em minhas bochechas.

Soltei meus cabelos do coque e agora eles tinham pequenas ondas nas pontas, o que me agradou bastante, calcei meus saltos altíssimos pretos e passei uma boa quantidade de perfume, eu estava bonita depois de tudo aquilo.

Meus olhos verdes estavam se destacando bastante e minha boca tinha um desenho bonito, sem contar o vestido que me deixava com a silhueta bonita.

Quando já estava na porta, avistei Cory e meus pais entrando em caso ao mesmo tempo, eu sabia que meus pais estranhariam a minha roupa e claro, eu estar indo à uma festa, já que em meus dezoito anos, eu nunca fui á nenhuma.

— Onde a mocinha vai? — minha mãe perguntou e eu suspirei.

— Vou em uma festa. — respondi. — Com o Matt. — completei.

Um sorriso se iluminou no rosto de minha mãe, meu pai não disse nada, apenas me olhou com um olhar gélido e terminou de entrar em casa.

o Cory sorriu de sua forma idiota e também entrou, eu terminei de sair de casa, para a minha sorte total, eu não vi Matt e segui para a garagem.

Entrei em meu carro e dei a partida, eu conhecia bem o caminho para a casa de Angela, já havia estado lá umas quinhentas vezes.

Logo eu avistei a casa, que era verde claro e gigantesca, duas vezes maior que a minha que já era grande, ela estava completamente iluminada, parecia até uma casa de shows.

Estacionei meu carro em uma vaga que foi um achado para mim, e em seguida saí andando com dificuldade por estar com um salto daquele tamanho.

O local já estava cheio, quase todos os populares que eu conhecia estavam ali, e Angela deu o ar da graça, ela vestia um vestido azul claro que era rodado e com mangas longas, assim como o meu, e seus cabelos estavam presos e eles tinham um topete, ela estava deslumbrante.

— Você veio! — ela exclamou percebendo a minha presença e eu sorri.

— É eu vim! — respondi cabisbaixa, sabia que aquela festa seria cansativa.