Acho incrível como algumas coisas mudam e outras nem tanto, eu já havia levado tantos tapas que minha boca sangrava e o gosto do sangue não era agradável, pelo contrário, eu sentia vontade de desmaiar, mas me mantinha de pé, não iria cair no chão, elas poderiam me bater até que eu desmaiasse, mas enquanto eu tivesse consciência, eu continuaria de pé.

— Vai ser tão interessante, deixar o seu rosto marcado, assim o Matt vai terminar com você, porque ele odeia pessoas mal cuidadas... — Katherine exclamou enquanto se preparava para mais um tapa.

A sua mão estava bem próxima do meu rosto, quando a porta do banheiro se abriu, revelando uma conhecida figura, de cabelos lisos japoneses e uma bolsa da Louis Vuitton azul, ela pareceu chocada com a cena e logo veio me amparar.

Não pude deixar de me lembrar do que aconteceu alguns anos atrás e que me traz tormentos até hoje, naquele dia, eu sofria de algo parecido, mas ao invés de me defender como estava fazendo agora, ela ficou apenas parada, observando a meu pesadelo passar bem na frente dos meus olhos, e eu nunca esqueceria daquilo.

Angela agiu com rapidez, me soltando dos braços de Sidney e Molly, que me seguravam contra a parede, ela me puxou e logo eu estava solta, suspirei aliviada, mas ao mesmo tempo me sentia mal, porque depois dessa eu deveria algo à Angela e isso era o que eu menos queria no momento.

— Vocês são uns monstros! Aceite que perdeu e se recolha à sua inferioridade Katherine, não ache que ficará impune, está desconvidada da minha festa, aliás, todas estão, se aparecerem por lá, darão de cara com os meus pittbuls! — Angela falou e pegou em minha mão, eu resisti no começo, mas logo cedi.

Eu não disse nada, eu me vingaria de Katherine algum dia, e ela se arrependeria por isso, mas por enquanto, eu sabia que devia uma para Angela e eu tinha medo de suas exigências.

— Não acabou ainda Melanie! — gritou Katherine enquanto bufava de raiva ao lado de sua gangue.

Não respondi, apenas lhe lancei um olhar que a fez olhar para o chão, eu sabia exatamente como ferrar com a vida dela, sabia que o ponto fraco dela era Matt e eu poderia usar e abusar disso contra ela.

Assim que estávamos fora do banheiro, Angela me olhou com uma aparente compaixão, em seguida sorriu e abriu a sua bolsa, molhei um paninho em um líquido que não conheci e limpou o sangue de minha boca.

— Você está bem? — ela perguntou parecendo realmente preocupada.

Mas eu não cederia, não seria amiga dela novamente, não era isso que eu queria, ela pertencia à uma turma e eu à outra, as coisas deveriam ficar daquela forma e pronto.

— Estou bem, muito obrigada, sei que te devo uma. — respondi séria, eu ainda estava um pouco abatida pelos tapas que levei.

— E eu sei como vai pagar. — ela respondeu risonha e eu revirei os olhos.

Esse é o problema de Angela, ela nunca fazia nada de graça, você sempre tinha que dar algo em troca e esse "algo" ás vezes era demais.

— Ah meu Deus Angela! Não quero participar dos seus joguinhos! — falei em alto e bom tom e ela soltou um sorriso, o seu típico sorriso maquiavélico.

— Não vai participar de um joguinho, mas participará de uma festinha, a minha festinha, é hoje e eu EXIJO que você vá, se não for, ficarei mega chateada com você. — ela afirmou e eu suspirei.

Parecia que eu deveria mesmo ir à aquela festa, Matt já estava tentando me obrigar e agora eu precisava pagar a minha dívida com Angela, eu iria pagar, mas antes botaria um pouco de lenha na fogueira.

— Eu vou, mas a Vanessa vai comigo. — respondi e ela pareceu chocada.

— A Vanessa não pode ir, ela é uma perdedora e perdedores não entram na casa dos Ventura. — ela falou ainda sorrindo e eu revirei os olhos, como pode sua melhor amiga se transformar em um monstro?

— Se ela não for, eu não vou. — falei decidida e dessa vez, ela revirou os olhos escuros.

— Tudo bem, leva sua poodle, mas mantenha ela longe do meu quarto ok? — Angela pediu e eu concordei e me afastei.

Comecei a caminhar à procura de Vanessa, ela ficaria muito feliz por saber que iria para uma festa de Angela, ela sempre havia tido vontade, mas nunca fora convidada.

Finalmente a encontrei e ela estava encostada em uma pilastra, enquanto conversava com Selena, uma colega nossa de turma.

Me aproximei devagar e ela sorriu para mim, seus cabelos ainda estavam perfeitamente alinhados e ela parecia radiante.

— Vanessa, Selena! — cumprimentei as duas.

— Oi Mel, tudo bem? Quero te parabenizar pois é a primeira que o Matt assume, tá com moral hein! — Selena brincou e eu senti que estava vermelha como um tomate.

Foi aí que percebi que estava sem batom agora, devido ao ferimento em minha boca, sorte a minha que ele foi bem pequeno.

— É... Obrigada... Eu acho. — respondi sem graça. — Vanessa, podemos conversar?

Vanessa se despediu de Selena e logo estávamos caminhando pelo corredor da escola, ela parecia curiosa e preocupada ao mesmo tempo, os sentimentos pareciam se misturar.

— O que aconteceu Mel? — ela perguntou confusa. — Você parece abatida.

— Impressão a sua, estou ótima, e adivinha? Você está convidada para a festa da Angela! — respondi e um sorriso se iluminou no rosto da morena.

— Sério? — ela perguntou e eu confirmei.

— Seríssimo! — falei animada.

Nós estávamos ao lado do ginásio, quando avistei Katherine vindo em minha direção, eu senti calafrios no meu corpo, não estava pronta para enfrentá-la, não ainda.

Mas alguém colocou o pé em sua frente, e a loira que se requebrava toda, caiu no chão, se espatifando feio, não pude conter o riso e gargalhei alto.

Logo pude ver Angela acenando para mim com um sorrisinho no rosto, Vanessa parecia estar fora do nosso mundo quando viu aquilo.

— Rixa entre populares? — ela perguntou e eu não respondi.

Angela veio correndo até nós e sorriu para Vanessa que ainda tinha medo dela.

— Cola comigo que você nunca terá problemas, Melzinha. — Angela afirmou e eu continuei de cabeça baixa, não queria responder nada daquilo, estava confusa.

— Você é louca Angela! — exclamei e puxei Vanessa, me afastando.

Já estávamos longe quando Vanessa se soltou de mim, ela parecia brava de alguma forma.

— De repente virou amiguinha da Angela? — ela perguntou enfurecida e eu revirei os olhos, por Deus, uma ceninha de ciúmes não né.

— Não quero falar sobre isso. — respondi ríspida.

— Tá bom então, populares são perigosos, você sabe. — ela afirmou e eu concordei.

Eu sei que populares são perigosos, eu aprendi isso da pior forma possível.

Vanessa foi para a aula, e eu continuei no corredor, eu mataria aquela aula de qualquer jeito, então corri para o estacionamento, para o meu azar Matt e sua tropa estavam lá.

Eu já ia voltando, quando o otário percebeu, logo deu um jeito de chamar minha atenção, eu senti vontade de sumir naquele momento, o meu dia estava sendo difícil.

— Amor! Vem cá! — ele gritou e novamente eu senti vontade de enfiar a minha cabeça em um buraco.

Mike estava ali e estava assistindo tudo aquilo, toda aquela vergonha.

Eu resolvi me aproximar devagar, sorri para todos e fiquei bem na frente de Matt que sorria malicioso, logo ele me pegou no colo e me pôs em cima de um carro que estava no estacionamento, eu queria mais que tudo não estar ali, mas conhecia o meu papel, então não reclamei quando ele afastou meus cabelos de meu pescoço e depositou ali um beijinho, um beijinho que arrepiou cada pêlo de meu corpo.

Suas mãos estavam em minhas coxas que eram grossas e eu senti o quanto ele estava me desejando, e ainda na frente de seus amigos, era nítido que eu causava algum efeito nele, e eu tinha que admitir que ele causava algum em mim também.

Em um rápido movimento, ele colou nossos lábios, mas aquilo não foi um beijo de verdade, aquele sim estava sendo técnico, nós mexíamos nossas cabeças de um lado para o outro, mas não estávamos nos beijando de verdade, porém suas mãos se afundaram em minha coxa e eu me senti quente, então subitamente enfiei minha língua em sua boca, começando um beijo de verdade que ele teve prazer em retribuir, no momento eu não me reprimia, eu era a sua namorada e quanto mais eu tornasse as coisas reais, mais as pessoas acreditariam na nossa pequena "mentirinha".

Nós ainda nos beijávamos, minhas mãos o puxavam pelo seu cabelo para mim, suas mãos agora estavam em meus quadris e eu sentia nossos desejos aumentarem a cada beijo, finalmente tomei consciência do showzinho que dava e me afastei, completamente corada.

— Você fica linda quando cora. — ele elogiou e eu corei ainda mais.

— Obrigada, eu acho. — agradeci ainda confusa e tonta por todas aquelas sensações confusas.