Olho para o quarto e não vejo mais as coisinha de bebê. Ele está do jeito que encontrei pela primeira vez. No canto da parede tem um monte de mala, minha e da Rafa, ela está ali no canto guardando alguns de seus brinquedinhos na mala de mão, é de partir o coração ver o tanto que ela está tristinha.
– Filha... vem aqui. - sento ela na cama e fico de joelhos olhando pra ela
– O que foi mamãe? - Ela diz fraquinho
– Filha, não fica triste. Você vai gostar muito de Chicago. Você vai poder brincar com seu priminho, vai poder fazer um monte de amiguinhos quando entrar na escolinha... E no seu aniversário eu vou fazer uma festa bem bonita pra você! - ela dá um sorrisinho forçado e seus olhinhos enchem de água
– O tio Eric vai poder ir pla festa mamãe? - Me parte o coração vê-la nesse estado. Dou um abraço bem apertado nela e acabo derramando algumas lágrimas
– Quem sabe filha, a gente pode chamar ele.
– Tá bom- Ela limpa minhas lágrimas- não chola mamãe.
– Não chora filhinha- limpo as dela.
Terminamos de arrumar as coisas e fomos para o aeroporto, Eric estava com a gente e não desgrudou nenhum momento da Rafa, ela também não quis saber mais de ninguém, só do Eric. Nosso voo teve meia hora de atraso e então anunciaram que tínhamos que embarcar
Levantei e fui até ela e o Eric que estavam olhando uma vitrine

– Vamos rafa? - Eric pegou ela no colo e a abraçou bem forte, seus olhos marejavam
– Não chora não princesa, eu prometo que a gente ainda vai se ver de novo. Ta bom?
– Ta bom - ele coloca ela no chão e ela corre até a Chris.
Não consigo conter as lágrimas, Caio no choro também e abraço ele
– Ai Eric. Isso é tão difícil.
– Eu sei, também vai ser muito difícil pra mim perder vocês duas. Mas isso não é um adeus Tris- ele se solta do abraço e me beija.
Pego minhas coisas e vou de encontro com as meninas, pego a Rafinha no colo que está aos prantos e antes de entrar no avião olho para trás e vejo Eric todo vermelho, ele dá um tchauzinho e joga um beijo, eu e a Rafa retribuimos.
O vôo não foi muito longo, já eram 7 da noite quando chegamos em Chicago, meus pais não sabem que venho hoje, quis fazer surpresa
Cada uma foi pra sua casa, e eu fui pra minha casa com minha filha e com minha mãe postiça, o táxi deixou a gente lá.
– Olha Rafa, aqui vai ser nossa nova casa até a mamãe conseguir um emprego e comprar uma pra gente.
– É bonita mamãe- Ela da um sorrisinho.
Descemos do carro e pegamos nossas malas
– Quer tocar a campainha filha?
– Sim! - ela toca com o dedinho na campainha, suas unhas estão pintadinhas com um rosa clarinho, obra das meninas. Não demora muito e meu pai atende a porta, fica paralisado quando vê a gente
– Be... Beatrice! Porque não avisou que vinham? Meu Deus. Como você está linda minha netinha, como cresceu! - ele pega a Rafa no colo que me olha com os olhos arregalados - Entra gente!
– Minha filha! - Minha mãe corre e nos abraçamos - Quanto tempo! Porque não me ligou dizendo que vinha? Que saudade, como está linda...
– Quis fazer surpresa!
– E você minha princesa, como cresceu... Está tão linda como sua mãe!
– Bligada.
Ficamos matando saudade na sala e depois subi pro meu quarto com nossas coisas, deixei a Rafa com meu pai que está todo bobo.
☆☆☆
– Mamãe! Que bonito o xeu quartinho!
– Você gostou filha? Agora ele também é seu.
– Vamos dumi juntinhas de novo!
– Você gostou daqui?
– Sim mamãe. Vou te ajudar arruma as coisas.
– Tá bom.
Colocamos as coisas no lugar mas nem tudo coube na cômoda e no closet. Deixei a Rafa no quarto assistindo desenho e fui tomar um banho, isso aqui me dá uma saudade de tudo, nada mudou está tudo do jeitinho que deixei quando sai. Terminei o banho e fui trocar de roupa
– O que é isso mamãe? - ela me entrega uma caixinha vermelha.
– Deixa eu ver... - Abro a caixinha e me deparo com duas alianças, era a minha aliança de compromisso, minha e do pai dela... A que ele praticamente jogou na minha cara- Onde achou isso Rafaella?
– Tava aqui em baixo do tlavisselo.
– Ah. É só dois anéis filha, não é nada de mais- digo sorrindo - Vou trocar de roupa pra gente dormir- vou até o closet e desabo, coisa que eu queria fazer desde que cheguei aqui, mas preciso ser forte, minha filha precisa que eu seja forte. Guardei aquelas alianças na gaveta de calcinhas, ninguém vai achar. Voltei pra cama e me deitei com a Rafa.
☆☆☆
Olho para o relógio, 3:40 da amanhã e ainda não preguei os olhos. Conferi se a Rafinha estava dormindo e desci, fui a cozinha tomar um calmante e uma água
– Sem sono minha filha?
– Que susto pai! - dou um sorriso- acordado à essa hora?
– Pois é. Não consigo dormir quando estou preocupado.
– Acho que te puxei então...E o que te preocupa meu pai?
– Você e a minha neta... Não sei porque.
– Fica tranquilo pai, nós temos uma a outra, estamos bem.
– Eu não queria ter que perguntar isso mas... minha filha o pai dela sabe que ela existe? - me sento na bancada e ele se senta na minha frente
– Sim pai. Ele sabe- sinto um nó na garganta e meu pai aperta minhas mãos
– E aquele safado nunca foi atrás dela ?
– Não... Não foi pai. O que mais me chateia é saber que ele sabe da existência dela e finge que não sabe, ainda por cima tem a cara de pau de duvidar que seja dele- engulo o choro- Mas eu sou forte pai, criei minha filha sem ele e é isso que eu vou fazer daqui pra frente.
– Se eu acho esse desgraçado na rua... Eu mato ele!
– Não pai, esquece ele. Eu vou indo, Boa noite- dou um beijo em seu rosto- Fica tranquilo pai, te amo.
– Também te amo querida... Estou aqui para o que precisar.
Subo para o quarto e me deito. Deixo de lado meus devaneios e o esqueço por um momento. Ligo o abajur e vejo minha linda filha com a cabeça sobre as mãos, dormindo como um anjo e automaticamente lembro dele de novo, é incrível como se parecem tanto, até o gênio dela é dele. Fecho os olhos e tento não pensar, mas não consigo, é impossível esquecer tudo que ele fez e deixou de fazer... Tudo o que ele falou.