Falling in Love escrita por Luna Lovegood


Capítulo 22
Fall apart when it hurts too much


Notas iniciais do capítulo

Hey galerinha!

Como sabem esse é o último capítulo da história, mas não é o final definitivo, ainda teremos o epílogo com algumas surpresas o.O e passagem de tempo. Estou ansiosa pela reação de vocês, confesso que de todos os capítulos o epílogo é um dos que mais gosto ;). Já vou começar a me despedir aqui! Ninguém é obrigado a ler as notas iniciais (ainda mais tão grandes assim), mas eu ficaria muito feliz se dedicassem um tempo para ouvir o que eu tenho a dizer.

Eu quero deixar aqui toda a minha gratidão à cada um de vocês, leitores que sempre estiveram presentes, me dando apoio, favoritando, recomendando e/ou deixando os seus comentários fofos e surtados, ou ainda que tenha sido um rápido “amei”, ainda assim eu agradeço! Aos fantasminhas... Espero que tenham gostado dessa história, mesmo não aparecendo por aqui fico contente que tantas pessoas tenham acompanhado! Quero que saibam que, escrever é algo que faço porque amo, porque não sei viver sem contar todas as histórias presas dentro de mim, e que compartilhá-las com vocês e receber um carinho sempre tão grande em retorno é algo incrível e prazeroso para uma escritora!

Eu sei que no momento eu tenho varias fanfics ativas, mas FiL é especial, conquistou o seu lugar no meu coração. É a segunda história longa que termino desde “Loving can hurt sometimes” que sempre será meu eterno bebê! Confesso que a experiência foi diferente aqui, embora igualmente recompensadora. Eu pude explorar outros lados da minha escrita, e acho que melhorei um pouquinho também! =D

Eu gosto de pensar que o dever de um escritor, não é escrever um grande best-seller cheio de aventuras e grandes reviravoltas, embora isso empolgue, eu acho que o mais importante em uma história é que ela seja capaz de tocar os corações daqueles que a leram, de mudar suas mentes, de fazê-los SENTIR, alguma coisa, qualquer coisa, sentir tudo. Eu espero que FiL tenha tocado o coração de vocês em algum momento, que essa história tenha sido capaz de transmitir a vocês sentimentos e emoções. Que a leitura tenha colocado um sorriso em seus lábios ou trazido lágrimas em seus olhos. Se isso tiver acontecido, eu fico feliz, pois cumpri o meu dever.

Foi uma longa caminhada, contar com o carinho de vocês até aqui tornou tudo mais prazeroso. Então obrigada! Por fim, quero repetir as palavras de alguém que muito admiro: “Nenhuma história vive a menos que alguém queira ouvi-la” Obrigada por darem vida a Falling in Love! Vejo vocês nas próximas histórias!

Ps.: Escutem a música, é muito perfeita para esse capítulo! https://www.youtube.com/watch?v=ZtgxwkIhH5M



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When will I feel this

As vivid as it truly is

Fall in love in a single touch

And fall apart when it hurts too much?

 

Can we skip past near-death clichés

Where my heart restarts, as my life replays?

All I want is to flip a switch

Before something breaks that cannot be fixed

 

I know, I know, the sirens sound

Just before the walls come down                             

Pain is a well-intentioned weatherman

Predicting God as best he can

But God I want to feel again

 (Touch - Sleeping at last)

 

Oliver Queen

Tempo.

Ele costuma passar lentamente quando você está desesperado, a agonia se prolonga, o não saber vai te consumindo aos poucos,  e você tenta se manter firme, mas tudo o que consegue é desabar diante da percepção do quão incapaz de mudar a realidade você é. Eu estava sentado naquela sala de espera ainda olhando para o relógio de parede, os ponteiros se moviam tão vagarosamente que eu me perguntava se o universo estava brincando comigo, fazendo as horas irem ainda mais devagar apenas para me punir. Não era possível que só houvessem passado quinze minutos desde que eu cheguei ao hospital! Eu sentia que estava aqui há horas. Cada instante sem saber como Felicity ou John estavam, eram como horas em meu próprio inferno pessoal.

Eu repeti inúmeras vezes  aquele dia em minha cabeça, pensando em como eu poderia tê-lo mudado, quais foram as minhas ações que culminaram nesse final trágico. Eu ainda conseguia escutar o som da bomba explodindo, o barulho das sirenes das ambulâncias reverberando em meus ouvidos. Eu ainda sentia o desespero correr em minhas veias ao ver meu melhor amigo ser colocado em uma maca, inconsciente enquanto os médicos diziam coisas incompreensivas, mas que deixavam claro que o estado dele era grave.

E havia Felicity.

Coloquei as mãos sobre o meu rosto, e curvei as costas para frente numa postura derrotada. Eu me sentia miserável, meu coração estava pesado, carregado de  culpa e dor. Lágrimas desciam descontroladamente pelo meu rosto ao pensar no que ela estava passando. Isso estava me matando, pensar na dor dela, no desespero dela. Felicity não merecia passar por isso, ela era, entre todos nós a mais inocente, mas que de alguma forma estava sempre pagando pelos erros de outras pessoas.

Eu mantive Felicity em meus braços sem saber exatamente o que fazer, ou como agir naquela situação tão delicada, nós estávamos perdendo o nosso bebê e eu não era capaz de fazer nada para impedir. O sentimento de impotência nunca foi tão latente quanto naquele momento. Tudo o que eu podia fazer era mantê-la segura em meus braços e foi o que fiz, até o momento em que os paramédicos me obrigaram a solta-la, e então eu segurei a mão dela entrelaçada na minha enquanto seguíamos para o hospital. Ela não falou nada, nem precisava, seu silêncio gritava desespero, e cada lágrima que ela derramava era puramente feita de dor e medo. Eu tentava a confortar com meu aperto firme em suas mãos, com meus beijos suaves e minhas palavras de que tudo ficaria bem. Mas não acho que ela acreditava em minhas palavras, quando eu as dizia não parecia com uma afirmação que lhe passasse segurança, mas sim soavam como pedidos desesperados.

Eu gostaria de ter soado mais confiante, eu gostaria de ter lhe dado certezas, mas naquele momento eu me sentia ainda mais aterrorizado do que ela.

Eu não podia fazer mais nada. Eu estava completamente impotente diante daquela situação. E o pior, eu havia causado aquela situação. Eu coloquei John  nisso, eu o arrastei para os meus problemas em minha tentativa de consertar todos os meus erros, e o que eu realmente consegui? Apenas cometer novos, com consequências muito piores.

E agora por minha culpa, talvez Lyla perdesse o marido e a filha deles crescesse sem um pai.

Por minha culpa, talvez eu mesmo não chegasse a ser pai. Aquela afirmação me atingiu como um soco na boca do meu estômago. Tudo dentro em mim se revirava, todo o meu ser se negava a confrontar aquela possibilidade. Mas apesar de terrível, ainda assim era uma possibilidade.

Quando chegamos aqui os médicos levaram Felicity imediatamente para a emergência, e sequer me deixaram ir com ela. Eu  não recebia notícias, eu só podia supor que pela expressão em seus rostos a situação era muito ruim.

E se eu nunca tivesse deixado Felicity sozinha essa noite? E se eu não tivesse sido o bastardo egoísta que ficou com ela mesmo sabendo que isso a colocaria em perigo? E se tivéssemos fugindo? Ou talvez se eu não tivesse indo atrás dela, talvez se eu não tivesse lutado tanto por esse amor, talvez as coisas  fossem diferentes, talvez...

E se...? Talvez...

Eram muitas variáveis, muitos caminhos diferentes que eu poderia ter tomado que culminariam em finais ainda mais incertos. Eu sabia que pensar nisso agora, não mudaria  em nada o presente, aliás, eu já havia tido essa discussão comigo mesmo várias vezes desde que conheci Felicity, e chegava sempre a mesma conclusão: Eu fiz minha escolha, eu precisava assumir minha parcela de culpa e arcar com  as consequências dela.

Eu ainda estava sentado na mesma posição,  com o corpo curvado e o rosto escondido entre minhas mãos, escondendo as lágrimas, perdido em meus pensamentos confusos, alimentando a minha própria dor até o momento em que um carinho suave em meus cabelos me despertou, ergui minha cabeça e olhei a mulher loira a minha frente, me senti instantaneamente melhor.

— Mãe! — exclamei me colocando de pé, não tive muito tempo para pensar em como ela havia ficado sabendo que eu estava aqui, porque bastou que eu estivesse de pé para que ela me puxasse para seus braços em um abraço confortador. Em seus braços eu me sentia como um garotinho de novo, que corria para os braços da mãe quando a vida parecia terrivelmente ruim e a perspectiva do futuro o amedrontava. É curioso o poder que um abraço materno tem, eu estava me sentindo miserável, afundando na dor, mas com seu simples abraço Moira Queen me acalmou.

— Tudo vai ficar bem, querido — sussurrou docemente em meu ouvido enquanto suas mãos alisavam ternamente minhas costas. Me permiti aquele momento de conforto, me permiti que seu abraço me fizesse acreditar que tudo ficaria, de fato bem.

— Obrigado mãe. — agradeci ao me afastar dela, apenas para ser esmagado pelos braços de minha irmã. — Thea. — pronunciei com um pequeno sorriso, era bom tê-las de volta, ainda que num momento como esse, eu precisava delas aqui e quando Felicity estivesse bem ela gostaria da presença delas  também.

— Como ela está? E o bebê? Eles estão bem? Estão bem, Ollie? — Thea lançou as perguntas com desespero, vi que minha mãe lançou um olhar repressivo à ela, como se dissesse que aquele não era o momento para aquilo, mas minha irmã sequer notou. Thea não era como minha mãe, ela era transparente e não se controlava.

— Eu não sei. — falei me jogando novamente na cadeira, sentindo o peso da realidade recair novamente sobre mim. — Os médicos não me dizem nada, mas parece que é delicado. — expliquei amargamente, minha mãe fechou os olhos suspirando, sentou-se ao meu lado, segurou minha mão entre as dela. — Ela estava sangrando, com a mão sobre o ventre eu não sei se... — comecei a contar, revivendo o momento, revivendo a dor.

— Felicity é forte,  ela vai passar por isso. — minha mãe me interrompeu, eu via que ela estava preocupada, mas ainda assim se mantinha esperançosa por mim. —  Ela e o bebê de vocês.  Você verá, terão uma família linda, e eu serei uma avó incrível. — lançou-me um pequeno sorriso caloroso, me deixei acalmar novamente. As imagens logo penetraram em minha mente. Eu via Felicity com a barriga tão grande e redonda, que eu poderia colocar minhas mãos sobre ela e sentir nosso beber chutar com força. Nós discutiríamos sobre o nome do bebê, mas eu acabaria cedendo, porque eu faria tudo para deixa-la contente. Logo nos mudaríamos para uma casa ampla, em um lugar tranquilo, sem ameaças de Amanda ou Isabel, sem pais com segredos e que voltam dos mortos. Haveria um balanço em nosso quintal onde eu empurraria nosso filho ou filha, talvez até mesmo construíssemos uma casa na árvore. Teríamos almoços aos domingos, e toda a família estaria reunida.  Thea e minha mãe, talvez Robert e até mesmo Donna. Talvez um neto aproximasse um pouco mais Felicity dela, e fosse capaz de quebrar aquela barreira emocional que ambas construíram.

A perspectiva era boa. Boa era eufemismo, a ideia desse futuro era simplesmente perfeita. Eu esperava muito que conseguíssemos, que pudéssemos ter a chance de viver isso.

Ficamos em silêncio por um longo tempo, ou apenas ele pareceu longo, já que novamente o relógio girava vagarosamente, prolongando a agonia da espera. Até que me tornei consciente de algo.

— Como vocês souberam que Felicity...? — Não continuei a pergunta, não conseguia dizer as palavras que completariam aquela sentença: “estava perdendo o nosso filho”. Mas não fazia sentido elas estarem aqui, eu não as avisei. Eu liguei para Lyla que estava do outro lado do hospital esperando o marido passar pela cirurgia. Mas eu não avisei ninguém sobre Felicity.

Minha mãe pareceu um pouco sem jeito com a minha pergunta.

— Foi Robert. — respondeu por fim, ainda havia um pouco de mágoa em seu tom e um brilho de tristeza em seus olhos quando ela disse o nome do meu pai. — Ele me ligou e disse que você e Felicity estavam aqui, e precisavam do apoio da família. — explicou. Por um momento me peguei pensando onde meu pai estava, se ele havia ido atrás de Amanda. Apenas pensar nela fazia o ódio queimar em minhas veias, minha pulsação acelerava, eu sentia toda aquela vontade de procurar por ela e fazê-la pagar por seus crimes, pelas pessoas que machucou, por toda a dor que causou em sua busca desenfreada por poder. Mas isso não importava, não agora. Meu dever, minha prioridade era Felicity e o nosso pequeno ou pequena. Eu nunca os deixaria novamente, nem mesmo por um segundo, não importa o que acontecesse, eu não permitiria que nada ruim acontecesse à eles novamente, eu seria o escudo para eles. Era uma promessa.

***

Eu parei de olhar para o relógio. Não fazia diferença, olhar para ele não fazia o tempo ir mais rápido, não diminuía meu desespero. Mas ainda assim eu sabia que já haviam se passado horas. Nesse período dois médicos haviam vindo até mim, me disseram que Felicity quase sofrera um aborto. Quase. Deixei-me respirar aliviado, deixei-me ser invadido pela sensação boa que era saber que nosso bebê ainda estava bem e seguro, apenas para segundos depois voltar a afundar-me em preocupação.

— Senhor Queen, o estado ainda é delicado.  Ela sofreu uma queda, a pressão sanguínea dela está elevada o que é condizente com estresse emocional. — me explicou — Ainda não sabemos qual das alternativas desencadeou o quase aborto. Teremos que manter sua esposa em observação até que não haja mais risco.

— Posso vê-la? — implorei, ansioso por estar com ela.

— Infelizmente, não. — o médico negou, parecia temeroso com algo.

— Como assim não? — retruquei exaltado dando passos a frente enquanto apertava as minhas mãos em punho, percebi que o médico engoliu em seco com minha atitude intimidadora.

— Sinto muito senhor Queen. — se desculpou novamente, mas permaneceu firme em sua decisão — Sua esposa passou por muitas emoções e o estado da gravidez, principalmente por ainda estar nas primeiras semanas, ainda é crítico. Nós não podemos arriscar expô-la à... — Ele olhou para mim com certo receio, e com razão, eu provavelmente tinha uma expressão assassina no rosto e estava muito perto de perder o controle. — ...nenhum tipo de estresse emocional intenso nesse momento.

— Filho... — Senti a mão de minha mãe apertar o meu ombro, eu iria revidar, eu iria exigir ver Felicity. Inferno! Eu invadiria o seu quarto se isso fosse necessário! Mas novamente minha mãe me trouxe a razão. — Ela está bem, querido, os dois estão bem. — afirmou suavemente — Deixe-os descansar, os médicos cuidarão deles e nos avisarão quando o perigo tiver passado.

— Novamente, eu sinto muito. Eu informarei quando tiver novas notícias sobre o caso dela. — o médico disse antes de nos dar as costas.

Eles não entendiam que eu precisava vê-la com meus próprios olhos? Que eu precisava ver seu rosto adorável e que somente assim eu teria certeza se ela estava bem? Eu precisava estar ao lado dela, precisava mostrar à ela que não estava sozinha, que aquele era o meu lugar e eu nunca sairia de lá, nunca. Eu apenas queria ficar perto dela e do nosso bebê, queria que a nossa família ficasse unida em um momento como esse.

Mais horas se passaram. E menos informações eu tive. Ao menos eu sabia que isso era algo bom, eles avisariam imediatamente se algo acontecesse à Felicity e o bebê. Tentei me convencer que ela estava apenas descansando, e que depois dos acontecimentos de hoje ela, mais do que todos precisava disso. Mas ainda assim, saber que ela estava tão perto de mim e que eu não podia me aproximar, me enlouquecia.

— Senhor Queen? — Me coloquei de pé assim que um novo médico me chamou.

— Alguma informação sobre a minha esposa? — questionei afoitamente. O médico piscou, parecendo um pouco confuso. — Sinto muito. — Meu coração foi esmagado com o pedido de desculpas, era assim que todos os médicos começavam antes de dar as más noticias. — Eu não estou cuidando do caso dela, vim aqui a pedido de outro paciente. — pisquei confuso — O senhor John Diggle foi operado, ele está consciente e pediu para chamá-lo.

Hesitei, eu não queria sair de perto do quarto de Felicity.

— Vá ver seu amigo! — minha mãe disse — Eu avisarei se tivermos qualquer notícia sobre Felicity. — assenti não muito convicto enquanto seguia o médico para a outra ala do hospital. Por mais que eu estivesse contente que John estivesse se recuperando bem, eu não gostava da ideia de ficar longe de Felicity.

***

— Nem comece! — foram as primeiras palavras que John Diggle disse para mim assim que entrei em seu quarto. A voz dele estava arrastada e um pouco rouca, provavelmente devido a medicação que o deixava um pouco grogue, mas ainda assim eu conseguia identificar claramente o humor contido na frase.

— John... — tentei sorrir enquanto me aproximava, mas era difícil quando via a imagem do meu amigo todo machucado em uma cama de hospital. — Eu sinto muito, é...

— É minha culpa, eu nunca deveria ter te colocado nisso... — completou a frase parecendo ligeiramente entediado. — Oliver Queen, sempre ansioso para se responsabilizar por tudo. Não pode apenas dizer obrigado, como as pessoas normais fazem? — falou com um ar divertido, mas me mantive sério enquanto me aproximava da cama e o observava seu rosto mais de perto. John estava coberto por hematomas e machucados, mas isso não parecia incomodá-lo. Seu semblante continuava leve e ele lançava-me um olhar agradável.

— Mas você sabe que dessa vez é minha culpa! — fui incisivo, puxei uma cadeira e sentei-me ao seu lado — Eu não deveria tê-lo envolvido nisso John, eu deveria ter resolvido meus problemas sozinhos. — retruquei começando a ficar mal humorado, respirei fundo ao vê-lo revirar os olhos ao ouvir meu pequeno discurso — Mas obrigado, por salvar o que eu tenho de mais precioso nessa vida. — agradeci sinceramente, se Felicity e nosso bebê estavam bem é graças a John que arriscou a própria vida para salvá-los, a minha gratidão a ele seria eterna.

— Nós éramos parceiros na ARGUS, nós treinamos juntos, fomos à missões juntos. Nós ajudamos um ao outro, e fizemos isso não porque a “profissão” exigia, mas porque antes de sermos parceiros, nós somos irmãos, Oliver. — sorri ao ouvi-lo dizer isso. Nós podíamos não dividir o mesmo dna, mas eu o considerava tanto quanto Thea — E irmãos estão sempre lá para ajudar o outro. Eu fiz isso por você, porque eu sei que se a situação fosse inversa você faria isso por mim também.

Sorri, ele estava certo.

— Eu faria. — respondi sem a menor hesitação. John estava certo, nós éramos irmãos. Se John solicitasse minha ajuda eu não pensaria duas vezes eu nem perguntaria o que era, eu apenas o ajudaria.

— E Felicity? Como ela está? — senti o medo se instaurar em meu sistema ao pensar em Felicity, respirei fundo tentando acalmar aquela agitação dentro de mim. E me convencer de que ela estava bem, que sairíamos dessa.

— Ela poderia estar bem pior se você não a tivesse protegido — respondi optando por uma meia verdade, que não passou despercebido por John.

— Homem, — disse sério esperando por mais detalhes. — o que aconteceu? — abaixei meu olhar tentando fazê-lo não ver a preocupação que ele continha.

— Ela quase perdeu o nosso bebê, os médicos estão monitorando, mas não me deixam vê-la, o risco ainda de ela abortar... — senti um gosto amargo em minha boca ao dizer a palavra que eu mais temia — ...ainda é grande, eu não sei se...

— Hey! — chamou-me a atenção — Vocês vão passar por isso, apenas tenha um pouco de fé e esperança, tudo ficará bem no final, você verá! — sorriu complacente.

Assenti com a cabeça. Minha atenção se desviando para a porta do quarto que era aberta naquele momento. Lyla entrava com a pequena filha deles que não tinha nem dois anos, Sara. A garotinha andou saltitando e gritando “papai, papai” indo até a cama de John, o rosto dele imediatamente se iluminou, o homem forte, o soldado implacável dava lugar a um novo homem que se derretia em sorrisos e olhares doces para a filha.

Sai sem fazer alarde, observei uma última vez a imagem feliz que era John  e sua família unida, eu me recusava a perder a chance de ter isso.

***

            Acelerei meu passo quando notei que o médico que cuidava do caso de Felicity estava na sala de espera conversando com minha mãe. Estranhei porque Moira Queen sempre foi uma mulher receptiva, mas naquele momento ela parecia furiosa. Seus braços estavam cruzados, seus olhos crispavam de raiva. Eu raramente a via assim, mas eu sabia que quando acontecia não era algo bom.

— O que está acontecendo aqui? — interrompi bruscamente a conversa, eu estava preocupado com minha esposa e filho, tinha direito de mandar a educação para o quinto dos infernos. O médico ao me ver, fez uma cara de desagrado, como se soubesse que a minha presença significaria problemas.

— Eu sinto muito senhor Queen, mas eu estava dizendo à sua mãe que eu não posso discutir o caso de Felicity Smoak com nenhum de vocês. — apontou.

— Como assim? Eu sou o marido dela! Eu tenho o direito de vê-la, de saber o que aconteceu, se ela está bem. Se o nosso bebê está bem. — exclamei irritado.

— Eu estou preso à regra de confidencialidade entre médico e paciente. Sou obrigado a respeitar seus desejos. — explicou, mas aquilo não fazia nenhum sentido para mim. Vendo minha confusão o médico explicou melhor  — A senhorita Felicity não quer ver ninguém.

Por um momento nada mais foi dito. O médico aproveitou a deixa e desapareceu, possivelmente temendo uma reação negativa de minha parte. Inferno! Eu já tinha esperado demais, minha paciência já havia se esgotado. Eu precisava saber o que estava acontecendo, e porque Felicity tinha dito ao médico que não queria me ver?

Eu tinha algumas teorias sobre aquilo. Na verdade não era exatamente uma teoria, era a única coisa que fazia sentido. Felicity não queria me ver porque simplesmente me culpava por tudo. A morte do seu pai, o quase aborto que sofreu... Eu precisava falar com ela! Precisávamos conversar. Ela não podia simplesmente me trancar para fora da vida dela e acreditar que eu aceitaria isso, eu merecia ao menos a chance de me desculpar. O nosso amor merecia isso. O nosso filho merecia isso.

— Filho? — escutei minha mãe me chamando quando eu caminhava decidido para longe dela, eu iria ver minha Felicity. Não deixaria ninguém me impedir disso.

***

Felicity se assustou quando eu entrei em seu quarto pela porta que dava acesso à pequena varanda. Não tinha sido difícil chegar aqui, eu apenas precisei entrar no quarto ao lado e pular de uma sacada para a outra.

— Oliver! O que você faz aqui? — questionou surpresa. Eu ia me aproximar,  eu a ia questionar porque ela estava me afastando justo num momento como esse em que precisávamos estar juntos, precisávamos da força um do outro. Mas parei, assustado quando a vi. Os olhos de Felicity que sempre foram de uma imensidão azul clara, sempre tão calmos e meigos hoje estavam avermelhados. Diziam-me que ela não havia apenas chorado, mas que tinha sido um daqueles choros desesperados. 

— O que aconteceu Felicity? — aproximei-me dela, devagar sentando-me ao seu lado na cama de hospital.  Ela suspirou, e imediatamente senti toda a tensão e desespero que ela sentia, suas mãos estavam unidas sobre seu colo e elas tremiam. — Você esta machucada, amor? — Eu queria que de alguma forma fosse possível tirar a dor dela e passá-la para mim, eu não conseguia suportar a mera ideia de que ela estava sofrendo e que eu não podia fazer nada para mudar isso. Ergui a mão na tentativa de acaricia-la, tentar confortá-la.

— Você não deveria estar aqui! Eu pedi... — ela desviou o seu rosto do meu toque, impedindo-me de ver seus olhos.

— Eu sei que você pediu aos médicos para que não permitissem a minha entrada, mas eu não entendo o porquê disso, justamente agora! Tem ideia do quão preocupado eu estou com você? Com nosso bebê? — a questionei suavemente, lembrando-me de que não deveria causar-lhe nenhum tipo de estresse. — Eu deveria estar aqui, ao seu lado, te dando o meu apoio! É o meu lugar! — afirmei.

— Do mesmo jeito que você estava ao meu lado ontem a noite? — retrucou, estranhamente seu tom não era amargo ou ressentido como era de se esperar nesse tipo de confrontação. Seu tom era de uma tristeza sem igual, tão grande que apenas ouvi-la dizer isso partia meu coração.

— Eu sinto muito. Eu fui um tolo, eu... Eu não deveria ter escondido isso de você. — ofereci minhas desculpas pobres.

— Não você não deveria. — concordou comigo — Principalmente depois de me prometer que não iria me deixar, você me prometeu que não iria mais mentir para mim. — acusou — Mas ontem a noite você fez os dois. Eu pensei que pudesse confiar em você, pensei que teríamos uma chance de recomeçar...

— Nós temos! — cortei-a desesperado antes que seguíssemos por um caminho que eu não gostaria — Felicity, eu amo você! E você me ama, tudo vai ficar bem! — Eu disse com certo desespero, tudo precisava ficar bem.

— Mas essa noite foi um aviso de que você não mudará. — afirmou categoricamente.

— Felicity... — Seu nome em meus lábios soou como uma súplica — Você está chateada comigo, eu entendo isso amor, eu mereço isso. — assumi — Mas eu fiz o que fiz pensando no que seria melhor para nós dois e nosso bebê. Eu apenas estava tentando proteger o que tenho de mais precioso na vida: Vocês dois. — expliquei, secando com meu polegar uma lágrima quente que descia por seu rosto.

Felicity estremeceu diante do meu toque singelo deixando um pequeno sorriso escapar, ela respirou fundo, apertando os olhos fortemente, os mantendo fechados por um tempo longo demais, como se tivesse se preparando para dizer algo que não gostaria.

— Eu perdi o bebê, Oliver. — Felicity disse tão baixo que eu não tinha certeza se realmente havia escutado aquilo — Eu o perdi — confirmou mais alto dessa vez, ainda mantendo os olhos fechados. Permaneci imóvel diante daquela afirmação. Era estranho, eu escutei as palavras perfeitamente, elas se repetiam em minha cabeça, mas era como se eu fosse incapaz de processá-las, de entender seu real significado. Tudo em mim estava em um estado catatônico de negação.  — Isso não vai dar certo. — Felicity falou, com sua voz cheia de dor. E então colocou a sua mão sobre a minha, aquele toque era quente, era certo, me deixou alerta, mas não durou muito. Sua mão se afastou deixando algo frio na minha palma, depois de alguns momentos a abri apenas para ver a aliança dela reluzir ali.

— Felicity... — Não. Não. Não. Meu coração, minha mente, tudo em mim gritava, esse não podia ser o fim! John me disse para ter fé, e eu tive! E agora, tudo o que mais amava era tirado de mim.

Nosso bebê.

A mulher que eu amava.

Isso não podia ser real, tinha que ser um pesadelo!

— Você pode ir embora, por favor? — pediu com a voz trêmula e embargada pelo choro que ela não conseguia segurar. Busquei seus olhos, esperando encontrar minha luz ali, mas eles estavam apagados e tristonhos. Felicity virou o seu rosto evitando me encarar, puxou as pernas apoiando a cabeça sobre seus joelhos, e com seus braços ela abraçava a si mesma.

Sai pela porta a passos trôpegos, dei uma breve olhada para Felicity que desabava. Eu queria ficar, eu queria abraçá-la,  eu não entendia porque ela não queria a minha presença aqui. Nós dois passávamos pela mesma dor, nós dois precisávamos um do outro para garantir que ficássemos inteiros, ela não percebia isso? Mas ela recusava a minha presença, demorei alguns instantes para entender o porquê. Mas quando entendi todos os sentimentos queimavam dentro de mim, a culpa , a dor, a raiva.

Felicity me culpava pela perda do nosso bebê.

***

Dor. Você nunca esta preparado para senti-la até que a sente. Não é algo tangível, ou sequer passível de explicação. Dor é apenas dor. É algo que te rasga de dentro para fora, e você sabe que não há nada no mundo capaz de fazê-la parar, tudo o que você pode fazer é senti-la em toda a sua intensidade. Nós perdemos o nosso bebê. Nós nem tivemos a chance de conhecê-lo, de saber como seria o seu rostinho, se ele ou ela teria os olhos lindos da mãe. Sequer tivemos a chance de discutir ao escolher o seu nome, ou de planejar o seu futuro. Como era possível, nem conhecer aquele pequenino ser que crescia dentro do ventre de Felicity, e ainda assim já amá-lo tanto quanto eu amava?

— Oliver! — minha mãe me puxou pelo braço quando passei por ela. Eu estava desnorteado demais, tão preso em meu próprio sofrimento que eu sequer a notei — O que aconteceu? — questionou, seus olhos estavam arregalados em clara preocupação, vi que Thea estava ao seu lado demostrando igual apreensão. Minha mãe sempre parecia ser capaz de ler as minhas emoções, sabia dizer com precisão quando havia algo de errado. Devia ser algo de quando se é pai ou mãe. Eu não saberia, não agora que eu havia perdido isso. 

— Nós perdermos o nosso bebê. — minha mãe levou a mão sobre a boca, seus olhos encheram-se de lágrimas. Ela tinha ficado aqui comigo se fazendo de forte, me impedindo de definhar, mas agora ela não conseguia se segurar. Todas as emoções chegavam até ela também. Dizer que perdemos o nosso bebê em voz alta era ainda pior, porque tornava tudo real e a dor. Aquela dor era imensurável, eu sequer conseguia descrever o quanto aquilo latejava e destruía dentro de mim. — E eu acho que perdi a minha Felicity também. — Desabafei num fio de  voz.

— Oh Meu Deus! Oliver? — minha mãe perguntou ainda mais aflita — Como assim perdeu a Felicity também?

— Oliver explique isso melhor! Ela esta bem? — Thea que até então estava de lado, apenas chorando baixinho, me questionou desesperadamente.

— Ela está bem Thea. — apertei minha mão, senti o metal frio da aliança que eu ainda carregava ali  — Mas nós dois não estamos.

— Ela está passando por um momento difícil querido, vocês estão passando. — minha mãe tentou amenizar, mas eu não queria ouvi-la porque parte de mim concordava com Felicity, parte de mim achava que eu era o culpado por ela ter perdido o nosso bebê, e eu entendia porque ela me queria longe — Casamento não é simples, ainda mais quando tudo desmorona sobre vocês...  Vocês vão superar isso. — garantiu.

— Eu não acho que tenha como superar isso. — eu disse antes de dar-lhe as costas e caminhar para lugar algum, desde que fosse longe, onde pudesse ficar sozinho e não causasse mais dor a ninguém.

 

 


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Notas finais do capítulo

Às vezes um escritor precisa tomar alguns riscos, e muitas vezes isso significa não dar ao leitor aquele final previsível que eles tanto almejam. É triste e eu sei que muitos de vocês estão com ódio mortal nesse momento, dizendo: “Como ela pode?” “Luna você não tem um coração?” eu possivelmente vou receber algumas ameaças de morte, mas fazer o quê?! O final planejado sempre foi esse.
Mas lembrem-se, nem tudo é tão ruim quanto parece ;) e apesar desse ser o último capítulo, esse ainda não é o final dessa história. Ainda há algumas pontas soltas... Apenas confiem em mim!