*Cinco semanas depois*

Pov Ally

O sinal para o intervalo havia tocado, e, com rapidez, os alunos arrumaram suas coisas e saíram da sala. Não fui tão rápida, pois, pela primeira vez em semanas, eu não queria usar meu intervalo para conversar com Alexa, ou Austin.

Não que estivéssemos brigados, claro que não. Nas últimas cinco semanas, Alexa e Amber passavam cada vez mais tempo juntas, e isso me deixava com ciúmes, mas nunca discutimos. Eu não poderia reclamar por ela me deixar de lado, já que, semana passada, não fui ao cinema com ela por já ter marcado de ir a praia com Austin.

Assim como Alexa e Amber, eu e Austin ficávamos mais próximos a cada dia. Era como se nos conhecêssemos há anos. Conversamos na hora do intervalo sobre nossos professores, sobre todas as vezes que ele rejeitou Kira – que parecia estar realmente interessada no loiro -, sobre meu abismo por Kyle.

Kyle...

Ele e Austin haviam virado grandes amigos tão rápido, e agora ele sentava com a gente na hora do intervalo, o que fazia com que eu ficasse calada na maior parte do tempo. Tinha medo de abrir minha boca e deixar escapar que gosto dele.

Fechei os olhos, encostando minha cabeça em meu armário. Eu estava novamente pensando em Kyle, e novamente tinha uma vozinha irritante em minha cabeça, dizendo que eu era uma burra por gostar de alguém que nunca gostaria de mim.

Eu tentava tirar o moreno de minha cabeça, mas isso só acontecia quando Austin estava por perto. O loiro me fazia rir com suas idiotices e piadas sem graça. Quando estávamos só eu e ele, Kyle não aparecia em minha cabeça nem para dar um “oi”.

— Ally Dawson! – a voz de Austin, diretamente contra meu ouvido, arrepiou todos os pelos e extremidades de meu corpo. Abri os olhos e o encarei com repreensão.

— Você me assustou.

— Foi mal. – se desculpou. Me virei para olha-lo, fazendo com que ficássemos frente a frente. – Eu te assustaria menos se você não vivesse sempre no mundo da lua, pensando no Kyle...

A voz de Austin saiu diferente, sem animação. Ele abaixou a cabeça, parecendo pensar, mas logo voltou a me olhar.

— Vamos pro refeitório? – sugeri. Austin assentiu e começamos a caminhar pelos corredores do Marino.

— Então, me explica essa história de Baile de Outono. – ele pediu. – Não tínhamos esse tipo de coisa em Nova York.

— É só mais um baile que o grêmio estudantil resolveu organizar para arrecadar fundos para a formatura. – falei. – Mas, dessa vez vai ser diferente, já que as garotas terão que convidar os garotos, não o contrário.

— Realmente diferente, mas também uma ótima oportunidade de realçar o poder feminino. – comentou, me fazendo rir. – Você vai?

— Eu tenho certeza que sua irmã irá fazer de tudo para me convencer a ir, mesmo sem ter um par. Mas, eu vou fazer o que faço todo o ano. Inventar uma gripe ou uma prova pra estudar, e ficar em casa. – Austin riu. – E, você? Está pensando em ir?

— Bom, isso depende. – ele respondeu, me deixando confusa. – A entrada é permitida só pra casais?

— Sim, você só pode entrar com uma acompanhante. – percebi que havíamos chegado ao refeitório, que estava cheio, como sempre. – Mas eu tenho certeza que a Kira irá te convidar, então, não se preocupe.

— Se ela me convidar, eu irei dizer não, então... – ri, enquanto entrávamos na fila para pegar nossos lanches.

O cabelo de Austin estava bagunçado, e o sorriso em seu rosto destacava suas covinhas. Sua camisa preta tinha o símbolo de uma banda que eu não conhecia, mas era legal, e combinava com seus jeans rasgados na parte do joelho.

Ele nunca esteve tão lindo.

Sorri com meu pensamento. Eu não negava a mim mesma que o achava lindo, principalmente depois de o ter visto sem camisa uma semana atrás, enquanto nadava na enorme piscina de sua casa.

Mas ele tinha outras qualidades. Como, por exemplo, ser um ótimo fotógrafo, andar de skate – uma coisa que eu estou cogitando pedir para ele me ensinar -, é ótimo em qualquer esporte, principalmente basquete. E, claro, ele tinha o incrível dom de me fazer sorrir até mesmo quando não quero.

— Austin, posso falar com você? – a voz de Amber interrompeu meus pensamentos.

— Claro. – o loiro respondeu, pegando uma maça e colocando em sua bandeja.

Amber me olhou, como se tentasse pedir sem usas as palavras para eu me retirar. Entendi o recado e peguei uma porção de batatas fritas, saindo da fila. Eu queria pegar mais coisas, pois estava com muita fome, mas resolvi fazer esse sacrifício pela ruiva.

— Vou deixar vocês a sós. – disse, me virando e me direcionando até a mesa onde Alexa estava. Kyle já estava lá, mas mexia em seu celular, então não percebeu quando eu cheguei.

Comecei a conversar com Alexa, e ela, mais uma vez, tentou me convencer a ir ao baile. Pensei em dizer que tinha uma prova de história importante na segunda e precisava estudar, mas sabia que ela não acreditaria, pelo simples fato de essa ter sido minha desculpa no ano passado.

Cogitei lhe contar a verdade, o real motivo pelo qual eu não queria ir, mas Kyle estava por perto, atento a nossa conversa. Não queria lhe dar mais um motivo para não gostar de mim como eu gosto dele.

— Alexa, você vai convidar o meu irmão, e provavelmente nem vai me dar atenção. Vai querer apenas dançar com ele. – falei, enquanto olhava para minha porção de babatas. Pareciam deliciosas, me fazendo querer acabar logo com a conversa para devora-las. – Eu não estou afim de alugar ou comprar um vestido apenas para ficar sentada em uma mesa, assistindo casais felizes dançarem e se beijarem.

Eu não estava mentido, apenas ocultando parte da verdade. Apesar de querer que meu irmão e minha melhor parassem de ser bestas e ficassem juntos logo, não seria nada legal ver os dois no clima de romance o tempo todo.

— Na verdade, eu já convidei o Ben. – ela disse, sem esconder o enorme sorriso em seu rosto. – Mas, Ally, você nunca vai a nenhum baile, amiga. Precisa se divertir! Por favor, por mim. – Alexa fez um biquinho, esperando que eu me comovesse e concordasse em ir ao baile, o que não aconteceu.

— Tudo bem... mesmo que eu quisesse ir ao baile, eu não tenho par, e o baile é nesse sábado.

— Eu sou amiga da presidente do grêmio estudantil, posso dar um jeito de você entrar sem par. – ela disse, piscando os olhos, tentando novamente me comover.

— É, seria muito legal ser a única desacompanhada do baile, Alexa. – comentei, com ironia. – Eu não vou.

A loira iria falar alguma coisa, mas pareceu desistir ao ver Amber chegando a mesa, com um sorriso enorme esboçado em seu rosto. Ela se sentou ao lado de Alexa e as duas começaram a conversa, com direito a alguns gritinhos histéricos, que assustaram tanto a mim quanto Kyle.

Austin não demorou a chegar, mas seu sorriso havia sumido, e ele estava sério. Tentei puxar assunto, mas ele não parecia querer conversar. Achei estranho. Austin, apesar de ser um ótimo aluno e tirar notas excelentes, considera a hora do intervalo a melhor parte de ir a escola. Ele sempre faz suas graças e conversa muito comigo, mas hoje...

— Austin! – ao ouvir a voz de Kira, revirei os olhos, e percebi que Austin fez o mesmo. A garota me empurrou e sentou ao lado do loiro, que apenas olhou para sua bandeja de comida. – Como já deve saber, o baile é nesse sábado, e eu quero que seja meu par.

Austin olhou para Kira, e depois para Amber. Estranhei, mas logo entendi. Amber já havia convidado Austin para o baile, por isso ela não me queria por perto quando falou com ele.

— Sinto muito, Kira. – disse a ruiva, encarando Kira com um grande sorriso. – Mas eu já o convidei, e ele aceitou.

— Isso não significa que ele não possa mudar de ideia, queridinha. – Kira falou, usando uma dose grande de ironia na última parte.

— Você está certa, Kira. Eu ter aceitado o convite de Amber primeiro não significa que eu não possa mudar de ideia. – Austin falou, me deixando surpresa. A mulata sorriu cinicamente para Amber, que parecia desconcertada. – Mas, eu não quero mudar de ideia.

Segurei o riso ao ouvir a última fala de Austin, assim como Alexa. Kyle encarava Amber com um sorriso triste. Os dois eram amigos, mas eu suspeitava que ele sentisse algo por ela, mas, o olhando agora, pude perceber que estava certa.

Pensei que sentiria ciúmes, mas, a sensação dentro de mim era diferente. Não senti ciúmes ou inveja de Amber por ela ter conseguido em algumas semanas o que eu não consegui em três anos, o amor de Kyle.

Era como se perceber – ou achar – que Kyle gostava de Amber tivesse acabado com qualquer vestígio de paixão que existia em mim, como se um peso enorme tivesse saído de minhas costas.

Encarei Amber mais uma vez. Ela sorria para Austin, que também sorria para ela, mostrando novamente suas covinhas. A alegria dos dois me afetou de uma forma estranha.

“Isso é ciúmes!”, dizia a vozinha irritante em minha cabeça. Fechei os olhos com força, esperando que, de algum jeito, aquilo fizesse com que a voz sumisse, o que claramente não aconteceu.

Era verdade. Eu estava com ciúmes.

Queria estar no lugar de Amber agora, não por causa de Kyle, e sim por Austin. Queria poder voltar no tempo e o convidar para o baile, queria acabar com aquele sorriso sínico de Kira dizendo que EU iria ao baile com ele, queria que o loiro estivesse sorrindo para mim, e não para ela.

O sinal voltou a tocar, fazendo com que eu abrisse os olhos, assustada. Olhei para minha bandeja, não havia comido nada, nem as deliciosas batatas fritas.

Meu estômago estava vazio, e eu já me sentia um pouco tonta. A última coisa que comi foi um sanduíche de atum que Liza preparou quando cheguei da escola ontem.

E também não queria mais ficar ali, vendo Amber e Austin sorrindo um para o outro, muito menos Alexa sorrindo para meu irmão, que se encontrava do outro lado do refeitório, em uma mesa com seus amigos.

Me levantei, dizendo que iria pegar meu material da próxima aula, mas Alexa, sabendo de cor todos os meus horários, me interrompeu antes que eu pudesse me afastar de nossa mesa.

— Ally, a professora de Artes faltou hoje. Você tem uma aula vaga. – aproveitei que estava de costas para minha melhor amiga e tentei pensar em alguma coisa para dizer a ela.

— Mesmo assim, eu vou pegar o meu celular. Acabei esquecendo ele no armário. – me virei para Alexa, forçando um sorriso, na esperança que isso a fizesse acreditar.

— O celular está no bolso da sua calça. – fiquei sem fala, o que fez Austin rir. – Está tentando fugir da gente, por acaso?

— Não, claro que não. – disse, no mesmo momento que uma ideia consideravelmente boa venho a minha cabeça. – É que eu preciso pegar um remédio pra cólica. Sabe... estou naqueles dias.

— Ah... – Alexa se levantou e veio até mim, enganchando seu braço no meu. – Eu vou com você, tenho que retocar minha maquiagem e minha bolsinha está no armário.

Apenas assenti.

Saímos do refeitório rapidamente, sem dizer uma palavra. Começamos a caminhar a passos lentos pelo corredor praticamente vazio do colégio, enquanto eu não parava de pensar no que realmente sentia.

Sabia que sentia ciúmes, mas não sabia – ou talvez só não quisesse admitir – o motivo.

Olhei para Alexa, que parecia inerte em seus pensamentos, e resolvi perguntar:

— Então... – ela me encarou, saindo de seus pensamentos, que com toda certeza eram sobre meu irmão. – Amber gosta do Austin?

— Sim, ela gosta, e muito.

Ao ouvir suas palavras, senti um aperto enorme em meu peito. É claro que eu suspeitava, mas ouvir a confirmação é pior.

Pensei no que falar, já que Alexa me encarava, parecendo tentar descobrir o que me fez ficar em silencio.

— Que bom que ela o convidou para o baile antes da Kira. – falei, forçando mais uma vez um sorriso.

— Eu sei. – Alexa riu. Imaginei que ela tivesse se lembrado da reação de Kira ao saber que foi rejeitada mais uma vez por Austin. – Ally, eu quero tanto que Austin e Amber fiquem juntos. Seria tão ver meu irmão e minha melhor... – a loira parou de falar ao ver minha reação quando a ouvir quase chamar Amber de sua melhor amiga. – E uma das minhas melhores amigas, juntos.

— É, eles fariam um casal lindo.

Terminamos nosso trajeto até nossos armário sem dizer mais nada. Alexa abriu seu armário e tirou de lá sua bolsinha de maquiagem, enquanto eu apenas abri o meu e fingi tomar um comprimido para dor.

— Eu vou ao banheiro e já... – Alexa parou de falar ao ver Trish tropeçar em uma casca de banana e cair, levando consigo várias folhas de papel, que se espalharam pelo chão.

Corremos até a garota e a ajudamos a se levantar e juntar os papeis, que ficaram totalmente fora da ordem.

— Droga! – gritou Trish, olhando para as folhas em suas mãos. – Agora, além de levar horas pra achar alguém pra substituir aquele ruivo idiota, vou ter que arrumar tudo isso de novo.

— O que aconteceu, Trish? – Alexa perguntou.

— Como editora do jornal da escola, é minha função escrever uma matéria incrível sobre o baile de outono. Mas, para a matéria ficar incrível mesmo, eu preciso de fotos. – ela respondeu, colocando alguns cachos que caiam sobre seu rosto atrás da orelha. – Dez , que é o fotógrafo do jornal, vai viajar nesse fim de semana, e eu não consigo achar ninguém pra substitui-lo.

— Nossa escola tem jornal? – eu e Alexa perguntamos ao mesmo tempo. Nos encaramos e começamos a rir.

— Sim, por incrível que pareça, o diretor aprovou o jornal, e também o blog do colégio. – Trish comentou, rindo também. – Eu tenho que ir. Vou conversar com um nerd da minha turma de espanhol e ver se ele pode tirar as fotos pra mim.

— Trish, espera. – Alexa gritou, quando a garota já estava quase mudando de corredor. – É seu dia de sorte. Ally é uma fotógrafa incrível, e ela não tem nenhum compromisso para esse sábado.

— Mas, eu...

— Ally, você faria isso por mim? – Trish perguntou, com os olhos repletos por esperança.

Pensei nos prós e contras. Eu só iria ao baile para tirar fotos, não precisaria alugar vestido, ir ao salão, nada disso. E mesmo não querendo ver Austin e Amber chegarem como um casal ao baile, Trish parecia precisar da minha ajuda.

— Claro, eu adoraria te ajudar, Trish. – disse, sorrindo para a garota, que soltou um suspiro aliviado ao ouvir minhas palavras. – Mas, quero deixar bem claro que não usarei um vestido chique, muito menos salto alto.

— Sério? Ally, muito obrigada. – Trish gritou animadamente e correu até mim, me abraçando com força. – Mas, eu pensei que fosse convidar o Austin pro baile.

— O que? – questionei, fingindo não entender. Trish é a editora chefe do jornal, é obrigação dela saber tudo sobre a vida dos alunos e suas amizades. Não me surpreendeu ela notar minha amizade com o loiro. – Por que pensou nisso?

— Não leu meu artigo no blog na escola semana passada, sobre pessoas que deveriam ficar juntas? Você e Austin estão na lista. – ela riu ao me ver arregalar os olhos. – Ficariam tão lindos juntos.

— O que? – Alexa gritou.

— Eu estou no blog da escola?