Should I Tell? escrita por Hp


Capítulo 6
VI- Garoto estranho


Notas iniciais do capítulo

Eu queria agradecer a Amanda Dias, essa capítulo é para você.
*---*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/632784/chapter/6

Capítulo VI

Garoto estranho

Senti que alguém me encarava, levantei a cabeça que estava apoiada nos braços, na verdade eu tinha me jogado na mesa, só querendo dormir, mas não dormir ao mesmo tempo, acho que só ficar alheia a tudo em meu redor. Queria faltar hoje.

Olhei para o ser de cabelos vermelhos que me fitava descaradamente com o queixo apoiado na mão.

— Que? — Perguntei, realmente não entendendo.

— Por que está assim? — Seu olhar desconfiado me avaliava, arqueei uma sobrancelha perguntando "o que?" — Ontem, você passou quase a manhã toda sem esboçar nenhum sentimento e hoje você aparece toda triste.

— Não estou triste. — menti — Só não queria vir hoje.

— Já está desse jeito no seu segundo dia de aula, uau, que nerd diferente é você. Desembucha logo.

Uau, que garota observadora... Mesmo que ela fale assim eu vi um pouco de preocupação nos seus olhos. Nós nos conhecemos ontem, mas acho que é aquele tipo de amizade à primeira vista, isso existe?

Soltei um suspiro.

— Acho que briguei com minha mãe, só acho. — Sussurrei me lembrando de ontem à noite.

— Legal. — Murmurou

— Legal? — Perguntei só para ver se era o que tinha ouvido mesmo, desde quando brigar com sua mãe é legal?

— Sim. — Falou e se virou para frente — Quando você tem uma mãe para brigar, é legal.

Isso só podia significar uma coisa, mas não quero arriscar.

— Você, você perdeu sua mãe? — Inquiri cautelosa e ela assentiu e então se jogou na mesa como eu tinha feito mais cedo.

— Não só ela, meu pai foi junto, acidente de carro. — Explicou com a voz falha, prestes a chorar. Parece que esse assunto a machuca muito.

— Sinto muito. — Falei passando a mão em seu ombro.

— Não sinta, não éramos o tipo de família feliz, todo dia, brigas, discussões, eu apanhava por coisas que não fiz, mas mesmo assim sinto falta daqueles desgra... — Sua voz saiu abafada e ela não conseguiu completar o xingamento. — Sabe, Annie, cuidado com o que deseja. — o tom saiu sombrio e me surpreendi com essa frase e parece que essas palavras a assombram.

Parece que ela sabia de todos os meus pensamentos proferindo essa única frase.

— Ok — Murmurei e fiquei acariciando seus macios cabelos ruivos. — Não queria tocar num assunto tão delicado...

— Acho que vou dormir, me acorda quando essa merda de aula acabar — Me interrompeu e entendi o aviso oculto de “me deixa sozinha”

Devo admitir que não prestei muita atenção na aula, estava mais preocupada com Ale do meu lado, vez ou outra eu dava uma olhada em sua direção e ela continuava do mesmo jeito, aparentava a tristeza em pessoa.

E isso me fez lembrar, ninguém vive em um conto de fadas, a realidade é dura e a vida complicada. Não sei de nada sobre Alehara e nem ela de mim, temos vidas complicadas mesmo sendo apenas adolescentes. Tem pessoas que estão passando por situações piores que a nossa ainda com um sorriso no rosto. Não vou mentir que poderia sorrir, pois não consigo dar sorrisos falsos o tempo todo, cansa, já tentei, mas o fato de conseguir aguentar tudo, basta.

Abri meu caderno na última folha e escrevi “Viver é difícil, ninguém disse que era fácil, mas podemos criar um espaço só nosso, onde problemas não existem e a tristeza passa longe”

Então desenhei em estilo esboço uma porta quase completamente aberta e do outro lado um jardim lindo com coisas imagináveis, irradiando luz pela abertura da porta, do lado que observamos a paisagem era escuro e sombrio.

Arranquei a folha e dobrei no meio, fiquei segurando na minha mão e olhei para frente. A professora de artes explicava sobre algum movimento artístico. Ela é loira dos olhos azuis. Quando se apresentou para mim que não a conhecia falou que seu nome é Elizabeth.

Olhei para o relógio em meu pulso e acho que já estava perto de acabar a aula.

Cutuquei Alehara, ela resmungou alguma coisa, mas não se mexeu. Cutuquei novamente só que agora nas costelas, ela me deu um olhar mortal e eu sorri. Entreguei a folha para ela que olhou confusa, mas logo desdobrou para ver o que tinha.

— É para você. — Falei enquanto ela sorria olhando para o desenho.

— Nossa, você não sabe como é a sensação de ganhar um desenho de presente. — Afirmou contente.

— Não sei mesmo, nunca ganhei um. — Me encostei na cadeira

— Pode deixar, eu faço um para você — Falou enquanto guardava a folha no caderno

— Você também desenha? — Perguntei surpresa, realmente não sabia de nada da Ale além do nome e idade, ela tem dezessete, só para constar.

— Um pouco. — Murmurou e o sinal tocou — Lanche, vambora! — quase gritou enquanto jogava a bolsa sobre o ombro esquerdo.

Ri de seu entusiasmo repentino e segui ela que já estava na porta me esperando, que rapidez.

Fomos até o refeitório, me sentei numa mesa, não estava com vontade de comer o lanche da escola, Alehara ao contrário de mim foi direto para a lanchonete comprar algo.

Esperei ela enquanto batucava com os dedos na mesa de metal, mas senti uma presença ao meu lado e virei dando de cara com um menino muito bonito— põe bonito nisso—em pé. Ele tinha os olhos castanhos claros, cabelos curtos bagunçados naturalmente, também castanhos, um sorriso encantador e covinhas maravilhosas, esse garoto era modelo?

Já ouvi o ditado que garotos bonitos não prestam.

O que ele queria comigo? Dei um olhar desconfiado e ele pigarreou se sentando na cadeira do meu lado.

— Queria te pedir desculpas. — Falou, mas desculpas pelo que?

— Ah, foi você que me acertou a bolada? — Perguntei encontrando só esse motivo para ele vir pedir desculpas.

— Ahan, isso. Foi mal mesmo, tá. — Pediu passando a mão nos cabelos, gesto de nervosismo, provavelmente...

— De boas, não foi de propósito. — Afirmei já parando de prestar atenção nele e naqueles olhos castanhos que chamavam por minha atenção.

Voltei a batucar na mesa, só que agora de nervosismo. Senti sua mão pegando na minha e quase tirei por reflexo.

— Nada de “de boas”, você desmaiou. Poderia não me perdoar tão facilmente? — O encarei como se fosse um alienígena, ele é masoquista?

— Você é estranho. — Murmurei muito desconfiada

— Larga ela Sulivan! —Alehara rosnou se assentando na cadeira do meu outro lado, ficando frente a frente com o tal Sulivan

Era uma mesa quadrada com direito a quatro assentos, só para explicar...

Ele tirou sua mão da minha numa velocidade extraordinária como se só agora percebesse que estava fazendo isso. Dei de ombros.

— Passa os sete contos — Alehara estendeu a mão para o garoto que bufou — Anda, se não o diretor vai ficar sabendo de tudo que você andou aprontando.

Não entendi muito bem, mas acho que está rolando chantagem...

Ele tirou uma carteira da mochila e deu para Alehara uma nota de cinco e outra de dois a contra gosto, olhou para mim, deixou um sorriso de lado brincar em seus lábios e se levantou indo embora.

— Que garoto estranho. — comentei enquanto observava ele se afastar.

Quando olhei para Ale, ela estava comendo um pão de queijo e com um suco de não sei o que na mão.

— Põe estranho — deu uma pausa para tomar um gole do suco — nisso. — completou dando outro gole e me ofereceu um pedaço de pão de queijo, que eu neguei.

Mas o que eu achei mais estranho foi a chantagem dela, resolvi ficar na minha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem '----'
Até



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Should I Tell?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.