Beatrice Baudelaire escrita por Jhiovan


Capítulo 4
Quatro


Notas iniciais do capítulo

Na minha opinião, este é um capítulo bem interessante. Espero que você também ache!



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Quando o relógio com a figura de um olho indicou que o tempo do desjejum havia acabado, uma campa soou e todos se levantaram. Seguiram para o Curso de Simbolismos e Códigos. Havia várias salas. Beatrice entrou na que estava escrito "Sala Para Neófitos". Algumas pessoas de sua mesa também entraram. Rapidamente, as cadeiras estavam todas ocupadas. Um homem alto, magro e cabelos negros estava entre as cadeiras e uma lousa. Ele esperou que todos se sentassem para começar a escrever com giz "C. M. Kornlunth".

"Sejam todos bem-vindos, neófitos. Sou o instrutor de vocês. Meu nome está escrito no quadro, mas podem me chamar apenas pelo sobrenome. Qualquer dúvida levantem o braço e eu poderei responder se achar apropriado." Um garoto levantou-o imediatamente. "Pode perguntar."

" O que é o C e o M?"

"Essa não é uma pergunta apropriada", todos na sala riram. "Me chamem apenas de Kornlunth. Pois bem, essa é nossa primeira aula do Curso de Simbolismos e Códigos", disse desenhando um olho na lousa. "Isto pode parecer um olho. Mas na verdade, é nossa insígnia. Está escrito 'C.S.C.'. Nós usamos esta sigla para muitos significados." Um jovem levantou a mão. "Diga."

"O que é quer dizer a sigla da organização?"

"Esta é uma boa pergunta!", falou animado. "Nossa sigla inicialmente significava Corporação pelo Salvamento das Chamas, mas com o tempo tivemos a necessidade de criar outros significados. Temos o objetivo de manter o mundo sereno, fazendo o que for preciso para alcançá-lo. Apagar incêndios, salvar pessoas, evitar e combater crimes, levar criminosos à prisão. Esses são alguns de nossos feitios. Aí chegamos ao seguinte mote: 'Aqui o mundo é sereno'", e escreveu a frase no quadro.

Beatrice estava encantada com a aula, apesar de pensar que a linguagem do instrutor não era muito fácil para crianças de dez anos. Ela passou a apreciar a organização após conhecê-la melhor. Sua mágoa com os pais havia passado, porém sua tristeza por não vê-los ainda não. Olhou em volta e voltou a se perguntar "quem me escreveu aquela carta?". Não era possível descobrir. Alguns alunos assistiam atentamente, enquanto outros desenhavam em seus cadernos e outros seguravam-se para não dormir. B imaginou que aqueles não durariam muito tempo em C.S.C. O instrutor Kornlunth seguiu explicando sobre a importância de símbolos e os vários tipos de códigos úteis aos voluntários.

"Se um criminoso souber a informação que você está transmitindo a outro voluntário, ele estará em vantagem e você em desvantagem. É por isso que devemos ser discretos e ter segredos. É também por isso que usamos códigos. Pois assim, somente nós saberemos o que estamos tentando transmitir. E nós ficamos em vantagem."

Embora estivesse adorando a aula, Beatrice olhou para um relógio na parede com
a insígnia de C.S.C. e percebeu que sua ansiedade para que acabasse era maior.

"Um anagrama", prosseguiu Kornlunth, "é um ótimo meio de esconder um nome ou uma palavra. Anagrama vem do grego: ana, repetir e graphein, escrever. Um anagrama consiste em permutar as letras da palavra para criar uma nova. Permutar é algo que aqui significa 'trocar de posição'".

O instrutor escreveu um exemplo no quadro. "ATOR" se transformou em "ROTA" e depois em "RATO" e "ROMA" virou "AMOR" e depois em "OMAR".

Assim que a campa soou, Beatrice rapidamente guardou suas coisas e correu para o corredor, dobrando onde estava uma placa "Biblioteca".

Na entrada havia os escritos: "Aqui o mundo silencia". Seu interior era cheia de estantes muito altas e livros que pareciam não terminar. Os bibliotecários utilizavam escadas para alcançar os vários andares de livros. Beatrice ficou impressionada. Nunca havia visto tantos livros em sua vida. Talvez se contasse todos os livros que ela já vira, apenas preencheriam a área de Antropologia.
Havia uma grande mesa que era compartilhada com outros voluntários ou neófitos. A frase na entrada era verdadeira, pois o mundo parecia de fato silenciar dentro da biblioteca. Todos entretidos em seu mundo de leitura. A menina olhou em volta à procura de "L. S.", apesar de não saber como era. Pensou que não deveria ter chegado e procurou um livro para passar o tempo. Foi até o bibliotecário mais próximo.

"Com licença", ela chamou o bibliotecário. "Você tem algum livro sobre dramaturgia?"

"Não percebi que era uma ocasião triste", ele respondeu automaticamente. B não entendeu.

"Mas essa não é uma ocasião triste. Apenas gostaria de um livro", ela disse.
Ele pensou por um tempo e semicerrou os olhos por trás dos óculos apertados.

"Qual é seu nome?"

"Eu sou Bea... Sou B."

"Certo. Tenho algo para você." De imediato subiu em sua escada e rolou-a até a estante Dramaturgia. Sem procurar, pegou exatamente o livro Hamlet. Em seguida voltou e entregou à Beatrice. "Aqui está. Boa leitura."

A menina ficou um pouco atônita, sem entender como o bibliotecário sabia sobre seus interesses teatrais apenas pelo nome, visto que provavelmente não era a única "B" em C.S.C. Ela sentou-se para ler. A leitora se surpreendeu ao abrir o livro e perceber que havia uma carta nele. Estava escrito "Entregar para B".

Olá Beatrice,
Eu estou em algum lugar na biblioteca. Lendo o livro "Doces Segredos", que é um livro de receitas deliciosas, para quem gosta de cozinhar. Para mim é bem maçante e apenas o uso para cobrir o rosto enquanto você lê esta carta.
Obrigado por ter vindo e gostaria de mostrar minha gratidão também por ter ajudado minha pequena irmã, Kit Snicket na simulação ontem. Ela é pequena demais para se virar só, e infelizmente não posso ir ao dormitório feminino. Ela realmente precisa se adaptar, para continuar em C.S.C. Os voluntários que nos escolheram queriam que os três irmãos continuassem juntos, o que achei muito sensato, porém não tão bom para uma criança de quatro anos. Desculpe se escrevi demais, B.

Respeitosamente,
L. S.

P.S.: Se quiser responder-me, pegue o papel e caneta que depositei na gaveta, ponha a carta na página 23 deste livro e empreste-me dissimuladamente.

Beatrice olhou para frente e percebeu um leitor com o livro "Doces Segredos" e uma imagem de um bolo de chocolate. Ela não podia ver seu rosto por trás do livro de receitas. Achou muito curioso aquela pessoa que lhe escrevera através de cartas enviadas em segredo. Perguntou-se "por que é tão misterioso? Por que simplesmente não fala pessoalmente comigo?" e resolveu escrever para ele também. Abriu a gaveta com várias folhas de papel e uma caneta preta. Começou a carta:

Olá, L. Snicket,
Sua irmã é adorável. Suponho que seja irmão de J também, certo? O conheci esta manhã, ele também me pareceu ser uma pessoa agradável. Tenho certeza de que a pequena Kit vai se adaptar, assim como eu própria estou conseguindo.
Há algumas perguntas que gostaria de fazer a você. Por que prefere não mostrar seu rosto? Qual o problema de conversarmos cara a cara? Qual seu primeiro nome? Espero sua resposta sincera. Desculpe se perguntei demais, L.

Com todo respeito,
B. B.

Ela pôs a carta em Hamblet e passou para L por baixo da mesa. Por um momento suas mãos tocaram e Beatrice pôde sentir o calor da mão daquele estranho. Seu rosto enrubesceu. Logo L, puxou-o. O livro de receitas continuou na frente dele, B até tentou espiar por cima, ou pelos lados, mas ele movia o livro na direção em que ela olhava. Ela escutou o som de caneta rabiscando papel e então sentiu o toque do livro por baixo da mesa. Pegou-o e abriu a carta.

Cara Beatrice,
Eu considero que o mais importante não é o que as pessoas aparentam, e sim o que elas são capazes de escrever. Pode não ser algo verdadeiro, mas é meu humilde dilema. Por isso prefiro que você saiba quem sou pelo que escrevo e não por me ver. Além disso, devo relembrá-la de que é proibido conversar na biblioteca. A voluntária idosa no balcão é muito exigente quanto a silêncio.

Carinhosamente,
L. S.
P.S.: Meu primeiro nome é um anagrama de Menoly. Tenho certeza de que você descobrirá só.

Para confirmar o que L havia dito, uma criança cochichou ao ouvido da outra, quase inaudível, porém a idosa no balcão ouviu e emitiu um som com a boca de uma chaleira com água fervendo, que desconcentrou a vários leitores da biblioteca. Beatrice riu muito baixinho. A idosa fez um "shhh!" furioso para ela. A menina baixou a cabeça. Com o papel e a caneta se empenhou em descobrir o anagrama. Ficou grata pelo instrutor Kornlunth ter ensinado sobre o tema. Experimentou os nomes: "Nolemy", "Nylome", "Emynol", "Mlenoy", "Lonemy" e outros, mas percebeu que nenhum destes seria um nome apropriado para um ser humano. Até que por fim chegou a "Lemony".

"Lemony!", ela gritou vitoriosa, esquecendo-se completamente de manter silêncio.
Os leitores ao seu redor interromperam sua leitura para encará-la. A bibliotecária foi até a menina, muito irritada e apontou o dedo rígido para a saída.
Beatrice teve que obedecê-la e ir embora, antes dando uma olhadela para o leitor de Doces Segredos. Ele havia abaixado parcialmente o livro para olhá-la e balançava a cabeça levemente fazendo sinal de "sim". Parecia ter uma idade muito próxima à sua. B pôde ver seus cabelos e olhos e até parte de sua boca, que sorria para ela.
Interpretou que o "sim", significava que aquele era seu nome.
Lemony Snicket.


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Notas finais do capítulo

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