Sobre shows, sofás e dinossauros escrita por dubstepbard


Capítulo 2
Afogado em negações


Notas iniciais do capítulo

Recomendo ouvirem Sad Machine, do Porter Robinson, enquanto lêem. :3
O título do capítulo é um trecho da música Save Me, do Muse, que pra mim faz total sentido com o ship.

Boa leitura!



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Estava frio.

Muito frio.

O vento cortante parecia varar Tsukki, que estava com uma jaqueta leve demais para a noite. Há apenas algumas horas, ele estava em Miyagi, colocando a jaqueta na mochila só porque sua mãe havia insistido durante 5 minutos sem parar.

Mães realmente sabem das coisas.

Agora lá estava ele, andando ao lado de Kuroo, tremendo de frio.

Patético.

Ele se condenou por ter esquecido de olhar a previsão do tempo justamente dessa vez. Ele deveria ser menos irresponsável e mais prevenido, deveria ter lembrado e trazido uma blusa mais quente. Deveria saber que a noite ia ser fria e que o local não era tão perto, deveria saber exatamente para onde estavam indo mas estava deixando-se guiar por Kuroo. Ele dependia demais do outro.

Desde quando…?

Desde quando ele se deixava nas mãos do outro? E desde quando ele achava isso aceitável?

Tsukki respirou fundo enquanto pensamentos sobre Kuroo invadiam sua mente sem permissão. Deveria ter agradecido pelo convite. Deveria acreditar um pouco mais no outro, dar um pouco mais de crédito a ele. Deveria ter engolido seus medos e inseguranças quando viu que estava sozinho. Deveria ter recusado a ajuda do outro para fazer a janta, afinal, ele queria que o gesto fosse um pedido de desculpas. E, por falar em desculpas, ele devia algumas a Kuroo por ter duvidado dele…

Na verdade, ele deveria falar. Deveria abrir a boca e falar qualquer coisa pois dessa vez silêncio do outro já estava deixando-o nervoso, porque o outro parecia pensativo demais, triste demais.

Tsukki andava com a cabeça baixa e a testa franzida. Estava se sentindo péssimo, tinha certeza que era a causa do outro parecer tão pra baixo e pensativo e mal, talvez ele estivesse agindo por pena, talvez ele não gostasse realmente del-

“Oi, Tsukki, você está com uma cara péssima, o que foi?”

Pego no flagra.

Kuroo parou de andar, encarando-o. Uma de suas mãos repousou no ombro de Tsukki e a outra levantou seu rosto, de forma gentil porém firme. Eles estavam no meio da calçada, mas Tetsurou não parecia se importar. Kei engoliu em seco, as palavras fugindo de sua mente.

“Não é nada importante, Kuroo-san.”

Ah.

Ele havia chamado o outro usando o sufixo formal de novo. Kuroo ainda o fitava, preocupado, porém seu semblante parecia mais sério, mais soturno após a formalidade do outro garoto.

“Tem certeza?”

“Só estou com frio.”

Kuroo soltou-o e sorriu meio desconcertado.

“Ah, isso é fácil de resolver. Toma minha jaqueta, ela é mais quente. Eu uso a sua, não estou com nada de frio!”

“Mas…”

“Sem ‘mas’, você sabe que eu não sinto tanto frio.”

O rapaz entregou sua jaqueta para um Tsukki que ainda estava franzindo a testa em desaprovação, mas que já havia tirado a própria blusa para poder vestir a que estava recebendo.

Continuaram caminhando em silêncio. O clube não era longe, então logo eles chegariam a seu destino. Agora andavam lado a lado, com as mãos nos bolsos e a cabeça baixa. Vez ou outra seus cotovelos se encontravam e um arrepio percorria o corpo de Kei, que parecia responder a todo e qualquer toque do outro rapaz. Ele conseguia ouvir a respiração do outro, ver a fumaça saindo de seus lábios devido ao frio e conseguia ver, de vez em quando, que Tetsurou olhava para ele daquele jeito pensativo e meio… preocupado? Não sabia dizer.

Dizer, pensou Tsukishima. Ele abriu a boca e reuniu todo seu remorso e coragem.

“Tets- Kuroo. Obrigado pelo convite, e por me buscar na estação.”

Se Kuroo ouviu o rapaz chamando-o por seu primeiro nome, soube disfarçar muito bem, pois virou sua cabeça na direção de Kei e sorriu.

Era demais para o mais jovem, que, agora que havia começado, não conseguia mais parar.

“E pelos snacks, e por me cobrir...”

“Tsukki…”

“E por tudo....”

“Eu sei porque você está falando isso, Tsukki. Tire esses pensamentos da cabeça, ok? Ta tudo bem. Eu não estou bravo, nem chateado nem nada, é só que...”

Lá estava aquele tom de urgência novamente, ainda que o sorriso permanecesse no rosto dele.

“Nah, deixa pra lá. Estamos chegando, é logo ali!”

Kuroo apertou o passo e Tsukishima parou de andar. Sentia-se frustrado. Ele era bom em ler as pessoas, em entendê-las e observá-las. Ele sabia mais ou menos como o outro jovem agia, sabia mais ou menos o que esperar, mas aquilo era novo. Ele não entendia, não conseguia entender, não sabia o que se passava. E isso estava deixando-o irritado.

Olhou para Kuroo, que estava um pouco a frente. Os cabelos negros dele estavam desgrenhados como de costume, velho penteado que persistia desde os tempos de colegial. A blusa de frio que havia trocado era do tamanho exato, e ele a preenchia perfeitamente.

Como uma blusa que ele havia comprado pensando em si mesmo poderia ficar tão bem em outra pessoa?

Seus pensamentos foram interrompidos mais uma vez quando Tetsurou virou-se em sua direção. Mesmo um pouco distante, ele conseguia sentir o olhar intenso do outro rapaz e sua mente se esvaziou.

Tetsurou ainda estava sorrindo.

Usando sua blusa.

Sorrindo para ele.

“Vem logo, Tsukki!”

Eles haviam chegado.

–-

A porta se abriu e os dois jovens foram recebidos por uma golfada de ar quente. A casa de shows estava cheia e o DJ de abertura já estava tocando. Tsukishima se encolheu ligeiramente ao ver tanta gente junta.

Percebendo o desconforto do mais jovem, Kuroo virou-se em sua direção.

“Vamos encontrar um lugar para assistirmos ao show.”

Kuroo estendeu a mão para ele. Sem pensar duas vezes, Tsukki segurou-a, entrelaçando seus dedos com os do outro rapaz. Viu o rosto de Tetsurou tomar um semblante de surpresa por um instante, e logo ele estava sorrindo, guiando Tsukki no meio da multidão. Por sorte, o mais velho não olhou para trás em qualquer momento, limitando-se a apertar a mão do outro jovem de vez em quando. Sorte, pois Tsukishima estava vermelho e não tinha onde esconder a cara. Podia sentir o coração de Kuroo batendo acelerado, e inconscientemente correu seu polegar no pulso dele. Kei sentiu o braço que o guiava tensionar e podia jurar que sentiu a onda de arrepios na pele do outro.

Tetsurou parou abruptamente, fazendo Tsukki colidir com ele.

Eu não deveria ter feito isso.

"Aqui já está bom, não teremos problemas para assistir o show e nem vamos incomodar ninguém com sua altura."

O sorriso sarcástico ainda era o mesmo, mas os olhos de Kuroo estavam muito mais suaves e cheios de... Alguma coisa que Kei não conseguia distinguir.

“Calado, idoso.”

Olhando ao redor, viu que eles estavam num canto meio afastado da bagunça, na lateral do clube. O lugar era excelente: ambos tinham visão perfeita do palco e provavelmente não teria fluxo constante de pessoas, então a noite prometia ser tranquila.

Não era a primeira vez que eles estavam indo a um show, portanto já tinham experiência quando o assunto era encontrar um bom lugar para ficar numa boa, sem passarem por apertos.

“Oi, acho que vai começar em breve.”

Kuroo estava certo. O DJ residente saiu do palco e as luzes se apagaram. Tsukishima começou a ficar ansioso, o que era incomum.

As luzes voltaram a acender. Tsukki arregalou os olhos e tentou conter um sorriso ao ver seu DJ favorito subir ao palco.

Não teve muito sucesso.

–-

Tetsurou não conseguia desgrudar os olhos dele.

Nunca vira o outro rapaz tão feliz, nem mesmo depois de todas as partidas vencidas, nem em outros shows, nem mesmo rindo das palhaçadas do Bokuto bêbado. Ele parecia genuinamente feliz.

E isso deixava Kuroo feliz também, uma leveza tomava conta de seu peito e ele se permitiu sorrir, apenas por estar ali naquele momento.

Aquele momento.

Aquele seria um ótimo momento.

Ele esticou o braço e pensou em chamar pelo outro, mas desistiu.

Ele não queria atrapalhar.

Ele não queria que o outro parasse de curtir a noite por sua causa.

Ele não queria ser rejeitado e perder o que eles já tinham.

–-

As luzes seguiam o ritmo das batidas e era possível ver todo mundo pulando em sincronia. Aquela era a dualidade das multidões, um sentimento coletivo e ao mesmo tempo muito pessoal, algo precioso e banal e bagunçado e introvertido. Era a individualidade de cada um que formava aquele grupo de pessoas especificamente, aquele grupo que não era nada específico.

Ainda no canto, que estava vazio a não ser por ele e Kuroo, Tsukki conseguia sentir todas as emoções e vibrações da música e do público, tudo isso sem ter que ser jogado de um lado para o outro. Agradecido, ele olhou para o jovem que o guiara até ali e sorriu, sentindo-se meio esquisito por todos os pedidos de desculpas e obrigados que ele gostaria de falar.

Tetsurou retribuiu o sorriso, ainda que parecesse mais tenso do que de costume.

Estranho.

Kei andou até onde o outro rapaz estava encostado e estendeu a mão para ele.

“Será que você está começando a ficar idoso mesmo? Não fique aí no canto, não combina com você.”

Kuroo ficou paralisado por alguns instantes, olhando incrédulo para o mais jovem. Aquilo era um elogio?

Tsukishima entendeu mal a hesitação de Tetsurou e recolheu a mão, abaixando a cabeça para evitar os olhos do outro. Sentiu-se rejeitado e todas as suas inseguranças voltaram à tona.

“Desculpe por fazer você vir comigo.”

Sua voz saiu rouca e baixa, quase um sussurro, sem a intenção de se fazer ouvir.

“Não começa, Tsukki. Eu vim porque quis, não se sinta culpado. É só que…”

Kuroo respirou fundo e endireitou-se. Colocou as mãos nos ombros de Kei, percorrendo os braços do outro até segurar suas duas mãos, entrelaçando seus dedos com os dele. Ele deixou a testa repousar no ombro de Tsukki e começou a falar.

“Tsukki, eu não vou mentir, tem muita coisa na minha cabeça agora, mas não precisa se preocupar. Eu sei que esse show é muito especial pra você e não quero que você perca seu tempo ficando preocupado comigo a toa. Eu estou aqui porque eu quis, você não me obrigou a nada, ok? Pare de pensar essas coisas, por favor. ”

Agora Kuroo estava apertando as mãos de Tsukki, que apertou de volta em um gesto de compreensão. A proximidade do outro era algo bem-vindo mas ao mesmo tempo o deixava inquieto, ansioso, nervoso. Ele ficou imóvel, esperando o outro agir, as luzes ofuscando sua visão.

A música que estava tocando atingiu seu ápice e houve um segundo de silêncio total.

Tetsurou levantou a cabeça e esboçou um sorriso.

Por que, apesar de estar sorrindo, você parece tão triste?

Kuroo afastou-se dele, as mãos que seguravam tão firmemente as de Kei afrouxando-se e soltando-as.

Por favor, não me solte.

Timidamente, Tsukki entrelaçou seus dedos com os do outro jovem novamente, que o fitou, surpreso, mas não falou nada.

Não era necessário.

–-

Kuroo sentiu que aquela era uma oportunidade.

Tsukki havia lhe oferecido sua mão.

Tsukki não havia se afastado quando Kuroo se aproximara.

Tsukki estava segurando sua mão por livre e espontânea vontade.

Só naquele dia, eles já haviam compartilhado vários momentos como aquele, momentos em que Kuroo ousava imaginar que seus sentimentos eram reciprocados pelo mais jovem. Ousava, pois apesar de ter se preparado mentalmente para confessar que estava apaixonado pelo outro, ele não acreditava que o outro aceitaria seus sentimentos tão facilmente. Ele era um cara, pra começo de conversa, e definitivamente não era a pessoa ideal para ele, uma vez que não era um poço de paciência, calma e gentileza.

Ele também gostava de pensar que esse não era o tipo ideal para Tsukki. Gostava de pensar que apenas quem fosse corajoso o suficiente para enfrentá-lo de igual pra igual, e provocá-lo até ele perder a compostura, era a pessoa ideal para lidar com o rapaz.

Kuroo gostaria de fazer Tsukki perder a compostura.

Parte dele, a parte observadora, ousava acreditar que o outro rapaz gostava dele. Ao menos, que gostava dele o suficiente para não tratá-lo com desdém depois que ele se confessasse. Talvez sentisse pena. Talvez sentisse nojo. Kuroo não sabia o que esperar.

Corando ligeiramente por pensar em tantas coisas, ele sentiu o calor da mão de Tsukki na sua e sua insegurança diminuiu.

Mas não o suficiente.

–-

A música mudou e as luzes se acenderam por um breve segundo.

Com a visão ofuscada, Tsukishima virou o rosto para o lado enquanto levantava a mão livre para cobrir os olhos.

Ainda meio cego, ouviu as primeiras batidas da música e arregalou os olhos, surpreso. Ele virou a cabeça em direção a Kuroo, que também estava piscando incessantemente numa tentativa falha de voltar a enxergar direito.

“Essa é a minha favorita.” disse, animado, voltando sua atenção para o palco.

Ele não sabia direito qual a necessidade de contar aquilo para o outro rapaz, mas começava a acreditar que toda a situação era muito mais do que ele merecia. Lá estava ele, no show de seu DJ favorito, ouvindo sua música favorita e tudo isso graças a Kuroo, que estava bem próximo de ser considerado sua pessoa favorita.

and though I know

since you’ve awaken her again

she depends on you

she depends on you

Antes que pudesse sentir vergonha, sua voz uniu-se à multidão e ele estava cantando, ainda que timidamente. Sabia que ninguém podia ouvi-lo.

Ele era só uma gota no mar de vozes.

Não era nada significante.

Não era importante.

Mas alguém estava ouvindo. Alguém se importava. E ele era importante para alguém.

Ao menos era isso que dizia a mão que segurava a sua, os dedos entrelaçados e o pulso acelerado do outro rapaz.

–-

A voz de Tsukishima encheu seus ouvidos.

Ele nunca sequer sonhara em ouvir o outro cantar.

O sorriso tímido, discreto, também era algo que Kuroo nunca havia visto antes. Era como se ele estivesse observando um momento muito íntimo de Kei, algo que ele guardava só para si mesmo.

Um momento que Kei queria compartilhar com ele, se a mão que segurava a sua significava algo.

she’ll go alone

and never speak of this again

we depend on you

Seu sentimentos estavam borbulhando e ele estava extremamente constrangido por se sentir assim, quando o outro jovem puxou sutilmente sua mão, trazendo-o para seu lado. Os braços deles se encostaram.

we depend

Tsukishima virou para ele e sorriu o mesmo sorriso íntimo que Tetsurou estava admirando há alguns segundos.

I’ll depend

on you

“I’ll depend on you.”

O cérebro do mais velho parou de funcionar.

Kuroo sentiu seu corpo todo aquecer e seu estômago mostrou que sabia exatamente o que era gravidade zero. Ele ficou imóvel, as sensações mais diversas e esquisitas tomando conta dele, suas inseguranças indo embora como uma onda que volta ao mar, seus sentimentos transbordando como a maré sob a lua cheia. Tudo parecia tremular levemente.

A única constante era a mão de Kei na sua, apertando-a gentilmente, quase carinhosamente. O outro rapaz ainda estava cantando, sorrindo, os olhos fechados.

Radiante.

Tetsurou soltou a mão de Tsukki e o envolveu pela cintura, trazendo o corpo dele para si. Usou a mão livre para guiar o rosto do mais jovem até o seu e o beijou, sem pensar duas vezes no assunto.

Sem a certeza de que seria correspondido.

Sem a preocupação de estar sendo egoísta.

Sem inseguranças.

Sem arrependimentos.

Sem ar.

Sem reação quando Tsuk- Kei – colocou os braços ao redor de seu pescoço e o puxou para mais perto de si.

–-

Os segundos se estenderam para minutos que mais pareciam horas, que ainda assim não foram o suficiente para que Kuroo se sentisse realizado quando suas bocas se separaram.

Ele olhou para Kei, extasiado, e o outro jovem corou e desviou o olhar, voltando-se para o palco e deixando os braços caírem ao lado de seu corpo.

Tsukki...

Ele se sentiu angustiado por não saber o que se passava na cabeça do outro. Esticou o braço com o intuito de chamar Tsukishima e falar, apenas falar, qualquer coisa para quebrar o clima estranho que estava se formando.

Talvez eu tenha estragado tudo.

Por um breve momento, ele ficou imóvel, com o braço esticado, procurando as palavras para remediar a situação.

Sentia-se sufocado. Afogando.

A falta de contato físico doía.

Porém, o cenho franzido na expressão do outro doía ainda mais.

O que você está pensando, Tsukki?

–-

Nada fazia sentido naquele momento.

A mente de Tsukishima parecia incapaz de digerir todas as informações.

Seus pensamentos o haviam abandonado e ele sentia-se uma casca vazia, vibrando com as ondas sonoras do show, que continuava acontecendo.

Ah. O show.

O ambiente estava tomado por luzes azuis que piscavam incessantemente seguindo as batidas da música.

A música.

Ele não reconhecia a melodia e não conseguia prestar atenção na letra se é que havia algum vocal. Seus sentidos estavam aguçados mas o resto do mundo parecia turvo, como se ele estivesse numa bolha dentro de um aquário.

Nada fazia sentido naquele momento.

Ele ainda sentia o calor do corpo de Kuroo junto ao seu, ainda sentia suas bochechas arderem, ainda sentia sua cabeça dando voltas e seu estômago cair ao infinito e além, ainda sentia o toque dos lábios do mais velho nos seus, ainda sentia o perfume do outro impregnado em seu nariz - em seu cérebro. Tudo aquilo era muito repentino e surpreendente. Inédito. Incrível.

Patético.

A música tornou-se mais sutil e calma, então, acelerou e atingiu um crescendo, como uma onda chegando em seu ponto mais alto antes de quebrar.

Silêncio.

A multidão parecia segurar a respiração, todos esperando pelo ápice da melodia, pela próxima nota.

E ela veio.

Subitamente, todas as emoções invadiram-no ao mesmo tempo. Tsukishima ficou sem ar por alguns segundos enquanto observava toda aquela gente pular ao mesmo tempo.

Ele não conseguia entender seus próprios sentimentos. Ele estava feliz, mas também estava apavorado. Estava radiante e irritado.

Sentia-se sufocado. Afogando.

Tinha vontade de virar-se novamente para Kuroo e agarra-lo com todas as suas forças, aperta-lo e nunca mais deixa-lo ir.

Mas também tinha medo de que aquilo tivesse sido uma emoção de momento que fugira do controle, algo leviano.

Tinha mais medo ainda de não ser algo tão simples quanto um beijo sem sentido e de ter magoado o outro ao virar-se para o palco subitamente, sem saber como reagir depois de tudo.

Talvez eu tenha estragado tudo.

Nada fazia sentido naquele momento.

… Eu sou mesmo patético.

–-

Ficaram parados, em pé, lado a lado.

O silêncio, que por vezes era muito bem vindo entre eles, era preenchido por melodias e letras e batidas e agudos e graves, mas ainda parecia um silêncio absoluto.

Kuroo não sabia nem por onde começar. Havia estragado tudo, agido sem a permissão do outro, sem conseguir se explicar. O mais jovem com certeza o rejeitaria assim que tivesse a chance.

Tsukishima não sabia como quebrar o silêncio. Havia estragado tudo, agido sem pensar e não tinha explicação formada para suas ações. Muito menos para seu instinto de fugir. O mais velho com certeza o rejeitaria assim que tivesse a chance.



Eu sou o pior.

Kuroo sentia-se angustiado, engasgado com palavras que não tinha coragem de dizer. Ele queria pedir desculpas, falar que Tsukki era importante pra ele, gritar, chorar, beijá-lo de novo, abraçá-lo e mostrar que todas as inseguranças do outro eram nada mais do que isso: inseguranças.

Mas ele não se moveu.



Eu sou o pior.

Tsukishima sentia-se sufocado, aflito com as ações que tinha tomado nos últimos instantes. Ele queria pedir desculpas, falar que Kuroo era importante pra ele, agradecer, chorar, beijá-lo de novo, abraçá-lo e mostrar que ele não queria ter lhe dado as costas.

Mas ele também não se moveu.

E assim, o show chegou ao fim.

Era hora de voltar.

–-

Na rua, os pensamentos amontoavam-se a cada passo.

Ainda caminhavam lado a lado.

Ainda estavam em silêncio.

Kuroo havia decidido que iria pedir desculpas e depois não incomodaria mais o outro, mas qual seria a melhor hora, o melhor momento? Não queria que o mais jovem ficasse ainda mais irritado ou chateado com ele, e queria resolver isso o mais rápido possível.

Ele olhou para Tsukki de canto de olho. O rapaz parecia estar perdido em pensamentos, inexpressivo como sempre exceto pelo vinco entre suas sobrancelhas, que parecia ficar cada vez maior e mais profundo.

Ele abriu a boca. Ia falar. Ia pedir desculpas.

Ia fazer qualquer piada idiota, ia fazer Tsukishima dar risada e responder de volta com um comentário sarcástico.

Ia falar o quanto gostava dele.

As palavras ficaram presas em sua garganta.

Talvez fosse melhor deixar pra lá por enquanto.



Tsukishima esperou que Kuroo falasse alguma coisa durante todo o trajeto.

Qualquer coisa.

Até mesmo uma de suas piadas idiotas.

Mas o outro rapaz não disse nada.

Silêncio.


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Notas finais do capítulo

Não me odeiem!
O capítulo final deve sair na semana que vem.

O que vocês sentiram lendo esse capítulo? o/



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