Tunnel Of Love escrita por vegadelira


Capítulo 5
Hóspede


Notas iniciais do capítulo

Hey! Desculpa a demora. Tenho três razões pra isso:
1. Estou de férias 2. na casa dos meus pais.
3. Leiam o último jornal que postei, se quiserem.

Este capítulo foi fácil de fazer, mas não foi um dos meus melhores. Tentei aperfeiçoar. Espero que comentem e, claro, gostem



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Terça-feira, 14/04/2015, 19h28min. – Londres, Sudeste da Inglaterra.

As gotas de chuva tamborilavam nas telhas das residências, e a tempestade ia ganhando força, parecendo nunca acabar. A luz da lanterna era direcionada ao rosto do jovem, o qual estava demasiadamente sombrio. Os fios de cabelo grudavam na testa cheia de suor. Algo dissera à Fionna que o vira antes, e o olhar enigmático foi o que a permitiu chegar a tal conclusão com pouca iluminação. A espada assestava ao abdômen de Marshall, enquanto a loira titubeava a cada passo com receio e suas mãos transpiravam. O jovem se levantou, fazendo com que a garota segurasse firme o objeto, mas a falta de atrito facilitou a tomada do mesmo pelo rapaz, deixando Fionna desesperada. Ele se manteve em silêncio, e a loira, vulnerável, perguntou:

— Por que você invadiu a minha casa?

Marshall lançou a espada ao chão para tentar fazer com que Fionna esquecesse o assunto, pois ainda não sabia o que responder. Ela queria muito compreender a razão porque era uma aventura nunca vista por si nas histórias que costumava comprar na livraria. A menor continuou a indagar a fim de arrancar uma justificativa do maior, e nem uma mísera palavra lhe foi dada. O rapaz andou até um livro caído, abaixou-se e o pegou.

— Você leu a história de Frankenstein, não? 

Fionna esboçou uma expressão confusa com as sobrancelhas e assentiu. Ela o observava colocando o livro na estante. Marshall ficou parado, de costas para a moça.

— Venho em paz. Ao invés de me esconder, gostaria que você me encontrasse de uma vez. — suspirou — Não achei uma maneira para te comunicar sobre vir aqui.

A loira entendeu a referência, todavia era evidente que certos fatos não estavam completamente esclarecidos.

— Frankenstein não era a criatura, e sim o cientista. — corrigiu-o.

O jovem se virou, e ela o encarou sorrindo, entretanto duvidosa. Instantes depois, a garota se acomodou no colchão, secou as mãos no cobertor felpudo e brincou com a lanterna, formando círculos brilhantes no teto ao gira-la rapidamente. Percebeu que, no momento no qual Marshall apanhara o livro, mantivera a luz para baixo, o que deveria impossibilitar a leitura do título. Porém, isso não condizia com a situação anterior. Várias questões sobre o rapaz surgiam e atordoavam a mente da loira, que estava com uma forte enxaqueca. Destarte, prosseguiu o interrogatório:

— Como leu o título?

Aproveitando a distração do jovem, que olhava para o instrumento musical, inclinou-se com a finalidade de pegar a espada e se ergueu. Por mais que ele não tivesse demonstrado perigo em estar ali, o ceticismo a impedia de estabelecer uma relação pacífica.

— Se estiver perguntando com a intenção de arrumar tempo para planejar um ataque surpresa, desista. — disse fitando-a encurvada.

Persistente, de uma forma ligeiramente teimosa, ela prosseguiu e o pressionou contra a estante, tombando o objeto afiado para a horizontal, o qual era friccionado no pescoço do rapaz pálido com leveza.

— Invejo sua capacidade de escapar das perguntas, e isso não mais funcionará comigo. Estou irritada.

Marshall arquejou, experimentando o ardor que a prata lhe causava. A sua recomposição fora o precípuo para retrucar à loira e afasta-la. Ambas as forças eram análogas, e o jovem se sobressaiu por pouco. Uma luta mais justa, portanto, revelaria o vencedor com rapidez devido à diferença extrema. A conclusão seria que a potência de Marshall era incomparável a de Fionna.

— Você está com medo. Suas mãos tremularam.

As bochechas da menor enrubesceram, retribuindo a audácia de Marshall.

— Não é uma batalha. Pare com esses comentários idiotas.

— Claro! Você apenas está me extorquindo. Não há nada de mais. — contestou irônico — Eu tive duas chances de causar mal a você. Não acha que seria uma perda de tempo adiar isso? Pois bem, reveja seus conceitos.

Fionna olhava fixamente para o ser. Relembrou do túnel, no parque, e deixou um pequeno vão entre os lábios. 

— Desculpe-me pelo arranhão. Só que você continua fugindo.

— Não posso ter um sossego? Estou de cabeça quente.  

— Você não é o único.

— Coelhinha, eu acabo de concluir que você não merece receber satisfações. — passou a mão pelo corte no pescoço que sangrava, enquanto ela o observava.

Um conhecido, mas estranho, invadira o aposento e a chamava por um apelido um tanto pejorativo. Ademais, exigia respeito e paciência. Pelo menos fora o que a loira compreendeu.

— Para toda regra existe uma exceção, seu indigente literário. Uma delas, sem dúvidas, é poder receber satisfações quando alguém começa a ocupar o seu espaço. É válida a dupla interpretação. 

Marshall Lee cerrou os punhos. O discurso foi muito bom. Estava o aplaudindo na imaginação, visto que, se não podia ler o bastante, podia exercitar a mente evitando diálogo com Fionna e a estimulação de uma personalidade prepotente.

— Eu não estou na sua casa. Você está na minha! É melhor dizer o que quer. Além disso, ia me esquecendo...

O jovem, conturbado, completou a frase.

— O título?

Após ela anuir quase que para si mesma, ele começou a explicar com delongas, e a raiva transparecia em todo o semblante de Fionna. Enquanto palavras eram transmitidas, emergia uma inextinguível decepção. Essa sensação desconfortável a qual — melhor discorrida — a menor passou, num período que aparentou ser eterno, lentamente desfrutando de golpes no peito, durou, na verdade, insignificantes minutos. Era terrível constatar o que acontecera no seu recinto sagrado em sua ausência. Algumas peças foram bisbilhotadas, como sua touca de coelho. A justificativa sobre o título foi dada: mexera nos livros e tentara arruma-los, e um ficara para trás, assim ele acabou por decorar do que se tratava. Fionna teve uma opinião: ele fora plausível, desconsiderando o nervosismo, o excesso de pestanejo e algumas coisas que não faziam o menor sentido. Ela não queria mais discutir, estava farta daquilo. Por isso, adentrou nos olhos de Marshall para ter uma noção do que se passava com ele, que escondia algo e não iria entregar com facilidade. O rapaz já a avisara que não ia bem, porém ela captou tarde demais devido à teimosia e curiosidade.

Aflição, medo, angústia e tristeza. Um turbilhão de sentimentos se impregnou em Marshall e aflorou quando ele encontrou o lar da moça, uma dos únicos indivíduos que ousaram a dar uma chance a ele e seu jeito de adolescente rebelde.

— Quer tomar um banho?

Fionna inquiriu com doçura na voz, distanciando-se. O rapaz hesitou, mas notou que a chuva não estava mais tão forte e parara de relampaguear. Era estupidez dispensar o intervalo da tempestade. No entanto, ele anuiu e, em seguida, acrescentou que não possuía vestimentas. A loira pediu que evitasse ter preocupações, pois providenciaria o necessário.

O ferimento se tornou minúsculo. Sob a corrente de água fria, Marshall sorriu consigo, revendo as vantagens em ter se tornado o que era, todavia não compensavam as desgraças que ocorreram e ocorriam. Capacidade de maior regeneração, imunidade alta ao efeito do álcool e força, por exemplo, não substituíam a falta que sentia de quem amava. Quando fechou o registro do chuveiro, ouviu dois suaves toques na porta. Deslizou o vidro do box e foi certificar o que estava acontecendo. Deparou-se com uma toalha esbranquiçada e roupas. Apesar de ter deixado a porta semiaberta, além de somente parte da face caber ali, ele conseguiu pegar os materiais para si. 

Ele desceu a escada. A moça sentada no sofá de quatro lugares, situado entre a televisão de plasma e o piano, parecia meditar aos olhos de Marshall. Havia velas em candelabros dispersadas pela casa toda, e a última vez que o rapaz vira isso fora num filme de comédia romântica, acompanhado de sua ex-namorada, logo, mesmo que a decoração fosse essencial para a falta de luz, não era reconfortante. Fionna continuava imóvel, e ele deu de ombros. Avaliar a imensa sala de estar com uma cozinha no fundo era mais agradável que dialogar com a loira nesse momento. Um minuto depois, foi assegurar se havia algum problema com ela. 

— Fionna... — interviu o jovem no devaneio da garota.

Ela demorou segundos para corresponder. Inicialmente, programava as atividades e as obrigações que devia cumprir nas datas próximas. Mas, como toda menina, acabou pensando em um relacionamento que não chegava a ter verossimilhança. Não, não envolvia Marshall, esse ela queria distância. Bastava o sofrimento com os jovens que lhe arrancavam suspiros no colégio.

— Perdão. Eu viajei numas coisas aqui. — explanou desnorteada.

— O quê exatamente? — ergueu as sobrancelhas com a voz provocativa, até se dar conta que ela poderia ataca-lo. De novo.

— Deixa pra lá. 

Marshall liberou o ar aquecido de seus pulmões em agradecimento. Isso não era um ato vital, entretanto deveria agir como um humano verídico.

— O que foi?

O rapaz resistiu em brincar, dizendo que esperava um discurso infantil atualizado formalmente. Todavia, escapou um “deixa pra lá”. Fionna o olhou de soslaio e soltou uma risada discreta. Marshall percebeu que ela havia trocado de roupa, e a cena não era boa. Na concepção dele, o tempo não estava tão abrasante para usar um pijama azul de lã com meias pretas, porém não levou em consideração que a própria temperatura corporal era típica de um sangue frio.

— Como você aguenta usar isso?

— É meu único traje para noites com menos de vinte graus. Tenho mais dois, só não uso porque não os acho adequados. — complementou. — Por que não se senta? Está com cara de paisagem aí há horas. A propósito, você fica bem de moletom.

O maior observou os tecidos largos que o cobriam. Ele se abeirou e acomodou-se ao lado da menor. Abriu a mão e estendeu-a para a loira, que tinha dificuldades em enxergar o metal na palma do rapaz que reverberava a luz tremeluzente das velas. 

— Acho que pertence a você.

Fionna arfou surpresa, logo distinguiu uma iluminação que contrastava no cômodo. Virou-se à direita e viu a casa da vizinha idosa funcionando — em questões de energia elétrica.

— Ela se deu conta de que tem um gerador. Daqui a pouco irá ligar o rádio que só toca músicas obsoletas. — voltou a encarar o pingente que dera a Marshall.

— Acertou. — confirmou o rapaz com um sorriso no rosto.

Quiçá fosse uma daquelas bandas de rock clássico, daquela época na qual os pais dos jovens telespectadores diziam que os artistas eram vagabundos, só sabiam tocar guitarra na MTV. Aquilo não era trabalho, mas ganhavam dinheiro e muitas mulheres. O único legado deixado por essas bandas era a repetição constante de suas músicas que não fizeram sucesso em estações de rádio para velhos ouvirem o dia inteiro, recordando dos tempos antigos, e a dispersão dos hits em festas adolescentes. Eles queriam demonstrar cultura. Mas a definição de cultura não era bem isso que imaginavam.

Ambos se concentraram no som distorcido pela sintonização fraca. Os ruídos soavam familiares, tornando-os nostálgicos como a vizinha.

When you can fall for chains of silver, 

Quando você se apaixona por correntes de prata,

you can fall for chains of gold.

você pode se apaixonar por correntes de ouro.

You can fall for pretty strangers 

Você pode se apaixonar por estranhos belos

and for the promises they hold.

e pelas promessas que eles fazem.

— Não sei se é uma metáfora, mas ao pé da letra concluo que os direitos autorais não são de Mark. — afirmou Fionna.

Existia uma série de motivos que provavam que Marshall Lee não a compôs. Um deles, também principal, era que ele não sabia compor.

— Ou então ele se baseou em você. 

— Primeiramente, é impossível se apaixonar por estranhos, a não ser que você me ache bonito o suficiente para isso. Em segundo, eu quebrei sua promessa. Não deixei as coisas como estavam porque...

— Convencido. — a loira ronronou e em seguida riu, mas percebeu que o rapaz permanecera calado, meio desolado — Marsh?

Ele estava se decidindo se deveria revelar o que o trouxera até ali. Era crucial a ajuda dela para fazer o que queria. O jovem puxou a miúda mão delicada da menor e ali depositou o pingente prateado. 

— Há duas pessoas agora em quem confio. 

— Eu sou uma delas, sem dúvidas. Quem é a outra?

— Não é tempo para brincadeiras, Fionna. Já que perguntou, é o dono de um bar.

A primeira ideia que passou pela cabeça da moça era que Marshall sofria de distúrbios psíquicos ou era um alcoólatra, todavia adivinhou a última alternativa.

— Estou pessimista quanto a você. Você é impassível.

— Só preciso daquela garota de bom coração do Hyde Park. Espero que não tenha mudado tanto.

— As circunstâncias não mudam as pessoas, mas fazem-nas agir da melhor forma perante a elas.

— Gostei disso. 

O rapaz contou os incidentes que aconteceram a partir do abandono ao Hyde Park, e evitou dar muitos detalhes sobre sua vida e a do ex melhor amigo. Fionna escutava atônita, sem interferir arguindo. Ela nunca imaginara que enquanto estava levando uma vida pacata após o parque, a pessoa que viveu uma breve diversão com ela em um barquinho havia sofrido muito nos dias passados. Estava arrasada e nem conseguia balbuciar uma palavra, com medo de piorar o estado de Marshall. Quando este expôs suas hipóteses sobre todos que o rodearam durante o período, a loira preferiria os argumentos que ele usara para se defender sobre o título do livro. Eram mais admissíveis.

— Não é convincente você vir aqui em virtude da Marceline. Da mesma forma que você me encontrou, poderia encontra-la.

— E o que eu diria pra ela? Você não entende... Eu não sabia que rumo tomar. De repente veio você na minha cabeça porque você conhece a Marceline. 

— Você é louco. Por que ela mataria seu amigo? Ele devia ter algum segredo escondido de você então. — disse irônica.

Ele não esconderia um segredo de Marshall. Ou o faria? Isso o fez repensar. Talvez o motivo não fosse o que acreditava. O que seria mais provável?


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Notas finais do capítulo

Este capítulo já estava em mente desde julho, mas só agora o fiz. A história está atrasada, sem nem um desenvolvimento. Quero termina-la ainda este ano.

Trecho de Romeo e Juliet, Dire Straits.



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