— Ah, qual é! — disse a garota escandalosa. — Por favor, por favorzinho, Anne!

— Você é surda ou o quê? — falou a Anne. — Mandei você ir pra casa!

Isavella bufou e foi caminhando lentamente até a porta.

— Graças aos deuses que você mandou aquela garota embora — eu disse. — Ela é realmente muito irritante.

Anne se virou para a porta, onde a garota ainda estava parada.

— Isa, o que eu disse? Vai logo!

— Não posso — ela sussurrou.

— O que? Isa!... — Anne foi até a garota e ficou parada por uns dois segundos como ela, quando olhou para baixo.

Ela foi puxando a garota para trás, cochichando: "Cuidado!". Eu não entendia o que estava acontecendo, até ver um lobo enorme, caminhando lentamente na direção de Anne e Isavella, rosnando.

Pegamos logo nossas espadas para atacar o monstro, mas então lembramos de que elas não fariam o menor efeito naquele lobo. O estranho era que nós apenas dávamos passos curtos para trás, o monstro não atacava em momento nenhum, mas por quê?

Só então que me lembrei de meu sonho e o que Richard havia dito: Alguém de nosso exército já deve ter capturado aquelas crianças. E isso significava que o monstro não desejava nos matar, mas sim nos capturar para Richard.

Fomos caminhando lentamente até chegarmos na cozinha, onde Isavella acabou tropeçando em uma das cadeiras que haviam na bancada e caiu no chão. O monstro se abaixou e rosnou para ela. A menina, desesperada, logo se levantou, pegou um cupcake da bandeja que Avery havia deixado e jogou na cara peluda do monstro.

O lobo fechou os olhos na hora do impacto e hesitou um pouco, mas depois que o cupcake escorregou pela sua cabeça, deixando um rastro de cobertura de chocolate, ele investiu contra Isavella.

Rápida como um raio, Anne abriu uma das gavetas da bancada e atirou cinco facas de prata de uma só vez no monstro, que virou pó.

— Isso foi um tanto... Esquisito — Anne disse. — Chloe, o que você ia dizendo antes da Isavella chegar?

— Eu ia dizendo que, em meu sonho, ouvi um monstro idiota falar: "O Exército do Central Park estará completo!", logo depois do Richard dizer que o exército deles estaria completo.

— Então é isso! — Anne exclamou. — Eles estão no Central Park! Temos que ir para lá.

— Sim, mas, se irmos, estaríamos praticamente caindo na armadilha dele — falou Harry.

— Bom, isso é verdade — eu disse. — Mas precisamos ir para que a profecia se complete, deveremos enfrentar aquele exército. Ainda mais, afinal, que ele é pequeno.

— Mas mesmo assim, não acha que deveríamos pedir reforço? — sugeriu Anne.

Continuamos discutindo sobre o que deveríamos fazer, e Isavella assistia tudo sem dizer uma única palavra. Decidimos que deveríamos ir mesmo ao Central Park, sem pedir reforço. Minutos depois estávamos pegando um táxi para o Central Park, Isavella insistia em ir junto.

— Isavella, sua mãe não iria gostar nem um pouco disso! — Anne disse, enquanto ela tentava adentrar o táxi e Anne a impedia com as pernas.

— Mas, Anne, eu quero ir — ela fez cara de cachorrinho carente. — Por favor, por favor, por favor!

— Não, de jeito algum! — Anne disse, já perdendo a paciência. — Eu não quero ser responsável se você se machucar!

Isavella olhou para Anne, fez uma cara de triste, arregalando os olhos e fazendo biquinho. Aquilo era, de certo modo, até... Fofo. Isavella disse:

— Por favor, por favorzinho, Anne!

— Ahn... Não é a mim que você tem que pedir! — Anne falou, parecendo sem saída. — Tem de pedir à Chloe, a missão é dela!

Isavella bufou, e depois olhou para mim, fazendo sua cara fofa e triste.

— Se você quer se machucar não é problema meu — eu disse. — Apenas não nos responsabilize!

Me senti uma total irresponsável por deixar uma criança mortal nos acompanhar até o Central Park para enfrentar aquele exército, mas ela acabou até comemorando enquanto se espremia dentro do táxi entre mim e Harry. Anne teve que ir sentar no banco da frente para dar espaço para todos.

O trânsito estava horrível, demoramos quase quinze minutos para sair de onde o táxi havia estacionado. Quase uma hora depois, paramos no sinal. Por sorte, o táxi onde estávamos era o primeiro da longa fila de carros, estávamos bem em frente à faixa de segurança.

Estávamos esperando o sinal abrir até que nos deparamos com uma coisa totalmente estranha, esquisita: havia um cervo dourado, repito, um cervo dourado, atravessando a faixa de segurança lentamente. Havia um grupo de meninas esquisitas, usando roupas prateadas seguindo-o.

— Ah, meus deuses! Eu não acredito! — exclamou Anne. — Era exatamente disso que precisávamos!

— Disso o quê? — perguntei.

Anne não respondeu. Ela pagou o taxista e puxou todos nós para fora do carro, nos levando até o cervo dourado e as garotas, que já haviam atravessado a rua e estavam do outro lado.

— Thalia! — Anne gritou. — Thalia!

Uma garota olhou. Ela se parecia com Amy, exceto os cabelos, já que a garota tinha os seus curtos e Amy tem — ou tinha, já que, sem querer, eu os cortei com uma flecha — os seus compridos.

— Anne? Harry? — perguntou a garota ao nos ver. — O que fazem aqui?

— Estamos em uma missão — explicou Harry.

— Ah, e quem é essa aí? — ela apontou para mim.

— Thalia, essa é Chloe — apresentou Anne, apontando para mim. — E Chloe, essa é Thalia. Vocês são... Ahn, digamos... Irmãs.

— Ah, nossa, já fazia um tempo que eu não conhecia um meio-irmão ou meia-irmã — Thalia disse. — Mas, mudando de assunto, vocês precisam de alguma ajuda?

— Na verdade sim — Harry disse. — Chloe teve um sonho e vamos ter de enfrentar um exército no Central Park, e precisamos de reforço. Poderiam nos ajudar?

— Será um prazer ajudá-los — falou Thalia, e se virou para as outras garotas. — Beatrice e Mackenzie — duas meninas, provavelmente Beatrice e Mackenzie, saíram em meio às garotas. — Poderiam levar o cervo à Lady Ártemis em segurança?

As meninas assentiram, depois saíram de lá acompanhadas do cervo dourado.

— E vocês, por favor — Thalia disse —, me expliquem melhor essa coisa de sonho e exército no Central Park!

Harry explicou tudo para ela, que apenas olhava para ele enquanto o mesmo falava. Anne me disse que elas eram Caçadoras de Ártemis, e eu logo me familiarizei com o nome, já que Emily havia me falado sobre elas quando cheguei ao acampamento.

Por fim, acabamos todos (eu, Anne, Harry, Thalia, Isavella e as Caçadoras) andando até o Central Park. Quando chegamos lá, nos deparamos com o aglomerado de monstros, como eu havia visto em meu sonho.

— Até que enfim! — ouvi uma voz vinda de longe, talvez em meio aos monstros. — Nossos convidados chegaram!