O Piquinique escrita por Guiomar Maria Damas


Capítulo 3
Um mal entendido.




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Assim que Bia o viu se aproximando levantou-se depressa e saiu puxando pelo braço sua amiga Margarida. A única que sabia dos sentimentos dela em relação ao Roberto e sempre em suas conversas a aconselhava a contar, afinal não há nada que impede o romance de vocês. Quanto a Margarida amava e era amada, mas a família não aceitava o namoro, ele era de uma família bem financeiramente, estava estudando medicina numa Universidade de renome, com um “futuro brilhante pela frente”, como a mãe dele dissera. E ela de família simples, humilde, fazendo ensino médio e nem sabia se ia poder cursar uma faculdade. E elas, as amigas sempre se ajudavam nas questões do coração. Sempre pronta a ajudar uma a outra com palavras consoladoras, de esperança e a certeza de que tudo iria dar certo um dia. Custaram a dormir naquela noite, ficaram conversando e fazendo planos para o dia seguinte. Bia queria ir a cachoeira no sábado.

O dia amanheceu quente. Um lindo céu azul enfeitado por um sol amarelo anunciava que o dia iria ser de verão em pleno outono! Os mais velhos foram pescar, Bia e os outros iriam para a cachoeira, o senhor que administrava o Camping iria guiá-los até lá. No caminho o homem dizia que do lado de lá da cerca não era propriedade do Camping, por isso não deveria ultrapassar a cerca. O lugar não era habitado, era uma reserva e não se sabia que espécies de animais podiam encontrar lá. Por via das dúvidas era recomendado não ultrapassar a cerca. Foi muito divertido o passeio, o banho de cachoeira. Os rapazes fizeram uma espécie de churrasqueira e assavam os peixes que pescaram no dia anterior. Roberto sempre de longe na tirava os olhos de Bia, mas não se aproximava de jeito nenhum. No entanto Bia notara que Margarida toda hora estava aos cochichos com Roberto, ouvia-se risinhos entre eles e ela ficava pensando de que falavam. Quando foi perguntar a amiga se falavam dela, Margarida respondeu de forma áspera: - você acha que é o centro do universo? A única? Apesar de Bia não entender o que estava acontecendo se distraiu brincando com Cristina e João Paulo na água clara do riacho. Na hora de voltar Margarida fez questão de voltar a pé com Roberto e insistiu para que ela fosse de Jipe com as crianças e o guia. Como estava cansada e aflita para voltar para o acampamento não questionou e foi de jipe. Como chegara primeiro ficou na barraca arrumando suas malas, uma vez que no dia seguinte iria embora, e para ficar mais tempo livre, aproveitou para deixar tudo bem arrumando, as coisas da Margarida estavam bem desorganizadas, quando pensou em arrumar também a mala dela, seus pais chegaram chamando. Todos estavam animados com o tamanho de peixe que o pai de Roberto havia pescado, a algazarra era tanto que Bia nem percebeu que Roberto e Margarida ainda não tinham aparecido, até que alguém mencionou.

– Teria acontecido alguma coisa com eles? Não seria melhor ir procurá-los? Em meio aqueles turbilhões de pensamentos, quem aparece? Margarida e Roberto surgem no meio do mato, rindo, felizes como um casal. Bia saiu correndo e foi ara a barraca. Estava tão cansada que logo dormiu. Acordou um pouco mais tarde com a correria das crianças ao redor de sua barraca. Como não havia ninguém por ali e o sol estava dando o seu último espetáculo saiu andando, respirando aquele ar puro, ouvindo o cântico dos pássaros, tudo era perfeito, o lugar, a natureza exuberante ao seu redor, tudo estava muito lindo. De repente ela ouviu vozes e num impulso resolveu esconder para ouvir. Era Margarida e Roberto. Ela chorava copiosamente nos braços de Roberto que a abraçava apaixonado. Bia ficou ali contemplando aquela cena com um nó na garganta e um olhar incrédulo. A cena era forte demais para ela administrar. Quando achava que já tinha visto muito, teve ainda o desprazer de contemplar o beijo deles. O beijo que seria meu, que seria

pra mim – pensou. Eu tinha que está ali nos braços de Roberto. O que está acontecendo? Deu vontade de fugir, de ir embora. Mas não foi o que Bia fez. Num ataque de fúria, Bia saiu do esconderijo gritando, empurrando Margarida e a chamando de traidora.

– Você não tinha o direito de fazer isso comigo? Sua traidora, falsa! Bia gritava desesperadamente num ataque de raiva.

–O que está acontecendo Bia? Qual o motivo desta histeria toda? Que raiva é esta? O que eu tenho contigo?

– Meu assunto não é com você Roberto. Margarida sua traidora, eu te odeio, sua falsa, nojenta, traiu minha confiança, nossa amizade. Você não vale nada. Eu te odeio, eu te odeio. Disse isso em gritos e prantos. Roberto sem entender bem o que estava acontecendo disse:

– Para com isso Bia! O que está acontecendo? – Pergunta pra ela e apontou para Margarida que também estava chorando. – Não, eu quero que você mim fale. Foi só um beijo inocente, que confusão é esta? Que auê é esse por nada?

– Por nada! Tem anos que eu espero de você uma atenção, um carinho. Há anos que eu mendigo um beijo de nada. Seu tolo, você não percebeu nada? Seu cego, você não sabe o quanto eu te amo e quanto eu sofro esperando uma atenção, por menor que fosse de sua parte e nada e ela sabia de tudo e ter coragem de me trair desta maneira. Odeio vocês dois. Saiu correndo desesperada, tentando achar um motivo, uma razão pra tanta dor, pra tanta traição. Correu, correu desesperadamente, não sabia pra onde estava indo, mas precisava correr. Precisava achar paz, consolo, conforto, mas só corria e chorava.

O mundo parecia pequeno diante de todo aquele sofrimento, a natureza havia perdido o encanto, tudo naquele lugar parecia está envolvido em negras nuvens. Tudo parecia rir de seus sonhos, de seu excesso de confiança. De repente aquele lugar parecia esta contra ela. Como não tinha mais fôlego para correr, começou a andar. Andava e sua cabeça martelava de dor, aquela cena do beijo de sua melhor amiga com o seu amado não saia de sua frente. Duplamente traída!

Ela não queria voltar para a barraca, se sentia mal, envergonhada, na confusão falou demais. Agora Roberto sabe do seu amor. Como conseguirá olhar pra ele novamente? Por um momento pensou. Como Margarida vai me olhar agora? Cansada, magoada e com muita dor sentou-se encostada numa árvore e nem percebeu que já estava escuro e adormeceu ali mesmo. Quando acordou estava totalmente escuro, assustada levantou-se e começou a andar. Sua cabeça estava pesada. Andava, andava e parecia não chegar a lugar nenhum, tudo estava muito escuro e não sabia em que direção estava o acampamento. Após olhar ao redor chegou-se a conclusão que estava perdida. Sentou num tronco de árvore e chorou. Depois de algum tempo chorando, aninhou-se nas folhas secas que tinha ali no chão e dormiu novamente.

Enquanto isso no acampamento, após Margarida ter narrado o ataque de raiva e fúria de Bia, disse que ela saiu correndo em direção a mata. O pai de Roberto e o pai de Bia decidiram chamar o guia para irem atrás dela. O dia estava quase amanhecendo quando o pai dela, Margarida, Roberto e o pai dele junto com o guia saíram a procura da garota perdida. As mulheres decidiram que também iriam ajudar procurar nos arredores do acampamento. Bia já não aquentava mais andar, os pés doíam, a cabeça doía, estava com fome e sede. Ao sentar na grama ainda molhada pelo sereno da noite, percebeu que havia andado em círculos, perdido e com fome. – onde será que estou? Perguntou pra si mesma sussurrando. Afastou umas folhas secas que estava a sua frente e com uma varinha escreveu: -“eu te amo Roberto, ainda”. Ouviu um barulho no meio do mato, levantou assustada. Deparou-se com um homem velho, de barbas e cabelos brancos. Ele a olhou e pegou-a pelo braço e sem dizer nada saiu arrastando-a. Ela estava sem forças para lutar e deixou se levar, por aquele homem estranho e calado, sem nada dizer. Após caminhar por algum tempo chegaram a uma casinha feia por fora, rústica, mas ao entrar a casa muito limpa, decorada com móveis de madeira bruta, no chão um tapete de pelo de leão e nas paredes havia várias peles de animais pendurada. Apesar de ser uma situação inusitada, Bia não conseguia sentir medo daquele homem e nem daquele lugar tão simples e aconchegante. O velho homem se sentou e apontou para as panelas sobre o fogão de lenha aceso, o cheirinho era bom. Ela estava com fome, mas não sabia se devia comer. Parada no meio daquele único cômodo pode contemplar uma cama grande num canto debaixo da única janela daquele lugar, ao lado uma escrivaninha feita com o tronco de uma árvore cheia de livros, achou interessante, perto de onde estava, tinha uma mesa com quatro cadeiras também de madeira, o senhor estava assentado numa poltrona azul desbotada, a única do lugar. Em cima de uma mesa menor estava os pratos, ele apontando-os mostrou novamente a comida. Meio sem graça, mas com muita fome ela colocou comida no prato e quando já ia comer o homem lhe acenou pedindo a comida, ela o entregou e ele mandou que colocasse outro prato e apontou para sentar ao lado dele na cadeira que havia colocado pra ela. Ele curvou a cabeça por alguns minutos como se tivesse dando graças e começou a comer e fez sinal para que ela comesse também. A comida estava deliciosa, quentinha, bom tempero e Bia de bom grado a comeu sem perda de tempo.


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