Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 9
Rock Pesado_ Uma outra visão


Notas iniciais do capítulo

ESSE CAPITULO É GRANDE E ESPECIAL!!

Tipo, nesse capitulo temos uma outra visão do capitulo anterior e está sendo narrado por outro personagem... QUEM? A Dara.
Não sei se vou fazer outros capítulos assim, mas ahh tudo é possível gente.

Boa leitura!! Espero que gostem!!



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Acordo e olho o relógio, droga! Não são nem três e meia da madrugada, não consigo entender essa insônia, desde que voltei para a casa do meu pai não consigo dormir uma noite direito. Levanto e vou até o banheiro, a porta do quarto do meu irmão estava aberta, esse idiota não sabe fechar a porta do quarto dele pelo jeito.... Fala sério, você até agora não descobriu quem eu sou ou não me conhece? Olha, se não me conhece.... Olá, meu nome é Dara e não tenho prazer algum em lhe conhecer, não é por grosseria que digo isso, mas estou tendo um dia péssimo e com tédio de brinde para piorar tudo, então não tenho vontade alguma de bater papo com um estranho.

Droga, minha cara ainda está inchada de ontem anoite, eu não costumo chorar, mas chorei muito ontem. Você não tem nada a ver com isso, mas vou lhe falar mesmo assim, se não gostar do que vai ouvir... Simplesmente... Vaza daqui... Não tenho paciência para ficar brigando com gente ignorante.

Ontem anoite, não só ontem, mas basicamente toda noite eu ando brigando com meu pai quando ele volta do trabalho, de brinde meu irmão aproveita para discutir comigo também, só que ontem foi diferente, pensei que ia levar uma surra.... Depois ele ainda reclamou de eu quase não parar em casa, mas é meio impossível isso para mim. A Helena, minha “mãe postiça” é a que mais me apoia aqui para falar a verdade, a amo muito e agradeço por meu pai ter casado com ela, só não a chamo de mãe igual meu irmão chama, porque isso me faz lembrar da minha mãezinha que está longe daqui e que queria muito que ela estivesse aqui comigo.

Você deve estar se perguntando: Por que seu pai briga contigo? E talvez, se sente tanta falta da sua mãe, por que saiu da casa dela?.... As duas coisas não lhe interessam, mas se você olhar para minha cara verá que eu não sou igual às garotas da minha idade, então acho que isso é o suficiente para entender o motivo da briga.

Voltando ao banheiro onde eu estava antes de falar isso tudo.... Eu olhei minha cara inchada depois de tanto chorar, maquiagem toda borrada, sem piercings algum ou lente. Droga! Odeio meus olhos, eles tem T.M.I (Tensão o mês inteiro) mudam de cor basicamente o tempo todo, isso me irrita, sem contar que olhar para meus próprio olhos me lembra uma pessoa que eu desejaria esquecer, mas esse demônio não sai da minha mente.

Depois de finalmente tomar coragem para lavar meu rosto, tomei um banho gelado para acordar de vez, quando deu quatro da manhã resolvi ligar para o Sombra, sei que aquele lunático (estou sendo carinhosa com ele) ainda não acordou e que ele vai brigar comigo, mas ahh estou pouco me importando, uma hora ou outra ele vai ter que acordar mesmo.

[Dara]: Bom dia meu lunático!!

[Sombra]: Bom dia o car@lh% sua vaca!! Ora, você não tem relógio aí não? car@lh% eu até caí da cama com o toque do meu celular, cacet&.

[Dara]: Sombra, já são quatro da manhã — Dara deu uma crise de risos — sabia disso?!

[Sombra]: E eu lá com isso?! Queria dormir mais, hoje é sábado caramba.... Não posso dormir até mais tarde nem no sábado?

[Dara]: Eu sei disso, mas adoro ver o escândalo que você faz quando acorda assustado assim.

[Sombra]: Vaca!!

[Dara]: Você tá xingando muito essa manhã.

[Sombra]: Ai, fala o que você quer logo.

[Dara]: Lembra-se daquela aposta? Pois é, vamos acabar com isso hoje, que tal?

[Sombra]: Anem oh.... Quero não, e além do mais, você e eu estávamos bêbados aquele dia, então não vale.

[Dara]: Para de choramingar, eu também tenho que pagar, vamos resolver isso hoje e ponto final.... Se você está pensando que vai fugir de mim... Tadinho.... Hoje você não me escapa mesmo magrelo.

[Sombra]: Ah tá bom,  já entendi, só me lembra de nunca mais beber perto de você... Lunática!!

[Dara]: Ok Sombra, me pega às 9:00 da manhã?

[Sombra]: Não posso, meu carro está na oficina, hoje você vai ter que me buscar, fofa.

[Dara]: Beleza lunático.

[Sombra]: Aahh e não me acorde novamente antes das oito da noite nos finais de semana, por favor ok?

[Dara]: Tudo bem, tchau lunático!

[Sombra]: Não tô brincando, deixa eu dormir. Tchau lunática!

Não era nem quatro e meia, então fui fazer o que faço basicamente todo dia a essa hora, peguei meu mp3 e fui passear pela vizinhança, o frio da manhã me é tão acolhedor, sem contar que eu amo ir até uma pracinha aqui perto ver o nascer do sol; para mim essa é sem dúvida uma das visões que mais lindas da terra, o sol nasce todo dia e me dá um pouco de esperança e toda vez a noite rouba de mim, mas é assim a vida. É muito bom caminhar pelas ruas desse bairro, aqui é muito calmo e tranquilo, a única coisa boa dessa cidade é isso, eu nunca poderia andar tranquilamente uma hora dessas nas ruas onde eu morava antes de mudar para cá.

Quando voltei para casa era exatamente 6:15, Helena já estava acordada, sem falar nada ela veio até mim e me abraçou, admito, senti muita vontade de chorar àquela hora. Helena nunca teve filhos, mas sempre cuidou de nós muito bem, melhor madrasta que uma garota pode querer, sempre sabe me fazer sentir melhor.

—Bom dia meu anjinho querido, você estava na praça novamente, não?

— Eu estava Helena.

—Hum, o sol estava bonito hoje?

— Sim, vai ser um dia lindo e ensolarado.

—Que bom meu anjo. Meu coração dói de ver você e seu pai brigando, pior que se  eu me intrometer só piora as coisas, perdão não poder fazer nada.

— Você já fez demais —Dara pôs-se a chorar — A marca em seu rosto é a prova disso — Helena a abraçou mais forte ainda — Perdão, mil perdões Helena, não queria que você se machucasse.

— Não foi sua culpa, e você é como se fosse minha filha, eu não podia deixa-lo bater em você, os piercings iriam lhe cortar. Agora vamos esquecer isso, já conversei com seu pai, ele me prometeu não fazer mais isso.... Então, você está com fome?

—Estou Helena.

—Ótimo, vamos tomar café juntas então.

Acabei tendo duas mães e três irmãos. Minhas mães são: Minha mãe biológica e minha madrasta (pior palavra para chama-la, mas é a única que conheço). Já meus irmãos: um é de sangue e não nos damos muito bem; o segundo minha mãe o adotou e eu o amo como se fosse meu irmão biológico, ele tem seis aninhos e é um amor de menino; o terceiro é o Sombra, que é quatro anos mais velho que eu e conheço desde que tinha oito anos, sempre cuidou de mim como um irmão mais velho(coisa que Clarck nunca fez por mim).

Era quase 8:30 e eu estava vestindo, coloquei uma blusa preta, calça com uns rasgados lindos, tênis all star, minha lente branca e uma blusa xadrez de manga longa vermelha, guardei todos meus piercings no bolso da blusa. Já estava descendo as escadas quando esbarrei em Helena que limpava o hall de entrada da casa.

— Não vai ficar para a reunião de família hoje meu anjo?

— Não tenho cabeça para ficar aqui agora, mais tarde eu volto.... Prometo... Nossa Helena, você é uma maga na maquiagem, sua pele parece impecável.

— Hahaha, e você pensou que eu iria deixar aquele acidentezinho tirar minha beleza meu anjo? Ham, nem morta, eu sou muito mais esperta.

Naquele momento Clarck que acabara de acordar estava descendo as escadas.

—Mãe, você ainda a chama de anjo? Ela está muito mais para demônio, ou praga — Disse Clarck fuzilando Dara — Você devia ter vergonha de si mesma por ter machucado nossa mãe.

—Bem, já que é assim, idiotas como “você” também não merecem serem chamados de gente, não acha? —Disse Dara fuzilando Clarck de volta.

—Parem os dois agora!! —Disse Helena— Que coisa, nada é culpa de ninguém, e se eu ver os dois brigando novamente a coisa vai ficar feia para os dois!!

Os dois ainda se olhavam de canto de olho, Helena irritada em ver aquilo bateu a porta com força.

—Entenderam?! —Gritou Helena.

Eu saí sem olhar para trás, peguei minha querida lambreta (melhor presente que uma garota poderia pedir) e fui encontrar Sombra, quando cheguei ao seu apartamento o folgado ainda dormia. Bati à porta, mas ele não veio, passados alguns minutos apertei a campainha várias vezes até que o Lunático veio me atender. Sombra estava de cabelo solto, sem blusa e com a cara toda amassada por dormir de cara para o travesseiro.

—Mas que merd@, me deixa dormir caramba.... Não são nem oito horas Dara!

—Sombra são 9:08, eu disse que vinha às nove, está na hora.

—Ai, esqueci de colocar o despertador tocar... Entra e espera cinco minutinhos.

Vinte minutos depois ele estava pronto, estava com uma cara de sono que dava até dó, mas tenho certeza que vai acordar daqui a pouco. Era quase 10:00 quando chegamos ao estúdio de tatuagem e piercings Mayday Fly, lembro que foi nesse estúdio que eu coloquei meu primeiro piercing, que aliás, foi no nariz, lembro até que foi o Sombra que me trouxe aqui. Hoje a situação está um pouco diferente, venho colocar no septo (A argolinha debaixo do nariz que a maioria das pessoas compara com a argola que colocam em bois.... Mas acho lindo) e o Sombra vai colocar em cada mamilo um piercing, só que ao invés dele me trazer, dessa vez, eu que estou o levando e para finalizar com chave de ouro o magrelo está morrendo de medo disso.

— Então vamos lá Homo mole?!

— Do que você me chamou?

Homo moles, uma variação do homo sapiens que é extremamente mole e não aguenta uma agulhadinha.

— Dara, me lembra da próxima vez que você ficar bêbada te desafiar a colocar piercings nos mamilos também... Ok?

—Não obrigada, isso é coisa de viadinho, não de uma mulher normal.

—Desde quando você é mulher e desde quando é normal?

— Tá, eu sou adolescente, mas aí nesse lugar eu não coloco. Mas no umbigo eu até posso pensar.

— Então me lembra da próxima vez que você ficar bêbada te desafiar a colocar no umbigo.

— Ok, mas eu não vou ser tão frouxa como você está agora, sem dúvida não vou.

Comecei a rir muito alto, Sombra simplesmente me pegou com cuidado pelo pescoço (simulando um enforcamento) e me levou para dentro. Aliás, o apelido sombra vem das mil e uma brigas que esse moleque já se meteu, Sombra vem do fato dele ser muito rápido e traiçoeiro nas brigas, sério, ele parece uma sombra mesmo, tem uma velocidade abominável e desvia muito facilmente de socos e chutes. Ele é bem alto, não é exatamente forte, mas tem braços com traços definidos. Seus olhos são castanho mel, pele muito pálida, seu braço direito inteiro tem tatuagens lindíssimas e a última que ele fez foi nas costas perto do ombro, uma flor de lótus se abrindo que segundo ele essa foi à última, mas não acredito muito. Ele tem um alargador de... Hum...esqueci o tamanho para se sincera, enfim, na orelha esquerda. Em seu rosto há poucos piercings, três em fileira no supercílio e dois debaixo da boca.

 Agora tenho que criticar, desculpa, mas aquele cabelinho... Nossa... eu sempre achei que ele tinha bom gosto, mas aquele corte é terrível, até fica bom nele, mas é terrível. Para você ter uma ideia melhor do que estou falando, eu tenho um side cut,  o corte dele é como se tivesse side cut dos dois lados e para finalizar ele cortou mais daquele mesmo jeito atrás, sobrando o que? Só o cabelo que tinha na parte de cima, e ele ainda amarra o que tem em um coque que não entendo como, mas nunca solta ou fica bagunçado (Sinto uma pitada de inveja disso, admito). 

Quem nos atendeu no estúdio foi o J.P. um senhor de cabelos brancos, sedosos e compridos amarrados para trás, com tatuagens por todo corpo, um barrigão enorme e cara de motoqueiro, ele tem uma moto enorme que fica estacionada do lado de fora do estúdio. Sempre imagino ele montado naquela moto, com óculos escuro, colete de couro e bandana  vermelha.

— Hum... Eu conheço essa moça, mas está tão diferente.

— Bom dia J.P.

— Curti seu novo look Dara, e você Sombra.... Quando vai marcar uma hora para fazer a próxima tatoo?

— Acho que por hora estou bem, velho.

—Me chame de tudo nesse mundo, menos “velho”... Isso acaba comigo.

Todos rimos, depois dessa descontração eu fui a primeira a entrar na agulha, na verdade foi tudo muito rápido. Mas é claro, o Sombra não podia perder minha careta do tamanho do mundo e ainda teve que filmar, claro né.. Ele me paga, pior que ele sabe disso.

Quando chegou a vez do Sombra, aí que eu não consegui me segurar de tanto rir.... Foi muito engraçado. Sério, o J.P mal pegou a agulha ele já olhou meio torto, mas tentou disfarçar, quando a agulha estava dentro do primeiro mamilo ele serrou os lábios, ficou batendo com os dedos da mão esquerda na cadeira enquanto a direita estava fechada, os olhos olhavam para o teto e vi que estava até mais pálido que o normal, quando esse piercing já estava pronto eu o ouvi dizer “ufa” com a boca toda torta. Quando foi a vez do segundo, aí minha garganta ficou até seca de tanto rir, o J.P. pegou outra agulha e ele disse “ai não, de novo não”, quando a agulha estava na carne esse magrelo cantarolava e chorava que dava até dó, mas ao mesmo tempo dava vontade de rir... Que pena que eu não peguei meu celular para filmar isso... Iria ser épico mostrar a cara de trouxa para ele mesmo.

Assim que acabou ele tentou refazer a pose de um cara sério e assustador, mas eu ria tanto que ele já estava perdendo a paciência, Sombra já havia pagado o J.P. então assim que colocou os piercings me pegou pelo braço e me levou embora, mas antes é claro ele tinha que fazer uma coisa mais que épica para me fazer morrer de rir.... Coçar os mamilos com o dedão enquanto fazia cara de dor, rachei de rir naquela hora.

Acabamos voltando para o apartamento do Sombra, ele disse que tinha um presente para mim e eu é claro, nunca recuso um presente. Assim que chegamos lá, ele me deu um embrulho, dava para eu ver claramente que era alguma roupa, quando abri vi que era um corpete que estava procurando há séculos, mas não achava.

— Véi do céu, onde você achou isso? É lindo!!

— Pensei que minha maninha fosse gostar, sei que você queria um desses já faz um tempo.

—Obrigada magrelo — Dara abraça Sombra — Se você não fosse tão viado eu te dava um beijo agora.

— Menina, se você não fosse tão sapatona, casava com você... Mas tudo bem, você é minha maninha, cuido e mimo você do mesmo jeito.

—Cara.... Você e eu falamos muita merd@ quando estamos juntos!

— Né, boca suja!

—Ah para lunático, a sua é muito mais suja que a minha e você sabe disso.

—Ah nem tanto — Sombra abre a boca e puxa a língua — Quando eu bifurcar a língua vai ter espaço para muito mais sujeira.

— Sombra, eu queria que você magrelo fosse meu irmão, não aquele saco de carne arrogante com topétinho arrumado.

—Mas eu sou seu irmão, nunca duvide disso.

— Olha, se eu falasse desse jeito e nesse tom descontraído que nós conversamos com meu irmão, ele já partiria para a ignorância comigo. Então não queria que você fosse meu irmão.

— Fazer o que.... Você tem que se contentar comigo como irmão postiço então.

— Muito melhor que o biológico.

Eu ri um pouco, beijei a testa dele e fui ao banheiro para colocar o corpete e meus amados piercings. Estava linda com aquele look, o corpete serviu direitinho e combinou com minha roupa, depois disso fomos comer no Subway perto da casa do Sombra, o calor estava tanto que deixei minha blusa xadrez na casa dele mesmo.

Ah, falem o que quiser, o Sombra e eu pedimos três sanduiches de 30 cm cada e comemos como dois esfomeados, sei que não deveria comer tanto, mas ah.... Sou magra de ruim mesmo, então estou aproveitando isso o máximo que posso, porque não há nada melhor nesse mundo que comer.... Não, espera!!.... Tem sim.... Comer mais ainda.

—E agora, o que quer fazer?

—Vai lá em casa comigo, hoje tem uma reunião de família lá e eu quero ver se minha mãe veio, ela disse que viria.

—Tudo bem, mas não vou entrar. Depois eu queria ver uma guitarra nova, vem comigo?

—Tudo bem, vou sim.

Chegando em casa, bem no rumo da porta estava sentada no gramado a Eliana fazendo uma pilha de exercícios (isso é normal na verdade), ela levantou aqueles óculos de leitura dela e me cumprimentou:

— Dada, quanto tempo?!

— Pois é Ely... E aí, você está bem? E seu namorado, soube que você estava namorando.

—Estou quase dando um treco de tanto exercício para fazer, e meu namorado e eu estamos bem... E você e... Bem, como estão?

— Não existe mais nós, mas eu só digo uma coisa.... Sou muito idiota!!

—Que pena, formavam um belo casal... Mas não fica assim não, é a vida...Tenho certeza que achará outra logo.

—Não quero outra, não quero ninguém na verdade... Ai Ely... É difícil.

Eliana levantou-se e veio me abraçar.

—Ninguém nunca disse que seria fácil, mas você não está sozinha.

Nossa, devo estar muito fraca mesmo, é só alguém me abraçar que já me vem àquela vontade de chorar. 

— Ok, agora vamos para com isso— Dara se solta do abraço— Se não vou perder a pose de séria, NÃO POSSO perder essa pose perto do meu irmão.

— Boa sorte então.

Eliana voltou a resolver seus exercícios e eu tomei coragem para entrar aquele portal adentro, a primeira coisa que vi quando entrei foi Helena e meu irmão na cozinha conversando, fui direto neles sem ao menos olhar para os lados, vai que meus olhos se encontravam-nos do meu pai.

— A mamãe não vai vir?

— Não, ela avisou mais cedo enquanto você estava fora.

—Ok então — estava decepcionada—Se me dão licença eu vou voltar para a rua então.

Assim que me virei vi Lily sentada no sofá. Naquele momento pensei... Droga! Os gêmeos.... Eu tinha que avisá-la. Estava andando em sua direção quando uma mão pegou em meu braço, me fazendo olhar para trás, era Helena.

— Você não quer ficar mesmo querida?

— Obrigada Helena, mas não estou com cabeça para isso agora. Preocupa não, eu volto antes das oito da noite.

—Tem certeza?!

— Sim senhora. E antes que eu me esqueça, por acaso tem algum problema eu trazer o Sombra também?

—Não... imagina... pode trazer ele querida.

—Beleza.

Como vou explicar.... As outras namoradas do meu irmão eram tudo umas ínguas, só peito e muito ignorância. Então eu fiz um acordo com meus primos trigêmeos quando me mudei dessa cidade, pedi a eles que infernizassem as namoradas do meu irmão. Mas essa tal de Lily.... Posso estar enganada, mas ela é diferente, pelo menos não é uma patricinha com nariz rebitado (apesar de parecer muito) que se acha superior a todos. Então, antes que seja tarde demais eu tenho que avisar os gêmeos para não a incomodarem. Eu estava passando por Lily quando avisei friamente sem olhar em seus olhos “—Cuidado com os trigêmeos”. A princípio ela pensou que não estivesse falando com ela, então parei e chamei seu nome sem me virar, depois para completar o que estava dizendo falei “— Lembre-se disso, você foi avisada”. Aff pelo menos agora fico com a consciência mais limpa.

Assim que saí pela porta procurei Eliana novamente.

—Ely, você fala para seus irmãos não infernizarem a Lily.... Essa eu não quero que mexam.

—Por quê? Muito perigosa essa?

—Não, essa é a primeira namorada do meu irmão que penso eu que não seja “só para comer” igual eram as outras.

— Nossa... Pior.... Tinha umas que eram de dar dó.... Muito burrinhas.

—Meu irmão é um cachorro, fico até com dó delas... Mas enfim... Avisa?

—Aviso, eles estão dormindo lá no fundo, daqui a pouco vou lá. E pode deixar que eu fico de olho nos meus irmãos.

— hum... Obrigada de novo Ely.

Graças a Deus, enfim fomos comprar a guitarra, já não aguentava mais ver o Sombra choramingando por causa disso e pior que a culpa é dele. Um dia desses ele simplesmente chegou uma fera, não sei porquê para ser franca só sei que ele simplesmente quebrou a guitarra caríssima, de colecionador e autografada por um cara lá que eu não faço ideia quem seja, só sei que a danada era cara e que eu nunca teria coragem de fazer isso. Mas ah... fazer o que, quem é rico está basicamente se lixando para isso.

Hoje, depois de mais de um mês que ele quebrou sua guitarra ele resolveu comprar outra... Só que o Sombra em uma loja de carros e de instrumentos é uma coisa triste, de cara ele gosta de uma guitarra ou de um carro, mas ele tem que olhar todas as opções primeiro, tocar, testar, pegar na mão para depois no final.... Voltar para a primeira que ele pegou.... Isso me dá um pouco de raiva até hoje. Agora sei por que marido nenhum acompanha a mulher (muito raro acompanhar) ao cabelereiro ou para comprar roupas.... É um teste de paciência, pior que eu não entendo nada de guitarra, então basicamente só fico olhando ele enquanto ele olha basicamente tudo. Mas é bom ver a felicidade dele, ele saiu com uma guitarra prateada nas costas e fomos para minha casa direto de lá, ele iria dormir lá.... Não queria ficar sozinha com meu pai bêbado essa noite, então o magrelo seria minha companhia para não escutar o velho brigar comigo novamente, pois ele nunca briga comigo na frente de convidados.

Eu disse para a Helena que estaria de volta em casa lá para as oito, cheguei 19:30... Uhuuu.... Cumpri a promessa. Subi as escadas para tirar essa roupa e tomar um banho, mas assim que entrei em meu quarto escutei sons vindos do banheiro, parecia que tinha alguém lá. Por curiosidade fui “sorrateiramente” ver o que era, mas como sou tão sutil como uma bazuca, acabei tropeçando em algumas caixas ao lado da minha cama. Droogaa!! E pior que fez um barulhão. Pude ouvir que quem estava do outro lado eram meu irmão e a namorada dele:

— Há 20 pessoas no andar de baixo, e se alguém nos escutar? Sem contar que tem sua mãe e seus primos que sabem que nós estamos aqui, e se alguém nos chamar?

—Não creio que vão nos incomodar, meus primos estão jogando truco e geralmente eles ficam tão focados no jogo que esquecem de todo resto. Minha mãe está preocupada com todos os outros convidados, creio que nem ao menos se lembra de nós.

—Mas...

—Se o problema é barulho, basta não fazermos barulho.

Fala sério?! Não hoje, vão procurar um motel caramba, quero tomar banho, poxa.... Estava para bater na porta quando novamente escutei a voz dos dois:

— O que foi Lily, porque está sorrindo assim?!

—Assim como?!

—Está muito bonita, fofa, sei lá...nunca te vi sorrir assim.

— Só estou feliz por estar contigo, só estou feliz—Disse Lily em um tom um tanto manhoso.

Merd@, ela me lembrou uma pessoa que eu não queria lembrar, não queria lembrar mesmo... Droga, por que sempre que queremos esquecer alguém a pessoa não sai da sua cabeça? Aquele “—Só estou feliz por estar contigo” me fez desistir de acabar com a festinha particular dos dois.

Droga de Lily... Droga de Lily.... Não posso fazer mal a ela, quem sabe um dia ela seja minha amiga? Ah sei lá droga.... Não sou de ter amigas, na verdade, tirando minhas primas eu não tenho nenhuma, mas ela parece uma garota tão legal.... Será que ela seria capaz de ser amiga de um ser tão doido e perturbado como eu? Ah merd@, por que eu estou pensando isso tudo? Ela não passa de uma patricinha igual às outras ex-namoradas do meu irmão, vou apenas ajudá-la agora, porque, aliás, no final de contas quem sai prejudicada numa situação dessas sempre é a mulher.

Desci as escadas e tomei banho no banheiro de baixo. Eu já havia acabado de tomar banho e estava saindo do banheiro, estava com uma toalha secando meu cabelo molhado, vi Sombra no corredor escorado na parede olhando o teto, sua guitarra estava ao seu lado.

— O que está fazendo lunático?

—Esperando a lunática aí se arrumar —Disse ele sem tirar os olhos do teto—  Sua família me assusta, não consigo ficar sozinho com eles.

— Ah cara, você com certeza assusta mais do que eles — Dara riu — Mas entendo, eles também me assustam.

O Sombra e eu fomos nos sentar junto ao restante da minha família, quando sentei ao lado de Sombra meu pai do nada me encarou, depois saiu de perto do restante do pessoal por uns cinco minutos, ele já estava bêbado fazia horas e meus tios também, mas não posso negar que senti medo por alguns instantes. Sabe, o único motivo de eu ter voltado para casa hoje foi eu ter prometido para Helena isso, se não eu ia dormir na casa do Sombra ou da minha avó, que aliás, ela já havia voltado para casa fazia horas, ela morava na rua de baixo.

Meus primos e outros familiares estavam conversando sobre um assunto que não faço ideia sobre o que era só me lembro de ouvir a seguinte frase: “Já comi nesse restaurante” e por essa simples frase não quis saber qual era o assunto, porque certamente era chato. Havia uns tios meus, todos com a idade por volta dos 50 anos (certamente, todos na crise da meia idade) basicamente babando em cima da guitarra do Sombra. Estranha a vida, se você pegar as fotos deles na adolescência verá  que todos eram roqueiros super revoltados com o “sistema”, mas hoje são sérios, fechados e verdadeiros velhos de corpo e alma, é incrível como a vida muda tanto alguém.

Eu estava muito incomodada pelo fato dos dois estarem lá em cima, e então do nada me lembrei.... Há um amplificador do Sombra na garagem, o folgado tem casa e eu que guardo essas coisas para ele, aff, mas tudo bem, agora vai servir para algo. Eu peguei o amplificador (graças a Deus era pequeno), quando cheguei com o amplificador parecia que havia levado bala para crianças, os olhos tanto do Sombra quanto dos meus tios estamparam a brilhar. Só para constar, meus tios bêbados cantando é uma cena que eu nunca esquecerei.

Por volta da 1:00 da manhã todos já haviam ido embora, afinal, no dia seguinte ainda teria outro almoço antes de irem embora para suas cidades. Levamos meia hora para limpar tudo, foi bem rápido na verdade, apesar de precisarmos lavar a casa amanhã cedo, não havia lixo na casa.

Estranho, não entendo essa praga que só aparece para me atormentar, o Sombra estava conversando comigo no meu quarto quando de repente chega meu pai bêbado, sério e quase que gritando:

— Ei moleque.... Você mesmo.... Vai dormir na sala!

Não sei que ideia o Sombra teve, mas mexeu com o velho.

— Tudo bem sogrão! — Sombra riu — Já vou descer.

Meu pai fechou a cara e encarou Sombra, naquele momento pensei, ixi deu merd@... Pior que Sombra o encarou cinicamente de volta.... Por sorte meu pai virou as costas e foi embora.

—Não brinca assim com ele Cara, o homem é mais doido que você lunático.

—Ahh... Eu não resisti, seria cômico se ele viesse para cima de mim, está tontinho de tudo, é um mistério como ainda se mantêm em pé.

—Igual você não existe mesmo Magrelo, boa noite Sombra!!

—Boa noite lunática!!

Fechei a porta do meu quarto e fui para o banheiro lavar meu rosto, meu irmão já havia dormido, mas tinha medo que a porta do banheiro estivesse aberta, não queria nem imaginar os dois no quarto ao lado, muito menos vê-los.

A porta do quarto dele estava um pouco aberta e lá de dentro podia ver uma luz ligada, provavelmente a luz vinha do abajur por causa de sua baixa intensidade, fechei a porta sem nem olhar e a tranquei. Olhei no espelho, tirei Piercing por piercing e os coloquei em uma caixinha que sempre guardo todos, fiquei apenas com o que havia perfurado mais cedo; tirei minha lente querida, escovei meus dentes, apenas tirei meu sapato e fui me deitar.

Tive vários pesadelos, mas nenhum deles me fez acordar. Eu acordei 3:30 com um barulho vindo do quarto ao lado. Era Lily, ela havia acordado, a garota fazia muito barulho, pelo jeito, discrição é algo que não existe no vocabulário dela, cada passo fazia um estrondo que não sei como só eu acordei.

A segui em silencio, mesmo com toda aquela escuridão eu podia a ver nitidamente. Depois de ir à lavanderia a sem noção decidiu do nada acordar o Sombra... Meu Deus! Ingrata! Eu não falei nada sobre ela dormir com meu irmão e agora ela quer simplesmente jogar merd@ no ventilador acordando o Sombra? Justo o homem mais escandaloso da face da Terra. A puxei de qualquer jeito para longe dele, menina louca, nunca viu o homem e vai cutuca-lo? Para ver se está vivo ou o que?

— Você está maluca? Quer sair sem que te descubram aqui ou quer ser pega? —Disse quase gritando baixinho.

—Hã? Não entendi. —Respondeu ela se fazendo de sonsa.

— Shhh... Fala baixo senão tu.... Fala baixo e vá embora, se não eles irão te descobrir aqui.

— Ok.

A criatura de Deus abriu a porta e antes mesmo de pisar no chão uma brisinha fria de nada a fez tremer e fechar a porta brutalmente. Admito com todas as palavras, estava até normal quando ela quase acordou o Sombra, mas aquilo me deixou irada... INGRATAAAA!!!

—Filha da…. Não conhece uma coisa chamada silencio não garota?

— Foi mal, tá frio lá de fora.

— Aaahh — Disse eu com cara de tédio, a nem, vou ter que ajudar essa garota de novo mesmo? —Espera aí e não toque em nada.... Isso não é uma ordem, mas tome como uma.

Busquei uma blusa de frio e dois capacetes, peguei uma blusa grossa para a madame não reclamar de frio e voltei vestindo apenas uma fina blusa de frio preta. Entreguei-lhe a blusa e depois o capacete, sem mais perguntas breves abri a porta e sai, ela me seguiu sem perguntar.

Sem dizer uma palavra se quer, fui até a casa da minha avó peguei minha lambreta e acho que era simplesmente óbvio que a levaria em casa, então não foi preciso dizer nada sobre isso. Mas é claro que regras da casa, são regras da casa... E regras da minha amada lambreta.... Eu faço dependendo do carona, naquele momento acho que quis brincar um pouco, além do mais.... Rir sempre é o melhor remédio.

—Tenho duas coisas a lhe dizer. A primeira é que só porque eu estou lhe ajudando agora.... Não pense que isso acontecerá sempre. Segunda, se segura, se você cair no caminho eu não volto para te pegar, só aviso isso.

—Ok então.

Hum.... Como é bom ver o mal feito, eu acelerei aquela moto o máximo e do nada, várias vezes. Lily estava morrendo de medo, ela me abraçou na primeira arrancada e com o passar das ruas me abraçava cada vez mais forte, admito que sorri um sorriso estridente e que queria muito rir daquela situação, mas consegui segurar cada gargalhada que queria sair do fundo da minha alma ao ouvir as puxadas de ar fortes dela e ao escutar frases como: “ Ai meu Deus”, “ Eu vou morrer”, “Jesus me ajuda! ” , entre outras.

Ninguém me disse, mas eu sabia onde Lily morava, já havia visto o endereço no caderno da Helena, onde havia vários telefones e endereços, para sei lá, caso fosse preciso. Por mais que eu não andasse por aquela cidade há muito tempo, conhecia o endereço, era perto da casa de uma velha amiga minha.

— Pode abrir os olhos, sabia?! Já chegamos.

—O que eu te fiz?! — Disse ela toda nervosinha— Poxa, podia ter me matado sua doida!!

 Foi impossível não rir àquela hora, já estava segurando aquelas gargalhadas fazia um bom tempo, e foi muito bom solta-las em um tom um tanto sarcástico, tenho que admitir.

—Jaqueta e capacete madame! E se eu fosse você não reclamaria, eu te trouxe em casa e você está viva, não está?

—Você é sempre assim?

—Assim como?!

—Assim, parece bipolar, anteontem você estava um amor de pessoa e hoje parece um monstro de nervosa, poxa o que eu fiz para você garota? Se foi algo que eu fiz pode falar.... Por que eu não faço ideia.

Apenas fechei a cara e depois disse novamente:

—Capacete e jaqueta.... Agora!!

Ela entrou em casa furiosa e eu fui embora sorrindo, nossa, como é bom fazer o mal feito, nem acelerei tanto assim, mas pelo jeito ela devia ter medo de moto.

Quando cheguei em casa já era 4:30, o magrelo do Sombra roncava e antes mesmo de eu entrar em casa pude ouvir seu roncar. Entrei e fui vê-lo, ele estava quase caindo sofá, babava sobre o travesseiro e seu lado esquerdo basicamente já encostava o chão. Encostei na cabeceira do sofá e simplesmente falei “—Buu!!”. Ele abriu os olhos, me olhou assustado, caiu no chão e deu um grito escandaloso.

— Ai ai ai véi, doeu sabia... Sua Maluca!!

Eu ri descontroladamente, não estava ligando se meus pais haviam ou não acordado, a cena era hilária demais para não rir. Ele coçou seus mamilos, que creio eu, estavam inchados e ele estava fazendo cara de dor, então não tinha muitas dúvidas sobre isso.... Na moral.... Fala se é possível não rir vendo um magrelão, alto e manhoso coçando os mamilos... Nossa, ri demais. E fiquei impressionada, a dor foi tanta que ele basicamente não me xingou.

—Foi mal, não resisti.

— Filha da put@!!

É, fui precipitada, mas ele me xingou só uma vez. Assim que voltei a mim e ele parou de ser manhoso sorri para Sombra e o abracei, com certeza ele é o melhor amigo que eu podia um dia pedir.

— Vem lunático, vamos tomar café da manhã.


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