Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 8
R.I.P


Notas iniciais do capítulo

OOii meus queridíssimos!! Voolteei! E agora é para ficar.

>.< Sem comentários breves, só que eu voltei e vou continuar escrevendo.

Boa leitura!!



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Hoje é sábado e eu não deveria, mas acordei bem ansiosa por causa dessa reunião de família que o Clarck me convidou, parece um motivo besta, mas... E se todos da família dele forem doidos como a irmã? A resposta para isso é R.i.P para mim, sem contar que ele nunca havia me convidado para algo parecido antes, já almocei com os pais dele, mas não com toda a família. Eu jurava até ontem anoite que seriam só os pais dele, talvez os avós, mas aí o Clarck vem me dizer que era realmente uma reunião de família e que todos familiares até os que moram mais longe viriam passar o final de semana na cidade.

Família é um problema do tamanho do mundo, um exemplo disso é a minha família mesmo, cada um está sozinho no seu canto, meus pais e eu nos reunimos na hora das refeições, meio que acaba por aí também. Nessa cidade não tenho nenhum parente e acho que não sei reconhecer nenhum primo meu se ver na rua. Tenho que admitir que sinto falta do meu avô e das minhas tias, eles moram há 200 km daqui e raramente vamos visita-los, mas a parte boa é que sempre mantemos contato, tipo... Meu avô liga basicamente toda semana e recentemente e ele descobriu a vídeo chamada, todo domingo de tarde ele conversa com a gente pelo Skype.

Estranho pensar nisso, mas eu posso conversar com meu avô horas e nunca fico enjoada, ele tem assuntos muito bons e sempre sabe nos envolver em suas histórias, isso não é comum para gente idosa, pelo menos não para conversar comigo, acho que não sou o que podem chamar de “exemplo de boa convivência” também.

Novamente falando em família, acordei hoje pelas 09:00 da manhã e não havia ninguém em casa, meu pai havia viajado à negócios e minha mãe havia ido ao clube do livro, eu acho, não sei ao certo onde foi o encontro do clube hoje, só sei que estou sozinha. Eu basicamente já acordei agoniada, não tomei café da manhã, na verdade fiz o almoço logo de cara; mas enfim, bateu uma aflição que me pegou justamente naquela hora enquanto eu terminava de fazer macarronada para mim (Poxa, uma marmitinha iria cair bem naquela hora) que eu me deparei com um enigma do tamanho do mundo.... Com que roupa eu iria à reunião de família?!

Olhei em meu guarda roupa e não tinha nada para vestir, sei que essa é uma coisa que a maioria das mulheres fala, mas eu revirei meu guarda roupa e não consegui achar nada que me agradasse. Pronto, bateu um desespero bonito naquela hora, eu iria para a casa do Clarck 12:15 ou 12:30, parece que ele iria me buscar depois de buscar uma tia dele no aeroporto. Peguei meu celular debaixo da pilha de roupas em cima da minha cama e mandei quase mil mensagens em um prazo de menos de um minuto para Megan. Cerca de meia hora depois que mandei as mensagens escutei meu celular tocar, não era Megan e sim a Magda, não era com ela que eu queria falar, mas no desespero qualquer um servia; se não recebesse aquela mensagem juro que iria para rua pedir a opinião de um mendigo que fosse.

[Magda]: Amiga o que é isso, fui olhar as horas no celular da minha irmã e vi quase que uma montanha de mensagens no what’s app que você mandou. O que houve?!

[Lily]: Pelo amor de Deus, por favor liga a webcam e me ajuda a escolher uma roupa que preste para eu ir na reunião do Clark. Se a Megan estiver aí chama, se sua mãe estiver aí chama também, se sua gata de estimação estiver aí chama a bendita também.... É um caso de vida ou morte.

[Magda]: Ok, já entendi e estou ligando meu computador.

Assim que Magda me viu pelo webcam ela fez uma cara que foi mais ou menos assim... Cara de total perplexidade, pois a minha câmera focava exatamente a pilha de roupa em minha cama, ainda eu juro que não sabia que meu armário cabia tanta roupa assim e pela cara da Magda ela também não.

[Magda]: Amiga.... Diz uma coisa aqui rapidinho.... Passou um furacão por aí?

[Lily]: Passou e ele me deixou tão desnorteada que não consigo escolher uma roupa se quer.

[Magda]: Tudo bem, pelo menos tem alguma coisa em mente?

[Lily]: Sim... Espera um momento que eu só tenho que achar.

Na verdade, eu já havia separado algumas, mas até nisso eu fiquei em dúvida e tentei achar mais opções para mostrar. Minhas favoritas e melhores opções eram: um vestido cor pêssego (fofo) que eu gosto horrores; o outro era um conjunto de regata com algumas lantejoulas nas alças junto com uma saia azul cheia de bolinhas brancas estampadas, essa parece anos 60(só que não), sei lá eu gosto desse estilo meio retrô.

[Lily]: Qual devo usar?

[Magda]: Sei lá.... Quais você gosta mais?

[Lily]: Esses dois – Peguei os dois trajes que havia separado— Então, gosto desses dois, são simples, mas gosto deles.

[Magda]: Hum... A cor desse vestido — Ela fez uma cara amarrada— Lily você vai ficar pálida demais nesse vestido, aliás, você já está muito pálida sem ele.

[Lily]: Eu sei, estou muito nervosa... A família toda dele vai estar lá, não pensei que seria tanta gente.

Não adiantava, Magda não era a socialite ali, eu precisava da Megan. Joguei-me na cama sobre as roupas mesmo, não passou nem dois minutos e escutei a voz da Megan pelo webcam, ela gritava pela irmã. Quando levantei a cabeça vi seus braços e gritei com ela na hora. Megan me ouviu e olhou para tela do computador, estava com o cabelo enrolado em uma toalha e uma máscara que eu reconheci ser de abacate  sobre o rosto(minha pele é muito seca e geralmente pede por uma dessas).

[Magda]: Meu Deus Lily, sabia que há uma montanha de roupas atrás de você?

[Lily]: Sim eu sei, mas nenhuma delas serve para a reunião de hoje.

[Magda]: Deixa eu ver, vai mostrando as opções para mim.

Mostrei todas as opções, as que ela gostava, as que eu nunca pensaria em usar algum dia e nem usarei hoje, por último as que eu gostei e infelizmente não eram do agrado dela. Por fim ela foi limpar a máscara do rosto e quando voltou trouxe um vestido lindo em suas mãos. Um vestido tomara que caia vermelho com uma faixa preta na cintura, ele era perfeito! Tanto que por fim eu escolhi... A regata e a saia estilo anos 60, pois já era mais de 11:30, ou seja, acordei tarde, custei a escolher o que vestir e não tinha nem começado a me arrumar, sendo que o Clark iria me buscar daqui mais ou menos meia hora.

Foi uma correria só, mas acabou dando tudo certo. Arrumei meu cabelo, coloquei um batom cor vinho (queria usar um vermelho ou marrom, mas aquele vinho estava tão bonito) coloquei uma sandália azul de salto fino linda e a roupa que havia separado. Pontualmente ao meio dia Clarck veio me buscar (deve ter corrido mais que um avião para conseguir isso, o aeroporto é do outro lado da cidade) ele veio no carro clássico do pai dele, havia andado apenas uma vez naquele carro, mas já havia amado aquela “lata velha recauchutada”, era muito confortável e um carro conversível sempre é muito legal.  Fazendo um par perfeito com o carro estava o motorista que usava uma camisa social vermelha com linhas pretas na vertical e mangas dobradas até os cotovelos, calça cor preta de um terno (que eu não faço ideia qual é o nome desse tecido) e sapato também preto.

—Então, está pronta?

— Na verdade não, acho que vou ter um infarto.

— Então é dois, minha mãe insistiu para eu usar essa roupa hoje, estou assando aqui dentro— Ambos rimos daquela pequena descontração— Na verdade ela queria que eu usasse um terno, mas consegui convence-la a me deixar sem o blazer, é blazer mesmo o nome disso?

— Acho que sim, mas o que isso tem a ver com um infarto?

—Tá quente.

—Ok então.

Sabe, parece idiotice, mas na verdade acho que é um dom que Clarck tem, ele sabe quando estou tensa ou nervosa e faz essas piadinhas, sempre me acalma. não sei por que funciona, ele nunca me pergunta o que houve, mas sempre me acalma com esse seu jeito de ser.

Uma rua antes de chegar à casa do Clarck já era possível ver carros, na verdade ela estava cheia dos dois lados, isso não era um bom sinal. Piorou quando chegamos lá, a casa estava visivelmente cheia, Clarck segurou minha mão e entramos na casa, havia algumas pessoas pelas salas, mas a maioria estava na varanda e no quintal detrás da casa. Aparentemente a reunião havia começado há pouco tempo, ainda estavam arrumando a churrasqueira.

Todo meu nervosismo acabou sendo em vão, a família dele é na verdade muito legal, um pessoal agradável de conversar. O mais interessante foi uma coisa que havia reparado já fazia um tempo, uma noite dessas eu estava jogando conversa fora com o Clarck pelo what’s e acabamos falando sobre os nossos pais. O pai dele é descendente de alemão, tanto que o sobrenome Bernstein vem daí; e ele é realmente tem características de descendência alemã, como olhos azuis, é loiro e talz... Mas segundo Clarck, a mãe biológica dele tem os olhos castanhos escuros e cabelo da mesma cor. Até agora eu não sabia de onde vinham os olhos verdes dele e da irmã, mas vendo a bisavó dele por parte de mãe eu descobri, ela tem lindos olhos verdes, assim como aparentemente boa parte da família dele do lado materno.

— Bisa, tem alguém que eu quero te apresentar, essa é a Lily —Acenei sorrindo meio sem graça—Lily, essa é minha bisavó.

—Prazer senhora.

—O prazer é meu, queridinha.

Ela parecia ser uma senhorinha muito simpática, em plenos 94 anos apesar de usar um andador para auxiliá-la a andar, parecia extremamente lúcida de enérgica. Acabei conversando com ela por um tempo, ela é a segunda pessoa idosa que eu converso muito sem me cansar de falar ou me entediar. Fiquei um tempo sentada na sala ao lado de Clarck conversando com sua Bisa, que estava do outro lado, sentada no sofá paralelo ao nosso.

— Desculpa perguntar, mas e seus avós maternos Clarck? Sua bisavó está aqui, mas e eles?

Clarck ficou em silencio e sua Bisa começou a me responder.

— Minha jovem, eu tive um único filho e ele me deu uma única neta— Ela parou de falar por um instante, naquele momento eu vi que não foi uma boa ideia ter perguntado aquilo — Bem, e há exatos doze anos eu perdi meu filho para a bebida, que Deus o tenha.

—Perdão, eu não sabia.

— E como iria saber se não perguntasse? O normal é os filhos enterrarem os pais, não o contrário.

—Sinto muito mesmo assim.

— Mas olhe só, Deus foi tão benevolente comigo que me deu dois netos maravilhosos e anos suficientes para poder vê-los crescer até agora, e isso é mais que uma velha como eu poderia pedir.

Já era quase duas da tarde, lembro que eu estava sentada no sofá tomando um suco e Clarck estava na cozinha conversando alguma coisa com sua mãe (Helena), foi quando vi pela primeira vez hoje a Dara, ela estava cabisbaixa. Usava uma roupa que julgo eu fazer seu gosto, uma regata preta de pano fino por debaixo de um corpete preto, calça jeans com alguns rasgos propositais (destroyed jeans), tênis all star preto de cano longo e pela segunda vez vi suas lentes brancas. Usava batom preto e todos seus piercings, tenho que dizer, ela tinha mais que eu pensava, tem um par de furos a mais na ponta das orelhas, um na língua e no.… acho que é septo o nome, que fica na carne dentro do nariz que, na minha opinião quem esse tem parece um boi com uma argolinha no nariz, mas esse eu ainda não havia visto na Dara. Poderia até dizer que levei susto ao vê-la, mas na verdade já havia me acostumado com sua presença, então não estava nem ligando se ela parecia a noiva cadáver ou não.

— A mamãe não vai vir? —Perguntou Dara escorando na entrada da cozinha.

— Não, ela avisou mais cedo enquanto você estava fora.

—Ok então — suas feições mudaram de triste e cansada, para estou put@ da vida—Se me dão licença eu vou voltar para a rua então.

Dara estava quase passando por mim quando Helena a parou segurando-a pelo braço.

— Você não quer ficar mesmo querida?

— Obrigada Helena, mas não estou com cabeça para isso agora. Preocupa não, eu volto antes das oito da noite.

—Tem certeza?!

— Sim senhora. E antes que eu me esqueça, por acaso tem algum problema eu trazer o Sombra também?

—Não... imagina... pode trazer ele querida.

—Beleza.

Dara estava perto de mim quando acho que se deu conta de minha presença, até aquele momento eu creio que ela só viu o irmão e a madrasta (madrasta soa tão obscuramente, mas não conheço outra palavra para falar), pois ela chegou e foi direto neles sem ao menos olhar para o lado.  Ela estava passando por mim quando disse friamente sem olhar em meus olhos “—Cuidado com os trigêmeos”. A princípio pensei que não estivesse falando comigo, mas ela parou e chamou meu nome sem se virar, depois completou o que estava dizendo “— Lembre-se disso, você foi avisada”.

Nem precisei ficar perplexas com as palavras dela, passou quinze minutos e eu os vi, aparentemente os trigêmeos que ela falou estavam dormindo em outra parte da casa, haviam viajado muito cedo. Eles passaram correndo por mim, pareciam uma versão mine Clarck de olhos castanho com oito anos de idade, estavam extremamente enérgicos e inquietos. Os três gostaram de mim, acabei tendo que brincar um tempo com eles depois de tanta insistência. Na sala de televisão estavam os parentes do Clarck que eram mais ou menos da nossa idade. Havia três pessoas, duas moças e um rapaz, Eliana que é a irmã dos trigêmeos estava na faculdade e não descansava as mãos um minuto se quer, parecia resolver uma pilha de deveres, sua cara denunciava o aparente cansaço e falta de sono; Matheus era muito alto e extremamente magro, parecia ser o mais introvertido lá; Tatiana tinha uma cara muito amigável, quase não parava junto dos outros pois a todo momento a chamavam em outro lugar, ela ia ver o que queriam e sempre voltava correndo.

—Bruno, luís e Mike! Parem agora de me atrapalhar— Gritou Eliana para os trigêmeos— Droga, eu tenho que terminar isso!

Os meninos se esconderam detrás de Tatiana, fizeram um pouco de manha e ela acabou por defender as crianças da própria irmã.

—Dá um desconto para eles prima, só querem brincar.

—Não dou, fizeram isso a viagem inteira.... Eu só quero um pouco de sossego, é pedir muito?

— Poxa maninha, brinca um pouco com a gente depois volta para esse seu estudo chato —Disse Luís.

—Em primeiro lugar, eu bem que queria, em segundo lugar.... Que tal um trato, deixem eu terminar o que estou fazendo, depois juro que brinco com vocês. Que tal?

— Hum... Eu acho que a oferta tá muito baixa, o que mais você tem para nós? —Perguntou Bruno com feições e pose imitando um mafioso.

Eliana tirou os óculos, umidificou os lábios e olhou furiosamente para eles.

— Preciso de mais? — Os meninos se esconderam detrás da parede ao lado deles — Agora me deem licença que eu quero estudar.

Eu vi toda essa cena e quis desesperadamente rir, mas creio que a Eliana me jogaria o mesmo olhar que jogou para os meninos se fizesse isso, então arrumei um jeito de engolir o riso e foquei na conversa do Matheus com o Clarck. Matheus estava mostrando no celular uma apresentação dele nas argolas, acreditem ou não o primo dele era um acrobata em argolas, um ginasta; brincadeiras à parte eu não entendo como, para estar nas argolas o cara precisa ser muito forte e ele parece ser muito leve.... Talvez seja essa sua vantagem, acho, sei lá só estou tentando entender como ele consegue.

Era quase cinco da tarde, quase todo mundo estava na varanda, menos os gêmeos que estavam brincando na frente da casa, ou seja, do outro lado de onde eu estava. Acho que devo ter um ouvido biônico, havia mistura da voz dos que estavam na varanda e o som não tão alto (não deixa de ser um som) que o pai do Clarck havia colocado lá de fora; mesmo assim ouvi os trigêmeos gritando meu nome em meio a um barulho que seria impossível escutar se me chamassem na cozinha, e não estou brincando, a cozinha era perto de onde estava sentada.

Quando saí levei um banho sem querer, pois fui bombardeada por balões de água, com aquele choque que a água fria me deram foi inevitável eu gritar alto (desnecessariamente alto para falar a verdade). Olhei ao redor e vi os primos do Clarck (menos Eliana) e ele mesmo também estava lá, todos me rodeando; o que estava mais seco lá era o Clarck que estava do meu lado momentos atrás, os outros estavam molhados da cabeça aos pés e com balões de água na mão. Era uma guerra de balões d’água, haviam baldes cheios deles no gramado, os trigêmeos haviam sumido da minha vista fazia uma hora ou mais, agora sei o que estavam fazendo. Não vou mentir que de cara fiquei com raiva, mas depois entrei na brincadeira.

— Vem brincar com a gente Lily! —Disse Matheus.

— É, vem brincar! —Disseram os gêmeos.

Eu fiquei estática quando levei a primeira chuva de balões que os gêmeos me deram e quis voltar para dentro, na verdade já estava voltando.

— Qual é Lily?! Entra na brincadeira— Disse Clarck me jogando um balão— Vem brincar!

— Como você ousa me jogar um balão d’água?

— Ué se vinga, joga outro! —Gritou Mike correndo para me entregar um balão.

— Valeu campeão, mas ela não acerta nem uma mosca, duvido muito que me acerte.

Dito e feito, joguei o balão bem no rumo dos olhos dele e ele desviou, e ainda se virou para ver onde havia caído, caiu longe.

— Eu disse que... — Enquanto ele se virava eu peguei outro balão, esse acertou bem no peito — Então é assim?!

Eu nunca havia participado de uma guerra de balões d’água, é muito emocionante... E gelado, só para constar. A melhor parte foi a hora que a Eliana terminou de estudar e veio brincar, ela chegou de surpresa e abriu a porta violentamente e sem nem ao menos levantar o olhar para nós.

— Vocês começam uma guerra e nem me chamam — Ela levantou o olhar e riu como uma bruxa dos filmes da Disney— Vamos brincar então.

A Eliana deve ser ótima com dodgeball e carimbada, ela não errava uma se quer, sem contar que custamos a acertar um único balão nela, que pegou de raspão em seu braço. Era muito engraçado ver os trigêmeos, eles andavam e como se estivessem em um campo de guerra mesmo, fazendo formações imaginarias, O Luís usava um capacete de construção que malparava em sua cabeça, Bruno levava um graveto como se fosse uma espadinha e Mike fez um escudo com um prato de plástico que deve ter achado na cozinha. Era muito fofo vê-los gritando mayday, bater em retirada, atacar.... Aí estão três futuros soldadinhos para nossa pátria.

Quando acabaram os balões, lá para as 18:30(Porque ainda paramos para encher mais dois baldes), tiramos fotos para lembrar daquela batalha épica que os livros de história nunca contarão, mas lembraremos com todo carinho, e espero que sem um resfriado de brinde. Depois disso os meninos acabaram quase dormindo em pé de tanto sono, seus pais apenas trocaram suas roupas e os deixaram dormir perto da lareira na sala, eles são tão fofos dormindo. O restante de nós dividiu os três chuveiros da casa, na verdade a Eliana trocou de blusa, ela só havia molhado a manga da camisa que vestia, então não havia por que tomar banho. Acabou que eu dividi o banheiro com o Clarck, e o resto teve um banheiro todinho para si para tomar banho sem ficar apressado, pois não havia gente na fila de espera para tomar banho. Os três banheiros da casa estão: um no quarto dos pais do Clarck, no corredor debaixo da escadaria no primeiro andar e entre o quarto do Clarck e da Dara, é óbvio que eu estava no último que falei. Esse havia duas portas com duas trancas cada, pois ele fazia divisa com o quarto dos dois irmãos, uma tranca fechava do lado do banheiro e a outra no quarto. Deve ser chato ter que trancar para entrar e sair as duas portas, principalmente a noite; se bem que o Clarck tem um sono que onde ele cai dorme e é certo que só acorda no dia seguinte, mas ainda tem a Dara que eu tenho que admitir...Ainda acho ela com cara de Serial Killer e sei que ela e o irmão não se dão bem, então né...Pode ser pura besteira minha, mas não deixa de ser uma teoria, ou seria previsão? Ai credo!! É bom nem pensar nisso.

Eu estava molhada demais e não havia levado uma roupa de reserva (Quem espera uma guerra de balões d’água do nada?) Então Helena colocou minha roupa na máquina de lavar e secar enquanto eu tomava banho, ela também separou uma roupa que era da Dara(Só acho) para mim, mas ao contrário das que ela usava essas eram normais, um short simples e uma regata preta. Gente, como iria sair com isso no meio daquele povo? Até aí eu tentei relevar, mas o problema aconteceu quando fui experimentar a blusa e ela não descia até o linear do short, para piorar mostrava meu umbigo, eu não iria sair com aquilo de jeito algum, não uso nem nunca vou usar uma blusa assim, acho desnecessário.

Clarck estava do outro lado da porta e já havia tomado banho (Ele é o Flash, só pode), eu simplesmente precisei gritar por ele, lhe entreguei a blusa e ele foi trocá-la para mim. Encostei as costas na parede e fui reparar no banheiro ao meu redor, acabei esquecendo a porta que estava apenas encostada (não tranquei). Clark voltou e abriu vagarosamente à porta sem eu basicamente ver, só fui perceber quando a porta já estava entre aberta (estava realmente muito distraída olhando o nada) eu estava parada de frente para ele tampando meus seios com aquela blusa em minha mão, ele me entregou a blusa que havia ido buscar, depois trancou a porta e apoiou-se nela, sorrindo para mim.

—Você vai ficar aí parado olhando?

—Hum.... Pretendo.

— Sai logo!!

— Se você me tirar daqui eu saio com o maior prazer. Mas eu acho que você vai precisar das duas mãos.

— Tarado!!

— Só sou louco por você.

Ele me sorriu de canto, ficamos nos encarando por alguns segundos. POR DEUS! Eu estava parecendo uma criancinha perto dele, mas eu sabia onde ele queria chegar, esse nem era o problema, o problema era tudo ao nosso redor. Poxa, havia uma festa no andar de baixo, havia a mãe e os primos dele que provavelmente iriam nos chamar, sem contar que uma hora ou outra minha mãe iria ligar para eu voltar para casa; na verdade esse último argumento eu só acho mesmo, porque recentemente ela está meio que se lixando para o que eu faço ou deixo de fazer. Por fim coloquei a blusa que ele havia me trazido, mas ainda tinha certa dúvida sobre o que iria fazer depois.

— Satisfeito?!

Clarck não disse nada, apenas se aproximou de mim, passou a mão em meu rosto e levantou meu queixo, naquele momento olhei para seus olhos, pensei em todos ao redor e onde eu estava, mas acabei resolvendo apenas esquecer tudo isso e deixar rolar.

Não sei se haviam esquecido de nós ou se o fato de ainda estarmos no banheiro não nos deixava escutar caso alguém estivesse na porta. Não faço ideia que horas eram, acho que algo entre sete e oito da noite. Eu ouvi um barulho perto de nós, não sabia onde, afastei Clarck de mim quando ouvi aquilo. Eu o empurrei, ele tentou voltar, mas eu simplesmente o barrei com a mão.

—O que foi?

— Ouvi algo, mas acho que não é nada — Olhei ao redor — Sei lá, parando para pensar agora.... Vamos esquecer isso, vamos voltar lá para baixo.

—Hã?! Mas por quê?                                   

— Há 20 pessoas no andar de baixo, e se alguém nos escutar? Sem contar que tem sua mãe e seus primos que sabem que nós estamos aqui, e se alguém nos chamar?

—Não creio que vão nos incomodar, meus primos estão jogando truco e geralmente eles ficam tão focados no jogo que esquecem de todo resto. Minha mãe está preocupada com todos os outros convidados, creio que nem ao menos se lembra de nós.

—Mas...

—Se o problema é barulho, basta não fazermos barulho.

Ele me puxou para perto de si e nos beijamos novamente. Eu poderia para de contar a partir daí, mas algo estranho aconteceu, um tempo depois, já estávamos na cama dele e eu não parava de pensar “vão nos encontrar aqui e eu vou ser a prejudicada nessa história”, isso estava me deixando totalmente aflita. Eu já estava pronta para acabar com aquilo tudo quando de repente escuto um barulho.... Pronto, sem ver o que era meu coração já subiu a boca e voltou, mas era algo que não iria pensar.

—Ué, quem da sua família toca guitarra?

— Ninguém.

—Ué, quem é então? Não parece ser o som do seu pai.

—Ai, deve ser o amigo da Dara, o cara me dá medo e eu sei que ele toca algum instrumento, qual eu não sei. Mas acho que é ele mesmo, ele e a Dara não desgrudam um do outro.

É..... Resumindo...Foi legal passar a noite com o Clark e aquele som de rock de todos os tipos não me incomodava de jeito algum, sem contar que os tios do Clark que já estavam bêbados começaram a cantar junto. Era impossível nos escutarem, acho que nem sabiam que estávamos lá, e agradeço isso.

Acordei às 3:30 da manhã com a cabeça sobre o peito de Clarck, seu braço estava sobre mim e seu sono era visivelmente pesado, foi fácil sair dos braços dele sem que acordasse. Vesti a roupa que Helena havia me arrumado e abri a porta cautelosamente, não sabia se ainda tinha festa no andar e baixo, por sorte a escuridão e o silêncio dos corredores diziam que a festa já havia acabado, desci a escadaria tranquilamente e fui procurar a lavanderia que era ao lado do banheiro no primeiro andar. Foi uma tarefa fácil, quando estava preste a sair vi que alguém estava dormindo no sofá da sala, nada de mais, mas me chamou a atenção. Era um homem bem alto, pois o sofá era grande e mesmo assim seus pés estavam de fora dele, seu braço direito estava jogado para fora do sofá e eu pude ver que era cheio de tatuagens, eu já vi aquelas tatuagens antes, mas não faço ideia onde.

Aproximei-me do sofá para observá-lo melhor, vi que seu cabelo estava preso por um rabo de cavalo e que seu corte era diferente, só havia cabelo no topo da cabeça. Eu estava quase vendo seu rosto quando uma mão tampou minha boca e outra me puxou pela cintura, senti um perfume muito doce, não era de jeito algum o Clarck. Foi tudo muito rápido, mas depois vi sobre a luz fraca que entrava pela porta olhos verdes em uma cor intensa e uma forma feminina já conhecida, não demorei muito para ver que era a Dara, mesmo que eu quase não a tenha reconhecido, ela estava sem lente e apenas com uma argolinha debaixo do nariz (piercing), ela me olhou um tanto raivosa e então sussurrou me levando para mais perto da porta:

— Você está maluca? Quer sair sem que te descubram aqui ou quer ser pega?

—Hã?! não entendi —Disse eu em tom normal mesmo.

— Shhh... Fala baixo senão tu.... Fala baixo e vá embora se não eles irão te descobrir aqui.

— Ok.

Abri a porta e antes mesmo de pisar no chão uma brisa fria me fez tremer e fechar a porta brutalmente.

—Filha da…. Não conhece uma coisa chamada silencio não garota?

— Foi mal, tá frio lá de fora.

— Aaahh — Disse ela com cara de tédio— Espera aqui e não toque em nada.... Isso não é uma ordem, mas tome como uma.

Ela foi buscar uma blusa de frio e dois capacetes, voltou vestindo uma fina blusa de frio preta. Ela disse “—Tome, veja se lhe serve. Se servir vamos embora”, entregou-me a blusa e depois o capacete, sem mais perguntas breves abriu a porta e saiu, eu vesti a blusa na hora e fui atrás dela.

Dara caminhou sem olhar para trás ou para mim, chegamos à casa da avó dela na rua debaixo, ela abriu a garagem e pegou uma lambreta até bonitinha e a levou para fora. Antes de subirmos na moto ela virou para mim e disse muito séria:

—Tenho duas coisas a lhe dizer. A primeira é que só porque eu estou lhe ajudando agora.... Não pense que isso acontecerá sempre. Segunda, se segure, se você cair no caminho eu não volto para te pegar, só aviso isso.

—Ok então.

Não sabia que ela podia me assustar tanto, aquele olhar sério me fez arrepiar por um momento, àqueles olhos penetraram minha alma, aquele verde intenso e misterioso era sem dúvida lindo. Ela até agora havia me assustado mais estando “normal” por assim dizer do que com todos os piercings e visual... Não sei o que dizer do look dela agora, aliás.

Assim que subi na moto percebi que havia sido uma péssima ideia, ela disse enquanto ligava a moto “— Te disse que essa moto é do Sombra e não minha?”. Nunca passei tanto medo na minha vida, ela dava cada arranco com aquela motinha, eu no começo estava segurando no suporte do bagageiro, mas depois de três arrancadas que ela deu eu envolvi meus braços envolta de sua cintura, o que a fez só acelerar ainda mais. Teve uma hora que eu pensei que ela iria empinar aquela moto, lembro de ter pensado “ Pronto, agora morremos”, por sorte ela não empinou aquela lambreta. As ruas estavam vazias, e cada esquina parecia um tormento para mim.

— Pode abrir os olhos sabia?! Já chegamos.

Naquela hora percebi a situação em que eu estava. Estava de olhos fechados abraçada nela, com a cabeça em seu ombro e tremendo que nem uma condenada.

—O que eu te fiz?! — Disse eu nervosa— Poxa podia ter me matado sua doida!!

Ela riu sarcasticamente e depois me pediu com tom frio:

—Jaqueta e capacete madame! E se eu fosse você não reclamaria, eu te trouxe em casa e você está viva, não está?

—Você é sempre assim?

—Assim como?!

—Assim, parece bipolar, anteontem você estava um amor de pessoa e hoje parece um monstro de tão nervosa, poxa o que eu fiz para você garota? Se foi algo que eu fiz pode falar.... Porque eu não faço ideia.

Ela fechou a cara e a virou para o outro lado, estendeu a mão para mim e depois disse novamente:

—Capacete e jaqueta...Agora!!

Eu devolvi com a mesma grosseria que ela havia me tratado e depois fui entrando em minha casa, antes de entrar escutei ela dizer ao longe “— Sabe, agradecer de vez em quando não faz mal para ninguém”. Eu não olhei para trás e simplesmente entrei, droga, o que eu fiz para ela fazer uma sacanagem dessas comigo, poxa eu quase morri, morro de medo de motos. Subi as escadas transtornada com aquilo, mas quando abri a porta do meu quarto me deparei com algo, todas minhas roupas sobre minha cama.

—Droga, esqueci de guardar!


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