Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 10
O acampamento_ Parte 01


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura queridíssimos! >.<



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Finalmente chegou o dia tão esperado em que eu e meus colegas iriamos para o acampamento, fiquei arrumando minhas coisas na noite anterior e acabei dormindo em cima da minha escrivaninha (isso é bem comum de acontecer comigo) e sempre que durmo lá eu acordo atrasada, hoje não foi exceção.

—Quantas horas? —Lily olha seu celular— Drooogaaaa!! São 6:30, estou muito atrasada, muito, muito mesmo!

Levantei correndo, coloquei a roupa que graças a Deus estava sobre minha cama, escovei os dentes, amarrei meu cabelo, peguei minha mochila, achei qualquer coisa para comer e saí correndo de casa. Ultimamente tenho corrido muito por conta de levantar atrasada, espero que isso traga algum benefício para minha saúde, porque só vejo suor escorrendo rosto abaixo.

Ao chegar na rua da minha escola já foi possível ver os quatro ônibus escolares que nos levariam ao acampamento, ao me aproximar já ouvi logo de cara meu nome gritado estridentemente por Megan num dos ônibus à minha frente. Avistei Clarck do outro lado da rua com seus amigos do clube de basquete, eu não iria cumprimenta-lo, pois aparentemente não havia me visto, mas quando estava pisando na escada do ônibus escutei:

—Bom dia para a senhora também!! —Gritou Clarck para mim.

—Pensei que você não tivesse me visto.

— Hum.... Pensou errado.

Ficamos nos olhando, mas ninguém mexeu um musculo do lugar. Então acabei indo lá e o abraçando, ele tentou me beijar, mas não queria beija-lo na frente daqueles trogloditas, então apenas virei a cara dando-lhe apenas um selinho.

— Então, você vai comigo ou com seus amigos? —Perguntei arqueando a sobrancelha.

— Bem, você vai comigo ou com suas amigas? Porque por mim eu queria estar contigo, mas se quiser ir com suas amigas vou entender plenamente.

Nossa, a mentira estava estampada na cara dele e pra piorar eu estava com um humor daqueles, e com torcicolo (por dormir sobre a escrivaninha), não queria sentar perto dele, pois sabia que toda hora ou um dos trogloditas ia até ele ou ele ia  até os trogloditas.

— Faz assim, você vai com seus amigos e eu com as minhas.

—Beleza então, já vou entrar no ônibus.

Antes que eu pudesse me afastar o suficiente ele me puxou pela cintura e me beijou, não tive como fugir. Entrei no ônibus, fui até o fundo aonde as gêmeas estavam, um pouco depois veio Clarck e se sentou duas fileira para frente da minha e no mesmo lado do corredor. Partimos 7:30, provavelmente lá para às nove e meia chegaremos lá.

—Amiga, você não vai acreditar... —Disse Magda fazendo suspense—Consegui um lugar ótimo para nós, uma cabana com só nós três.

— Sério?! Pensei que as cabanas eram para cinco pessoas —Disse Megan enquanto lixava suas unhas.

—Sim, mas essa é para quatro.  Só que eu dei um jeito e essa foi a única que ficou com três pessoas, o resto das cabanas tem cinco ou seis.

—Magda, tu é uma agente secreta de primeira, arrasou garota—Disse eu enquanto Abraçava Magda— Aaaah a cabana é só nossa.

O ônibus passou por um caminho muito arborizado, um pouco a diante parou em uma cancela onde havia uma placa que dizia "bem vindo ao vale de Siedra e Simão". Passamos por um hotel e dois acampamentos, por fim avistei a placa do nosso acampamento, alguns minutos depois chegamos a uma rotatória e lá o ônibus parou. Havia um estacionamento e era possível ver as grades que cercavam o acampamento e a pequena estrada com uma placa que dizia "acampamento Vale do sol, siga em frente", o ônibus parou logo em seguida.

—Finalmente chegamos— Disse Magda eufórica (raridade) — Mas.... Cadê o acampamento?

— Eu já vim algumas vezes aqui com minha irmã quando éramos mais novos. Há uma caminhada de uns dois quilômetros mais ou menos por entre essa mata até chegarmos ao acampamento —Disse Clarck.

— Aahh fala sério!! Minha mochila tem basicamente tijolo, custei a carregar do carro da minha mãe até o ônibus —Disse Megan revoltada— Agora vou ter que carregar isso dois quilômetros? Desisto, vou ficar no ônibus até domingo esperando.

Então do nada alguém que eu não esperava, na verdade que eu nem sabia que estava lá se pronunciou. Lembram-se do Martin? Se não lembra ele é um colega meu do clube de xadrez, ele é muito legal, mas extremamente tímido, quase não o vejo conversando, a não ser dentro do clube.... Onde ele mostra seu lado Super Nerd Master e seu lado tagarela também. Enfim, o tempo todo ele estava sentado na fileira de trás onde estavam as gêmeas e quando Megan disse "Desisto, vou ficar no ônibus até domingo esperando" mais que rapidamente ele falou:

— Se não se importa eu posso levar, minha mochila está levinha.... Posso levar a sua também.

Quase que sem pensar Megan pegou sua mochila de acampamento (enorme) que estava em seu colo e jogou para Martin.

— Pode pegar!!

Saí grudada no braço de Clarck, as gêmeas tagarelando atrás de mim e lá atrás, custando a carregar sua mochila e o kit preventivo para o fim do mundo da Megan estava o Martin, tadinho.... Foi maldade dela.

Megan nunca se interessou por garotos como Martin, nunca deu nem chance a eles. Mas na metade do caminho algo aconteceu, eu não sei por que, pois, também não vi para começo de conversa, já que estava conversando com Clark e isso me distraiu. Mas do nada Magda chamou minha atenção e me mandou olhar para trás, quando virei-me vi Megan conversando empolgadamente com Martin.

— Ué, ela te deixou para conversar com ele? Que estranho.

— Estranho nada, já estou mais que acostumada a ser abandonada por minha irmã quando o assunto é homem.

— Mas ela não está interessada nele, não faz o tipo dela.

— Verdade, só achei esquisito.... Ela olhou para trás e basicamente me abandonou para ir conversar com ele.

—Poder nerd ativar!! —Brincou Clarck.

— Aahh para de ser bobão, eu sou nerd também tá —Disse eu lhe dando uma pequena cotovelada.

— E quem disse que você não tem poder?

Calei-me, deu vontade de ficar vermelha quando ele me disse aquilo, mas segurei esse impulso que deixa minhas faces rubras.

O chão era terra pura em parte do trajeto e havia um pouco de lama, mas nada que não pudéssemos passar, iríamos apenas nos sujar um pouco, nada de extraordinário já que estávamos em temporada de chuva. Uffaa...Graças à Deus não está chovendo e nem há expectativa de chuva até a próxima semana.... Se não eu iria pisar em lama pura, teria terra até a altura dos joelhos. Mas é claro, sempre existe gente para reclamar de tudo, mesmo quando está tudo bem. A Amanda era esse ser a reclamar.

—Ai que merd@, minha bota branquinha, novinha... Já era... Droga de acampamento!!

Ela parou um pouco e tentou tirar a lama do meio de suas botas.

— Esses insetos, credooo.... Se eu pegar dengue a culpa é da escola, vou processa-los.

Eu já estava ficando sem paciência, ela reclamava de minuto a minuto e não falava... Gritava.

— E esse sol caramba... Aff... se eu pegar uma insolação vou processar a escola.

Se aquela menina falar mais alguma coisa eu juro que brigo com ela, menina chata.

— Aff e a gente não vai chegar mais não, acho que estamos perdidos.

— Cala a boca kittel. Se não está gostando daqui é só voltar, o ônibus está no caminho oposto —Gritei para ela.

— Fica quieta Lily, não estou falando com você!!!

— Mas tá me incomodando.

— Ora.... Os incomodados que se retirem.

Eu queria falar mais, só que tanto Clarck quanto Magda me seguraram. Eles têm razão.... Não vale à pena. Mesmo que aquela garota me tira do sério totalmente, não vou me rebaixar.  Eu realmente não acordei com paciência nenhuma essa manhã.

Finalmente chegamos ao acampamento mesmo. A portaria era um prédio de três andares com um hall muito grande feito de madeiras frondosas, deviam ter sete metros ou mais cada tronco que sustentavam a frente daquele lugar, o resto imitava madeira e a frente era toda espelhada. Havia um jardim muito bem cuidado ao redor, do lado de trás da portaria começava o acampamento, mas o muro de concreto na entrada nos impedia de vê-lo.

Os professores que foram junto de nós estavam conversando na recepção enquanto todos foram beber água, oh povo frouxo.... Não andamos nem um quilômetro e a maior parte do pessoal estava morrendo, já estavam parecendo até cães com suas línguas esticadas para fora de suas bocas.

Enquanto esperava peguei um folheto que encontrei na entrada e fui dar uma olhada, as letras eram minúsculas e tinha muito texto para um panfleto, mas me distraiu um pouco. O acampamento é muito mais ajeitado do que eu esperava, parece que ele pertence a um militar que passava suas férias nesse acampamento quando criança e agora que cresceu resolveu compra-lo. O lado bom é que é praticamente impossível se perder aqui, pois quase toda a área é mapeada e há sensores de vários tipos (de movimento e calor) espalhados entre as áreas verdes, sem contar as câmeras espalhadas pelas áreas de lazer. O lago no meio do acampamento é enorme e tem algumas boias que impedem os desavisados de irem nadar na parte funda do lago. A capacidade máxima desse lugar é de trezentas pessoas, tendo 30 monitores que nos auxiliam aqui.

 Havia dois monitores vestidos com trajes de escoteiros e tudo mais, nos esperando passar da portaria.  Havia um homem e uma mulher, a mulher devia ter uns 50 anos, era ruiva, magrinha e tinha um sorriso contagiante. Já o homem era alto, cabelo castanho e usava óculos escuros, lembrava até o exterminador do futuro pelo seu porte, aparentando uns 30 anos, parecia ser um professor de educação física de tão bombado.

—Bom dia, meu nome é Emily.

—E eu sou Fernando.

—Nós seremos seus guias esse final de semana —Disseram os dois ao mesmo tempo— Espero que gostem de nossa hospedagem.

—Para começar vamos dar umas informações a vocês —Disse Emily sorridente— Nós vamos agora para a área de camping que fica um pouco à diante, onde vocês iram encontrar seus dormitórios, que seus professores juntamente com vocês escolheram antes de chegar.

—Seguinte galerinha —Disse Fernando— Os cuecas vão me seguir e as mocinhas vão com a tia Emily.  Entenderam?

Respondemos que sim, uns animados, outros aparentemente cansados.... Ou com fome.... Porque era quase hora do almoço e no meu caso isso significava que: minhas lombrigas maiores já haviam comido as menores fazia um tempo. Magda aparentava estar muito mais inteira que eu, ela estava ao meu lado.... Já Megan.... Sumiu entre o povo, devia estar com Martin ainda.

— Cadê a Megan? —Perguntei meio perdida.

—Sei lá. A gente vai dormir na mesma cabana, encontramos ela lá.

—É, acho que você tem razão. Então vamos?

De frente à portaria havia uma área vasta que dava vista para o lago, era possível ver inúmeras trilhas de lá.  Ao lado da portaria havia uma placa que dizia: área de camping, à direita estava o acampamento feminino e a esquerda o acampamento masculino.

A trilha para a área de camping era linda, cheia de árvores ao redor, alguns postes e pude ver câmeras também, pelo jeito não estavam mentindo quanto à segurança. 

A área de camping feminina era composta de 30 cabanas distribuídas em três fileiras de 10 cabanas cada. Ficamos na cabana 29, ela era até muito aconchegante, havia um armário grande logo na entrada, uma escrivaninha com uma luz fixada na parede, dois beliches e um criado mudo no meio dos beliches.

Eu havia levado roupa de cama e de banho, mas estava tudo tão arrumado que acho que não usarei a roupa de cama.  Já estávamos na cabana fazia uns cinco, quase dez minutos quando Megan chegou sorrindo abobada ao lado de Martin, que já estava azulado por conta da força que fazia. Ele colocou a mochila sobre uma das camas e arfou duramente logo em seguida, dava para ver que era literalmente um peso que ele tirava das costas.

—mademoiselle, aqui estão suas coisas.

—Obrigada Martin.

—Ah de nad.. —Martin tropeçou nas escadarias e caiu—Não foi nada, qualquer um poderia ter feito o que eu fiz.

—Mas mesmo assim... Obrigada.

Megan beijou a bochecha do Martin, o danado já havia custado a se levantar, com isso saiu cambaleando de volta para seu acampamento.

—Out, que fofo amiga!

—Ahh fica quieta, vai que ele leva essa mochila na volta de novo para mim.

— Hum.... Sei não maninha.... Você entrou muito abobada aqui para meu gosto.

—Mas como não ficar?! Ele é web designer, ou seja, ele pode criar um blog para mim e vocês sabem que meu sonho é ter blogs, sites e coisas do tipo.

—Na verdade seu sonho é comer pudim no café da manhã, almoço e janta—Disse Magda se jogando na cama.

—Ahh, mas isso eu faço de vez em quando. Agora quem disse que uma pessoa como eu tem a capacidade de fazer um site?

—Humm...Não sei... Mas ainda acho que você não está falando a verdade—Disse eu a provocando.

—Podem achar o que quiser, estou nem aí.

Passados cinco minutos ouvimos um barulho na porta, a fechadura estava sendo aberta. “Quem será que é? ” Pensei eu, afinal a cabana era só nossa. Quando a porta se abriu vi a forma de uma garota, mas não acreditei quem era.... Não gente.... Essa menina está de brincadeira com a minha cara, não é possível... Gente, ela nem é do segundo ano, é do primeiro... Como ela veio parar aqui?

Era a Dara, ela estava usando uma blusa de manga longa vermelha flanelada, regata branca por baixo, short com rasgados nas laterais e um All star de cano longo. Suas lentes eram negras, acho que não faltava nenhum de seus incontáveis piercings, ela estava com um fone de ouvido, mas eu que estava do outro lado do quarto era capaz de ouvir o que ela escutava.

—Dara?! —Falamos todas juntas.

—Ué, pensei que você tinha dito que a cabana era só nossa Magda?—Perguntou Megan.

—E era, eu fui a primeira a ver as cabanas e o Sr. Foster me disse que não teria mais ninguém junto conosco, eu até revi o planejamento há duas semanas.

—Então por que ela está aqui, aliás... Como veio parar aqui? —Perguntei sendo meio grossa, admito.

—Bem, eu amo esse lugar e um amigo pagou para que eu viesse junto de vocês, na verdade já estava aqui duas horas antes de chegarem, ou vão dizer que não viram minhas coisas no armário?

—Hã?!... Mas não tem nada no armário— Disse Megan abrindo o armário— Esquece.... Já vi que tem.

—Mas como conseguiu essa cabana? —Perguntou Magda

—Era a única disponível com estudantes da nossa escola.... Poxa, só queria me sentir uma estudante. Não fazia ideia que vocês estavam aqui, se soubesse teria mudado na hora.

— Por quê? — Indaguei a enquanto sentava na cama — Por que mudaria?

—Estou olhando nos seus olhos e estou vendo por mim mesma que não sou bem-vinda. Então.... Isso já não é o suficiente?

Após dizer aquelas palavras Dara saiu da cabana fechando a porta com agressividade. As gêmeas me encararam, achei aquilo estranho.

—Nossa, o que foi aquilo? —Perguntou Megan.

— Lily, a Dara não é esse monstro que você está pensando... Não precisava ser tão grossa —Disse Magda.

—É verdade —Concordou Megan.

—Mas eu não fui grossa.

— Desculpa amiga... —Megan ponderou—Mas foi sim, você foi rude quando perguntou, não deve nem ter percebido.

— Eu não fui rude, ela que sempre é rude comigo. Tipo, outra semana ela me deu carona para casa, quase me matou com as arrancadas que dava na moto e ainda riu disso, sem contar que ela já falou mal de mim, me afrontou.... Poxa.... Sou eu a vítima, não ela.

— Amiga você está muito estressada hoje, calma um pouquinho, respira fundo e vai em frente—Disse Magda.

—É verdade, você está um furacão hoje.... Respira um pouco e pede desculpa para a garota, tadinha, ficou até mais pálida quando te viu— Disse Megan enquanto mexia no celular—E só uma coisa, não tome as dores do seu namorado, ele e a irmã são pessoas muito diferentes e com certeza ele já deve ter reclamado horrores dela.

— Nossa, virou conselheira agora amiga? —Perguntei.

— Não, Só que eu tenho conversado com a Dara os últimos dias, ela é igualzinha era antes, só mudou o visual. —Disse Megan.

—Ela não era exatamente minha amiga, mas todo mundo a tratava mal... Ficava com muita dó, então te peço para não tratá-la assim. —Completou Magda—E é claro, também é óbvio que ela e seu namorado se odeiam e ele provavelmente já deve ter falado horrores dela para você.

— É verdade amiga, ela era tímida, humilde e quase todo mundo se aproveitava disso—Megan parou de mexer no celular e olhou para nós decentemente— A xingavam, gritavam com ela, lembro de a ver chorando no banheiro algumas vezes.

Nossa, calei minha boca naquele momento. Não imaginava que ela já havia sofrido tanto assim, na verdade nem havia reparado que havia gritado com ela, me senti um pouco hipócrita naquele instante. Caramba, eu nunca havia pensado, talvez aquele jeito dela, o modo como afasta as pessoas, talvez tudo isso seja um jeito dela se proteger.

Tipo, eu estava pensando... Estava analisando quando que ela me tratou bem: tratou-me bem no dia que nos esbarramos, ela iria falar algo, mas não disse, preferiu me ajudar a levantar e ainda me ajudou a fechar aquele lugar. Ela também me avisou dos trigêmeos, o que me deixou mais esperta, mesmo que eu ainda tenha tomado um banho mesmo assim. Ela bateu na Amanda Kittel, o que é algo surreal para minha consciência... Parando para pensar, talvez o problema seja uma palavra simples de duas letras... Eu.

O lugar era realmente lindo, as gêmeas e eu resolvemos andar um pouco antes do almoço, era muita trilha para meu gosto, sorte que a Magda tinha os mapas e eu confio plenamente naquela garota quando o assunto é se localizar. Todos se reuniram na hora do almoço no refeitório perto do lago, tínhamos que pagar cinco dólares por pessoa, mas podíamos comer à vontade. O Clarck ficou com a turma dele do basquete, a Megan chamou o Martin para sentar junto de nós, os dois não paravam de falar de redes sociais e blogs e coisas do tipo.

A Megan caiu de cara para trás nos doces, pagou cinco dólares a mais por isso, já Magda foi a que menos comeu de nós, o Martin e eu comemos muito de tudo; não somos loucos, andar lá dava muita fome, tinha trazido lanches e iriamos ganhar mais também, mas de todo jeito é bom comer bem para não faltar energia.

Andamos basicamente a tarde toda depois disso, por volta das três da tarde o Clarck me ligou e pediu para ir encontrar com ele no lago de frente a portaria, as meninas e eu demos meia volta de onde estávamos e fomos sorrindo. Ao chegar lá fui literalmente pega pelas pernas, Clarck estava todo molhado e com uma bermuda torcida, antes que eu saísse da trilha ele me agarrou pelas pernas e me jogou sobre os seus ombros.

—Me solta Clarck! —Eu não parava de gritar.

Ele nada disse e começou a andar em direção ao lago, eu gritei várias vezes para ele me soltar, mas ele fingia não ouvir. Quando Clarck estava já com quase as pernas cobertas de água ele parou e disse “Tá bom te solto se é isso que deseja” e me soltou na água. Que raiva dele, bati minhas costas no chão, doeu. A Megan achou o Martin e estava de papo com ele nos bancos perto do lago, graças a Deus Magda me fez o favor de buscar uma toalha na portaria, mas após me entregar a toalha não a vi mais. Quando terminei de me enxugar olhei em volta e vi que Dara estava em cima de uma arvore lendo um livro, não faço a mínima ideia de como ela foi parar lá, era bem alto. Resolvi me sentar aos pés da árvore e ver o Clark e os outros meninos jogarem mais gente na água, eles não perdoaram nem os professores.

— Então, o que está lendo? —Perguntei à Dara.

—Hã?

—Te perguntei o que está lendo.

—O Alquimista, Paulo Coelho.

— Hum, legal. Não tenho muita paciência para ler Paulo Coelho, na verdade eu tenho é sono demais quando vou ler ele.

—É um pouco maçante mesmo, mas eu gosto.

— Que bom. Sabe, me perdoa pela grosseria mais cedo.

—De boa, eu entendo perfeitamente. E me perdoa quase ter te matado do coração semana passada.

—Tudo bem.

—Posso te perguntar uma coisa —Ela fechou seu livro— Por que anda com meu irmão? Vocês são tão diferentes.

—Você nos acha diferentes? A maioria das pessoas dizem que somos um belo casal, não entendi sua frase.

—É que você é diferente de qualquer namorada que ele já arrumou, é a mais legal que ele arrumou até agora, na minha opinião, claro. Sei lá, todas as outras garotas eram muito superficiais assim como meu irmão é, pelo menos eu o acho superficial.

— E você não me acha superficial então?

—Bem, não vou mentir que de cara achei uma patricinha mimada, mas estava enganada.... Você me enganou direitinho, na verdade você é uma garota até legal.

—Obrigada, você também é.

—Ah legal, eu não sei o que dizer sobre isso, desculpa —Disse ela como se não se importasse.

— É isso que eu não entendo em você. Em um momento está sociável, legal e alegre, do nada fica seca, fria e fechada.

—Perdão, mas é que na verdade não acredito no que você disse sobre me achar legal.

— Quer saber, não vou discutir contigo.... As gêmeas falaram que você é muito tímida.... Então vou pedir uma coisa simples —Me levantei e estendi minha direita— Podemos ser amigas?

Ela ficou muda, suspirou fundo e me olhou tristonhamente. Nesse meio tempo os meninos estavam conversando um pouco longe de nós duas.

“Falta jogar a Dara na água”.

“É verdade”.

“Quem vai jogar?”.

“Pede para o Clarck, a irmã é dele mesmo”.

“Eu não vou jogar de jeito algum, vai lá cara, joga você”.

“Eu não, a ideia foi do Christian, cobra dele”.

“I daí que a ideia foi minha? A irmã é do Clarck, ele joga”.

“Ah vão se fuder, eu não vou encostar a mão nela”.

Todos acabaram concordando e Clarck acabou vindo até nós contra sua vontade. Eu assustei ao vê-lo, ele chegou justo na hora que estava esticando a mão para a Dara, se ele me jogasse de novo na água juro que terminava com ele, estava quase sem paciência hoje.

—Clarck, se tu me jogar na água de novo tu me paga! —falei recolhendo a mão um tanto assustada, não havia o visto chegando por trás.

—A vez é da Dara agora.

—O que?! Não obrigada, não estou a fim de me molhar hoje.

— Você não tem escolha, todo mundo já tomou esse banho, só falta você agora.

—Ué, sobe aqui então...

— Qual é Dara, coopera, é só uma brincadeira.

— Ham, vindo de você não quero nada, nem brincadeira nem nada.

Os colegas do Clark chegaram e foram tirar satisfação com ele, ele disse que ela não queria descer, mas ninguém se dispôs a pegá-la em cima da arvore. Acho que a Dara se irritou com aquilo tudo e com um só pulo desceu do galho de mais de dois metros e meio onde estava.

— HAHAHA... Bando de frangotes... Nenhum de vocês tem coragem de me enfrentar, aliás, são muito inteligentes pensando por esse ângulo.

AAii doeu, com aquele tom de deboche eu que não tinha nada a ver com aquilo me senti agredida, imagina então os rapazes, aqueles brutamontes, deve ter ferido o orgulho masculino deles. Clark acabou se irritando e deu um passo para frente sério.

— Eu tenho coragem!

—Ah tem?! Cara, se tu me jogar naquele lago... Nossa... Você está mais que perdido, pior que você sabe que tudo que eu prometo eu cumpro... Então... A escolha é sua.

Ele nada fez, só ficou a encarar, é impressionante como a irmã o deixa fora do normal com poucas palavras. Eu vi claramente uma lágrima escorrer do rosto da Dara, ela abaixou a cabeça e tentou disfarçar, mas eu vi claramente uma gorda lágrima escorrer pelo seu rosto.

—Por que quando você deveria ser macho desse jeito você age como um moleque? —Ao dizer isso ela virou-se e começou a andar em direção a área de camping.

Eu olhei para Clarck, ele parecia triste com aquilo tudo, eu sorri de lado e ele me retribuiu. Não fazia ideia do que havia acontecido para estarem daquele jeito, mas decidi seguir Dara. Eu estava conversando com a avó deles semana passada e ela me disse que eram muito apegados até mais ou menos uns dois anos atrás, queria saber o que houve para ficarem tão distantes um do outro, talvez fosse só a distância física que os separou ou talvez a escola, sei lá. Eu estava correndo para encontrá-la, ela estava quase passando pelo purgante da Amanda, de longe vi que aquilo não daria certo, Amanda viu que ela tentava conter ao máximo suas lágrimas e não perdeu a chance de provocá-la.

—Que lindo, uma peste chorando.... Tão tocante. HAHAHA... Volta para a toca aberração.

Dara parou novamente cabisbaixa, parei e observei. Amanda riu debochadamente, vi que naquele momento Dara não conseguiu segurar suas lágrimas. A Dara fez algo que eu sempre tenho vontade fazer, mas não esperava que ela fizesse, sem olhar diretamente ela jogou o livro (além de grosso era capa dura) que estava na sua mão na Amanda e acabou acertando com toda força sua cara, a marca do livro ficou em sua pele branca.

— Você ficou maluca?!—Disse ela se levantando para ir brigar com Dara.

Eu corri e entrei na frente e disse: “—Opa, se quer brigar com ela vai ter que passar por mim primeiro”, Dara ficou imóvel olhando o chão, parecia ter parado um pouco de chorar. As gêmeas e até o Martin que viram a cena e também correram para perto de mim, Megan a abraçou (Tadinha dela, vi seus olhos esbugalharem), os outros dois ficaram do meu lado.

Foi tudo tão rápido e acabou mais rápido ainda, Amanda me encarou por dois segundos e logo depois ouvimos o professor gritar conosco para pararmos com aquilo, a Amanda voltou para onde estava sentada com uma cara de... Cara de cú mesmo e com a face avermelhada de brinde. Dara se livrou do abraço da Megan, nos agradeceu e voltou a caminhar em direção à área de camping. Eu queria segui-la, sei lá, não fazia ideia o que podia ajudar, mas senti que deveria segui-la, mas as gêmeas me seguraram e apontaram para o Clarck que estava catatônico sentado nos pés da arvore onde estávamos.

—Fala a verdade, esse lugar mexe tanto com vocês? —Perguntei me sentando ao lado dele—Toma! —Disse eu entregando uma toalha para meu namorado—Vai acabar adoecendo se você não se cobrir.

—Não está frio.

— Se enxuga logo vai.

—Sim senhora.

—Então, o que esse lugar tem que mexe tanto com vocês?

—Não mexe, mas o que ela me disse.... Foi meio que uma facada.

—Por quê?

— Desculpa, não quero falar sobre isso. Sei que você vai brigar comigo, mas realmente não estou a fim de conversar sobre isso.

—Você que sabe.

—Ah sabe, foi depois da nossa última visita a esse local que a Dara resolveu ir morar com minha mãe, eu realmente deveria a ter defendido, talvez ela não fosse do jeito que é hoje se eu tivesse dito algo.

Clarck ficou catatônico de novo, não me atrevi a perguntar nada, eu ainda vou descobrir o que houve, mas não vai ser agora.

Quando escureceu, depois de tomarmos banho e jantarmos, nos reunimos ao redor da enorme fogueira perto da portaria, de frente para o lago para assarmos alguns marshmallows e contar histórias de terror, típico entretenimento de acampamento.

“Então após todos irem embora ele finalmente resolveu dormir... Estava tendo um sonho agradável, quando o que parecia sons de martelada o acordou. Depois disso, ele mal podia se ouvir, o som abafado de terra cobrindo o caixão sobre seus próprios gritos”.

Eu pessoalmente achei essa história fraca, mas estávamos em um acampamento, de noite, óbvio que alguém iria querer fazer graça. Ouvimos sons em uma árvore perto de nós logo depois da menina que estava contando aquela história dizer aquilo, quase sem pensar apontei a lanterna para lá. Vimos um brilho de olho, depois uma mão.... Sem pensar, muitas garotas gritaram (eu fui uma delas). Logo depois escutei uma risada sarcástica que já conhecia bem, era Dara, como ela foi parar naquela árvore?

—Anem Dara!! Desce daí criatura—Gritou Megan.

Ela tirou os galhos que a cobriam e ligou a lanterna, quando ligou ainda tiveram algumas garotas que gritaram (eu não fui uma delas).

—HAHAHA Deveriam ter visto a cara de vocês.

—Não teve graça — Disse uma garota que eu esqueci o nome agora.

—Sem graça—Falou outra.

Isso só fez Dara rir mais ainda, depois ela desceu e se juntou a nós.

—Então vocês estão contando histórias de terror? Posso contar uma?

“Vamos dar um nome para nossa personagem... Talvez Maria ...Um nome comum... Bem, um dia pela manhã, ela havia acabado de colocar a mão em seu celular para desarmar o despertador que, aliás, tinha um toque diferente do usual, quando ela olhou tela minutos depois viu que a tela de bloqueio estava negra, ao abrir seu celular viu uma foto sua dormindo de papel de parede. Maria ficou indignada, pois ela morava sozinha, quem havia entrado em sua casa ela se perguntou [...] Então ninguém mais saberá o que ela sabia”

—Então gostaram da história? —Ninguém disse nada— Buu!! —Gritou Dara.

Não teve uma pessoa que não gritou quando ela disse aquele “buu”, Dara caiu na risada. Após aquilo acho que ninguém tinha mais estomago para histórias e nem para marshmallows, voltamos para nossas cabanas.

Ao voltar para a cabana às gêmeas já estavam lá, acho que elas saíram na metade da história da Dara, estavam em um beliche já dormindo profundamente, tentei me trocar sem fazer muito barulho, mas depois chegou a Dara dando gargalhadas e fez um barulho enorme ao abrir a porta, por sorte elas não acordaram.

—Shhh você vai acordá-las.

—Perdão, não sabia que elas já estavam dormindo.

Dara apenas tirou a calça que estava, pendurou sua blusa flanelada na cama, pegou uma caixa no bolso da blusa e se jogou na cama de cima do beliche. Eu queria o beliche de cima, mas tudo bem, apaguei a luz do quarto e me guiei até minha cama por meio da luz do celular.

—Foi uma boa história —Disse eu ao me deitar.

—Obrigada, tentei causar o máximo de impacto com ela.

—Com certeza causou.

— Olha que engraçado as gêmeas, são tão fofas juntas.

Virei minha cabeça para o lado e vi a Megan na cama de baixo e Magda na de cima, a mão da Magda estava caída para Megan segurá-la, Megan estava dormindo com a mão enlaçada na da irmã. Uma imagem realmente magnífica, tão lindo o amor das duas, sempre juntas, pior que eu tenho a impressão que o Clarck e a Dara eram assim.

—Eu queria ter uma irmã assim —Disse eu.

—Eu também.

—Este lugar mudou muito desde a última vez que você veio aqui?

—Não, mas eu mudei muito .... Gozado, eu nunca pensei que nada iria mudar na minha vida naquela época, acho que eu era muito sonhadora.

—Hum, uma pessoa sem sonhos é geralmente fria e rabugenta.

—Mas aquela que tem sonhos demais acaba quebrando a cara, pelo menos sempre foi assim comigo.

—É uma pena.

—Não.... É a vida.

Após aquilo não tive mais o que dizer, então disse boa noite e fomos dormir.


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