Toda semana as gêmeas inventam algo para fazer e como sempre meu nome está no meio do plano delas, essa semana elas inventaram que queriam ir ao cinema depois da aula na sexta, como sempre mesmo cansada eu fui com elas. Acho que eu não consigo negar isso as duas, pois conheço as duas há anos, mas somente agora tive a oportunidade de estudar junto a elas e mesmo assim acho pouco; cada uma tem seu próprio horário e rotina, raramente nos encontramos fora do horário do almoço.

O programa dessa semana foi ir ao cinema, já podia contar que elas iriam querer ver um filme lá para as oito e no resto do tempo andar pelo shopping. Eu gosto muito de olhar as lojas, mas dessa vez não poderia gastar, estava totalmente lisa de dinheiro, então nem querendo muito eu poderia gastar.

Dessa vez era para irmos apenas Magda e eu, Megan estava doente e pensei que não daria conta de andar o tanto que costumamos andar, mas me enganei redondamente. Megan estava na verdade nos deixando para trás enquanto olhava as lojas.

— Lily, você vai ao acampamento também? —Perguntou Magda.

—Claro, estou doida para ir nesse lugar já faz um tempo. Só uma coisinha, eu não pensei que a Megan fosse se recuperar tão rápido vindo ao shopping.

— Eu mais que esperava isso, minha irmã é o tipo de pessoa que pode estar de cama e com febre, mas se disserem que tem uma festa ou algum evento ela melhora na hora.

— Vocês duas estão sempre juntas, acho isso tão bonito. Às vezes queria não ser filha única, na verdade peso isso quase sempre quando vejo vocês.

— Sabe, na verdade a Megan e eu brigamos mais que tudo, mas nunca fale mal dela perto de mim, isso é o mesmo que ganhar uma inimiga. Falando nisso.... Você já conheceu a irmã do seu namorado?

— Não, ela ainda não chegou à cidade.

— Bem, por experiência própria com minha irmã eu digo que ela pode ser um problema.

— Por quê?

— E se ela tiver ciúmes do Clarck? Tipo, eu não tenho ciúmes da Megan, eu só morro de ciúmes dela. Se eu não gostar do namorado que ela arrumou, vish.... Dou um jeitinho de ela terminar com o cara, sério, eu falo no ouvido dela mais que tudo se achar o cara mala.

— Mas ela pode também não ser ciumenta, porque quando ela ligou os dois estavam quase brigando.

Olhei em volta e percebi que estávamos só eu e Magda na entrada da loja, fiquei procurando mas não conseguia ver Megan.

— Aff, mas você já esqueceu o que eu disse agora pouco mesmo.... A Megan e eu brigamos basicamente o tempo todo, isso é mais que normal.

— Tudo bem, eu já entendi. Agora só uma coisinha... Cadê a Megan?

Nós olhamos ao redor e não vimos nada, nós a perdemos. Enfim, depois acabamos encontrando com Megan na fila de entrada do cinema, ou seja, depois de rodar o shopping inteiro e dar mais meia volta de brinde. Essa pequena aventura, que nem dá para se chamar de aventura foi a coisa mais emocionante que me aconteceu durante esse final de semana.

Choveu o final de semana inteirinho, sabe, pessoalmente eu odeio chuva, mas adoro neve o que é estranho, porque é tudo água se for pensar, mas eu acho tempo chuvoso muito triste. Fiquei limpando casa os dois dias e nem mesmo mensagem no what’s app eu estava recebendo, ou seja, ferrou! Porque a definição de inquieto e barulhento chama-se grupo do what’s. Eu tenho grupo da família, da escola, do clube de natação e do de xadrez, mas nenhum deles mandava uma mensagem se quer, eu sei que é carência total querer receber mensagem, mas a coisa estava feia. Quando não se escuta aquele barulhinho irritante do what’s por mais de três horas alguma coisa aconteceu, ou o celular descarregou ou todo mundo morreu ou só não tem sinal do wifi mesmo.

Enfim o final de semana acabou, e eu nunca disse isso na minha vida, primeiramente porque não acreditava que era possível, mas EU AMO SEGUNDA-FEIRA. A chuva parou na segunda? Não, na verdade só piorou, mas eu podia ir à escola e ver pessoas, qualquer uma que fosse já me alegrava, acho que ficar afastada da população me deixa doente. Na entrada da escola fui parada por Clarck, ele sorria e seus olhos brilhavam, pelo jeito não sou só eu que não gosto de chuva.

— Eu estava aqui pensando, você podia ir à minha casa amanhã depois da aula, eu não tenho basquete e você não tem natação. Que tal?

— Amanhã tenho o clube de xadrez —Respondi sorrindo.

— Ahh qual é?! Você não pode faltar nem um dia se quer?

— Não.

— Só uma vez... Isso não vai te matar —Disse Clarck com cara de pidão.

— Ai, tudo bem. Já vi que você não vai desistir até eu dizer sim.

Na manhã seguinte a chuva ainda não havia parado (Oh vida), mas foi até bom, eu pedi quase implorando para meu pai me levar para escola e ele me fez esse favor, eu fui de carro no quentinho e aconchegante para escola. As aulas acabaram rápido, na verdade o dia estava voando de tão rápido que passava. Quando me dei conta faltava apenas cinco minutos para eu encontrar Clarck, assim que sai da sala esbarrei com ele no corredor e fomos para sua casa, a chuva parecia ter parado um pouco, mas o céu ainda estava fechado.

—Estranho, quem esqueceu a janela aberta? —Disse Clarck olhando para cima.

— O que é estranho? —Disse eu meio perdida.

—Nada, você está com fome?

— O que foi?! Acha que tem alguém em casa?

—Sim, era para minha mãe já ter chegado, mas.... Faz assim, espera só um pouco aqui.

Clarck entrou e olhou todos os cômodos do primeiro e segundo andar, mas não encontrou nada, ele ainda gritou três vezes para ver se havia alguém em casa e ninguém respondeu, então era claro que haviam apenas esquecido a janela aberta. Realmente eu estava com fome, então fomos para a cozinha. Enquanto estávamos na cozinha ouvimos o som de alguém no segundo andar, Clarck foi novamente ver o que era.

— Lily, se ver ou ouvir algo apenas me chama que eu venho na hora.

Eu fiquei na cozinha terminando de fazer um lanche para comermos, já havia terminado os sanduiches, agora só faltava um suco, mas eu não achava um jarro ou nada parecido, depois de muito procurar achei um jarro de vidro no armário debaixo da pia. Quando estava levantando levei o maior susto que já levei na minha vida, eu vi uma menina entrando na cozinha, deixei o jarro cair na hora, ele basicamente se espatifou no chão e eu não consegui esboçar mais nenhuma expressão facial, apenas fiquei estática no mesmo lugar.

Eu já vi muita gente estranha, mas não igual àquela menina nunca. Ela tinha o cabelo negro como a noite em um corte muito “radical” por assim dizer, tinha um sidecute do lado esquerdo com uma pata de felino desenhada nele, o cabelo que lhe sobrava era totalmente diferente dos que eu estava acostumada a ver, não era longo, dava na altura de seu ombro e era como se fosse repicado de trás para frente, fazendo com que lhe ficasse a parte mais comprida na frente e curto atrás, sem contar que as pontas eram roxo claro. Tinha piercings por basicamente todo o rosto, tinham quatro espalhados um pouco abaixo da boca, um realmente na boca, dois no nariz, um de cada lado do nariz e de quebra usava um brinco de caveira enorme. O que mais me assustou foram os olhos, eu demorei um pouco a perceber que eram lentes de contato, mas era completamente assustador, basicamente brancos, deixando a vista apenas a pupila negra, o olho inteiramente branco com apenas um ponto preto no meio.

Ela era um pouco mais alta que eu, usava um short jeans, tênis All Star, blusa branca com uma blusa de frio fina por baixo daquela e um suspensório preso pela metade. Ela estava com um copo na mão, me disse olá e perguntou se eu estava bem, mas eu não saía do lugar. Clarck veio correndo quando escutou o som de vidro quebrando.

—Dara?! —Disse meu namorado entrando na cozinha.

— Clarck, oi quanto tempo?!

— Como você consegue aparecer assim do nada?

— Hã?! Eu estava no sótão ouvindo música e vi vocês chegando, mas só agora desci. Aliás, prazer meu nome é Dara! —Disse ela virando-se para mim.

— Sou Lily, seu irmão me falou e você.... É um prazer conhece-la também —Respondi depois de voltar a mim, ou seja, um século depois.

— Meu irmão nunca falou de você, mas eu acho que ele está certo, eu não tenho a obrigação de conhecer toda namoradinha que ele arruma.

— Dara, você acaba de chegar e já está me atacando? —Disse Clarck com olhar visivelmente alterado.

— Ahh não fica assim! —Disse Dara com a mão no rosto do irmão — Eu já estou de saída mesmo, como você disse eu acabei de chegar e tenho mil coisas para resolver, então pessoal.... Foi bom vê-los, mas tenho que dizer tchau!

Dara estava quase saindo quando voltou para dizer algo a Clarck.

—Ah, antes que eu me esqueça, a Helena já está voltando, ela foi arrumar minha matrícula na sua escola e já está voltando.

— O que?! Você vai estudar comigo?

— Não pense que foi ideia minha, mamãe e Helena insistiram para que eu estudasse lá, elas ainda tem esperanças que fiquemos amigos... Acho isso besteira.

Quando Dara saiu fui limpar a bagunça que havia feito na cozinha, Clarck ficou muito irritado com aquela conversa, ele sentou-se em uma cadeira e ficou olhando o nada, eu queria falar algo, mas temia só piorar a situação, então fiquei apenas olhando o que ele faria. Quando estava terminando de varrer a cozinha ele levantou e me trouxe uma pá para me ajudar.

— Ela está errada, você não é só uma namoradinha minha. Ela não te conhece para dizer isso de você.

A raiva parecia estar transbordando dentro de Clarck, era possível ver em seu olhar. Como eu não sou louca e nem queria colocar mais fogo em seu olhar apenas disse:

—Eu realmente não sei nada da briga de vocês, então apenas digo uma coisa.... Podemos comer agora?

Ele sorriu para mim e me beijou, depois pediu desculpa por tudo e foi como se nada houvesse acontecido, aquela foi a palavra certa na hora certa. Quando voltar para casa eu terei muita coisa para contar para as gêmeas, acho que a Magda está certava certa.