Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 36
Jantar em família




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Lily_Pov(On)

 

 

—O que a gente vai fazer? —Perguntou Dara, cochichando — Lily, não estou psicologicamente preparada para enfrentar sua mãe.

—Não precisa, vamos dar um jeito.

Olhei ao redor e vi minha janela, lembrei da árvore do lado de fora, Clarck subia até meu quarto através dela. Olhando por esse ângulo, a lógica dizia que Dara poderia descer por lá, sem esbarrar com minha mãe. Puxei o trinco e levantei a parte de baixo da a janela, olhei para baixo e só vi uma pilha de folhas secas, que a propósito eu devia ter catado assim que voltei da escola. A árvore estava quase sem todas as folhas, mas ainda era forte o suficiente para aguentar uma pessoa, talvez duas, Dara poderia descer a árvore sem problemas.

—Você vai ter que descer pela árvore — Falei apontando para a janela — É o único jeito de sair daqui sem minha mãe te ver.

—Você está de brincadeira, não é? — Acenei negativamente — Lily, isso não vai dar certo, esses galhos ainda vão quebrar comigo.

—Imagina, o Clarck que é muito maior e mais pesado que você e subia tranquilamente por essa árvore.

—Por que meu irmão faria isso? Ele não conhece uma coisa chamada porta não?

—No meio da madrugada você acha mesmo que ele tocaria minha campainha? Meu pai o mataria, na verdade...Estou na dúvida se seria ele ou minha mãe, já esses dias que descobri que ela é bem ciumenta.

—Mas por que ela te visitaria à essa hora? — A fitei com certo deboche, ela entendeu, graças a Deus — Ah, esquece... Foi ingenuidade minha, desculpa!

—Acho isso muito fofo — Disse eu abafando minha risada.

Dara arfou e olhou desconfiadamente pela janela, analisou o solo, a árvore e talvez até uma possível trajetória. Então me questionou de algo que havia esquecido completamente.

—Onde está sua mãe?

—Na cozinha, eu acho.

—Então sinto muito, mas seu plano não vai dar certo. Ela vai me ver descendo.

—Droga, isso é verdade! — Respirei tentando não me estressar — O que fazemos então.

Dara nem eu tinha ideia do que fazer, sugeri que ficasse escondida em meu quarto até que fossem dormir, mas seria pedir muito dela, sei disso, mas não custava tentar. Então pensei no que ela havia dito, onde estava minha mãe? Essa era a resposta para nossos problemas, era só passar em um caminho que ela não nos visse saindo. Discretamente abri a porta do quarto olhei em volta, minha mãe não havia subido ainda, isso é bom, ela geralmente troca de roupa antes de descer para a cozinha, isso é meio que uma rotina para ela. Sugeri para descermos quando ela subisse, parecia uma boa ideia, então esperamos ela subir e fechar a porta de seu quarto.

Assim que ouvimos a madeira ranger ligeiramente já ficamos atentas, e quando a maçaneta terminou de rodar saímos o mais rápido e silenciosamente possível. Mas não tinha jeito, ela já sabia que Dara estava ali, e nos ouviu descer. Estávamos na metade da escada quando minha mãe gritou do quarto:

—Não precisa esconder sua “amiguinha” de mim não.

Nos olhamos pasmas pelo que minha mãe havia acabado de dizer, engoli o seco e tive coragem de responder, tentando não gaguejar também.

—Como você sabia que a Dara está aqui?

—Simples, eu vi a lambreta dela estacionada na frente da casa — Minha mãe apareceu na frente da escada — Lily, não tente me enganar, eu sou muito mais esperta que você pensa. Afinal, eu já fui adolescente também.

—Desculpa mãe, é que...

—E nem invente desculpas esfarrapadas.

Ficamos em silencio, ela parecia furiosa, era assustador olhar em seus olhos, e vergonhoso também. Temi que realmente caísse naquele momento, apertei o braço da Dara com tanta força. Até que minha mãe resolver quebrar o gelo, ela respirou fundo, fechou os olhos e mudou suas feições como que em um passe de mágica. Queria fingir que estava calma e sorridente, mas isso me soava mais assustador do que antes.

—Chama sua amiguinha para o jantar — Ela focou o olhar em Dara — Só não façam mais isso, é feio mentir.

Minha mãe tirou aquele sorriso do rosto e voltou para o quarto, bateu a porta com força. Eu permaneci no mesmo lugar, Dara desceu um degrau e eu quase caí. Levei um susto, mas voltei a mim. Descemos a escada ainda assustadas, Dara virou-se para mim e falou cochichando o mais baixo que podia.

—Lily, vou embora, desculpa...Mas não aguento ficar assim — Dara estava claramente desesperada — A sua mãe me assusta.

—Não te culpo, quase me caguei de medo agora pouco, também.

—Olha, eu te vejo...

Dara virou-se para frente e deu de cara com meu pai que estava abrindo a porta, parecia tão cansado, era possível ver suas olheiras já bem nutridas por horas e mais horas sem dormir. Pra dizer a verdade, mal esperava vê-lo hoje, meu pai está tão focado no trabalho esses dias, mal está parando em casa e quando para está cercado por uma pilha de relatórios e outros documentos que nem faço ideia de qual seja o nome. E como ele está beirando seu deadline, já do projeto dele deve ser apresentado essa semana, estava bem preparada para não jantar ou comer qualquer refeição com ele essa semana.

Mas lá estava ele, dando uma de forte, voltando para casa com sua maleta preta debaixo do braço, segurando seu paletó, quase arrastando o pedaço de pano costurado pelo chão.

—Ah, oi! — Disse meu pai sorrindo — Quem é sua amiga, Lily?

—Ah, essa é a.... — Estava quase travando — O nome dela é...

—Prazer senhor — Dara pegou na mão de meu pai, apertando-a nervosamente — Meu nome é Dara, senhor.

—Prazer garotinha — Meu pai riu — Que enérgica essa sua amiga.

—Ela vai jantar conosco, querido! — Gritou minha mãe do quarto.

—Ah... Tudo bem... Não esperava, mas seja bem-vinda Dara.

 Meu pai passou por nós e foi direto ao banheiro, já não estava mais entendendo o que estava acontecendo ali, só podia ser peça do destino, essa seve ser uma resposta plausível. Agora tanto meu pai quanto minha mãe conheciam Dara, mas não acho que aquilo fosse uma coisa boa, eu deveria contar para eles sobre a gravidez, não que estou pegando a irmã do meu ex. Isso com certeza iria atrapalhar um pouco as coisas, duvido que eles vão entender o que está acontecendo, e tenho certeza que minha mãe vai dizer que estou saindo com Dara apenas para contraria ela e coisa do tipo.

Aproveitei não tinha ninguém olhando e empurrei Dara até a porta da frente e a acompanhei até sua moto, mas ela subiu tão... Assustada.

—Olha, desculpa te fazer passar por isso — Lhe dei um selinho antes que colocasse o capacete —  Eu juro que perdi a noção do tempo, não queria que se encontrassem desse jeito.

—Eu acredito — Disse Dara rindo — Não precisa se preocupar... Mas não quer que eu fique? O que eles vão dizer se eu for agora?

—Quero nem saber... Mas isso é problema meu, eles são meus pais, sou eu que devo me preocupar com eles.

—Tá, mas o que eles irão dizer?

—Provavelmente terei uma longa e angustiante conversa com os dois, mas vou sobrevier.

—Tem certeza? — Ela ligou sua moto, mas olhou para mim — É só dizer que eu fico.

Me aproximei o máximo que a distancia da moto e seu capacete deixavam eu me aproximar, quer dizer, sem derrubar Dara, e sussurrei em seu ouvido:

—Salve se enquanto é possível!

—Não fala assim, se não eu fico mais preocupada do que já estou.

—Desculpa — Ri de nervoso — Só estou brincando.

Ela saiu, desconfiada, mas estava indo embora, não importava se esta chateada ou indo à contragosto. Só de estar longe já era melhor que ficar na minha casa. Voltei para dentro, fui até a cozinha, olhei sobre a mesa, não havia nada, minha mãe não tinha começado o jantar ainda. Abri a geladeira e fiquei imaginando no que poderia fazer sendo quase sete da noite.

 

 

Lily_Pov(Off)

*____________***____________*

Dara_Pov(On)

 

 

Algo em mim dizia que não era certo deixar Lily lá, sozinha, com os pais dela. Sei que são da família dela, mas do jeito que saí e pela maneira que a mãe dela falou conosco, aquilo não iria acabar bem. Estava parada num sinal a duas quadras da casa dela, minha consciência não me permitiu seguir em frente.

Virei á esquerda e dei a volta no quarteirão, parei em um mercadinho que vi, mas vou ser sincera que nunca vi outro da franquia para dizer se era bom. Mas isso não era importante no momento, eu só não queria voltar de mãos abanando logo depois de ter saído daquele jeito. Fui até o setor dos congelados, fiquei entre uma lasanha congelada e um pote sorvete, que estava no setor ao lado. Odeio comida congelada, por mais que pareça algo chique na embalagem, geralmente é uma porcaria o gosto. Mas acho que depois de provar a lasanha que minha mãe faz, qualquer outra fica uma com gosto de papel. Falando nisso, saudades de mamãe,  eu posso até cozinhar, mas nunca será igual a comida que ela faz.

Depois de desfazer da lasanha congelada peguei dois potes de sorvete napolitano, o básico para quando você não sabe o que escolher e depois de pagar voltei para a casa da Lily. Dessa vez coloquei minha moto ao lado do carro, não sei se era do pai ou da mãe dela, que estava estacionada na entrada da garagem. Catei meu sorvete e bati na porta, apenas com a cara e a coragem.

Quem abriu a porta foi o pai da Lily, o que me deixou mais calma, já que ele parecia não saber de nada...Ser ter aquele gene psicopata da esposa dele. Aliás, será que a Lily herdou isso? Que coisa terrível, mas muito boa para se analisar.

—Pensei que tivesse ido embora garotinha —Disse ele sorrindo.

—Embora?! — Minhas penas tremeram ao ver a mãe dela passar — Eu só fui buscar um sorvete, fiquei foi sem graça de vocês me convidarem para jantar e não trazer nada.

—Ah, não precisava —Ele pegou os potes sorrindo — Você é muito atenciosa... É Dara seu nome, certo?

—Sim, senhor.

—Obrigado, Dara — Ele fechou a porta — Filha, sua amiga voltou... E trouxe a sobremesa junto.

Lily olhou da cozinha, havia sangue em seus olhos, figuradamente falando, claro. Ela pegou o sorvete, guardou cuidadosamente os dois potes no congelador e me arrastou para a dispensa.

—Não acredito que você voltou — Ela cochichava e olhava de rabo de olho pela porta para ver se ninguém vinha — Era para você estar na sua casa já, Dara. Por que fez isso?

—Eu não podia te deixar sozinha, sua mãe iria acabar com você.

— E daí?! Ela é minha mãe, é esperado que ela brigue comigo. E como eu tinha dito mais cedo... ISSO... NÃO... É.... PROBLEMA... SEU...

—Não não... Você está enganada. Ela vai brigar comigo por que Te viu ME beijando, então isso é SIM problema MEU!

—Dara — Lily pegou minha mão — Eu só não quero que você passe por isso... Agora vamos parar que minha mãe vem vindo.

Lily me deu uns tomates, pegou umas cebolas e então a mãe dela apareceu no portal.

—Mamãe, você bem que podia fazer uma pizza hoje... Já que o papai está aqui e...

—É uma boa ideia, mas eu já pedi comida... Não precisa fazer nada não.

—Mas... Eu já tinha tirado o frango para descongelar e já estava picando os tomates...

—Ótimo — A mãe dela virou as costas — Faça uma salada Caesar, ou qualquer coisa do tipo... Será um ótimo acompanhamento.

Depois que ela saiu da cozinha, Lily escorou-se na parede, quase deixou cair as cebolas que segurava. Tive medo que tivesse tido outra tontura, ou talvez tivesse sentido outro mal-estar.

—Vocês está bem — Ela acenou positivamente — Então... Me diz, sua mãe é sempre tão atenciosa assim?

—Não, ela não é assim... Ela é sempre foi tão amável e agora... Eu estou pensando seriamente em arrumar um emprego e ir morar numa república.

—Ei, vamos com calma... Não é para tanto. Ela vai falar com a gente, certeza, é só conversarmos calmamente com ela. Tenho certeza que sua mãe entenderá.

—E se não entender?

—Bem, geralmente as mulheres são mais receptivas e... Ah, quem estou querendo enganar, até hoje não contei para meu pai que sou lésbica. Ele apenas sabe que Sombra é gay, não que eu também sou homossexual. Então eu não posso dizer muita coisa, porque...Eu não sei o que vai acontecer, a verdade é essa.

—Espera, então até hoje seu pai não sabe...Que...

—Que eu gosto de meninas, não, nunca tivemos essa conversa. Mas acho que também nunca teremos, a última vez que tentei ter uma conversa decente com ele, brigamos, e meu pai disse que nunca mais queria falar comigo.

—Nossa, que idiota!

—Pois é, espero que sua mãe não seja como ele é.

—Eu também, mas e sua mãe... Como reagiu?

—Levou minha ex-namorada e eu para um rolê, íamos a um baile de primavera, e ainda tirou foto comemorando “meu primeiro baile escolar”.

—Sério?! Sua mãe é tão de boa assim?

—Na verdade ela surtou um pouco, cerca de algumas horas. Depois apenas aceitou e agiu como uma mãe coruja agiria, porque ela é bem apegada aos filhos, me irmão Clarck que não aproveita isso.

—Quero conhecer sua mãe qualquer dia, ela parece ser legal.

—E ela é, mas acho melhor nos preocupar com o que fazer agora.

—Verdade.

 

 

Dara_Pov(Off)

*____________***____________*

Lily_Pov(On)

 

 

Dara me ajudou a arrumando a mesa enquanto eu fazia a maldita salada Caesar que ela tinha falado, a sala de jantar parecia tão bonita, meu pai também ajudou a arrumar a mesa e a cortar as hortaliças. Todos pareciam empenhados em fazer um bom jantar, menos minha mãe, que meu pai disse que havia ido se deitar, ela estava com enxaqueca.

Acho que uns vinte minutos depois que minha mãe nos avisou da comida, ela finalmente chegou. Não faço ideia de que ela havia pedido, não conhecia nenhum dos pratos que estavam no pedido, penso que fosse comida árabe.

Enfim, meu pai pouco se importou com o que era, sua fome era maior que as “frescuras” de descobrir a origem da comida que comida, isso ele dizia, pelo menos. Colocamos tudo de uma forma bem atrativas aos olhos e quando estava quase tudo terminado minha mãe chegou, quase brinquei dizendo que ela era folgada, mas se fizesse isso com certeza ela jogaria o prato em mim, não estava com uma cara muito boa, por assim dizer.

Nos sentamos á mesa, Dara sentou ao meu lado e meus pais estavam de frente para nós, do outro lado da mesa. Estava tão nervosa, não consegui olhar mamãe nos olhos, e ela estava me encarando enquanto comia, aquilo só me deixava mais nervosa ainda.

—Então Dara, você quer fazer o que quando sair do ensino médio? — Perguntou meu pai sorrindo meigamente.

—Hum... Acho que umas férias serão bem legais — Dara riu, devia ser uma piada interna ou algo do tipo — Ah, isso era para ser uma piada. Mas falando sério, a verdade é que eu não faço ideia de qual curso ingressar ou qualquer outra coisa do gênero.

—Bom, você ainda tem tempo para descobrir — Disse meu pai tampando a boca.

—Gosta de esportes? — Perguntou minha mãe de forma seca.

—Sim, alguns...

—Quais?  — Perguntou novamente minha mãe, apoiando o braço na mesa — Tem cara de quem gosta de Hockey.

—Acertou, mas não acompanho meu time como deveria.

—Qual seu time? – Minha mãe parecia realmente interessada.

— Chicago Blackhawks Reebok — Dara encheu o peito de orgulho — Acompanho desde era só uma garotinha.

—Hum... — Minha mãe voltou seu olhar para a comida — Você até que não tem mal gosto, garota, só não vou com a cara do Ponta de Lança do seu time, acho aquele cara muito arrogante.

—Nem eu — Ela riu — Não faço ideia de quem ele seja, como disse, não acompanho faz um tempinho já.

—Minha mãe é uma desportista nata — Disse eu, tentando não parecer muda — Acho que gosta de os esportes possíveis.

—Não é verdade, eu só acompanho esporadicamente o time da sua “amiguinha” — Ela voltou novamente o olhar para Dara — Você joga basquete como seu irmão?

—Não, odeio basquete.

—Que pena, já vi o Clarck jogando, o menino leva jeito... Tem um grande futuro, se continuar treinando.

—Mãe! — Chamei sua atenção, ela deu de ombros —Por Quê... Ah, esquece...

—Hã?! — Meu pai entrou no assunto —Você é irmã do namorado da Lily?

Dara abanou a cabeça, estava com a boca ocupada demais para dizer que sim, então apenas acenou.

—Na verdade, ex-namorado, querido — Ponderou minha mãe.

—Vocês terminaram? — Perguntou meu pai assustado — Droga, acho que ando passando pouco tempo com vocês mesmo. Lily, você terminou um namoro e eu não fazia ideia disso, se brincar teria entrado em outro e eu nem saberia.

Minha mãe me fitou brevemente, naquele momento um suor atrevido caiu da minha nuca e foi descendo pelas minhas costas até... Vocês sabem muito bem onde ele foi parar, tenho certeza. Enfim, peguei a mão da Dara por debaixo dos panos da mesa, ela enlaçou seus dedos nos meus e fingiu que nada estava acontecendo continuou comendo.

—Mas você pensa em conseguir uma bolsa de estudo através do esporte — Questionou minha mãe — Se é que você pratica algum.

—Não faço nada não, senhora. Mas tenho vontade.

—Então por que não entra num time da escola, a escola de vocês não é referência nisso? Tem até esportes aquáticos como opção, é raro ver uma escola com uma estrutura tão boa assim, sabia?

—Nunca me senti confortável em nenhum clube, time ou grupo daquele lugar. Prefiro ficar na minha, é menos desastroso assim.

—Mas você é mesmo irmã do Clarck? — Dizia meu pai espremendo os olhos — Não vejo muita semelhança.

—Lentes e cabelo pintado, ajudam muito a não parecer com aquele otário.

—Você está com lente? — Indagou meu pai — Seus olhos não são pretos?

—Não, nem o cabelo é preto.

—Mas gente, essas mulheres inventam cada vez mais maneiras de nos enganar.

—É querido — Minha mãe apoiou-se na mesa — Mas me diga, como vê a ex do seu irmão? Ele não briga com você por isso?

—Sinceramente, não durmo sobre o mesmo teto que ele, pouco me importo.

—Ah, não dorme... — Minha mãe a fitou séria — Seus pais são divorciados?

—Sim, e meu irmão mora com meu pa...Pai.

—Então presumo que você more com sua mãe, certo?

—Não, na verdade eu moro com o Sombra, meu melhor amigo.

—Sombra?! — Meu pai quis abrir a boca, mas minha mãe não deixou — Quem é esse?

—Eu já disse... Ele é meu melhor amigo — Disse Dara olhando desconfiada.

Ela apertou minha mãe, acho que havia entendido aonde minha mãe queria chegar. Eu tentei fazer ela parar de pressionar Dara, mas não adiantou, ela me calou do mesmo jeito e na mesma falta de educação que calou meu pai.

—Ah, então você mora sozinha com um cachorro, é isso? — Minha mãe riu — Como uma mãe em sã consciência deixaria uma filha, menor de idade morar sozinha?

Ficamos caladas, minha mãe estava a provocando, não sabia se Dara Iria aguentar isso por muito tempo. Minha mãe continuou a falar, séria, falando em tom de deboche. Querendo que Dara falasse alguma coisa, para poder justamente usar a palavra dela contra ela mesma.

—Diga-me, você tem quantos anos?

—15 anos, senhora — Dara mentiu — Pode olhar nos meus documentos, se quiser.

—Tão nova, como consegue morar sozinha? E como sua mãe deixou isso? — Ela parou momentaneamente — Não, eu estou inconformada...Sua mãe deve ter uma cabeça pior que a sua para deixar uma criança morar sozinha, só pode.

—Na verdade minha mãe confia em mim, e eu queria liberdade, então ela me deu... Condicionadamente, claro.

—Ham, não acho que isso funcione assim. Uma criança de quinze anos não teria condição nenhuma de morar sozinha, nunca.

—Ok, sua opinião... Não vou discutir.

—Não é minha opinião, eu sei que não dá certo. Eu devia era denunciar sua mãe por abandono de incapaz.

Dara desenlaçou nossos dedos, ficou encarando minha mãe, enquanto meu pai e eu ficamos em silencio observando tudo. Nunca havia visto minha mãe daquele jeito, e provavelmente nem ele

—Chega, a senhora está me testando — Dara se levantou — Eu não quero fazer parte disso. Obrigada pela comida, boa noite, e eu vou embora.

Dara estava já andando, quando minha mãe chamou sua atenção.

—Espera, eu não acabei com você ainda.

—Mas eu já acabei, tchau Lily — Ela me sorriu — Até amanhã.

—Quer saber... — Minha mãe tentou falar.

—Não, eu não quero — Disse Dara a interrompendo —Passar bem.

—Você parece ser gente boa, muito rebelde, mas deve ser uma boa garota. Estou começando a gostar de você “amiguinha” da Lily — Disse minha mãe se recostando na cadeira — Mas já que você não queria saber, pode ir embora.

Dara e eu nos olhamos, não havíamos entendido o que havia acabado de acontecer. Ela queria abrir a boca, mas eu falei antes que pudesse fazer isso.

—Eu te acompanho até a porta — Disse eu olhando em seus olhos, falsos negros— A gente se vê amanhã.

—Ok...Ok então.

Fomos para fora e Dara se apoiou no carro da mamãe, parecia estar desmontando depois de tanta pressão.

—Que merd@ acabou de acontecer ali dentro? — Perguntou Dara — Sua mãe estava quase me dissecando e depois vem dizer que gostou de mim?

—Acho que acabo de entender o que aconteceu, ela te entrevistou.

—O que?! Por quê?

—Bem, ela é pesquisadora, trabalha em uma agencia especializada nisso — Dei uma risada meio sem jeito —  Creio que ela tenha feito uma pesquisa com você.

—Sua mãe é maluca — Disse Dara pegando a moto — Só queria dizer isso, mas ainda assim foi melhor do que esperávamos.

—É, tenho que concordar.

Ela foi embora e eu tive que voltar para dentro, apenas sentei-me e terminei de comer rapidamente, meu pai estava mudo, minha mãe parecia fingir que nada havia acontecido e estava seguindo sua deixa. “Nada havia acontecido”, ah que grande piada sem graça. Continuou assim até que minha mãe resolveu novamente abrir a boca.

—Pode trazer ela aqui mais vezes, se quiser.

—Para você assustar ela de novo? Não, obrigada — Respondi sem olhar.

—Você não entenderia Lily, sua mãe fez isso para seu próprio bem-Disse meu pai a defendendo.

“Nem sabe o que está acontecendo, vai defender o que?”

—Discordo, ela só está sendo grosseira com a minha... Com Dara.

—Mesmo se eu tentasse te explicar você ainda se sentiria lesada, então... — Disse minha mãe sem olhar para mim— Só quando você for mãe, tiver seus próprios filhos que você vai entender que, sim, não confiamos em qualquer um que ande com nossos filhos.

—Me poupe mãe, você só não queria que eu tivesse trocado o Clarck, que você “super considera” pela coisa esquisita, que é a Dara, no caso — Me levantei — Agora se me dá licença, eu vou para o meu quarto.

Não estava afim de ver a reação de qualquer um dos dois, subi e rapidamente escovei meus dentes, me tranquei no quarto e aproveitei um pouco do resto da noite para estudar, tentar me acalmar também seria bom.

Meia hora depois ouvi batidas à porta, era meu pai, me trazia a sobremesa. O sorvete que Dara atenciosamente trouxe e se quer conseguiu experimentar.

—Lily, deixa eu entrar.... — Não respondi — Qual é, eu trouxe sorvete.

—Não estou com fome.

—Sei que você deve estar nervosa agora, mas abre... Vamos conversar.

—Não, vá embora... Estou estudando.

Ele foi embora, mas nem um minuto depois ele voltou, com a chave reserva. Coloquei meus fones de ouvido enquanto ele abria a porta do meu quarto, fingi não o ver quando ele entrou. Mas meu pai é esperto, ele deixou o sorvete á minha vista e sentou-se na minha cama.

Fui obrigada a me virar e encarar ele, meu pai já estava deitado em minha cama, jogando meu ursinho de pelúcia para cima como distração. Nem havia demorado tanto tempo assim, ele devia estar fazendo graça, só pode.

—Pai... — Chamei sua atenção — Obrigada pelo sorvete.

—De nada — Meu pai se levantou — Sabe, eu gostei dessa sua nova namorada, mais do que gostava do Clarck.

—Não estamos namorando... Estamos saindo... Ficando...Estamos em fase de teste. Por assim dizer.

—Ah, pensei que fosse sério, já que você apresentou ela para nós.

—Não era intencional isso, ela estava aqui quando mamãe chegou. Foi ela que convidou a Dara para ficar.

—Ela me lembra sua mãe quando eu a conheci.

—Por que diz isso?

—Bem, sua mãe tinha um cabelo curtinho, quase um corte másculo. Era totalmente rebelde — Ele arfou — Até hoje não sei porque ela quis ficar comigo. Ela podia ter qualquer um, qualquer cara, qualquer garota com um simples estralar de dedos.

—Então é verdade, quando ela disse que já ficou com garotas.

—Ixi, mais que eu, provavelmente. Ela era tão linda, não que ainda não seja, mas era diferente. Ela não seguia nenhum padrão e mesmo assim era a garota mais bonita do Campus inteiro.

—Mamãe é Bissexual então?

—Pan, sou pansexual minha querida — Disse ela escorada na porta.

—Então você não tem preconceito quanto eu ficar com a Dara?

—Nenhum, ela só me pareceu esquisita mesmo... E eu não podia deixar você ver ela novamente se fosse uma ameaça. Não que uma garota de 15 anos que mora com um cara de quase vinte ainda não seja suspeito para mim, mas não é drogada, o que é menos mal.

—Então você sabia... — Disse meio desacreditada — Como?!.... As gêmeas?

—Sim, Megan é um amor. Falei que estava preocupada com você e ela me contou tudo.

Engoli o seco naquele momento, ela sabia que eu estava grávida então? E como a Megan pode ser tão X-9?  Sei que ela só queria me ajudar, mas não precisava contar tanto assim.

—Então você sabe...Que eu...

—Que você está tentando pegar sua habilitação de motorista? — Disse minha mãe — Sim, eu sei.

—Ah... A habilitação...

—E não, eu não estou brava...Achei que você quisesse estudar sozinha e talvez me contaria depois que passasse na prova.

“Uffa, Obrigada Megan, por não ter contado toda a verdade!”.

—Sim, queria te dar uma...Surpresa?! Enfim, vocês não estão bravos comigo?

—De jeito algum — Disse meu pai.

— Nem um pouco — Minha mãe sorriu — Não importa o que aconteça, ou com quem você se relacione. Nós te amamos Lily!

—Sim, e temos muito orgulho de você, filha! —Completou meu pai.

Quase não contive as lágrimas, minha mãe me abraçou de um jeito que me fez sentir tão segura, como se todos meus problemas tivessem sumido. E veio meu pai e enlaçou seus braços em nós duas, aquilo era sentimentalismo demais para mim. Mas me mantive forte, nenhuma lágrima foi derramada.

Estava tudo ok?! Mal podia acreditar naquilo, queria tanto que só estivesse escondendo o que minha mãe havia falado. É bom saber que se é amada, mas não sabia se a reação de saber que estou grávida seria a mesma. Pensando nisso eu estava começando a considerar a proposta que Clarck havia feito mais cedo, na verdade não era uma proposta, era um pedido desesperado. Talvez eu devesse considerar o aborto se quisesse que tudo estivesse bem, como está agora.

 

Lily_Pov(Off)


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