Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 37
Namoradinha


Notas iniciais do capítulo

NÃO SUMI NOVAMENTE NÃOOO!!!

Só...Bem, estava sem tempo pra escrever, minhas aulas começaram novamente e meio que foram duas semanas muito corridas, mais que o normal, pelo menos.

Então é isso, boa leitura queridíssimos!



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Lily_Pov(On)

 

 

Era quase duas da madrugada, não estava conseguindo dormir, mal conseguia acreditar em tudo que havia acontecido aquela semana. Levantei da cama, lavei meu rosto e sentei em frente à minha querida escrivaninha. Decidi fazer algo de produtivo ao invés de curtir minha insônia revirando na cama.

Eu deveria estar feliz, conversar com meus pais sobre a Dara tirou um peso enorme das minhas costas. Mas outro de peso proporcional, se não for maior rapidamente tomou seu lugar. Fiquei pensando o resto da semana sobre a conversa do Clarck, sobre abortar essa criança e no fim, eu não sabia o que sentir sobre isso.

Devo matar meu próprio filho? Não importa se é um feto, ou se ainda posso escolher ser mãe ou não; na realidade isso que está dentro de mim, não deixa de ser meu filho, não importa o que a ciência ou a religião dizem, é meu filho. E se escolhesse fazer isso, abortar não é algo simples, como faria? Clarck simplesmente jogou no ar essa solução, mas não pensou nos detalhes.

Vou ser sincera, uma semana foi o suficiente para minha encher minha paciência dessa história de ser “mamãe”, cansei de ser chamada de put@, cachorra, e qualquer sinônimo de “mulher promíscua” que você possa imaginar. Mas ainda assim, não foi o suficiente para eu me decidir.

Depois de tanto pensar acabei me lembrando de uma noite, em que fui numa cartomante, apenas pelo prazer de ter essa experiência. Ela não só leu as cartas à sua frente, mas teve a curiosidade de ver meu futuro, e depois dos últimos acontecimentos lembrei muito bem de suas palavras:

“— Uma pessoa irá te machucar terrivelmente a outra irá te dar um novo modo de pensar e ver a vida.”

Pensava exatamente que as pessoas que ela se referia eram Dara e Clarck, já que ela mencionou até um homem e uma mulher. Mas acho que na época eu ouvi apenas o que queria e sem perceber eu inverti os papéis, a nova perspectiva é sem dúvida a Dara, e acho que o “Valley e Bernstein” que ela viu pode estar certo, mas não é o Clarck.

Deve estar pensando que lembrei disso à toa, mas não, eu me lembrei desses detalhes fúteis por conta de uma frase dessa cartomante. A que menos dei valor na época e a que me fez gelar a barriga e meu coração palpitar ao recordar:

“— Eu queria muito que você pudesse ser mãe, mas parece ser não a vontade de Deus”.

Como algo tão sério pareceu tão banal quando ela me falou essas palavras? Dói o coração só de pensar. Isso significa que ela me viu abortando? É isso que ela viu???!!!

Eu não quero fazer isso, não tenho coragem de matar nem um rato o que diria meu próprio filho, ou filha. Mas sendo racional, parando um pouco e usando a cabeça, essa é a melhor solução. Pois, nem eu, nem o Clarck temos condições financeiras, psicológicas ou emocionais para criarmos uma criança.

Depois da que a aula de sexta terminou eu fui marcar uma consulta com uma ginecologista obstetra, como meu clinico havia me pedido para fazer. Fiquei inquieta desde então, tanto que estou sem dormir até agora. Com não consigo dormir, estou devorando arquivos e estudos inteiros sobre gravidez, aborto e coisas afins.

Quando de repente vejo meu celular vibrar sobre a mesa, olhei rapidamente para ver o que era, obviamente era Dara, quem mais da minha lista de contatos estaria acordada às duas da matina? Ela parecia apenas querer jogar mensagens aleatórias para eu ler depois.

[Dara]: Lily, tô preocupada.

[Dara]: A semana inteira o Sombra passou fora, quase não apareceu para dormir.

[Dara]: E hoje, justo na sexta.

[Dara]: Assim que abri a porta vi ele jogado em sua cama, já de pijama. Parecia estar no sétimo sono, e está dormindo desde aquela hora.

Olhei aquelas mensagens e rapidamente tratei de respondê-la.

[Lily]: E porque isso é preocupante?

Coloquei o celular sobre a mesa de forma que pudesse ver caso ela respondesse, alguns poucos minutos depois ela finalmente visualizou minha mensagem.

[Dara]: Acordei você, Lily?

[Lily]: Não, estou com insônia.

[Lily]: Para dizer a verdade, me sinto grata de falar com alguém, estava tudo tão silencioso. Estava começando a me senti muito sozinha.

[Lily]: Mas me diga, por que é estranho o Sombra querer dormir um pouco? Ele pode ter trabalhado demais essa semana.

[Dara]: Amore, não importa a ocasião, ver o Sombra recusar sair na sexta....

[Dara]: TEM ALGO DE MUUUUIITOOO ESTRANHO NISSO!

[Lily]: Hum...Fala com ele então.

[Dara]: Não sei como, ele está escondendo algo de mim. Não está evitando falar comigo, mas muda de assunto sempre que pergunto.

[Lily]: Entendo...

[Lily]: Quer dizer, eu não entendo. Mas ele é seu melhor amigo, acho que devem compartilhar muitas coisas.

[Dara]: Sim, aliás, já perdoou a Megan?

[Lily]: Já, perdoei aquele dia mesmo. Mas ela insiste em tentar me compensar pelo o que fez, quem sou eu para negar?

[Dara]: Você é muito malvada, isso sim.

[Dara]: Você sabe que sua mãe a pressionou, tecnicamente não foi culpa dela. E mesmo assim tá deixando a garota se sentir culpada pelo o que aconteceu.

[Lily]: Ah, ela merece...

[Dara]: Talvez... Um pouco... Mas não te isenta do fato de ser maldade.

 [Lily]: Sabe, mudando um pouco de assunto. A gente podia sair amanhã, não acha?

[Dara]: Amanhã é domingo, Lily

[Lily]: Só digo uma coisa... Desnecessário.

[Lily]: (¬_¬;)

Ela demorou um pouco a responder, devia estar rindo que nem uma idiota de sua piada sem graça. Ahh... Não vou falar nada, ela tá sozinha naquele apartamento, tem que arrumar algo para se divertir mesmo.

[Dara]: Desculpa, estava dando um pouco de leite para os gatos. Já estava perdendo a paciência com o Sr. Almíscar, ele estava me pedindo alguma coisa que eu não entendia o que era desde a hora que voltei da escola.

[Dara]: O Sombra provavelmente vai me matar se souber que eu fiz isso.

[Dara]: Mas ele não está acordado mesmo...Então, fod@-se também.

Olhei atentamente, ela digitou no tempo certo...Vou fingir que acredito que ela não estava rindo. Mas só fingir mesmo, ela ter feito algo com as mãos não a impede de rir.

[Lily]: Enfim, ainda podíamos sair...O que acha?

[Dara]: Mais tarde, certo?

Acho que perdi a paciência, se é que eu estivesse com alguma naquele momento. Estava meio tensa pelo lance de ter que decidir pela vida de alguém, mesmo ela não tendo começado ainda, o que tornava algo mais difícil ainda de se fazer.

[Lily]: Isso, no sábado!

[Lily]: Nesse sábado!

[Lily]: Daqui 8 horas, talvez.

[Lily]: Tá bom de especificação para você agora, Dara?

[Lily]: (¬_¬;)

[Dara]: Não... Ainda tenho dúvidas quanto a data e horário.

[Lily]: Boa noite Dara! não vou me irritar por uma brincadeira sem graça dessas.

[Dara]: Você está ficando irritada com isso?

[Dara]: Hahahaha! Não acredito!

Saí do aplicativo após ver aquela última mensagem, deixei no silencioso e virei o celular coma tela para baixo. Mas cerca de quinze minutos depois fui vencida pela curiosidade e voltei a olhar. Assim que entrei no chat, mal pude visualizar as mensagens, pois, uma nova pôs-se imediatamente na frente das outras.

[Dara]: Aff, você desligou mesmo...

[Dara]: Mas você não resistiu ficar longe de minha presença, mesmo que seja virtualmente.

Eu realmente não estou com paciência para isso, melhor eu voltar a pesquisar coisas aleatórias no Google, mais produtivo, e menos estressante... Acho...

[Lily]: Quer saber, acho que agora é boa noite mesmo...

[Dara]: ESPERA!

[Dara]: Vou te buscar às 10 horas da matina, esteja pronta!

[Lily]: Ah, então depois de tentar me irritar você finalmente aceita meu convite?!

[Dara]: Não queria te irritar, só estava com sono e meio preocupada. Estava respondendo sem estar focada.

[Lily]: Tá, vou fingir que acredito.

[Dara]: É verdade, juro...

[Dara]: Enfim, vou dormir. Você devia fazer o mesmo, te vejo daqui 6 horas e 22 minutos.

Essa menina me tira do sério, ela é fogo, além de ficar off-line logo após dizer isso, ainda iria me fazer levantar em um horário programado numa manhã de sábado. Comecei a rir depois do acontecido, li novamente as mensagens que ela havia me mandado enquanto voltava para a cama. Segui seu concelho e tentei voltar a dormir, mas essa parecia uma tarefa impossível, fui obrigada a usar o plano CH-29, nunca usado anteriormente e ainda em fase de experimentação. Decidi contar ovelhinhas.

Parece bobo, sempre vi os outros usarem essa expressão, mas nunca havia tentado. Então em minha mente imaginei essa cena totalmente monótona e... É, peguei no sono. Mas acho que foi de cansaço mesmo, os olhos já estavam pesados de certa forma quando voltei para minha cama.

Acordei às 9:40, lavei o rosto, vesti uma calça jeans e uma blusa qualquer que eu achei e achei pelo guarda roupa e desci para a cozinha. E às dez horas em ponto Dara tocou a campainha, fiquei tão feliz ao vê-la.

—Então, moça...Onde você quer ir hoje? — Dara me perguntou, com uma empolgação extrema — No zoológico?! Patinar?! Num festival de qualquer coisa?

—Não... Tenho algo melhor em mente.

—Sério?! — Seus olhos chegaram a brilhar — Onde?!

—Na biblioteca municipal.

—Na... Bi...Biblioteca? — Seus olhos que antes brilhavam, agora viravam-se para trás em repudio àquela ideia — Você está de brincadeira, não é?

—Não, você disse que iria estudar comigo. Então?! Agora é a hora de estudar.

—Mas hoje é sábado — Dara se escorou na parede — Já estudamos a semana inteira, merecemos um descanso hoje.

—Sim, mas estudar também pode ser relaxante.

Ela me encarou enquanto cruzava os braços, parecia indignada de lhe pedir isso. Martin me disse que ela tinha aversão a estudos dirigidos, não pensei que fosse tão grande assim sua aversão. Por fim acho que ganhei esse seu jogo de encarar, ela desistiu, pelo menos.

—Aff, você não vai desistir disso, não é mesmo? — Acenei negativamente — Então vamos logo... Para a bo-bli-o-to-ca — Disse ela em tom de desdém.

—Obrigada — A beijei enquanto pegava meu casaco — Você é incrível, sabia disso?

Ela resmungou algo que não consegui ouvir, amarrou um cachecol em seu pescoço e veio atrás de mim. Definitivamente ela não estava muito feliz em fazer aquilo.

Chegamos à biblioteca e primeiramente fomos à recepção para saber se havia algum lugar que pudéssemos deixar nossas coisas, como os capacetes e as blusas de frio. Aliás, hoje não está muito frio, mas o vento está muito forte, o céu está fechado demais.

Um senhorzinho simpático guardou com cuidado o que era nosso em um dos guarda volumes atrás do balcão, não creio que seja o método mais seguro de se guardar coisa alguma, mas também não acho que tenha tanto problema em deixar algo naquele lugar aparentemente calmo de fluxo moderado, quase imperceptível para ser sincera.

Dara e eu fomos até umas mesas grandes, onde podíamos ficar de frente uma para a outra. Estava tão animada de ir estudar com a Dara, nunca havia feito isso com Clarck ou qualquer outro namorado, na verdade rolos, que eu tive antes dele. Minha cabeça estava girando com relação a ela, queria fazer tantas coisas e levá-la a tantos lugares hoje, havia decidido nesta noite que talvez devesse tornar realidade aquele “Valley e Bernstein” que a cartomante viu. Não sabia como fazer isso, mas sentia que devia fazer, queria que ela fosse minha. Já havia até mostrado ela para meus pais, penso que já estivesse passando da hora de tomar coragem e pedir a irmã do meu EX para ELA ser minha ATUAL.

Mas a empolgação era somente minha, Dara não fazia ideia das minhas intenções, estava lá contra vontade. Ela sentou-se à mesa e quase que em seguida pôs os pés sobre a mesa, e foi repreendida quase que instantemente pela bibliotecária, que gritou de longe. Ela levou um susto tão grande, acabou caindo, como reflexo involuntário eu comecei a rir de forma contida, tampando minha boca com as duas mãos. Dara obviamente não gostou nada daquilo, voltou a sentar-se, dessa vez de forma mais comportada, quer dizer... Mais ou menos, ela cruzou os braços sobre a mesa e fingiu não me olhar, vi que sua face estava rubra, havia sentido envergonha.

Me afastei um pouco de modo a não embaraçar mais ainda Dara, fui para o setor de literatura clássica e senti feliz apenas de ver as capas grossas já puídas pelo tempo, livros da grossura de um bíblia, com um peso de um tijolo, alguns até em outras línguas. Mas literatura não era o que eu queria hoje, estava à procura de algo mais didático, queria estudar legislação e queria sentir o peso e o cheiro de papel sobre minhas mãos, não sou muito acostumada com essa história de pdf, e eles me deram justamente e-books para ler, mas isso não é para mim, pois nada substitui o prazer de poder abrir um bom livro.

Aliás, tem coisas que substituem sim, mas isso não deveria vir ao caso. Fui até o balcão da bibliotecária pedir informações sobre onde poderia achar livros de legislação de transito, e enquanto ela olhava no sistema eu tive um vislumbre de Dara alguns corredores à frente olhando um livro de capa dourada. Fiquei pensando que ter ela só para mim seria com certeza um desses poucos prazerem que substituem abrir um bom livro, imaginei como seria a sensação de poder sentir mais dela e sua intimidade. Acho que acordei hoje querendo ela, não importa a forma, e eu estava com tesão demais para quem estava em um lugar público, o que era preocupante, pois nem sei de onde veio esse desejo todo, para ser sincera. Acordei feliz tendo em mente que quero pedir ela em namoro, mas meu pensamento estava indo mais longe que isso, pelo visto.

Ser romântica, passar um dia maravilhoso com ela... Isso eu posso fazer hoje. Mas quanto ao sexo, eu tenho que ter paciência, esperar ela querer, para que possa se quer pensar em tentar algo. O que é extremamente frustrante para mim, pois ela é a “santa” nessa história, Dara se quer devolve provocações mais “quentes” por assim dizer; e olha que eu já tentei bastante, principalmente essa semana que acho que bateu um desespero quando vi meu reflexo no espelho. Já estou me sentindo inchada, na verdade eu pareço inchada e isso já é bem desesperador para mim no normal; sei que é por causa dos hormônios...Mas imagine ter que pensar que não vou desinchar tão cedo e que meu corpo vai ficar mais deformado com o passar das semanas e meses até que.... Isso é desesperador!

Graças aos céus a bibliotecária achou a seção que queria, me obriguei a esquecer aqueles pensamentos enquanto caminhava pelos corredores. Acho que curiosidade de dormir com ela, só não era maior que o desespero de pensar que eu deveria fazer isso antes que minha barriga crescesse e eu me sentisse asquerosa demais para transar com qualquer um. E isso me fez infortunadamente lembrar que eu estava com a vida de um ser em minhas mãos, quer dizer, essa vida ainda está em meu útero, mas acho que deu para entender o que quis dizer.

Então tudo que eu podia fazer era olhar e imaginar como seria bom, quase podia “comê-la com os olhos”, e sim, eu sei o quão canibal e quão desesperado isso soa. Tentei esquecer ambos pensamentos, respirei fundo, peguei os livros que queria e voltei para a mesa. Quando estava quase voltando vi Dara fechando o livro que havia pegado e se espreguiçando na cadeira, parecia entediada.

—Que ótima namoradinha nerd que eu fui arrumar — Murmurou Dara um pouco longe de mim —Aff, que chato....

Abri um sorriso tímido, ouvir aquilo me fez perceber que meus planos dariam certo hoje, não havia dúvida quanto a isso.

—Sou a melhor que você podia encontrar nesse pedaço do país — Respondi me sentando.

—O que?! —Gritou Dara — Onde você estava?! O que você escut...

—Shhh...Silêncio — Disse a bibliotecária ao ouvir Dara — Esse vai ser o último aviso, garotinha!

Dara estava perdendo a paciência, a respondi antes que ela fizesse alguma falta de educação com a pobre senhora.

—Tudo bem — Eu ri, novamente de forma abafada — Seu segredo tá seguro comigo.

Abri os livros e dispus de forma que três ficassem abertos lado a lado, peguei meus fones de ouvido e coloquei uma música qualquer num volume mais baixo. Comecei a ler e ela ficou me olhando por cima dos braços cruzados sobre a mesa, não havia nenhum livro em seu lado da mesa. Demorei um tempão para terminar meu “ritual de leitura nível intermediário 2,5”, era um tempo considerável para ela pegar qualquer coisa e começar a ler, mas mal parecia ter movido daquela cadeira. Tentei me concentrar, mas aqueles olhos verdes me chamavam, era hipnotizante, estava tirando minha atenção.

Vi seus lábios mexendo, mas não entendi o que dizia, estava concentrada demais para prestar a atenção necessária, na verdade. Tirei meu fone esquerdo e perguntei sussurrando:

—O que disse?

—Por que esse tanto de livro? Você não vai ler os três ao mesmo tempo, então... Por que isso tudo?

—Bem, quando uma leitura se torna maçante eu passo para outra.

—E isso funciona? — Disse Dara apoiando a cabeça no antebraço.

—Bastante, mas quando cansa eu mudo o jeito de estudar também.

—Credo! Tem outros jeitos bizarros de estudar?

—Muitos outros... — Decidi provocá-la — Como você disse, eu sou sua “namoradinha nerd”. Estudar é o que eu sei fazer, Dara.

—Desculpa... — Ela ficou sem graça— Não fica com raiva de mim, não disse por mal. Sei que não somos....

Acho isso um charme à parte nela, ela fica tão fofa quando fica sem jeito perto de mim. Dá vontade de morder aquelas bochechas quando vejo que elas ficam vermelhas, mais ainda quando ela fica nervosinha por eu a chamar de fofa, ou sinônimos disso.

—Para falar a verdade... —Acho que esse pode ser o momento. Fod@-se os planos que fiz — Eu quero isso... Ser sua namoradinha.

— O QUE?! — Falou Dara um pouco alto demais.

—SHHH mocinha.... — Advertiu novamente a bibliotecária.

Quase pude ver o sangue nos olhos de Dara, ela estava com as feições neutras, mas ouvir a bibliotecária, aquela mulher velha e aparentemente nada educada lhe chamando a atenção por falar em tom normal, aquilo foi a gota d’água. Ela perdeu a paciência, estava demorando a acontecer, para ser sincera, mas não era uma hora muito boa para isso acontecer.

—Ah, Dona vai à mer.... — Ela iria xingar a bibliotecária, mas a interrompi.

—Dara, não! —Gritei.

—SHHHHH...Se querem fazer barulho, é melhor fazer isso lá fora —Disse a bibliotecária sem se quer olhar para nós.

—Quer saber... Já cansei dessa mulher — Dara se levantou — Não esquece o que estávamos conversando. Vou te esperar na portaria.

—Mas...Nós?....

Não deu tempo para objeções a qualquer coisa, ela saiu rapidamente da mesa e eu fiquei com cara de paisagem tentando entender que merd@ havia acabado de acontecer. Desliguei minha música, tirei calmamente meus fones de ouvido, peguei os livros e me levantei. Não tive postura para colocá-los no lugar, apenas os joguei de qualquer jeito sobre o balcão da bibliotecária, ela que se vire para guardá-los.

—Tenha um bom dia, senhora! —Disse ela, mas a velha se quer me olhou de volta.

Entendi a raiva da Dara naquele momento. Fui até o hall de entrada, Dara estava escorada em um janelado enquanto falava ao telefone, acho que nem me viu. Peguei minhas coisas e as dela no guarda volumes. Quando me aproximei que ela foi notar minha presença, pela expressão era algo sério. Ela terminou falando no telefone: Ok, já estou indo para aí.

—Estou atrapalhando por acaso? —Perguntando entregando o casaco dela.

—Na verdade fico feliz de te ver —Ela mostrou o número no celular, reconheci, era da Magda— Não sei por que ela não te ligou, mas creio que talvez seja só por que seu aparelho estava no modo silencioso. Enfim, ela brigou com a namorada, ligou chorando...Tá na bad, pra simplificar.

—Tadinha... — Olhei meu celular — Não me ligou não...Ham... Me senti traída!

—Não se sinta, já estava virando os olhos por ter que passar por isso sozinha.

—Por quê?!

—Acredite, desde que eu vi ela e a Fernanda se pegando e acidentalmente vi os peitos dela...Eu meio que fiquei sem graça quando ela me ligou, porque lembrei disso.

—Isso não faz sentido... — Ri um pouco — Por que ficaria sem graça por algo tão fútil?

Ela não disse nada, apenas me olhou como se dissesse com os olhos “tá de brincadeira?”. Lembrei que ela é um bebezinho de mente não poluída, mas ainda assim não entendo. A Magda me contou sobre esse dia, e de toda forma... São só peito. Ela também tem, então qual a vergonha nisso?

Mas essa nem é a maior pergunta aqui... Quer dizer que a Dara agora é mais amiga dela que eu, por acaso? Pensei que depois da amizade que ela tem com a irmã dela, eu fosse a melhor amiga que ela tem. Senti sim uma pontada de ciúmes, não vou nem tentar negar. POR QUE ELA NÃO ME LIGOU??????

—Desculpa...Havia esquecido —Disse enquanto colocava meu agasalho.

—Não, tá beleza —Ela escorregou pela parede até cair sentada no chão— Olha, desculpa pelo que aconteceu lá dentro e eu meio que saí por que não queria continuar a conversa.

—Nossa, que sincera...E direta.

—Sabe, você disse que queria ir devagar e eu... Acho que é reciproco, é tudo que eu estou precisando no momento.

—Isso tem haver com o fato de eu estar grávida?

—Não....

—Minha família, talvez?

—Não, por Deus, claro que não!

—Então o que é?

—Não sei dizer... Tá dando certo, então por que a gente tem que mudar isso?

—Ah... Tudo bem. Então mudando um pouco de assunto, onde a Magda está agora?

—Ela disse que iria me mandar a localização no what’s app, mas até agora... — Dara olhou seu aparelho —Ainda nada...

—Ok, então enquanto ela não dá nenhum sinal de vida, nós podemos pelo menos conversar sobre... — Ela me interrompeu.

—Casa de Harggarm — Ela soltou uma risada abafada —  Quer lugar mais nerd que esse? Porque eu sinceramente não conheço.

—Ah, não exagere tanto... Lá é legal.

—Legal?! Você já esteve lá? — Ela riu sem nenhuma cerimônia ou contenção — Mano, aquele lugar só tem cara podre de Geek. O tipo de pessoa que já teve paciência para ver todos os filmes de Star War, todos lançados até o momento pelo menos, e que sabe todos os feitiços de Harry Potter listados em ordem alfabética.

— Você tem algo contra nerds, geeks, otakus...Enfim, os inteligentes e socialmente estranhos?

—Eu?! Não tenho nada contra. Mas não deixa de ser engraçado ver o nível de fanatismo e até onde eles vão por isso. Mas fala sério, você já foi naquele lugar?

—Sim...Esqueceu que você tem uma “namoradinha nerd”?

—Ah, você ainda tá com raiva por eu ter dito isso?

—Para falar a verdade, estou decepcionada... — Caminhamos até a porta —  Para ser sincera, eu estava pensando em te pedir em namoro aquele momento mesmo... Mas você me disse que quer ir com calma...Fazer o que, neh?!

Ela ficou parada olhando o nada, parecia pensativa, seus olhos estavam arregalados. Algo me diz que não estava surpresa, quer dizer, um sentimento e as próprias palavras dela, se ela se afastou de mim para não continuar nossa conversa na sala de estudos, era óbvio que ela sabia que iria tocar nesse assunto àquela hora. Mas duvido que pensava que diria isso naquele exato momento, daquele jeito.

Antes que encostasse na maçaneta da porta, Dara pôs se à minha frente e abriu a porta para mim. Ficando numa posição que pudesse me olhar de perto, diretamente em meus olhos castanhos.

—Que tipo de pessoa maluca você é? — Dara perguntou séria.

—Não entendi...

—Você já foi bem especifica que não queria entrar num relacionamento agora... e que pessoa em sã consciência pede outra em namoro numa biblioteca? A gente mal pode conversar aqui.

—Na verdade nunca disse isso, desculpa se deia a entender... E eu tinha planejado um dia inteiro, com várias atividades... Mas sua impaciência me fez adiar tudo.

—Ah, então agora a culpa é minha? —Perguntou Dara em tom sarcástico — Em primeiro lugar não faço ideia porque me trouxe aqui...

—Bem, simplesmente esse lugar é o favorito e mais especial lugar, dentre todos os estabelecimentos da cidade inteira. Eu amo essa biblioteca, e nunca vim com o Clarck ou qualquer outro... Queria que sentisse aqui como o abrigo emocional que é para mim, meu refúgio da correria do dia a dia.

Ela ficou sem graça, bem feito para ela, não fiquei com dó, ela fica ofendendo os nerds de forma gratuita... Mereceu isso.

—Aqui é importante para você, devia ter prestado atenção — Ela disse cabisbaixa — Desculpa, acho que eu vacilei um pouco...

—Sim... Só um pouquinho assim... — juntei o indicador e o dedão de forma que pudesse mostrar uma medida pequena — Aliás, como consegue tirar boas notas se você nem sabe como estudar?

—Inteligência visual... Em outras palavras... Vídeo aula são minha fonte de sabedoria, porque escola também eu não levo muito a sério — Ela decidiu me provocar— Mas você tem PHD em inteligências múltiplas de modos de processamento de informação...Já devia saber disso.

—É, devia ter imaginado mesmo...

—Nossa, você concordou comigo? E sem me contradizer... Milagre, senhor!

Peguei meu capacete, Dara já estava sentada na lambreta, segurava seu capacete vermelho debaixo do braço.

—Mas só uma pergunta... Essa história de ser minha namorada... Por acaso a proposta ainda tá de pé?

—Na verdade, ela tem que ser repensada, conversada e discutida. Você querer ir devagar... Eu também queria, mas meu coração diz uma coisa diferente.

—O que ele diz?

“Meu coração diz que te ama”, pensava eu enquanto tentava formular uma resposta no mínimo aceitável. Mas minha boca, meus lábios só queriam falar essas palavras. Então decidi apenas sorrir e permanecer em silêncio.

 

Lily_Pov(Off)

 


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