Lily_Pov(On)

Outra semana estava começando e eu estava tentando não pensar demais e não ficar preocupada, novamente estava sentindo aquilo, mesmo dizendo que não faria isso comigo mesma, me auto estressar. Mas era impossível não ficar preocupada, sábado eu acordei decidida a resolver no mínimo duas coisas, na verdade três, se tomar café da manhã com a Lily conte de algo. Mal consegui simplesmente tomar café com ela, pois Clarck estava lá, não entendi bem o motivo, mas Dara prometeu me explicar, ainda estou esperando essa explicação, mas também não vou cobrar isso.

Foi basicamente assim, eu senti enjoo ao vê-lo, corri para o banheiro e eles ficaram discutindo, não demorei muito, mas vi que o tom dos dois estava cada vez mais alto.

—Mano, você é demente mesmo! — Dara gritava — Te ajudei porque era o certo a fazer, nem sabia que a Lily viria aqui hoje.

—Você fez isso sim, queria me ver desesperado — Clarck puxou seu cabelo para trás —  Queria me ver na pior, queria me ver pior do que eu estava ontem anoite. Você sabia muito bem que eu estava chorando por causa dela, mas mesmo assim chamou ela aqui. Tudo para esfregar na minha cara que está com ela!

—Não, seu arrogante e hipócrita menininho mimado. Ela veio porque queria tomar café da manhã comigo, eu se quer a chamei, ela veio por livre e espontânea vontade.

—Ah, tenha dó, para de se fazer de vítima Dara! Por que ela ficaria com você? Conheço a Lily, ela nunca ficaria com uma garota, ela não é uma sapatão nojenta como você!

—Não, eu não sou sapatão — Interrompi — Mas é porque eu não sei em que casinha dessa coisa chamada sexualidade eu me encaixo, isso ainda é novo para mim.

—O que?! — Indagou Clarck.

—Dara e eu... Estamos saindo, nos conhecendo... — Disse normalmente.

—Como amigas, certo?

Olhei para Dara, ela me sorriu sem graça de volta. Sabia que Clarck já havia entendido o recado, mas quis confirmar.

—Não... Como um casal!

—Então...Era.. Eraa... Verdade — Disse Clarck olhando para mim — Diga me Lily, por que você ficaria com uma pessoa como a Dara?

—Ah cara, uma pessoa como “EU”? — Disse Dara mostrando desprezo — Já se olhou no espelho? Você não é isso tudo não.

—Eu... Eu... — Estava meio tonta, procura algo com os olhos para me escorar— Na verdade eu não tenho explicação para isso, eu apenas gosto dela.

—Isso é uma vingança ou algo assim? — Perguntou Clarck revoltado.

—Não, não foi isso — Me escorei na parede — Clarck, essa não é a coisa mais importante aqui.

—Não perguntei para você — Ele olhou para Dara — Você está com ela só para se vingar de mim, não foi?

—Não, claro que não. Por que seria? — Exclamou Dara.

—Clarck! — Chamei a atenção dele — Eu estou grávida e você se importa só com o fato de eu estar saindo com sua irmã?

—Não, eu também estou furioso com fato de você estar grávida, mas isso não é ofensivo a minha pessoa!

—E ser trocado pela sua irmãzinha é, não? — Disse Dara o provocando.

—Isso é uma vingança pela Rachel, não é? —Disse Clarck, rindo — Maninha, isso faz muito tempo, guarda essa mágoa por tanto tempo assim?

—Peraí, quem é Rachel? — Perguntei um pouco deslocada.

—Fica quieta Lily, isso não é com você! — Gritou Clarck.

Hum...Aquilo fez meus olhinhos virarem para trás, não devia estar assim, a briga realmente e claramente era entre os irmãos, mas ele não devia ter falado assim comigo, não tinha esse direito.

—Espera aí, quem você pensa que é... — Senti uma mão sobre meu ombro, parei de falar.

—Não vale a pena, Lily — Disse Sombra — Pode deixar que eu cuido disso.

No final das contas acabamos não brigando de forma tão séria. Na verdade... Sombra expulsou ele depois que fez aquela falta de educação, meio que Clarck não pôde mais fazer seu showzinho. Acho que Sombra havia acabado de levantar, mas chegou na hora certa, tenho que admitir, chegou como um herói.

Tenho que admitir outra coisa também, mesmo com a falta de educação, senti pena dele. Clarck cheirava a álcool, estava com a cara inchada, roupa toda amassada e visivelmente perturbado. Acho que esse lado dele eu nunca conheci, mas parando para pensar, a verdade é que eu nunca me preocupei em conhecer quem ele realmente era, foi um relacionamento superficial, tenho que admitir. Clarck é bonito, popular, tem um corpo atlético, e além disso é bem carismático. Me conquistou com esses atributos. Eu me sentia bem ao lado dele, acho que era só isso que importava para mim, sem contar o status de sair com um cara como ele, mas acho que devia me envergonhar pensando nisso, agora.

Estou tentando ser diferente com a Dara, sei que ela não parece combinar em nada comigo, somos tão diferentes, ela é basicamente meu oposto, mas ao mesmo tempo isso não parece um problema. “Os opostos se atraem”, não é esse o ditado?  Não sei por que gosto dela, mas penso que alguns motivos sejam: ela se faz presente, é carinhosa, uma ótima amiga, sem contar que beija muito bem.

Enfim, voltando à maldita segunda feira, que havia voltado novamente para atormentar meu sono. Levantei após muito brigar comigo mesma para ficar na cama, estava sem muito ânimo para ir à escola, a preguiça era forte, mas também não tinha outra escolha a não me levantar, era inevitável. Só por curiosidade, meu despertador está vivo, quer dizer, ele se espatifou todo quando o joguei na parede, mas sobreviveu após uma cirurgia complicada de “reposição de engrenagens perdidas”, e no momento passa bem com suas ataduras de Silver Tape.

Não queria comer pelo enjoo matinal que sentia, então peguei umas frutas na geladeira, protegi com papel alumínio e guardei em minha mochila. Obviamente minha mãe me viu com Dara, na sexta, mas não ficou me enchendo a paciência dessa vez, apenas parece estar evitando falar comigo. Não sei como ou porquê, ela não contou para o papai sobre isso, então estou basicamente apenas observando até onde essa história vai.

Outra coisa que eu também tenho que resolver logo é contar sobre a gravidez para meus pais, não vou conseguir guardar segredo disso por muito tempo, minha mãe já me questionou sobre a consulta médica, não sei como descobriu isso, mal olha as faturas do plano de saúde. Menti dizendo que tinha lesionado na natação. Não dei tantos detalhes, se não ela me pressionaria até eu ser obrigada a dizer a verdade.

Quero contar isso junto ao Clarck, não quero estar sozinha quando for ter essa conversa, afinal de contas, não fiz essa criança com o dedo. Mas Clarck parece estar surtando demais com besteirinhas para me dar algum tipo de apoio no momento, acho que ele está surtando mais com a ideia de “ser trocado”, do que com a ideia da paternidade. Não o culpo, também briguei comigo mesma por gostar dela, mas devo aceitar a grosseria?

A reposta à essa pergunta obviamente é não!!

Como já era de se esperar, a notícia da minha gravidez estava se espalhando rapidamente pelos corredores, creio que antes do final da aula todas já saibam, acho incrível como qualquer notícia fútil é divulgada rapidamente naquele lugar. Mas isso pouco me importava, já sabia que iria acontecer. Estava mais preocupada em como Clarck lidaria com isso, ele já não está bem, espero que não piore os “chiliques” dele.

Cheguei alguns minutos mais cedo hoje, não o suficiente para me considerar que estava adiantada, mas tinha tempo suficiente para sentar e tentar comer um pouco e talvez ler qualquer besteira na internet. Tudo correu conforme o plano, comi um pouco, olhei algumas notícias aleatórias no portal da BBC, assisti tranquilamente minha aula e no segundo horário fui calmamente para a aula de Sociologia.

Clarck chegou antes de mim, ele sentou-se e guardou um lugar ao lado do dela com sua mochila, creio que fosse para eu sentar. Certamente ele iria querer falar comigo, contando qualquer desculpa esfarrapada, porém, não quis me sentar ao lado dele. Eu precisava falar com ele, isso é verdade, mas Clarck também merecia um tratamento de silencio naquele momento. Sentei me uma fileira à frente dele, joguei meu cabelo para o lado de forma que pudesse vê-lo em segredo, assisti a aula de forma majoritária com os ouvidos, enquanto os olhos, volta e meia vigiavam ele olhar para mim.

Quando estava para sair da sala ele se pôs na minha frente, me barrando, evitei olhar diretamente em seus olhos.

—Espera Lily, a gente precisa conversar.

—Atah...Para você vir e falar de novo da sua irmã — Me livrei dele — Não, obrigada!

—Não não... —Ele segurou em meu ombro — Me desculpa por aquilo, me desculpa por ter gritado com você.

—Hum... — Cruzei os braços — Te perdoo, mas só se você for contar para meus pais sobre a gravidez comigo.

—É o que?! — Clarck se assustou —Você ainda não falou para eles?

—Não, acredite em mim... A escola inteira pode saber disso, mas eles não. Mas agora não é um bom momento para falar disso, temos aula.

—Ok, podemos falar depois da aula então?

—Também não, combinei de sair com as meninas.

—Você quer dizer, você e a Dara?

—Viu, eu disse que incluiria ela no meio da conversa — Arfei —Não, eu combinei de sair com Magda e Megan, mas sim, Dara vai junto.

—Amanhã então?

—Hum...Também não sei... — Disse fingindo pensar.

—Ah, qual é... Quando eu vou te achar então?

—Viu o quanto que é ruim precisar falar com alguém, e essa pessoa não te dar nenhuma atenção? — Passei por ele e disse sem olhar — Me encontre amanhã depois do seu treino.

Lily_Pov(Off)

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Dara_Pov(On)

Estava no intervalo e fui pega de conversa pelas gêmeas, elas basicamente, não, literalmente me pegaram pelos braços e me arrastaram para o banheiro. Estavam tão empolgadas, e aparentemente pela mesma coisa, coisa rara de se ver, elas têm gostos tão distintos. Ao que eu entendi, elas iriam dar uma festa e eu não entendi mais do que isso também, pareciam perdidas em meio a tantas ideias. Na verdade, acho que elas se entendiam perfeitamente, eu que não consegui acompanhar nada com elas falando ao mesmo tempo daquele jeito.

Apenas me apoiei na pia do banheiro e fiquei observando elas falarem uma linguagem que parecia só delas, até que elas falaram ao mesmo tempo:

—Você topa Dara?!

Um suor escorreu pela minha nuca, engoli o seco, não fazia ideia do que estavam falando, então apenas concordei acenando a cabeça para que parassem de me encarar.

—Perfeito, a gente te pega às 18:00 horas então — Disse Magda.

—Espera, o que?! — Tentei fazer objeção ao pedido delas.

—É, esteja pronta — Disse Megan me abraçando, pude ouvir minhas costelas estalarem.

Perdi o fôlego, e elas saíram um pouco depois da Megan quebrar minhas costelas, acho que elas fizeram isso propositalmente para não me dar chance de defesa, ou de dizer não, para seja lá o que eu acabei de concordar.

Saí daquele lugar ainda respirando com certa dificuldade e enquanto ia para sala avistei Lily comendo uma fruta que eu não faço ideia de qual era, mas estava acabando de comer.

—As gêmeas te abordaram também? — Disse eu me esticando.

—Hã?! Saí da aula agora, não vi elas ainda. O que houve?

—Ai, só sei que elas estavam falando em dar um festa, creio que seja festa de Halloween, pois já tinha visto elas falando sobre isso dias atrás. Mas enfim, a Magda começou a falar e a Megan também abriu a boca e...

—Já sei, elas falaram de forma sincronizada e você não entendeu nada.

—Exato!

—Clássico delas — Lily riu.

—Elas perguntaram se eu topava, concordei sem saber o que estava acontecendo. Agora elas disseram que me buscam às 18:00 horas e eu nem sei para que.

—Vamos comprar nossas fantasias hoje — Lily riu novamente — Elas só estavam te convidando para isso, mas do jeito delas, claro.

—Uffa... Já estava pensando outra coisa.

—Tipo o que?

—Sei lá, vai que era para ir noutra festa do pijama.

—Noh, a última vez foi tensa!

Senti que Lily queria falar algo mais, só que sinal tocou e fomos obrigadas a nos separarmos. Ela foi para um lado e eu para outro, senti meu celular vibrar logo depois que a aula começou, fui seca pensando que era a Lily.

Mas era só uma mensagem da minha operadora, falando que eu tinha que efetuar uma recarga dentro de uma semana para não perder a linha, que tristeza! Meu celular vibrou novamente, mas não olhei, sabia que não seria ela. Horas depois fui descobrir que era a Alice novamente a me procurar, estava novamente preocupada comigo, mas não sei o motivo ao certo. Aí lembrei que contei para ela que briguei com o Clarck no Sábado. Ela deve estar pensando que eu me cortei novamente, mas não queria falar sobre isso no momento; não havia feito nada de errado, só não estava com “saco” para conversar com ela. É desgastante tentar convencer alguém que estou bem, e ela não acreditar nisso por nada, então nesses casos é melhor só escutar.

A procurei rapidamente na saída para o horário de almoço, mas não a vi, então desisti e fui comer tranquilamente com as meninas. Todos no refeitório pareciam estar encarando a Lily quando a vi, e não estou nem sendo dramática, muitos cochichavam e olhavam para ela, mas curiosamente Lily não parecia se importar com aqui. Ela estava na fila para a comida e me chamou para junto dela, as pessoas passavam por ela e viravam a cabeça em sua direção, como se fossem feras à procura de carne.

Ela não parecia olhar para outra coisa além de mim, sorria meigamente, fingia não se importar, mas sabia que devia sentir-se sufocada em seu interior. Peguei sua mão, ela olhou rapidamente para isso, depois voltou o olhar para meus olhos.

—Está tendo um dia difícil? —Perguntei sorrindo.

—Ah, para ser sincera, está sendo um dia estranho — Lily soltou minha mão — Sabe, já tiveram dias piores que esse.

—Será mesmo?!

—Ah, quando a Amanda ainda estudava aqui, ela fazia questão de transformar cada erro em uma tormenta — Lily Riu — Ainda bem que ela mudou de escola.

—Entendo bem, ela também implicava comigo. Acredita que eu já me permiti ter um crush naquele demônio?

—O que?! — Lily olhou para mim segurando sua risada — Eu acredito, mas me conta, como você conseguiu um dia gostar naquela naja?

—Bem, ela ainda não era esse Demônio, que assume a forma de Naja e toma sangue de menininhas indefesas que você conheceu.

—Ótima descrição.

—Ela era minha amiga, uma garota até legal, e uma das poucas que andava comigo no ensino fundamental. E quando percebi estava com uma fucking paixonite pela garota, contei para ela e aí ela se mostrou um demônio. Primeiro ela não acreditou em mim, depois ela fez chacota com a minha cara, me humilhou e...

—Fez coisas de Amanda — Disse Lily.

—Na verdade ela me beijou e saiu correndo — Lily ficou boquiaberta — Pois é, nem eu acredito nisso até hoje. Mas depois ela virou uma patricinha encarnada, uma pessoa realmente podre de coração, me afastei dela assim que percebi.

—Acho que ela que tinha um crush em você.

—Provavelmente.

Já havíamos chegado até o expositor de comida, ela pegou uma bandeja para ela e me passou outra, depois fez o mesmo com os pratos e talheres. Ouvimos as meninas da frente falando sobre a Lily, tentavam cochichar de forma que não escutássemos, mas falharam: “—Essa garota é muito safada — Disse uma baixinha de cabelo cacheado”.

“—Sim, ficar com o namorado e a irmã dele, é muito desespero — Falou uma líder de torcida com cabelo amarrado em coque”.

“—Não me surpreende estar de barriga! — Exclamou a baixinha”.

“—Tanta promiscuidade dá nisso, neh — Completou a líder de torcida”.

A líder de torcida era tão abusada que teve a audácia de olhar de relance para Lily, como se nós não tivéssemos ouvido tudo. Naquele momento, naquele exato momento senti que ela havia sofrido uma avaria em sua defesa, mas nem era comigo e mesmo assim eu senti, imagine ela então. Ela parou e olhou o nada, pus minha mão sobre a dela, Lily me olhou de lado, sorrindo.

— Sabe, eu não posso te prometer que nada te fará mal, como provavelmente meu irmão faria, pois seria mentira — Disse encarando as duas fofoqueiras — Mas posso te garantir que vou passar todo esse mal ao seu lado, junto com você.

—Anem, falando essas coisas você me deixa sem graça — Ela se virou para o lado oposto, mas pude ver que estava rubra — Queria ter conhecido você antes dele, não estaria assim hoje.

—Hum... Possivelmente nem estaríamos assim hoje, também.

—Por quê? —Perguntou Lily pagando a cantineira.

—Pensa, você me conheceu quando estava namorando ele — Agradeci a cantineira — Eu te achava mimada, você me achava estranha. Só fomos nos conhecendo melhor por conveniência, você quis ser simpática e eu também, essa é a pura verdade.

—Tah, mas e quanto a meus sonhos “lésbicos” com você?

Estávamos andando juntas, parei ao ouvir aquilo, não esperava ouvir algo parecido, e ela continuou andando até perceber que estava para trás, depois voltou ao olhar para mim.

—É, esqueci que não tinha te contado. Aqui não é lugar, então podemos simplesmente almoçar? Te conto mais tarde.

—Na verdade acho que já me disse que sonhava comigo.

—Não fui 100% sincera.

—Espera, sonhou mais que apenas me beijando ou algo do tipo?

—Bem mais...

Fiquei sem graça quando ela falou aquilo, mas não fiquei com raiva, apenas continuei andando. Ela não é o Irving, já tenho isso em mente, mas não deixo de ficar sem jeito perto de um assunto desses. Acho que essa é a prova que não sou tão madura, quanto eu costumo pensar.

Dara_Pov(Off)