Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 30
Procura-se irmãos Bernstein


Notas iniciais do capítulo

Gente, depois de tanto tempo sem escrever eu ainda tenho leitor, que lindo!

Muito obrigada por isso!



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Lily_Pov(On)

**Triiimmm** **Triiimmmm**

 

Meu despertador tocava desesperadamente sobre meu criado mudo, sem dúvida esse foi o presente mais barulhento que minha mãe já me deu, e as vezes inacreditavelmente inútil, pois meu sono consegue facilmente vencê-lo. Mas voltando ao que importa, se meu despertador tocou, isso significa que hoje é segunda novamente, e que dormi em casa noite passada. Só não me perguntem de onde surgiu a coragem para isso, apenas direi que a sorte estava do meu lado.

Passei o domingo com a Dara, quer dizer, passamos grande parte do tempo dormindo enquanto assistíamos séries no notebook dela, pois eu estava sem dormir à noite passada e aparentemente Dara também não tinha dormido muito. Por volta das oito da noite me deu uma vontade doida de ir embora, não sei explicar o porquê, mas ela fez caridade de me trazer de volta para casa. Parece que foi coisa dos deuses mesmo, pois assim que cheguei na porta de casa vi minha mãe, ela estava tagarelando com a vizinha, aquilo foi a deixa perfeita para não nos encontrarmos, me despedi da Dara com um simples abraço e corri para meu quarto, me tranquei aqui desde então.

Quer dizer, no caminho esbarrei com meu pai, mas ele realmente não se importa muito com minha ausência, na verdade ele viaja muito para perceber isso; como ele estava sorridente me abraçou, eu pude supor que apenas minha mãe descobriu sobre Dara e eu. Mas enfim, cheguei ao meu quarto e me senti tão aliviada que dormi um pouco depois. Se ela bateu na porta? Não sei, coloquei meus fones de ouvido e me joguei na cama, então não saberia se ela chamou por mim nem se quisesse.

Mas voltando à segunda da manhã, logo depois de silenciar meu despertador, levantei e abri a porta do quarto desconfiada, olhei ao redor, mas nenhuma viva alma estava acordada, por segurança fui até o banheiro pé por pé, na tentativa de não acordar ninguém. Tomei um bom e merecido banho, lavei meu cabelo, mas não tive tempo para penteá-lo, tinha que ser rápida, definitivamente não queria esbarrar com minha mãe. Havia programado o despertador para tocar meia hora mais cedo por causa disso, conheço muito bem minha mãe, ela deve estar quase passando mal por dentro de vontade de falar comigo, e esfregar na minha cara que me viu beijando a Dara. Pode ser um juízo errado meu, mas acho minha mãe um tanto homofóbica, só espero sinceramente que esteja errada quanto a isso.

Troquei de roupa, peguei minha mochila, meu trabalho de álgebra e desci para pegar qualquer coisa na cozinha antes de ir para a escola. Mas adivinhem só.... O diabo levantou junto comigo, estava preparando meu café da manhã. Levei um enorme susto ao vê-la, ali, acordada tão cedo e obviamente me esperando.

— Oi oi meu anjo! — Disse minha mãe, enquanto sorria para mim.

— Ma... Mãe! Acordou cedo hoje — Sentei-me na mesa, as pernas bambearam àquela hora—  Você não trabalha de manhã, hoje.

— Ah, eu acordei com o som do seu despertador, querida...não consegui mais ficar na cama, então decidi tomar café com você. Acho que vale a pena, já que você praticamente não te achamos mais aqui em casa, então eu tenho que aproveitar esses momentos.

— Ai, desculpa mãe...Eu sei que eu dev...

— Precisa se desculpar não...Também já fui jovem como você, filha. Entendo as emoções de dar uma “fugida” de casa.

— Hã?! — Perguntei para mim mesma, quase em tom de sussurro.

Minha mãe pôs uma torta quase inteira sobre a mesa, depois uma jarra de suco de uva, junto com um copo de leite com aveia, aquela coisa horrível que ela adora tomar de manhã. Vou ser sincera, que ao ver aquilo tudo me veio uma sensação do enjoo que subiu minha garganta, mas eu contive, até minhas feições tentei neutralizar, para não preocupar minha mãe, mais ainda. Ela partiu um pedaço da torta e entregou em um prato para mim, depois sentou-se de frente para mim e tomou um gole daquela bebida que havia preparado para si, queria “gorfar” novamente ao ver ela bebendo aquilo.

— Fiz essa torta com todo carinho pensando em comer junto com você, ontem... Mas você não apareceu— Disse minha mãe, não me olhando diretamente nos olhos.

— Desculpa— Disse eu dando uma mordida na torta, o doce dela era até suportável.

— Ah, tudo bem...

— Sério mãe? Está tudo bem, mesmo?

— Sim...Mas acho que você me deve uma conversinha... — Disse minha mãe apoiando os cotovelos na mesa.

— De...Devo?! — Perguntei como se não entendesse do que ela estava falando.

Fui salva novamente pelo acaso, meu pai apareceu bem na hora que minha mãe ia abrir a boca, a fazendo recuar. Ele parecia sonolento, mal havia olhado para nós, mas sua presença foi o suficiente para fazer minha mãe não continuar aquela conversa. Meu pai pegou uma xícara de café, apoiou o cotovelo na bancada da pia olhando para nós, que estávamos à mesa; mas como disse antes “não acho que ele esteja vendo muito”, o sono dele parecia ser mais forte que ele.

Como ficou um silêncio constrangedor depois disso, aproveitei a brecha para escapar daquela casa. Peguei minha mochila e fui para a escola, estava determinada a finalmente falar com Clarck sobre a gravidez hoje, então fui o mais rápido possível, mas chegando lá não vi Clarck do lado de fora, onde ele costumava fica. Resolvi ir para minha sala e descansar um pouco, teríamos aula de Sociologia juntos no segundo horário mesmo.

Era aula de Química, e apesar de ser uma matéria interessante, não conseguia se quer focar no quadro a minha frente, só estava de corpo presente naquela sala. Ficava olhando as horas no meu celular, que estava escondido debaixo da carteira, pensando em mil maneiras de falar com o Clarck, pois só tinha o desejo de falar com ele, mas não tinha nenhuma ideia de se quer começar a conversar com ele.

Então o tempo foi passando, os minutos foram vagarosamente me torturando até que finalmente o sinal me salvou com aquele som estridente. Assim que estava saindo da sala, esbarrei com a Dara e conversei rapidamente com ela.

— Então, já falou com ele? — Perguntou Dara.

— Não... Vou me apressar para conseguir sentar junto a ele nessa aula agora... — Respirei fundo e disse olhando o nada —  Acho que estou com medo, não sei nem se quer como falar oi para ele.

—  Olha para mim, Lily — Ela segurou minha mão e falou olhando em meus olho—  Acho que não tem jeito fácil de começar essa conversa, mas se ele te tratar mal Eu pessoalmente quebro a cara daquele idiota.

— Nossa, que encorajador! — Falei enquanto ria.

— Ah, e vou estar aqui, as gêmeas também...Então não pensa que você está sozinha, pois você não está.

Enquanto Dara falava vi Clarck cruzar o corredor próximo a nós, passou conversando com dois brutamontes do time de basquete, e estava indo para a aula, tinha que agir rápido se quisesse falar com ele nesse horário.

— Eu sei que não estou sozinha— A abracei rapidamente— Mas obrigada por sempre me lembrar disso. Agora tenho que ir, vi o Clarck passando.

Me aprecei o máximo que podia, mas o tempo parecia não acompanhar minha corrida, na verdade tinha a impressão de que ele se movia a passos curtos e lentos. Finalmente, quando cheguei na sala, a aula ainda não havia começado; ele estava sentado na carteira de sempre, ainda conversando com os dois brutamontes do time de basquete que eu tinha visto acompanhá-lo pelo corredor.

— Clarck— Disse eu tentando chamar sua atenção, mas ele estava entretido demais para conversar comigo — Clark! — Gritei dessa vez, ainda sem sucesso—  Clark Hughes Bernstein, quer fazer o favor de olhar para mim! — Gritei já sem paciência.

Os três que mal tinham percebido minha presença ali, finalmente me notaram, na verdade se assustaram com o grito mesmo, mas também acho que só assim para o Clarck perceber que eu o chamava.

— Lily?! — Perguntou Clark, um tanto confuso—  O que... Não, por que está falando comigo?

— Eu preciso falar com você, é sério.

— Ok...Eu acho... — Ele olhou para os colegas, depois voltou o olhar para mim —  Pode falar, sou todo ouvido.

— Na verdade, eu preciso conversar em particular com você.

— O que é tão grave que não pode ser dito na frente deles? — Disse Clarck rindo, mas depois que viu minha expressão séria, parou —  Eu vejo vocês no treino, ok? — ele falou para os brutamontes.

Os dois foram para suas salas, saíram me encarando, não que eu me importe com isso, mas é de certa forma um tanto incomodo ter olhos te olhando dessa forma. A sala de sociologia estava em reforma, sendo pintada para ser exata, então estávamos usando o laboratório de biologia enquanto a outra era reformada, mas aquela sala era muito legal, as mesas eram geminadas e sentávamos em dupla.

— Senta então! — Disse Clarck tirando a mochila da cadeira ao seu lado —  Sobre o que quer conversar?

Eu sentei meu, puxei o folego, mas aparecia que as palavras não queriam sair. O professor chegou agitado e pediu para todos desligarem os celulares e pararem de conversarem, eu apenas obedeci, virei me para frente e tentei evitar contato visual com ele, que ficou me olhando catatônico sem entender o que eu queria fazer.

— Olha, eu não sei o que você está tentando fazer. Mas se quiser “conversar”, eu estou aqui — Disse Clarck, antes de se virar para frente.

— Desculpa, é que está sendo difícil para mim conviver com isso — Sussurrei.

— Isso o que?! — Perguntou Clarck, em tom baixo.

— Olha, eu preciso falar com você, mas estou me sentindo envergonhada demais para falar isso AQUI e AGORA, perto de toda essa gente — Olhei para ele, acho que ele podia ver que estava aflita.

— Ok, não faço ideia do que você quer falar... Mas a gente pode conversar no intervalo, tudo bem para você assim?

— Não, eu preciso falar exclusivamente com você, pode ser no almoço?

— Por que você precisa falar “exclusivamente” comigo? Tá querendo voltar? Se for o caso, minha resposta é não.

— Não seu idiota, se eu quisesse voltar contigo não iria ter vergonha de falar isso com você, não acha?

—  Walker e Bernstein, prestem atenção na aula, por favor! — Gritou nosso professor.

Paramos de conversar no susto e voltamos nossos olhares para frente, mas passou um pouco, quando os ânimos do nosso professor pareceram acalmar um pouco, voltamos as conversar por meio de sussurros.

— Não sei... Vai que você ainda me quer? — Disse Clark levantando as sobrancelhas para mim.

— Ai, tenha dó! Você me traiu, acho que preciso de mais tempo para esquecer isso.

— Tá bom, me convenceu. Mas sobre o que quer falar?

— Vai ter que esperar até o almoço para saber.

— Não vai dar, eu combinei de ir almoçar com o time hoje. Vencemos os Anteaters esse final de semana, sabia?

— Não, parei de acompanhar os jogos de basquete desde que terminamos

— Sei não, você parece estar querendo voltar comigo... — Disse ele dando umas risadinhas.

— Leve-me a sério por favor, eu não quero— Ele parou de rir ao ouvir meu tom — Depois da aula, então?

— Pode ser.

Lily_Pov(Off)

+__________***__________+

Dara_Pov(On)

Não estava interessada em ver aula de literatura depois de ouvir a Lily no corredor, então decidi apenas matar aquela aula e ir para um lugar mais calmo, peguei um suco e um salgadinho qualquer na Vending Machine perto do refeitório e fui para o me esconderijo detrás do campo de futebol, me joguei lá, peguei meu fone de ouvido e tentei relaxar um pouco. Mas isso não durou muito, pois uns cinco minutos depois Alice me mandou um áudio no what’s app.

[Alice]: Dara, você está matando aula...Que feio!

Assustei ao ouvir aquilo, não tinha nem entrado no what’s app para dar a sugerir que não estava na aula, mas de alguma forma Alice sabia disso. Olhei ao redor esperando vê-la em algum canto sorrindo com aquele sorriso psicopata dela, mas procurei bastante e não vi nada. Peguei meu celular e digitei aflita:

[Dara]: Como sabe que não estou na aula?

[Alice]: Simples -.-

[Alice]: Estou na sua sala e você não está aqui!

[Dara]: Hã?! Como assim, o que você está fazendo aí?

[Alice]: Eu fiquei tão preocupada depois do que aconteceu sábado, então queria falar com você. Fui até a sala te procurar, mas você não estava aqui, esperei você voltar, mas esperei tanto que a professora chegou e eu fique presa, agora estou aqui no fundo da sala escondida com uma blusa de frio sobre minha cabeça, fingindo estar dormindo.

Dei uma crise de risos ao ler aquilo, mas precisei ler pelo menos três vezes para satisfazer minhas risadas. Eu não acreditava no que ela tinha feito, mas ao mesmo tempo não me tocou em nada sua história, na verdade, por que aquilo não me surpreendia? Parecia muito algo que ela faria.

[Dara]: Bem feito, saí com você uma vez e já me persegue.

[Alice]: Eu não estou te perseguindo, só estou preocupada!  

[Alice]: Aliás, o que tem de errado com você? Sério que você tem aula de Literatura Latino Americana?

[Dara]: Sim, por quê?!

[Alice]: Estou quase tendo os tímpanos perfurados de tanto ouvir espanhol (;¬_¬)

[Dara]: Novamente... B-E-M  F-E-I-T-O !!

[Dara]: E espanhol é uma língua linda, saiba você que espanhol é uma das línguas mais românticas do mundo.

[Alice]: Puff! não ganha do Francês NUNCA! (¬、¬)

[Dara]: Onde você arranja esses emojis? São tão legais.

[Alice]: Esse não é o ponto aqui, Dara você me procurou Sábado por um motivo, queria ajuda e é isso que eu estou oferecendo, por favor, me deixa te ajudar.

[Dara]: Na verdade, eu queria esquecer um pouco a Lily, e não tinha ninguém para desabafar, nenhum amigo que eu pudesse chorar as “pitangas” por assim dizer. O Sombra nem em casa estava, me senti sozinha e... e...

[Alice]: Queria um ombro amigo, eu sei disso, mas...

[Dara]: Eu disse para você não se preocupar, eu estou bem, juro!

[Alice]: Sério?! Dara, você foi na minha casa, nunca tinha ido lá, nem quando estávamos ficando, e apareceu lá com a cara inchada de tanto chorar. A gente bebeu e você me mostrou seus cortes, alguns recentes, como espera que acredite que você está realmente bem?

[Dara]: Fé na minha palavra...Talvez?!

[Alice]: Ai, esquece, deixa só eu sair daqui e a gente conversa.

Fiquei esperando uma resposta dela enquanto ouvia minha música preferida, alguns minutos depois ela me mandou outra mensagem.

[Alice]: Sua professora é louca! (¯ ヘ ¯)

[Alice]: Tentei sair escondida da sala dela, a mulher me jogou um apagador nas costas.

Li aquilo e dei uma crise de risos até ficar vermelha, mas como não rir? Ela estava presa na minha aula, tentou fugir e acontece isso, fico imaginando a cena, deve ter sido épico. despois de tanto rir e muito lutar, consegui vencer a fadiga da risada e finalmente respondi a pobre Alice.

[Dara]: Sério?!

[Alice]: Você ficou esse tempo todo sem me responder por que estava rindo, não foi?

[Dara]: Sim, e como não rir? Isso não é algo que acontece todo dia.

[Alice]: Malvada! Tá doendo essa desg#@%$, e minha costas estão brancas agora.

[Alice]: Ai, desisto...Te vejo no próximo intervalo.

Foram sábias palavras, mas não acho que você deu importância para elas...Já sei, você deve estar se perguntando, o que aconteceu comigo e a Alice sábado?

Acertei?!

Ahh, sabia...ÔH Povo Curioso!

Mas infelizmente não estou com a mínima paciência de contar o que aconteceu, nem o quanto eu chorei ou quantas garrafas de vinho seco Alice e eu bebemos sábado; e eu nem gosto daquela bebida horrível, credo! Vou resumir, para você não se contorcer de curiosidade.  Não vou mentir, quando a Lily falou que não sabia se estava comigo por “curiosidade ou carência emocional”, doeu sim, mas doeu pra car@#%$ ouvir aquilo! Pois eu me lembrei de quando a gente ficou e ela pediu para eu esquecer que tínhamos ficado, e nessas duas vezes que ela me machucou “não intencionalmente” eu fiz a mesma coisa, sorri, apesar de ter vontade de falar umas poucas e boas para a Lily, eu fiquei calada e isso também me corroeu por dentro, acho que só não queria piorar mais ainda a situação.

Então eu a deixei na casa das gêmeas e fui para casa chorar um pouco, peguei uma garrafa de cerveja e esperei o Sombra voltar, mas era quase meio dia e nenhum sinal dele, tentei ligar e nada de achá-lo. Nem mensagem de texto ele respondia, considerei a possibilidade dele não ter sido sequestrado e só estar numa festa ainda, eu estava certa pois lá para as três da tarde ele deu sinal de vida. Eu bebi mais ainda por ele não estar lá.

Bem, eu ainda conseguia formar um quatro com as pernas, mas não estava lá tão bem, pois tive a brilhante ideia de falar com a Alice pelo celular, só que no meio da conversa a minha bateria acabou, o que eu fiz? Se você disse colocar o celular para carregar, que seria a resposta mais óbvia...Errou! Eu peguei meu celular, coloquei no bolso e fui andando até a casa da Alice, aprontei uma choradeira na porta dela (não me orgulho disso) e por fim acabou nós duas no sótão da casa dela enchendo a cara com a única coisa alcoólica que tinha lá, vinho tinto seco.

E eu me abri com ela, não como tinha me aberto com a Lily, mas disse que saí da casa da minha mãe pois estava ficando doente, só que além de dizer, a bêbada quis mostrar. Eu realmente disse a verdade para a Lily quanto ao Irving e eu ter ficado muito mal depois do acontecido, mas não disse toda a verdade, eu não só estava me sentindo depressiva, eu entrei numa depressão tão grande que dói dizer isso, mas não queria mais viver. E recorrentemente me cortava, geralmente em meus braços, mesmo sob remédios e tendo apoio, nada parecia melhorar. Até que um dia eu vi minha mãe chorando enquanto limpava meus cortes e mesmo sem dizer nenhuma palavra aquilo me tocou, acho que me fez acordar, eu não estava machucando só a mim, mas também minha mãe, o Sombra e todos que tinham apresso por mim.

Fui aos poucos melhorando, até que decidi sair daquela cidade, eu estava melhor, mas me sentia presa, não queria esbarrar com aquele traste na rua, muito menos minha ex, e estava tão animada com a ideia de poder ver mais o Sombra, que minha mãe não pôde dizer não. Mas acho que ela também só me deixou ir, por conta dele; mamãe diz que ele é meu anjo da guarda tatuado, não duvido que seja, ele já fez tanto por mim que nem servindo eternamente eu consigo pagar minha dívida.

Voltei para cá e então me lembrei de como a vida era um saco perto do meu pai e do meu irmão e comecei a ter recaídas, comecei a me cortar novamente, mas dessa vez estava me cortando nas pernas, para não levantar suspeitas. Aliás, acho que mesmo se cortasse meus pulsos na frente dele, duvido que meu pai veria! Ele estava tão preocupado em brigar comigo que acho que se esquecia do simples fato que eu estava lá, e cada briga era um corte novo e várias lágrimas raivosas caídas. Graças aos céus o Sombra me tirou daquela casa de loucos!

Enfim, eu contei para a Alice que tinha tido depressão e tive a pior ideia do dia, como se acabar com um engradado de vinho caro não fosse suficiente, eu falei sobre me cortar e para piorar tudo ainda mostrei as cicatrizes, literalmente. Acho que ela que estava bêbada ficou sóbria na hora, ao ver o que eu tinha feito a mim mesma, mas ela ficou tão preocupada e desesperada que acho que nem escutava minhas tentativas de acalmá-la.

Por alto foi isso que aconteceu no sábado, queria dizer que não foi nada de mais, um dia como qualquer outro, infelizmente não foi, acho que me expus demasiadamente no sábado. Mas o que importa é que hoje é segunda e minhas preocupações são outras, tipo falar com a Lily e pensar em alguma forma e acalmar a Alice.

Dara_Pov(Off)

+__________***__________+

 

Lily_Pov(On)

Mal almocei de tão ansiosa que estava para falar com Clarck, fiquei dedilhando a mesa como se fosse um piano, enquanto o olhava do outro lado do refeitório. As meninas conversavam sobre algo, mas eu mal as ouvia, elas estavam rindo e eu não fazia ideia sobre o que riam.

Então os horários foram passando e assim que o último sinal bateu eu corri o mais rápido que podia até a sala que sabia que ele teria o último horário, nunca tinha parado para pensar nisso, eu sabia a grade horária inteirinha dele e ainda lembrava disso. Os alunos ainda não tinham saído então senti-me mais calma, mas foi saindo aluno por aluno daquela sala, todos passando por mim e nenhum era o Clarck. Quando a passagem da sala finalmente ficou limpa eu pude passar, tinha a esperança de ele estar lá me esperando, não estava.

Eu sabia que ele estava tentando fugir de mim, mas não queria acreditar nisso, então o procurei. Fui até a quadra de basquete, ele não estava lá, passei na sala do clube de xadrez, ainda nada, então decidir ir olhar no lugar onde ele costuma estacionar seu carro. O carro não estava lá, ele realmente fugiu de mim.

Estava tão nervosa, mas mesmo assim tentei me acalmar e voltei para sala de xadrez, tinha prometido uma partida ao Martin na semana passada, ele estava me esperando com um sorriso no rosto quando cheguei lá.

—Podemos começar? —Disse ele puxando a cadeira para mim.

—Ah, claro...Acho que é disso que estou precisando.

—O que?! Perder para mim? — Podia ver o com brilho nos olhos do Martin — Brancas começam, pode ir.

Eu estava até focada no jogo, mas minha cabeça não parava de girar, então em determinado momento foi impossível me conter e acabei falando do Clarck com o Martin, tadinho, ele não tinha nada a ver com isso e ainda teve que me aguentar.

—Eu não acredito que ele fugiu de mim — Disse eu matando seu bispo esquerdo.

—Ele quem?! — Falou Martin assustado — Isso é uma técnica nova para me desconcentrar?

—Ai, não é que o Clarck fugiu de mim hoje e... Esquece, você está certo, pensar de mim só vai me tirar de foco do jogo, e você também.

—Espera... Xeque! — Disse Martin abrindo espaço com sua torre, ficando de frente para meu rei — Mas pense que você estivesse com a Dara.

— E estou, mas isso é diferente — Troque minha torre direita com meu rei — Roque!

—Hum... — Ele parou e olhou suas possibilidades no tabuleiro — Então por que está atrás dele?

—Precisava falar com ele — liberei meu bispo esquerdo — Acho que é sua vez!

— Mas por quê? O que era tão importante que precisava falar com seu ex?

—Ai, é pessoal.

—Ok... Acho! — Ele estava tão preocupado em dar Xeque que esqueceu da minha rainha, que estava solta — Mas só uma pergunta, por que ele fugiu de você?

—Acho que ele pensa que quero voltar com ele, só pode — Alinhei meu bispo de forma que pudesse proteger minha rainha na vertical quando armasse minha jogada — Ridículo!

—Hum... Não faz sentido... — Disse ele matando a torre que protegia meu rei — Xeque!

— Eu sei, muito infantil — Meu rei poderia acabar com a torre dele, mas não queria que ele percebesse minha jogada, então apenas fui para a vertical, onde a torre dele não podia ir — A não ser...

—A não ser que?! — Ele levou sua torre para frente, acho que esperava me encantoar de alguma forma, mas não conseguia ver essa jogada — Xeque!

—A Dara deve ter falado para ele, só pode, só ela sabia.

—Hã?! A Dara sabia do que? — Meu cavalo estava no ângulo perfeito para capturar a torre dele, assim fiz a jogada e acabei como seu xeque — Noh, onde estava esse cavalo que eu não o vi antes?

— Já disse, é segredo!

—Tá bom, não vou mais perguntar — Ele moveu sua Rainha na tentativa de fazer outro xeque, abrindo espaço para minha jogada — Mas...

—Eu estou grávida, Martin — Disse eu matando seu cavalo esquerdo —Xeque Mate!

—É o que?! —Disse ele assustado, não sei se é pelo fato de eu ter ganhado dele ou por ter dito que estava grávida.

Lily_Pov(Off)


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