Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 29
Ela é só sua amiga?


Notas iniciais do capítulo

Eu tinha realmente desistido da , por mais de um ano eu fiquei sem dar continuidade a ela. Mas um dia uma amiga minha me mandou um texto "dela" que ela queria uma opinião, então ao bater o olho no texto eu vi que era um pedaço de Ah Se você soubesse. E eu me senti feliz por isso, pois eu me senti envolta pela minha própria , até ver que era minha. Então eu decidir voltar para finalmente poder dar o final que ela merece.

Sugiro que para quem já acompanhava a , leia novamente, nem eu lembrava de onde tinha parado 0.o

Então é isso, boa leitura! ^~^



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Lily_Pov(On)

 

Dara estava preparando um café, enquanto isso eu dava descarga em minha janta na privada da casa dela, tentei ser silenciosa para ela não perceber e nem se preocupar, mas também acho que não faz diferença já que parece que enjoo e vômitos são coisas comuns para gestantes. Enquanto estava lavando meu rosto, olhei para meu reflexo e pensei:

—Acho que se fosse japonesa, provavelmente já teria cometido Harakiri.

 Sei que não é o melhor dos pensamentos para se ter a essa altura do campeonato, mas quer saber, minha sincera vontade, do fundo do meu coração é não voltar para casa. Sei lá, já “desonrei” suficientemente minha família, acho que nem precisava voltar para ela. Mas como minhas coisas e meu dever de segunda estão todos lá, o jeito é voltar e a aceitar que eu também não tenho para onde ir e torcer para a sorte estar do meu lado.

Saí do banheiro e fui até o balcão da cozinha onde Dara estava tomando café, sentei-me ao lado dela e encostei minha cabeça em seu ombro, mas isso não durou muito, já que eu quase caí da cadeira logo em seguida.

—Você está bem? — Perguntou Dara— Você demorou tempo demais no banheiro.

—Estou...só enjoo mesmo.

—Nossa, você está realmente grávida, começa com enjoo, depois passa para os desejos bizarros... —A interrompi.

—...É, e depois de nove meses você vai parir o Alien—Dara soltou uma risada tímida, mas se reprimiu colocando a mão na boca—Pode rir, eu deixo.

—Mas quer saber, talvez não seja uma coisa tão ruim assim Lily.

—Tá, ser mãe não é ruim...Só que ser mãe agora, na minha idade, não vai ser fácil.

—Qualquer coisa, você exporta o “Alien” para passar um tempo na casa do pai e vai ser feliz, meu irmão não tem grande futuro mesmo.

—Que maldade Dara, meu filho não precisa passar por um maltrato desses.

—Que evolução—Dara deu um riso curto—Se fosse algumas semanas atrás, provavelmente você ainda estaria defendendo o des%$#&@%# do meu irmão.

—Pior que você está certa, mas sei lá, as coisas mudam.

Sorrimos uma para outra e ficamos em silencio por um momento apenas fazendo isso, até que meu celular, que estava em meu bolso começou a vibrar. O peguei e vi a notificação de 6 ligações não atendidas, era minha mãe me procurando. Eu queria apenas evitá-la o máximo que eu podia, mas também não poderia fazer isso por muito mais tempo, tenho medo que eu chegue em casa e ela brigue comigo ou algo parecido, não tenho psicológico para ouvir desaforos no momento. Mas esconder de minha mãe também não é o certo a se fazer, ela não deixa de ser minha mãe, então apenas mandei uma mensagem dizendo que estava indo para casa.

—Dara, posso te pedir um favor?

—Ué, manda, se eu não puder pelo menos eu tento.

—Passa comigo na minha casa? Não quero ficar lá, mas eu ainda preciso pegar minhas coisas para fazer meu trabalho e eu não quero estar sozinha lá, estou com medo do que minha mãe possa fazer ou dizer para mim.

—É claro, te levo lá.

—Obrigada, depois eu sei lá...Vou de a pé para a casa das gêmeas, mas não quero estar sozinha lá quando entrar.

—Sem problemas Lily, te levo na sua casa e na casa das gêmeas depois se quiser também.

—Não, vou estar abusando demais da sua bondade.

—Vai nada—Ela sorriu para mim e se levantou logo em seguida—Vou me trocar, termine de comer enquanto isso.

Meia hora depois já estávamos na porta da minha casa, Dara e eu estávamos paradas em frente ao portal de entrada, estava procurando minhas chaves e demorando propositalmente a achá-las, não me sentia confiante o suficiente para fazer isso, por mais simples que parecesse.

—Mãe?! —Gritei assim que abri a porta, mas ninguém respondeu.

Soltei a mão de Dara, olhei na sala, na cozinha e na sala de visitas, ninguém estava lá, mas também não tornei a chamar para ter certeza. Subimos e assim que entrei no meu quarto tranquei a porta, Dara se jogou na minha cama e deu um gemido logo em seguida.

—Ai, que colchão duro, como você consegue dormir aqui garota?

—Ah, é ortopédico, faz bem para as costas.

—Faz bem o car@?&%, quase quebrei minha coluna nessa tabua aqui.

—Ai Dara, você é exagerada demais—Disse eu, rindo.

A folgada é tão acomodada que mesmo reclamando da cama, não moveu um musculo dela; então, para implicar peguei minha mochila e a joguei “sutilmente” sobre Dara, que se levantou no susto. Olhei para ela e sua cara manhosa, me fez rir novamente. Voltei novamente minha atenção para meu objetivo e abri meu guarda roupa, peguei três pares de roupas, junto com sapatos; depois fui até minha escrivaninha, peguei meu caderno e baixei minhas apostilas do computador em um pendrive. Já havia pegado tudo que precisava, havia sido mais rápido do que eu esperava e fácil também.

Já estávamos indo embora, praticamente descendo as escadas quando a voz da minha mãe fez um arrepio correr da minha nuca até a ponta dos dedos.

—Lily, vem cá! —Minha mãe gritou da cozinha.

—Já vou, mãe—Joguei minha mochila aos pés da escada e pedi para Dara me esperar na moto.

Fui na coragem mesmo, tentando controlar o enjoo que havia sentido por nervoso. Quando cheguei à cozinha, minha mãe estava picando maçãs, acho que iria fazer uma torta ou algo do gênero.

—Filha, você sumiu ontem, o que houve? Está bem?!

Demorei um pouco a responder, foi difícil a voz sair.

—Eu tinha combinado de ver uma maratona de filmes de terror com as meninas, desculpa, esqueci de te falar.

—Ah bom, mas por que não me ligou hoje cedo? Estava preocupada.

Gelei de novo, não tinha o que responder, acho que travei por alguns segundos, mas não sei dizer ao certo quanto tempo minha cabeça ficou nesse estado; foi quando senti aquelas mãos frias da Dara tocando meu ombro e por um momento quis gritar por dentro.

—Oi! —Disse Dara, se intrometendo (Graças a Deus!) na conversa minha com mamãe—Tudo bem...Com a senhora?

Minha mãe ficou em silencio, mas não era preciso palavras para ver a evidente cara de desgosto dela, ela analisou Dara de cima a baixo a julgando com seus olhos, acho que Dara só não lhe causou espanto pois ela já a havia visto anteriormente.

—Lily, quem é sua amiga, você não me apresentou ainda—Minha mãe parou de cortar as maçãs e apontou para Dara com a faca.

—Essa...Essa...Essa é a Dara, mamãe.

—Hum, estranho, estuda junto com você?

—Sim...Sim, mãe... Ela é irmã do Clark, aliás.

Minha mãe estava tentando fazer cara de samambaia para nós, mas podia ver que ela não estava gostando daquela conversa, era possível ver isso por detrás daquele sorriso falso. Mas quando disse especificamente a palavra “Clarck”, ela ficou catatônica, aliás, minha mãe ainda não sabe que Clarck e eu terminamos, e acabei de me dar conta disso quando falei o nome dele também. Peguei desesperadamente a mão de Dara nesse meio tempo, senti a necessidade disso. Depois de um tempo processando as ideias minha mãe simplesmente disse:

—Hum, olhando um pouco dá para ver as semelhanças sua com o Clarck. Prazer em te conhecer, Dara! —Minha mãe falou de forma seca, respirei de forma discreta em meio ao alivio que senti.

—Igualmente. Senhora—Respondeu Dara, um pouco sem jeito.

—Então Lily, vão sair novamente? —Perguntou minha mãe voltando o olhar para suas maçãs.

—Sim, como adivinhou? —Apertei fortemente a mão de Dara nesse momento.

—Sua mochila está muito condimentada para ficar aqui, não acha? —Novamente respirei aliviada.

Que mochila?! Comecei a caçar com os olhos minha mochila, rapidamente percebi que Dara a segurava com a mão que eu não estava quebrando em meio a desespero.

—Ah sim, vamos para a casa das gêmeas, temos muito trabalho a fazer.

—Vão voltar de novo para lá, não acabaram de sair?

—Não, ontem a maratona foi na minha casa, senhora.

—Ah é Dara, e onde você mora? —Minha mãe perguntou já encarando Dara.

—Bem... —Dara iria falar, quando eu a interrompi.

—Mãe, estamos de saída quer algo? —Disse eu já saindo e puxando Dara.

—Não... —Ela voltou novamente seu olhar para as maçãs—Vai com Deus, filha.

—Ok, fica com ele também.

Estávamos saindo, eu me sentia aliviada por ela não ter falado nada, mas quase na porta quando minha mãe disse da cozinha:

—Tem certeza que ela é só sua amiga, Lily?

Um suor frio correu minha coluna até minha pelve e eu apenas respondi no impulso:

—Você viu alguma coisa, não foi?

—Mais do que eu queria ter visto e agora sei mais do que desejaria saber—Respondeu minha mãe, ainda da cozinha.

—Ok.

Saí muda depois disso, tranquei a porta em silêncio, sei que Dara falou comigo enquanto íamos para a moto, mas estava tensa demais para responder, na verdade mal a escutei, estava longe. Um zumbido irritante tampou minha audição, permaneci em silencio até a metade do caminho, penso que minha pressão deve ter se descontrolado nesse meio tempo, só fui voltar a mim quando um enjoo fortíssimo me fez acionar meus reflexos normais.

—Dara, para a moto agora!

Ela parou sem questionar, estávamos ao lado do gramado de uma casa qualquer, não consegui aguentar chegar numa lixeira, que aliás eu nem tinha visto de onde estava, acabei vomitado ali na grama mesmo. Dara estacionou o mais rápido possível para me ajudar, ela foi tão atenciosa, puxou meu cabelo para trás e o amarrou com um elástico de cabelo que estava a vista em minha mochila.

—Calma Lily—Dizia ela passando a mão nas minhas costas.

—Onde eu estava com a cabeça?! —Disse limpando minha boca— Eu disse tudo que não podia falar.

—Bom, pelo menos foi melhor do que a gente imaginava. Quer dizer, foi melhor do que eu pensei...

—Melhor do que a gente imaginava?! Dara, eu contei que você é irmã do Clarck, mamãe não sabe que nós terminamos e deve estar pensando mil e uma porcarias nesse momento.

—Tá, mas pelo menos você foi franca...

—Só faltava eu contar que estou grávida também, no meio do nervosismo. Sem contar que eu estava certa, ela viu sim a gente se beijando—Outro vomito subiu até minha garganta e eu novamente não consegui segurar.

—Lily, calma! Sei que você está nervosa agora e eu também estou, mas vamos conversar sobre isso depois, tenta se acalmar.

—Eu sei, mas por que tudo isso tinha que acontecer justo agora? Tá tudo indo à mer#@ na minha vida e pra piorar, gravidez indesejada, meu namorado me traiu e justo agora eu tinha que me envolver com uma garota!

—Mas está tudo bem Lily, vai dar tudo certo.

—Não você não está me entendendo. Isso é errado, eu estou com a irmã do meu ex e eu não sei dizer se é pela carência emocional que eu estou sentindo ou se é por curiosidade. Droga, sinto muito nojo de mim por isso! —Dara ficou boquiaberta olhando para mim, caiu a ficha da besteira que eu tinha falado assim que fechei a boca.

Droga Lily, além de ferrar com tudo, ainda tinha que agredir não intencionalmente a única que parece estar realmente do seu lado no momento, tá de parabéns, idota!”.

O nojo é de mim, tá? —Dara não olhou para mim —Dara... —Tentei pegar sua mão, mas ela recuou—Dara, desculpa, não falei por querer. É que isso tudo tá me deixando...

—Não precisa me dar explicações—Disse Dara me interrompendo—Entendo que está sob tensão—Ela levantou e sem olhar continuou falando—Vamos para a casa das gêmeas, depois a gente conversa.

E assim, com poucas palavras (todas mal colocadas, diga-se de passagem) eu consegui acabar com meu sábado, Dara não falou um “A” o resto do trajeto e quando chegou à casa das gêmeas foi embora dizendo uma desculpa esfarrapada; eu não a culpa, faria o mesmo se fosse eu. Queria chorar, mas nem isso pude fazer, quando cheguei contei tudo o mais sucinto possível para Megan e Magda, pois alguns minutos depois seus respectivos namorado e namorada chegaram. Magda e Martin haviam ganhado o prêmio de mil reais na exposição de robótica que haviam participado, estavam todos tão felizes, não podia estragar isso. Droga, nem lembrei dessa exposição, que amiguinha de merd@ que eu sou.

A comemoração só durou até a hora do almoço, quando os casais simplesmente foram para os cantos e eu fiquei ali, sozinha, segurando vela e confabulando internamente enquanto fazia meu trabalho de Álgebra, que não demorou mais que duas horas para resolver. E assim foi meu sábado, quando Fernanda e Martin saíram um pouco, expliquei tudo que tinha acontecido para as gêmeas e elas foram muito gentis, de várias maneiras: disseram que podia ficar o tempo que precisasse, me deram conforto em meio aos abraços quebra costelas da Megan (Se bem que eu merecia isso depois de quase quebrar a mão da coitada da Dara também), e o principal, estavam dispostas a fazer de tudo para me animar.

Por volta das 19 horas as gêmeas e eu saímos a noite para jogar boliche, quer dizer, elas, Fernanda, Martin e eu. Saí apenas por força de insistência das gêmeas, porque nem roupa direito eu tinha, estava usando uma calça de malha, uma blusa qualquer e rasteirinhas que a Megan me emprestou e eram um número maior que o meu. Obviamente eu fiquei segurando vela no meio do grupo (Novamente), mas eu também não liguei para isso, já que não parava de olhar meu celular, esperando em um desejo fútil que Dara estivesse online e que eu tivesse coragem para chamá-la. Isso não aconteceu, ela se quer pegou no celular desde do dia anterior, mas acho que também não tinha coragem naquele momento; então me sentia além de idiota, uma covarde.

—Que sábado agradável este que estou passando—Disse para mim mesma, enquanto olhava pela milésima vez meu celular.

—Qual é Lily, vem jogar com a gente—Disse Martin me puxando para perto do grupo, só estava tentando ser legal comigo.

—Não obrigada, estou bem aqui—Disse tentando sorrir de forma meiga...Acho que não funcionou muito.

—Vamos lá, vai ser divertido... —Disse Martin, novamente me puxando.

—Miga, esquece esse celular por um instante, esquece a Dara e vem se divertir um pouco—Disse Magda, que quase deixou cair a bola de boliche que segurava ao falar comigo.

—Ué, você e a Dara estão brigadas? Eu não sab... —Disse Fernanda segurando a bola de boliche no reflexo, evitando que Magda se machucasse—Cuidado, amor—Disse a loira, voltando o olhar para sua namorada.

—Ah, a gente está se pegando... —Respondi à pergunta não querendo entrar em muitos detalhes.

—Miga, é bem mais complexo que isso—Disse Megan se sentando ao meu lado.

—E o que você quer que eu diga? já cometi erro demais só por hoje.

—Sei lá, não acho que ela seja só uma ficante —Disse Magda limpando suas mãos em um pano amarelo— Quer dizer, poxa, você parece gostar tanto dela.

—Ai, é complicado... —Respondi meio que com raiva.

—Hahaha....Sempre é.... Veja bem, meu avô costumava dizer que a mulher é a melhor coisa que Deus já inventou, mas ao mesmo tempo é o demônio—Disse Fernando rindo debochadamente de mim—Mas isso não quer dizer que não valha a pena namorar uma.

—Sim...Ainda mais que você a quer já faz tanto tempo—Disse Magda me lembrando de algo que eu já tinha esquecido—Você literalmente sonhou com ela durante o acampamento, lembra?

É verdade, eu já havia esquecido, eu a quero faz muito tempo, tentei não pensar muito naquilo àquela hora, pois sentia que aquilo iria me corroer ali mesmo se eu deixasse; então sedi pedido de Martin e tentei me divertir, foi uma tentativa falha, mas pelo menos deixei eles menos preocupados. Como já haviam dito, as gêmeas fizeram a caridade de me deixar dormir na casa delas, Fernanda deixou Megan e eu em casa, mas Magda não nos acompanhou, pois preferiu passar o resto da noite com a namorada. Pessoalmente acho que Megan e Martin podiam ter feito o mesmo, mas Martin é um menino certinho demais para descumprir um combinado, ele falou para o pai das gêmeas que voltavam à meia noite em ponto, e às vinte e três horas e vinte minutos ele já estava nos deixando loucas falando para voltar. Mas retornando a minha estadia, fiquei feliz de dormir junto a Megan, senão eu não teria lugar para dormir sem elas em casa e seria obrigada a voltar para minha própria casa. Se não tive nem cara para falar com a Dara, que era mais questão de um pedido de desculpas, imagine se tinha cara para voltar e ver minha mãe, não agora, não hoje.

Quando fomos dormir era quase 01:00, quer dizer, Megan dormiu, eu por outro lado fiquei revirando no colchonete que Megan me deu, tentando desesperadamente não encostar no chão frio debaixo de mim. E assim passei meu tempo, noite em claro, cabeça à mil, sentindo um frio chato.

O que tinha dito para Dara reverberava em minha mente e aquilo estava me enlouquecendo, estava pensando em tudo que havia acontecido nesse último mês. Dara tentou me animar de todas as maneiras possíveis quando terminei com o irmão dela, tão doce e prestativa, então eu beijei ela e daí em diante as coisas começaram a ficar esquisitas em um curto prazo de tempo e mesmo assim ela ainda continuou do meu lado. Foi coisa demais para minha cabeça, mas acabei chegando a um questionamento: será que ela não está comigo por pena, pois isso é possível, não? Ai que terrível, só de pensar que eu sou a culpada por ela ter largado a Alice eu me sinto suja, e mesmo assim eu não deixo de querer ela, o que piora tudo, definitivamente sou eu a dro$@ de garota aqui, não a Dara.

Acho que esse é o problema, eu gosto dela e não admito isso para mim, eu não me aceito. Só Deus sabe quantas vezes pensei nela enquanto estava com Clarck, na verdade se brincar, até ele perdeu o interesse nesse meu “drama” interno.

De tanto pensar acabei desistindo de dormir, peguei meu celular para ver a hora, era “apenas” 4:20 da madrugada. Me enrolei no cobertor e fui olhar meu what’s app, fiquei mais de meia hora apenas olhando a foto do contato dela, quando estava para sair do aplicativo e tentar voltar a dormir, vi a seguinte frase debaixo do contato da Dara:(digitando...).

Isso me deu esperanças, significava que Dara estava acordada e queria falar comigo, mas minha felicidade foi logo substituída por uma leve decepção, já que ela desistiu de falar comigo e ficou off-line novamente. Sabia que Dara já havia levantado àquela hora, tentei me acalmar e bolar algo para falar com Dara, digitei várias vezes um pedido de desculpas, mas nada me agradou, acabei me descontrolando e fazendo uma besteira. Levantei e do jeito que estava mesmo resolvi ir até a casa da Dara, apenas peguei um casaco fino e saí da casa das gêmeas. Sabia que a casa dela não era muito longe, tinha que desesperadamente me desculpar com Dara, já estava surtando.

Quando cheguei ao prédio dela, abri a porta com a chave secreta que ela me mostrou onde enterra no vaso do vão de entrada, para emergências, subi o elevador ansiosa e bati descontroladamente na porta do apartamento. Quando cheguei, tentei me controlar a não gritar para não acordar a vizinhança toda, mas acho que pelas batidas desesperadas metade do prédio deve ter acordado.

—Car@&, tava dormindo Dara... —Foi sombra que abriu a porta, claramente havia acordado ele—Ah, Lily, o que está fazendo aqui uma hora dessas? —Perguntou Sombra bocejando.

—Cadê a Dara?! Desculpa te acordar, mas é urgente, eu preciso falar com ela.

—Ah... —Ele bocejou novamente—Deve estar no terraço uma hora dessas.

—Ai, obrigada... —Disse eu já correndo.

Subi as escadas correndo mesmo, não tinha tempo de esperar o elevador lerdo da Dara funcionar. Mas ela não estava lá, minha vontade naquele momento foi gritar, mas contive meu desespero em um simples chute na porta ao meu lado. Havia uma espreguiçadeira que tenho certeza que foi Dara que a colocou lá, e sem lugar para ir me joguei naquele plástico frio, tentei aceitar que ela estava magoada e que possivelmente não falaria comigo tão cedo. Mas então a porta de acesso ao terraço rangeu, tive certeza que só podia uma pessoa. Quando virei meu olhar vi Dara segurando uma sacola de papel da padaria, mal dei tempo de reação para ela, saí correndo e a abracei, acidentalmente fiz ela soltar os pães que carregava, mas acho que isso ela me perdoa.

—Quer saber, eu sou uma droga de ser humano!

—Lily... —Nem deixei tentar falar ela.

—Porque foi EU que escolhi um namorado de merda, EU que não fui cuidadosa o suficiente, se minha vida está assim agora é tudo culpa MINHA. E você Dara, tudo que fez foi estar do meu lado e me dar apoio, você está sendo demais!

—Já acabou?! —Perguntou Dara se livrando gentilmente de meus braços e recolhendo a sacola que havia deixado cair.

—Não, na verdade ainda tenho muito para falar.

—Ok, mas não precisa—Disse Dara sorrindo—Sei que não falou aquilo por mal, eu entendo, só...Sei lá, percebi também que estou te sufocando demais e achei melhor te dar um tempo para esfriar sua cabeça, ficar um pouco com as gêmeas, sem eu te perturbando. Sabe, um tempo para relaxar.

—Relaxar como?! A culpa me corroeu o dia inteiro, a noite também, tanto que nem dormi. Desculpa Dara, não queria te magoar. E não, você não me sufoca de forma alguma.

—Não magoou não... Quer dizer, na hora admito que doeu um pouco, mas logo passou.

—Viu, perdão Dara...Eu sou uma idiota mesmo—A abracei novamente—E se tem alguém aqui que sufoca alguém, essa pessoa sou eu, que te dou mais trabalho que tudo.

—Dizer isso, com certeza é idiotice. Tudo que eu mais quero estar junto de você, se eu poder te ajudar, já fico feliz.

Nos olhamos por um momento e mesmo ela sorrindo para mim, senti que não estava tudo bem, talvez mais por minha parte que por ela. Não parava de pensar no quanto eu estava sendo um incomodo para ela.

—Ah Dara, eu sei que você não quer falar sobre isso...Mas eu preciso muito saber...Você deixou a Alice para ficar comigo?

—Eu... Eu não acho que queira responder isso agora, acho que ainda é meio difícil para mim falar sobre ela.

—Você não quer nem tentar? Porque você não vai me magoar se falar que gosta dela, eu vou até entender, na verdade.

—Na verdade, é muito pelo contrário—Ela olhou para o chão, puxou o fôlego e depois voltou o olhar para mim —Vamos lá então...  Quer saber, eu nunca achei que te diria isso, mas essa é a verdade, eu comecei a sair com ela para não pensar em você, porque quando eu a conheci foi quase ao mesmo tempo que eu comecei a sentir atração por você. E você até algumas semanas era namorada do meu irmão, mas agora...Puxa, a gente quase transou noite passada.

—Oi, como assim?!

—Eu sei que você que você pensou muito enquanto se sentia culpada por mim, desnecessário, mas tudo bem...O ponto é que, eu também pensei muito. E percebi que eu devo ter forçado muito a barra com você, por várias vezes eu te vi em situações diversas e desejei te beijar, mas não podia.

Aquilo explodiu minha mente, na verdade isso está acontecendo muito ultimamente, mas tudo bem, ainda não se tornou uma coisa comum para mim. Me lembrei na hora do que Magda tinha dito do acampamento, eu realmente havia sonhado que a beijava, isso deve contar para alguma coisa, não?

—Ok, você está sendo sincera comigo? —Ela acenou positivamente — E desde quando você gosta de mim?

—Não sei dizer, já faz um tempinho.

—Dara, posso te contar uma coisa?

—Claro, se quiser.

—Pois... —Dessa vez foi eu que puxei fôlego— Eu acho que comecei a sentir atração por você desde o acampamento, e isso foi crescendo até tornar essa incógnita que é hoje. Mas a incógnita não é do sentimento em si, é... O que eu sou?! A verdade é que eu fiquei feliz do Clarck ter me traído, pois uma hora ou outra eu sinto que iria acabar ficando com você, pois eu estava pensando em você com frequência. Puxa, eu cheguei a sonhar que estávamos juntas, te desejar, e aquele dia no parque .... Nossa, quando eu te vi beijando a Alice, eu tentei fingir que estava tudo bem, mas aí olhava para o lado e via o tanto que ela sorria ao seu lado, chegou um momento que eu tive que sentar um pouco e respirar para não chorar. E então você ainda veio tentar me animar.

—Espera, o que?! —Perguntou Dara incrédula.

— Sim...Mas eu não terminei de falar ainda. Dara, eu não estava triste pelo Clarck ter me dado um bolo, mas estava triste pelo fato de você estar feliz ao lado da Alice; eu dei graças aos céus por ele ter chegado um pouco depois, se não, creio que te beijaria e então seria eu a traidora da história, se bem que isso nem se compara ao que Clarck fez....Mas eu iria me sentir culpada de todo jeito.

Dara cada vez mais foi ficando estática à minha frente, quando comecei a falar ela simplesmente acenava a cabeça sorrindo, quando terminei de falar ela estava com a boca aberta, imóvel. Chamei sua atenção e por fim ela apenas sorriu para mim, não soube interpretar aquilo então a indaguei, em sua defesa ela me disse:

—Nunca pensei que isso pudesse um dia ser reciproco, eu te desejava em segredo enquanto você fazia o mesmo? — Dara deu uma risada nervosa— Para ser sincera, por que não nos beijamos a mais tempo?

—Acho que ambas queríamos, mas ao mesmo tempo nos censurávamos.

—Quer saber, eu me pergunto o mesmo.

—Mas eu pergunto também, por que não fazemos isso agora? —Sorri e tirei uma mecha de cabelo que cobria exatamente o olho da Dara.

Nos beijamos, nada muito especial, estava tudo meio estranho ainda, mas depois encostei minha testa na dela e nossos olhos se encontraram em meio àquela proximidade, e eu a vi sorrir. Me afastei e sorri de volta, o sol estava nascendo atrás de mim e a luz que batia em Dara a fazia brilhar aos meus olhos; aquele momento era só nosso e era lindo, passava silencioso e queria que fosse eterno, mas como não pode ser, com certeza será um momento que eu vou guardar na memória.

—Então é assim?! —Perguntou Dara em um tom de ironia— Você faz uma coisa estúpida e pede desculpas com um beijo?

—Hum... Me parece um bom pedido de desculpas, o que você acha?

—Não...É muito fraco.

—Então o que tem em mente?! ... Outro?

—Hum... Na verdade eu estou morrendo de fome, ia te convidar para tomar café da manhã—Disse Dara de uma forma tão meiga—Sério, não como nada já faz muito tempo.

Eu apenas ri daquilo, tão espontâneo que ainda tinha seu charme, beijei sua testa e a acompanhei escadaria abaixo para tomar esse café da manhã com minha esfomeada.


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