Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 27
Não te chamei aqui para isso


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura queridíssimos!



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Dara_POV (On)

A Lily é pura maldade, pior que esse rostinho bonito engana qualquer um. Ham, me chama para sair, depois me fala que a mãe dela descobriu sobre a gente e para piorar ainda me diz que é melhor conversar sobre isso quando chegarmos na pizzaria. Isso não se faz, é maldade deixar alguém ansioso assim como eu estou agora.

Nós entramos na pizzaria e foi como se nada tivesse acontecido no caminho, havia ficado para trás. Lily não comentou hora alguma sobre o ocorrido mais cedo. Sem contar que sempre que eu ia perguntar ela me interrompia e falava qualquer outra coisa. Acabei tendo um encontro sem preocupações, pois depois de um tempo eu acabei esquecendo aquilo, acho que era isso mesmo que Lily queria, distrair a mente.

—E agora?! Te levo para casa ou faço o que? — Perguntei pegando o restante da pizza com a atendente.

—Eu realmente não posso voltar lá agora.... Posso dormir na sua casa?

—Claro, eu já disse que sim... Mas e sobre sua mãe....

—Ai, é uma longa história, mas depois te conto.

—Você disse isso mais cedo.

—Eu sei, mas é muita coisa para eu pensar, estou tentando organizar meus pensamentos.

Não tentei argumentar mais, sabia que ela não iria falar, então fomos para casa. Todas as luzes do apartamento estavam ligadas, cheguei e encontrei o Sombra meio que virando a casa de cabeça para baixo, o babaca havia perdido o piercing do septo. Eu queria zoar com a cara dele, mas não podia dizer nada, já que sou mestra em perder brincos, o que dá na mesma se pensar.

Então deu um de meus vários piercings para ele. Nesse meio tempo que eu demorei para achar onde estavam meus piercings e levar até ele, o folgado comeu o resto da minha pizza; nada de mais, já que tínhamos levado pensando nele mesmo, mas não precisava quase que engolir toda a comida de uma vez. E olha que ainda tinha metade da pizza na embalagem, mas Sombra comeu o que sobrou em uma sentada e simplesmente foi embora depois. *Graças a Deus! * Mas digo isso só porque não quero pagar mico na frente da Lily. No fundo amo esse garoto e ele sabe disso.

—Então, o que você quer fazer agora? —Perguntei enquanto tirava minhas lentes de contato.

—Sei lá, você decide— Disse Lily sentada no sofá—Você curte filme de terror?

—Hã?! Claro que sim.

—Parece que está tendo uma maratona de clássicos do terror.

—Hum.... Legal, o que está passando agora?

—Parece que vai começar um filme agora, Noite dos mortos vivos.

—Legal, vamos assistir? —Disse eu me sentando ao lado de Lily.

—Nem pensar, parece o tipo de filme que tira meu sono e me faz ver vultos no quarto.

Eu não aguentei quando ouvi aquilo, do nada comecei a rir descontroladamente, obviamente ela ficou com raiva de mim por isso, mas duvido que ela seja tão medrosa a ponto de ter medo de um filme em preto e branco e velho pra car$%¨@ como esse.

—Para de rir Dara—Disse Lily me dando um tapa no ombro—Poxa, eu não sou tão medrosa como você está me fazendo parecer.

Ri mais um pouco, mas parei porque havia uma almofada e um abajur no alcance das mãos de Lily, vai que ela quer me bater com a almofada e pega o abajur por engano. Nunca se sabe, né.

— Em primeiro lugar, você sabe que filme é esse para começo de conversa?

— Sei sim, sei que nesse filme tem uns zumbis, e que teve uma trilogia

—Não, esse é a volta dos mortos vivos, um filme de 85. A noite dos mortos vivos é basicamente o filme que inspirou esse que você viu, e é dos anos 60, ainda é em preto e branco—Olhei para sua mão ao meu lado e a segurei— Sem contar que, qualquer coisa eu estou aqui.

Ela me deu um selinho, depois apoiou sua cabeça em meu ombro, me senti importante por isso. Ficamos em silencio o resto do filme, quando acabou já era quase meia noite. Lily parecia estar bem, com certeza não havia sentido medo, mas parecia meio sonolenta, só que assim que peguei o controle remoto para desligar a televisão ela despertou no instante.

—Não desliga não. O que vai passar depois?

—Hã? Você gostou do filme?

—Sim. Para falar a verdade, eu nunca tive coragem de ficar vendo filmes de terror sozinha, meus pais não gostam e eu realmente tenho medo de ver sozinha.

—Tá bom... Acho que tive uma ideia então... Quer virar a noite vendo filmes de terror então?

—O que?! Não, aí eu já acho que é demais para mim.

—Eu não acho—Peguei o controle remoto e fui ver a programação— Ah, vai ser bom, só vai passar filme bom. O massacre da serra elétrica, Poltergeist, O Iluminado.

—Todos nomes de filmes assim parecem clichês, histórias também clichês e previsíveis, mas eu não sei porquê que me assustam tanto.

Olhei para o vazio e comecei a gesticular coma as mãos enquanto falava para Lily:

—Essa é a beleza dos filmes de terror, mexem com nossos medos, e nos dão adrenalina com nossos próprios sustos.

—Credo Dara, você falando com esse brilho no olhar dá até medo. Aliás, você sente medo vendo esses filmes não?

—Eu?! Sentir medo? — Ri debochadamente— Imagina, medo é tolice.  Mentira, eu adoro filme de terror só que quando estou sozinha anoite vendo isso e tenho que ir pegar água na cozinha. Eu vou cantando “Segura na mão de Deus...”. Sem contar que olho para todos os lados, levo um espelho para ter certeza que não tem ninguém me seguindo, uma lanterna para caso a luz caia de repente e um potinho de água benta caso tenha alguma assombração de plantão.

Lily, deu uma risada longa e gostosa de se ouvir, me senti feliz por isso, ela anda tão cabisbaixa e também tem se entupindo de afazeres que tenho certeza que ela mesma arrumou, só para distrair a mente da realidade. Mas enfim, sempre é bom vê-la rindo e sorrindo.

—Você é maravilhosa! —Disse Lily sorrindo, vi seus olhos brilharem com a luz que vinha da televisão.

—Tudo bem.... Eu sei que sou linda, uma garota incrível, um exemplo a ser seguido... — Disse brincando, fiz Lily rir novamente—Mas por que sou tão maravilhosa assim?

—Por justa causa. Justamente pelo que você acabou de fazer.

—O que?! —Olhei para um lado, depois para o outro— O que eu fiz, que nem eu vi?

—Me fez rir, me fez rir e de quebra, ainda me deu conforto. Sabe, não ando tendo motivos para sorrir ultimamente, é tanta coisa acontecendo que.... Ai, as vezes acho que vou entrar em colapso.

Lily abaixou novamente o olhar, suas feições haviam mudado, estava visivelmente triste, parecia segurar lágrimas.  Eu queria dizer algo, mas não sabia o que dizer, então a abracei apertado. Sem saber acabei fazendo o certo, ela ficou sem demonstrar reação quando a abracei, então do nada Lily deitou a cabeça em meu ombro e lá ficou, vi algumas lágrimas escorrerem pela minha blusa.

—Lily, eu sei que é realmente muita coisa— Sorri meigamente— Mas vamos por parte, um dia de cada vez.... Um sorriso de cada vez. Sabe, eu sou toda ouvidos se quiser conversar e te ajudo no que precisar.

Lily virou a cabeça para o outro lado, seu cabelo cobria suas feições, ela estaria evitando falar comigo por acaso? Chamei sua atenção, mas ela permaneceu quieta, então carinhosamente virei seu rosto para minha direção.

Dara_Pov(Off)

....................***** ....................

Lily_Pov(On)

Cada vez mais acho que não sou mais eu, essa alma neste corpo.  É normal sentir tesão, desejo mesmo por uma garota que deveras é tão exótica? Talvez seja o medo, mas não o que o que o massacre da serra elétrica deveria me dar, pois deixei de prestar atenção na TV já faz muito tempo. Talvez, também seja meu estado mental que não anda nos seus melhores dias. O importante era que Dara estava do meu lado e tudo que eu conseguia pensar era nela, porque ela me fazia esquecer a dor. Percebi isso várias vezes nessa noite; eu chorei basicamente todas as noites essa semana e eu tentei chorar hoje também, mas não sentia vontade perto dela. Como ela faz isso? Queria saber, pois ela faz isso de forma tão natural, as vezes até sem intenção.

Ficamos em silencio por alguns minutos, apenas nos olhando, Dara parecia catatônica, com olhos vidrados. Depois de voltar a si, ela simplesmente respirou fundo e estendeu sua mão e acariciou meu rosto carinhosamente.

Mãos de defunto, sua temperatura parecia normal, mas suas mãos estavam geladas; isso me fez arrepiar, admito. Eu segurei sua mão e me pus a beija-la, subindo calmante o braço indo em encontro a seu pescoço, subindo sequencialmente até seus lábios.

Em meio a beijos, senti as mãos de Dara, novamente aquelas mãos de defunto tocaram minha pele. Dessa vez não foi no rosto e sim por debaixo de minha camisa; na hora eu não sabia o que era e me assustei, dando assim um pulo para trás.

—Perdão Lily eu não queria te assustar—Disse Dara sem jeito.

—Ah, tudo bem.... Aliás, quando foi seu velório? —Disse eu segurando suas mãos

—Hã, como assim?

—Me assustei com suas mãos geladas, só isso.

—Ahh... — Disse Dara, visivelmente constrangida.

—Posso te pedir um favor Dara? —Disse eu séria.

—Fala.

—Por hora... Só por hoje—A beijei— Por favor, me ajude a esquecer tudo isso. Toda essa confusão.

Acho que assustei Dara, mas ela entendeu muito bem o que eu queria. Engraçado, que mal tinha animo para vê-la hoje mais cedo, e agora, quase do nada eu quis e ainda quero transar com ela. Eu só saí de casa porque vi que minha mãe estava desconfiada de algo e me olhando estranha, depois de pensar um pouco vi que era da Dara e confirmei isso quando Dara chegou, ainda não sei como ela soube.

—Isso cancela a maratona de Clássicos do Terror? —Perguntou Dara sorrindo sem graça e chegando um pouco para trás.

—Bem, se você quiser.... Por hora sim, a maratona está cancelada. Para que a pressa de ver esses filmes? Isso sempre repete na Tv— Passei minha perna sobre as de Dara, ficando assim com os joelhos sobre o sofá, de frente para ela— Já momentos como esse devem ser aproveitados.

Eu estava olhando os olhos de Dara, fui me aproximando calmamente para beija-la; mas quando estava há um centímetro de sua boca (basicamente), ela pôs sua mão na frente para que não a beijasse. Eu nunca dormi com uma mulher, não faço a mínima ideia de como deve ser, mas em poucos segundos acho que fui capaz de imaginar como seria essa noite. É uma pena ter sido tirada de meus sonhos, seria tão bom. Sabe, acho que cheguei a uma conclusão: já que estou perdida mesmo; um pecado a mais ou menos, não vai fazer a mínima diferença.

—Desculpa Lily, eu não posso—Disse Dara cabisbaixa.

—Tudo bem, eu entendo—Respondi sorrindo, mas agora eu que havia ficado sem graça.

—Perdão, encostei na sua pele sem querer, isso aconteceu porque sua blusa estava um pouco levantada. Por favor, não pense nada mal de mim, não te chamei aqui para isso.

—Sei que não— Saí de cima dela, depois beijei sua bochecha, mesmo que ela ainda estivesse de cabeça baixa—Você é uma garota muito doce Dara, sem contar que é muito fofa também.

—Obrigada—Respondeu Dara sorrindo meio que de lado.

Ficamos em meio a uma silencio terrível, Dara vidrou o olhar na televisão para não ter que olhar para mim, me senti mal por isso. Então, vendo sua face basicamente limpa, quer dizer, sem nenhuma lente de contato ou piercing, eu lembrei-me da primeira vez que a vi e como aquilo tudo me assustou.

—Sabe Dara, me sinto até envergonhada de tudo que pensei sobre você a primeira vez que a vi.

—Você fez o que qualquer um faria, nada de mais—Dara se quer olhou para mim— Já estou acostumada com reações como a sua para dizer a verdade.

—Mas posso te falar uma coisa?

— O que?

—Nada que eu pensei era verdade. Você é uma garota maravilhosa, de um caráter realmente de ouro, um olhar que me hipnotiza e um coração doce e gentil.

—Ah, obrigada—Respondeu Dara Rubra—Ninguém nunca me disse algo parecido, obrigada mesmo.

Ela não disse mais nada, eu também não queria estragar mais ainda aquele momento, então fiquei calada, apenas voltei minha atenção para a tv. Não sabia nada da história, só sei que tinha sangue e tortura na tela, adormeci alguns minutos depois daquilo, realmente não estava interessada em ver mais nada.

 

 

 


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