Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 23
Beijo com gosto de álcool


Notas iniciais do capítulo

Faculdade tá osso, mas vamo indo que vai dar certo continuar escrevendo, vou dar um jeito ^~^

Boa leitura!!



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Lily_Pov(On)

A manhã de segunda-feira finalmente chegou, não consegui dormir basicamente nada essa noite. A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa ontem foi desligar o celular, a segunda coisa foi tomar um banho bem demorado e por último fiquei jogada na cama, hora pensando, hora chorando, hora muito confusa.

Tentei evitar ao máximo minha mãe, ela me viu chegar no dia anterior e não sair mais do quarto, mas a impressão que eu tive foi que ela estivesse me esperando abrir a porta para me atormentar, porque mesmo fazendo silencio, sendo cuidadosa, mesmo assim... Foi só colocar os pés na cozinha que eu a vi sentada na mesa tomando café e olha que as segundas ela nem acorda cedo hein, porque é o dia de folga dela.

—Filha, vai tão assim cedo para a escola hoje? — Perguntou minha mãe quando me viu passar por ela na escada.

—Vou sim.... Tenho trabalho para fazer.

Peguei qualquer coisa na cozinha e tentei sair rapidamente.

—Não vai tomar café da manhã?

—Não...como disse.... Tenho trabalho.

—Ham...Sei.... —Disse minha mãe desconfiada—Tô vendo que isso é trabalho.

Cheguei quarenta minutos mais cedo à escola, na verdade minha vontade era nem ir, fiquei muito tempo decidindo isso e por fim resolvi comparecer fisicamente naquele lugar, mas minha alma.... Né.... Não vai voltar por uma semana, ou talvez até um mês. Eu estava na rua da escola, adivinhe a primeira coisa que eu vi, o Clarck, pior que o cretino esta estupidamente arrumado e bonito hoje, vestindo sua jaqueta do time de basquete, gel no cabelo espetado, com as costas em seu carro.

Fingi não o ver, mas ele estava bem no meu caminho, então tive que atravessar para o outro lado da rua, ele me seguiu com o olhar o tempo todo. Quando entrei fui correndo até o ginásio, entrei no vestiário, sentei em um dos bancos, encostei minhas costas na parede e abracei minhas pernas.

Acho que eu realmente não devia ter vindo hoje, pensava eu triste.

Passados cinco minutos vi as gêmeas entrarem correndo pela porta, vindo em minha direção, Dara as acompanhava, mas apenas ficou escorada na porta nos olhando de longe.

—Oh meu Deus amiga...O que houve?! Tentamos falar de todo jeito contigo ontem, mas não te achamos—Disse Megan enquanto quebrava minhas costelas (Não literalmente, mas os ossinhos até estralaram para se ter uma ideia).

—Ele me traiu com a vagabunda da vizinha—Respondi friamente enquanto olhava para o chão (um pouco sem ar).

—A Dara falou que era isso—Disse Magda—Estávamos muito preocupadas com você, não devia ter desaparecido assim.

—Sei disso, mas queria um tempo sozinha...

Olhei Dara que estava de braços cruzados, ainda escorada na porta, nesse instante nossos olhos se encontraram por alguns segundos, mas ela me ignorou, virou a cara para mim e saiu da sala logo em sequência sem dizer um A.…. Eu merecia isso…. Sei que merecia...

—Brigou com a Dara, amiga? —Perguntou Magda.

—Mais ou menos, quer dizer, ela foi a primeira pessoa que falei ontem depois que descobri o chifre.

—Hum.... Ela está roubando um pouco nosso lugar—Disse Megan me apertando (Na verdade sufocando) novamente—Mas ela é muito legal e atenciosa, enquanto estávamos te procurando ontem, ela não disse nada, apenas disse que era bom lhe dar um tempo. Aí hoje, como você ainda não tinha dado sinal de vida, ela contou o que tinha acontecido e nos trouxe até você.

—Entendo.... —Disse eu pensativa olhando para a porta.

Lily_Pov(Off)

..................*****.....................

Dara_Pov(On)

Aff, já é sexta novamente e como de costume (Anda tornando-se) o Sombra disse que ia me buscar e me deu um calote, mas hoje pelo menos aquele viado me ligou (20 minutos antes de acabar a aula) e me disse que não ia dar para me buscar.

Aff, falando desse jeito parece até que sou muito preguiçosa, mas o que acontece é que SEMPRE que ele diz que vai me buscar e não busca eu tenho algo de importante, ou estou morrendo de alguma coisa, sem brincadeira, mas é SEMPRE mesmo. Pior que hoje não foi exceção, eu estava... como posso dizer.... Com vontade de cagar (Que delicada eu, mas fod@-se, acho que qualquer um pode entender o mal-estar e desespero de uma hora dessas) e meu cú não é tímido.... É birrento mesmo, porque quando eu pego embirra com o sanitário de algum lugar, mesmo que seja o lugar mais limpo do mundo, eu não vou. Foi exatamente o que aconteceu com o banheiro da minha escola, quer dizer, esse lugar tem uns 8 ou 9 banheiros, mas eu só confio em um.... Quer dizer, confiava, depois que uma fil#@ da p%¨* fez o favor de sujar o banheiro inteiro com uma droga de batom Vermelho Mate eu tomei nojo daquele lugar, mesmo que tenham limpado no mesmo dia, sei lá, sempre que lembro que uma besta teve a coragem de sujar as paredes de batom sinto um nojo violento.

Tirando meu nojo de foco, eu voltei para casa aparentando uma calma que não era verdadeira, por dentro estava surtando, mas por fora mantinha a calma e a postura, quando cheguei no corredor do meu apartamento comecei a ter o que gosto de chamar de Síndrome da Regressão Evolutiva (Ui eu manjo de nomes científicos, só que não).

De uma forma resumida, eu parecia uma barata que levou uma chinelada correndo para chegar na porta de casa, emborcando cada vez mais a medida que me aproximava daquela bendita tábua de madeira, depois custei a achar a chave daquela des%$#&@, e quando finalmente estava para abrir eu escutei o Sombra falando de forma afinada, como se estivesse falando com uma criança do outro lado da porta:

—Não puxa meu piercing assim meu amor, assim você machuca o papai .

Depois de pensar por alguns segundos, cheguei à conclusão que ele estava com um homem ali dentro e pensei: “Sério que tem homem aqui?... Tu tá de brincadeira comigo...Esse viado me deixou por causa de macho?”.

Eu teria voltado na hora, mas estava quase morrendo de vontade de ir ao banheiro, então abri a porta, disse fod@-se e já entrei meio que dizendo (gritando) perdão. Só que quando passei pela sala vi que era algo totalmente diferente do que eu pensava. Sombra estava sentado no sofá sem camisa, o Sr Almíscar estava no chão o olhando, havia uma caixa no lado direito do Sombra no Sofá, ele brincava com algo dentro da caixa.

—Oi?! —Disse eu assustada parando no meio da sala.

—Dona moça, OLHA QUE LIIINDA!!! —Disse Sombra ainda como se tivesse falando com uma criança.

—Quem?

—Ela, moça—Disse Sombra pegando um gatinho branquinho, felpudo, com um olho azul intenso e o outro amarelo mel.

—Aiiii que coissa fooofaaa!!! —Disse eu querendo ir de encontro a eles, mas aí lembrei que estava com vontade de né.... —Espera aí, já volto—Disse eu largando minhas coisas de qualquer jeito e correndo para o banheiro.

Antes de fechar a porta escutei o Sombra falando “Eu hein Almíscar, essa aí anda cada dia mais doida”. Voltei um tempo depois já falando como o Sombra, é uma des$#&%@ admitir isso, foi involuntário, quando vi já estava fazendo aquela vozinha fofa e irritante, mas fazer o que?! A força da fofura corrompe até o mais sério e fechado dos corações.

—Que coisa linda—Disse eu abraçando aquele filhotinho.

—Eu disse que era fofa, foi por isso que não pude te buscar Dara.... Tive que ir pegar essa lindeza toda.

—Não sabia que você ia pegar mais um gatinho.

—Não ia, mas aí o Bob falou que a gata dele tinha parido e... Sei lá...

—Ficou com dó?

—Não, achei que seria um ótimo presente para minha irmãzinha.

—Mas sua irmã é mais velha que você—Disse eu com coisa que não tinha entendido.

—É você, sua anta!!

—Eu sei, mas não podia deixar essa escapar. Ela é de raça, deve ter custado caro.

—Não, o Bob só queria se livrar dos gatinhos, nem falou em preço... O nome dela é Lady Fluppy.

—Lady Fluppy, isso tem cara de ser coisa sua.

—Sim, por quê? Não gostou do nome?

—Gostei sim, acho que combina com essa coisa fofa…. Felpuda—Levantei a gatinha que estava tentando morder meu dedão—Não é Lady Fluppy?!

Sombra pegou sua mão, lambeu a bendita e a passou no pelo da gata, que ficou lambido. Na boa, não tinha necessidade, e é algo meio nojento de se fazer.... Pior que onde ele passou ficou puxado, como se tivesse passado gel ali, parecia até o cabelo lambido do meu irmão.

—Viu, Fluppy!! —Disse Sombra limpando sua mão.

—Anem, você deu o nome para a gata por conta da capacidade do pelo dela ficar lambido?

—Siiiiimm!!

—Depois eu que sou a doida aqui, você está de prova Fluppy—Disse eu conversando com a gata—Mas fazer o que? Você é linda e tem cara de Fluppy mesmo.

—Sabia que ia gostar.

—Amei.... Mas vem cá, Bob é o segurança de onde você trabalha né? Aquele monstro de homem, né?

—Ele mesmo.

—Cara super legal, lembro dele naquela festa.

—Verdade.

—Mas por que você resolveu me dar uma gata no final das contas? —Perguntei não tirando os olhos daquele bebê fofo.

—Sei lá, você anda com o coração tão partidinho.... Achei que uma companheira dessas seria boa para te distrair... O Bob falou que essa gatinha é muito carinhosa, encantei com ela quando a vi.... E pelo visto, você também—Disse ele rindo e acariciando a gatinha.

Para o Sr. Almíscar não ficar com ciúmes o abracei também, o bichinho ficou tão feliz, já que seu pai havia se esquecido dele por conta da gata, mas “ESQUECIDO” é só modo de dizer, o Sombra mima demais esse gato.

—Mas como não ficar…O diaxo do meu irmão traiu a Lily e.... —Disse eu falando até calma por conta do nível de fofura que eu estava envolta.

—Como você gosta dela.... Se sente lesada como ela.

—Gosto dela mesmo, mas sei que ela não sente o mesmo que eu…Aff, quase morri essa semana, ela estava tão tristonha, quase não a vi.... Pior que a Lily acha que fui eu quem falou para ela que meu irmão a traiu.

—Ué, mesmo se não foi.... Ela não deveria ter ficado feliz com isso?

—Mas não fui eu, e ela sentiu como se eu tivesse escondido algo dela…. Não está falando comigo, no máximo diz um oi. Estou me sentindo péssima por isso, queria conversar com ela, animar ela, apoiá-la....

—Afff menina e por que não faz isso?

—Porque.... Porque...

—Não leve a mal amiga, mas você é uma cuzona.

—Ei!! Me respeita moço! —Disse eu dando de beber para a gata que estava sedenta.

—É mesmo, tu corre atrás de quem não presta, mas quem presta e é legal e te trata bem...Você não faz nada.

—É verdade…. Você acha que a Lily presta?

—Bem, se seu irmão ficou um bom tempo com ela.... Creio que ela deve ser muito especial e não acho que seja só por conta de sexo. Falo isso porque me lembro do dia na casa das gêmeas, achei vocês duas muito fofas juntas e antes de ir embora ela veio falar comigo, toda humilde me agradeceu e pediu desculpa pelo mal entedido. Gostei do jeitinho dela, sem contar que ela sempre me cumprimenta quando me vê te esperando na escola, educada e não evita pessoas como você e eu...O que já é ótimo na minha opinião.

—Ok... Mas o que eu posso fazer?

—Anem criatura, vou te dar uma voadora para ver se tu para de ser retardada!!você mesma já disse!! Você disse que queria “conversar com ela, animar ela, apoiá-la” e pelo que eu sei...Não é tão difícil fazer isso.

Parei para pensar e vi que ele tinha razão, mas o que poderia fazer? Então pensei.... Hoje é sexta, ainda são quatro da tarde.... Talvez dê para......

—Sombra, você ainda tem o telefone do Bob?

—Claro que tenho o telefone dele.

—Faz um favor para mim? —Disse eu falando animada

—Hum.... Falou animada demais, ficou muito pensativa.... Isso não vai prestar.... Se não envolver um cadáver.... Te ajudo em qualquer coisa.

—Ok, eu tiro defuntos dos meus planos—Disse eu zoando o Sombra.

Dara _Pov(Off)

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Lily _Pov(On)

—Esta é com certeza a pior sexta-feira em meses! —Dizia eu a mim mesma enquanto subia as escadas.

Hoje eu não fui na escola, se minha mãe descobrir isso provavelmente me mata, eu simplesmente saí de manhã e voltei quando já não tinha ninguém em casa. Aproveitei para tomar um banho demorado, fiquei de molho na banheira cerca de meia hora (Não sei quanto tempo, estou só chutando mesmo), literalmente de molho, fiquei deitada no chão da banheira apenas com os olhos para fora, prendendo a respiração e marcando quanto tempo era capaz de ficar sem fôlego, meu Record foi 3:21, estava precisando daquilo, a água me acalma muito e me manteve ocupada por bastante tempo.

Depois passei a tarde inteira basicamente jogada na cama, por mais que eu tentasse, não conseguia parar de pensar na Dara, ela simplesmente não saía da minha cabeça. Engraçado, já não pensava no Clarck, havia conseguido esquecer um pouco o acontecido, mas me sentia muito culpada por estar dando um gelo na Dara, não podia continuar pensando, achando que gosto dela.... Mesmo assim, me dói o coração ter que me afastar, o problema é que tudo que eu quero é ficar perto dela e a ver sorrir…. Então não posso continuar assim. Fui tirada de meus pensamentos por minha mãe, que bateu em minha porta.

—Filha, tem uma amiga sua na porta.

—Tá mãe, obrigada—Olhei o relógio e vi que era 18:30.

Desci as escadas esperando encontrar uma das gêmeas ou uma colega qualquer, mas me deparei com uma branquela ridícula, de lente de contato de cores diferentes, tirando a calça rasgada ela estava toda de preto, isso não me impressiona mais. Aff.... Por que ela está aqui?

—Oi?! —Disse Dara meio tímida.

—Tchau—Disse eu já fechando a porta, mas ela a segurou e a forçou para abrir—Dara, eu não quero falar com você.

—Não, você não quer falar com meu irmão! —Disse séria, eu parei de tentar fechar a porta e resolvi a escutar—Droga, a culpa é dele se ele te traiu... A Culpa é dele se ele foi um idiota... A culpa é dele se ele resolver fazer a idiotice de te trair com qualquer mulher desse planeta.

Ela me olhou bem no fundo dos olhos, era possível ver que estava acelerada, mesmo que não soubesse por que. Então do nada ela continuou a falar:

—O problema é que você está achando que eu estou do lado dele, só porque aquele des%$¨#@ é meu irmão.... Sabe, ele já ferrou comigo algumas vezes, eu nunca iria ajuda-lo... E o mais importante...EU NÃO SOU COMO ELE!!

Não consegui dizer nada, simplesmente não tinha nada a dizer, não tinha nem argumentos para mandá-la embora. Ficamos nos olhando por alguns segundos, estava tão feliz em vê-la, sorte que não sorri, sorte que não esbocei reação alguma. Antes que eu pudesse dizer algo, ela simplesmente me puxou pelo braço porta á fora, quando consegui atinar em algo, já estava na metade do meu jardim da frente.

—Ei! —Disse eu parando—O que você pensa que....

—Shhh.... Calada.... Não aguento mais te ver sofrendo por conta desse patife...

—Mas que....

—Shhh... Confia em mim? —Disse ela me entregando um capacete.

Olhei o capacete em minhas mãos, consegui ver o meu reflexo na tinta branca, olhei para ela, vi seus olhos brilharem, depois olhei sua moto. Não faço ideia o que ela tem em mente, mas gostei da firmeza com que ela falou comigo, senti segurança nisso, resolvi aceitar o convite.

—Tá....Me explica no caminho? —Disse eu colocando o capacete.

—Claro—Respondeu Dara sorrindo estridentemente para mim.

Subimos na magrela (Nem sei porque ela deu esse nome para aquela lambreta, mas gostei), na metade do caminho aproveitei para a abraçar fortemente e também encostar minha cabeça em seu ombro, era quase sete da noite, o vento gelado passava por nós e isso me dava mais motivos para abraçá-la. Ela havia passado pelo centro da cidade e não tinha dito nada até o momento.

—Você vai me sequestrar? —Brinquei.

—Não, vou te levar para beber—Respondeu ela quando paramos no sinaleiro.

—Não quero ir beber, nem tenho identidade falsa para isso.

—Eu sei.... Não era isso que estava pensando—O sinal abriu e ela voltou a ficar concentrada—Só digo que tem bebida no meio.

Mesmo com um pouco de receio, não tinha alternativa a não ser confiar nela. Passados dez minutos chegamos à um prédio em reforma, havia vários carros no estacionamento e as luzes do edifício estavam ligadas, então não era abandonado (Menos mal). O elevador estava em manutenção, então tivemos que usar as escadas, subimos dezesseis lances de escada até o terraço, onde segui Dara até um apartamento.

—Esse é um dos muitos apartamentos da avó do Sombra, o cara que ela tinha alugado ia pegar o imóvel essa semana, mas não sei por que ele cancelou o contrato—Disse Dara abrindo a porta—Está arrumadinho, Sombra deixou a gente usar ele hoje, acho que só as luzes não estão funcionando, porque ele ia trocar, mas o cara desistiu, então.... Né.... Para que a pressa de trocar?

Era um lindo lugar, mesmo com todos as mobílias tampadas com lençol para não pegarem poeira, ou o ar de assombrado por conta da escuridão.

—Achei—Disse Dara ligando uma luminária—Bem onde ele disse que estaria.

Dara ligou a tv para iluminar o hall de entrada, abriu as portas que davam para o terraço, onde havia duas espreguiçadeiras, Dara sorriu para mim e me levou até o lado de fora, colocou a luminária na mesinha perto das espreguiçadeiras e pôs-se a olhar a vista.

—Queria que visse isso, essa luz, essas cores, essa vista—Disse ela olhando da sacada, seus cabelos dançavam com o vento—Esse lugar é muito bom, porque dá para ver quase toda a cidade daqui…Coisas como essa sempre me acalma, queria compartilhar com você.... Sei que é bobo, e você pode não entender, mas queria compartilhar.

Fiquei a admirando por alguns segundos, depois caminhei até o extremo daquele lugar e me apoiei na sacada do terraço.

—Não é bobo.... É lindo, era o que eu estava precisando —Disse eu sem olhar para ela.

—Que bom que acha isso... Mas agora falando de algo sério— Dara veio até mim e colocou a mão em meu ombro, meio que gelei, nem sei porque na verdade—O que quer beber? 

— Foi mal, eu passo beber hoje.

—Ixi...Regra da casa hoje é..... Beber e conversar e chorar as pitanguinhas...E beber, claro!

—Tá bom, o que for mais fraco eu aceito.

—Hum....Cerveja ou vinho?

—Vinho, com certeza vinho.

Deitei-me na espreguiçadeira e fiquei a observando vasculhar a mini adega na cozinha.

—Curti vinho seco? —Perguntou Dara.

—Na verdade nunca experimentei.

Dara riu um tanto cínica, depois disse:

—Pior que eu também não.... Topa experimentar comigo?

—Pode ser.

Dara pegou uma taça para dividirmos, era horrível, não agradou o paladar de nenhuma de nós. Meu Deus!! Como alguém pode beber isso? Tem cheiro de vinagre e um gosto que.... Sei lá, não sei nem descrever, dá a impressão que comi sal pela situação da boca e garganta secas, na verdade agora sei o porquê de o nome do vinho ser “vinho seco”, desce rasgando secamente.

Por sorte foi só aquela taça, depois Dara pegou uma cerveja para mim (não consegui fugir e meio que queria encher a cara também) e uma garrafa de vodca para ela, sei que não deveria ser complacente com o fato de ela beber, mas quer saber…. Como ela mesma disse mais cedo para mim, foda-se o politicamente correto!!.... Eu não sou nenhuma santa, estou bebendo junto e também sou de menor.

Lily _Pov(Off)

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Dara _Pov(On)

 

Minha intenção não era de jeito algum a deixar Lily embriagada, mas eu meio que fiz uma besteira antes de ir buscá-la, era um pouco perigoso demais a deixar onde estava. Aliás...São 20:12 e ainda não tive notícias da minha besteira...

—Você queria me sequestrar.... Fala a verdade.... Por que até agora não me disse o motivo de ter me trazido aqui—Disse Lily acabando de tomar sua segunda latinha, ela bebe devagar, que gracinha.

—Segurança! —Disse eu deixando a garrafa de lado para não beber mais Absolut, estava muito bom.

—Puff... Segurança de que?

—Nossa segurança.

—Por que “nossa segurança”? Dara, por favor para de drama e me fala o que está acontecendo.

—Ai, tá bom...Espera só um minuto.

Levantei e fui até a sala pegar meu celular, ela ficou me olhando meio que sem entender, então voltei para a espreguiçadeira e liguei para o Sombra:

[Sombra]: Oi Lunática!

[Dara]: Fala véi, e o negócio que eu te pedi? Deu certo por acaso?

[Sombra]: Cara, acabei de voltar para casa...E na boa.... Seu irmão é mó arregão e frouxo, decepcionei bonito.

[Bob]: Moleque estava quase chorando—Ele riu exageradamente—Maior vacilão.

[Lily]: O que, o Clarck?! —Gritou Lily assustada—O que vocês fizeram com ele?

[Sombra]: Ah, Oi Lily... Gata não queria pedir nada, mas cuida para minha irmãzinha não acabar com todas minhas bebidas fazendo favor? Estou querendo dar uma festa aí semana que vêm e se essa pinguça acabar com meu estoque de bebidas eu estou meio que ferrado.

[Lily]: Oi Sombra, tudo bem eu cuido disso.... Eu acho...

[Dara]: Aff véi, larga de ser mentiroso, eu sou até bem controlada!

[Sombra]: E sei, só quero te irritar um pouco.

[Lily]: Ai gente, se não for pedir muito...Alguém pode me explicar o que aconteceu?

[Bob]: É o seguinte, garota que acabo de saber que se chama Lily, eu sou o Bob e a Dara me pediu para fazer um favor...Dar um susto no irmão dele que terminou com uma namorada que é amiga dela...Descobri que é você essa amiga, prazer.

[Lily]: Ai meu Deus...E ele está bem?

[Bob]: Hum.... Está vivo, mas se eu fosse você não se importaria com um FDP que termina com você numa semana e na próxima sexta já está levando uma peituda gostosa para sair. Eu sinceramente mandava para o quinto dos infernos.

[Sombra]: A gente filmou tudo, estou te mandando Dara, tá no seu dropbox para você dar uma olhada aí.

[Dara]: Tem chance de vocês serem reconhecidos?

[Sombra]: Nenhuma, ainda mais que eu chamei uns amigos à mais

[Dara]: Quantos?

[Sombra]: Três.

Olhei Lily e vi que ela havia congelado, estava estática, catatônica, quase que literalmente paralisada. Desliguei o celular com certa urgência ao vê-la daquele jeito. Fui até sua espreguiçadeira e me sentei ao seu lado, passei meu braço sobre seu ombro a abraçando, ela não esboçou nenhuma reação, fiquei preocupada.

—Ei, o que houve?

—O que?! Sério que você me pergunta isso? Poxa, você me envolve numa coisa que é errada.... Você chamou delinquentes para bater no seu próprio irmão.

—Mas ele....

—Shh...Não terminei de falar.... Será que posso? —Disse ela séria sem olhar nos meus olhos.

—Claro—Disse eu secamente.

—Você quis se vingar do seu irmão por mim, sei que isso é errado... Mas eu gostei disso, porque não tive coragem de fazer nada com ele, nem conversar, porque...E ainda te tratei mal a semana inteira, era para você estar com raiva de mim e mesmo assim...

O celular em meu bolso vibrou algumas vezes e ela parou de falar por causa disso, tirei o braço de cima dela e fui ver o que era, havia três mensagens novas do Sombra.

[Sombra]: Olha seu Dropbox.

[Sombra]: Mas antes que você me pergunte o que houve, foi o seguinte.... Seu irmão voltou para casa às 17:00 como você havia dito, mas ele não foi direto para casa, ele passou pelo centro e parou na casa de uma garota e parecia que estava indo buscar ela para algum ligar.

[Sombra]: Dito e feito, ele pegou a garota e começou a caminhar com ela para algum lugar que não sei onde, então foi aí que o abordamos. E não fui eu que filmei, eu fiquei quietinho no carro esperando caso desse merd@, porque sabia que ele reconheceria as formas do meu corpinho se me visse (quem mandou eu ser o puro osso em carne). Mas é isso, acho que a senha do wifi do andar é 89678823.

—Você quer ver esse vídeo? —Perguntei para Lily depois de ler as mensagens.

—Quero, não vou fugir disso.

Fomos para a sala, porque lá o sinal do wifi era melhor, sentamos uma do lado da outra no sofá depois de tirarmos o lençol sobre ele (obviamente), Lily pegou mais uma cerveja para si e depois de baixado o vídeo enfim o vimos.

*****

Um cara que eu não conhecia estava filmando com o celular, Clarck estava andando com uma garota baixinha que até sumia perto dele, loira, peituda (olhei esse quesito e sei porque o idiota do meu irmão estava saindo com ela…). Haviam três caras à frente do que filmava, foi fácil reconhecer Bob, que é gordo, alto e bem forte, ele usava uma máscara de palhaço e suas roupas de motoqueiro. Quando digo alto, é bem alto mesmo, o Sombra tem 1,91 de altura e parece baixo perto do Bob que deve ter por volta de 2,00 e 2,10.  Acho que todos estavam mascarados, mas só conseguia focar no gigante Bob.

Bob colocou a mão no ombro do meu irmão já o empurrando.

—Sério que tu trocou a Lily por.…—Bob olhou a menina de cima à baixo—Por isso, mano? Uma puta qualquer? —Disse Bob empurrando meu irmão que estava catatônico.

Ele quis falar algo, depois olhou os homens rapidamente, tentou fugir, mas dois homens o seguraram pela gola da camisa. A menina já havia sumido naquele momento, na verdade ela fugiu no primeiro empurrão que Clarck levou.

—Moleque!! —Bob o puxou pela gola da camisa e o levantou com uma só mão—Você traiu a garota, humilhou ela e acha que vai se livrar sem acontecer nada?

—Quem são você? —Disse Clarck suando frio.

Bob lhe deu um tapa na cara e depois gritou:

—Moleque, nós somos amigos da Lily....E não gostamos nada do que você fez com ela—Bob o chacoalhou, meu irmão parecia mais um brinquedinho nas mãos daquele armário de portas abertas.

—Desculpa!!! —Gritou desesperado meu irmão.

Bob deu mais um tapa na cara dele, depois o jogou no chão, todos formaram uma roda ao redor dele, dava para ver sua cara de desespero.

—Não tem desculpa seu desgr@#$%0, você não devia ter traído nossa amiga—Bob levantou o pé e fez menção que iria pisar nele, Clarck tampou seu rosto com o braço— Tá achando que eu vou pisar em você do mesmo jeito que você pisou nela?...Não vou, você não merece nem isso seu merd@.

Bob cuspiu em meu irmão, logo em seguida todos os homens fizeram o mesmo, depois Bob se abaixou, puxou o (já branco de medo) franguinho do meu irmão pela camisa de disse seriamente:

—Se você falar que eu e você tivemos essa conversinha amigável para a Lily—Bob deu outro tapa no Clarck—Eu vou te dar uma surra que você nunca vai esquecer, tá me ouvindo?! —Gritou para terminar.

—Sim senhor!! —Disse Clarck quase como uma mocinha.

—Você não vai falar nada com ela porque ela nem sabe que nós estamos aqui para começo de conversa…E o senhor também…. Não vai.... Nem sonhar em tocar nela ou maltratá-la, muito menos em bater nela.... Porque senão você não vai ir para a prisão, você vai para o cemitério.... E eu vou para a prisão.

Pensei por um momento que meu irmão tivesse desfalecido, parou até de suar, então Bob o chacoalhou novamente e gritou:

—Você está me entendendo garoto?!

—Sim!! Sim!! Eu estou entendendo, eu estou entendendo!! —Disse meu irmão quase chorando.

—Ótimo!!

Bob se levantou e cuspiu novamente nele, depois abriram uma brecha na roda e meu irmão saiu correndo desajeitadamente, o vídeo acabou aí.

*****

Depois de ver aquilo rimos bastante, era engraçado ver o desespero do meu irmão, pior que a mina que estava com ele nem voltou para ajudar.... Se deu mal!!...  Com aquele clima descontraído resolvemos beber mais um pouco, foi divertido jogar conversa fora, era muito bom a ver sorrir de novo. Se bem que depois de duas horas, oito latinhas (Lily) e quase uma garrafa inteira de vodca (Infelizmente eu) nós já estávamos rindo mais à toa que tudo.

Estávamos na frente da tv, passava um programa qualquer que nem sei o nome, estávamos conversando sobre casas em que moramos. Eu estava sentada no sofá, Lily por cansaço pediu para deitar-se, estava com a cabeça em meu colo.

—Parece ser um lugar lindo onde sua mãe e seu irmãozinho moram.

—É sim, mas não gosto de lá.... Tenho más recordações.

—Por quê?

—Nós havíamos acabado de nos mudar para a casa nova e minha mãe estava pintando a sala sozinha, só que o teto de lá tem três metros e meio de altura, mas mesmo assim ela estava decidida que podia fazer aquilo só ela e eu. Então enquanto ela pintava o teto eu segurava a escada que tremia muito, foi questão de um segundo, eu fui olhar quem estava me mandando mensagens no celular que estava do outro lado do cômodo...Só que antes que eu pudesse voltar ela se desequilibrou e caiu.

—Que horrível Dara!!

—Pois é, ela acabou fraturando uma vertebra do pescoço, a C5 e teve paralisia parcial de um lado, mesmo com fisioterapia, ela ainda manca de uma perna—Disse eu extremamente triste—Foi tudo minha culpa!!

—Não fica assim—Ela levantou seu dorso e me abraçou—Acidentes acontecem.

—Sim, mas aquilo não foi um acidente.... Foi uma idiotice, eu estava ansiosa para receber mensagens de uma garota que eu mal havia conhecido, por causa dessa besteira.... Quase perdi minha mãe.

—Ai Dara, há coisas que a gente não é capaz de prever.

—Verdade—Disse eu ainda tristonha.

—Tipo o susto que seu irmão levou—Disse ela tentando mudar de assunto.

—Verdade.

—Caraca...Aquilo foi cruel.... Não, mentira, isso foi hilário—Disse Lily rindo da desgraça do meu irmão.

—Pois é—Sorri de lado ao ver seu sorriso.

—Achei que você tivesse pedido para dar uma sura nele.

—O que?! Não, eu pedi para assustá-lo.... Ainda especifiquei o que queria.

—Legal...Dara... —Lily abaixou a cabeça e me chamou um tanto diferente de repente.

—Oi—Respondi meio desconfiada.

—Obrigada por isso! Por ter me convidado para vir aqui hoje, por me apoiar, por ser minha amiga —Disse ela meigamente—E me desculpa por mal ter falado com você essa semana.

—De nada... Mas não... —Lily não deixou eu terminar a frase, me beijou.

Queria continuar a falar, mas... Mas…. Mas... Mas ela me calou!! Eu estava falando e do nada a doida me beijou. Literalmente, do nada, sem avisos prévios ela puxou meu pescoço e ME BEIJOU!! Entrei em estado de choque, ela encostou seus lábios nos meus e creio eu que eu tenha me teletransportado para outra dimensão, porque eu fiquei estática, imóvel e acho que até sem pulso, simplesmente gelei, acho que até meus olhos vidraram. Eu na hora só consegui pensar:

“Estranho, a Lily está me beijando…Put@ que pariu A LILY ESTÁ ME BEIJANDO!!...Faz alguma coisa Dara!!...Dara, reage!”.

Graças a Deus quando ela estava me soltando eu voltei a mim, a puxei novamente e a envolvi no beijo que deveria ter acontecido segundos atrás, não sei dizer por quanto tempo ficamos naquilo, mas eu tremia da cabeça aos pés com aquilo. Queria ter feito isso já fazia muito tempo, mas me reprimia de todas formas possíveis por causa do meu irmão, também por medo de perder a amizade dela, e do nada ela simplesmente me beijou, pensei por alguns segundos que estivesse sonhando, mas era real.

Então, quando nos soltamos ela deitou de novo no meu colo, fiquei a observando de boca aberta, meio catatonia. Não conseguia falar nada, então de repente ela sorriu estridentemente para mim, tirou meu cabelo da frente do meu rosto e disse rindo meigamente:

—Isso foi divertido.

—Foi mesmo—Disse eu parecendo mais uma zumbi por ainda estar incrédula.

Eu olhei a televisão momentaneamente, passava um filme conhecido, mas não conseguia lembrar o nome, então fiquei tentado lembrar o nome para ver se conseguia retornar 100% à Terra. Parte de mim gritava “AAHHHHH Eu beijei a Lily, obrigada meu senhor!! Nem acredito de tanta felicidade”, outra parte, creio que a mais racional, gritava fervorosamente “ Puts, beijei a Lily, vai dar merda com certeza…Ela está bêbada, isso não foi certo! ”.

Voltei meu olhar para baixo quando minha cabeça parou de girar e vi que Lily havia dormido nesse meio tempo.

—Lily?! Tá dormindo?

—Hum...Tô com sono—Disse ela sonambulamente.

“Sério isso? A gente se beija e você vai puxar ronco...Maldade universo! ”.

Tentei me levantar, mas ela me segurou e disse de olhos fechados:

—Não, fica aqui até eu dormir—Disse Lily de uma forma muito fofa.

“Agora eu me lasquei...Além de bêbada, está manhosa. Acho que eu não sou mais uma cuzona, estou mais é para uma azarona mesmo”.

Não conseguia parar de pensar que ela havia me beijado, era muita felicidade conjunta, ver meu irmão se cagando de medo e beijar a Lily, isso tudo em um só dia.…. É muita emoção para uma simples sexta feira, sem contar que eu acabei com o Absolut do Sombra e amanhã quando voltar para casa, vou ter pela primeira vez uma peludinha como colega de quarto.

—Essa é com certeza a melhor sexta feira em meses—Disse eu antes de dormir sentada.


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