Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 22
Namorada de Mentira


Notas iniciais do capítulo

Queridíssimos, agora que comecei a faculdade vai ser mais difícil escrever nos prazos, mas vou tentar ao máximo.
E só de aviso, esse capitulo altera umas quatros vezes entre o ponto de vista das duas.
Espero que gostem, boa leitura!



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Dara_Pov(On)

Aff, graças a Deus acabou hoje minha primeira semana de aula... E puts, foi tenso... Cara, sabe quando você olha ao redor e vê que fez besteira, ou melhor, muita besteira? Pois é exatamente assim que eu me sinto.

Eu olho a Alice, ela me sorri sem graça e depois saí de perto de mim. Dá uma dor no coração quando isso acontece, não queria machucá-la, sei que do jeito que fiz deu a parecer que eu não me importava com os sentimentos da garota, muito menos com ela... Mas é que meu coração ainda dói bastante do meu último relacionamento e eu achei que... Eu achei que talvez... Ah esquece, não tem justificativa, foi tudo culpa minha.

 Hoje na hora do almoço peguei minha comida rapidamente e fui para uma sala qualquer, só para não ser incomodada e não falar com a Lily, que aliás, eu vi se pegando com meu irmão pelos corredores da escola. Sentei no chão para que não vissem minha sombra da porta, peguei meu celular e entrei no what’s app, a foto de perfil da Alice estava em preto e branco e seu status dizia:

 “Sempre que tudo parece estar bem o universo aparece e diz foda-se para minha felicidade”.

Aí você vai falar, ah mas isso não é necessariamente para você... Eu até concordaria, se ela não tivesse escrito isso uma hora depois da nossa conversa no parque de diversão, ou seja, isso foi escrito há três semanas e isso faz sentir-me um ser humano terrível, porque né, eu não sou um monstro no final das contas.

Outra que está estranha desde a ida ao parque de diversão é a Lily, até que comigo não, quer dizer, não muito, ela conversa normalzinha e do nada fica... Apática...  Meio triste... E isso me preocupa, porque eu não sei o motivo, muito menos o que fazer para fazê-la se sentir melhor.

—Aff, está chovendo—Disse Lily fechando a cara.

—Qual o mal nisso? —Perguntei, estávamos quase na portaria.

—Sei lá, não gosto do céu fechado... É triste.

—Ah, mas você vai embora mais tarde, até lá já parou a chuva.

—É mesmo, mas estou quase pedindo para o Clarck me levar embora, vou para a casa dele depois da natação.

—Hum, eu pediria... Falando nisso, o Sombra vai trabalhar até mais tarde hoje... Vou ter que ir para casa a pé.

—Ué, mas e sua lambreta?

—Ele me avisou isso agora pouco, deixei a magrela em casa.

—Eita, aí é difícil... Você tem sombrinha ou guarda-chuva por acaso?

—Nadinha.

—Então pega a minha sombrinha—Disse Lily mexendo em sua bolsa, eu hesitei em pegar—Pega boba, porque aí eu vou ter mais um motivo para chamar o Clarck.

—Ok... Eu acho.

Chegamos a entrada da escola, Lily iria apenas me acompanhar até aquele ponto, estava tão bom conversar com ela, podia ter um pouco mais de piso à nossa frente para andarmos.

—Tchau Dara—Disse Lily me abraçando.

—Tchau Lily, devolvo amanhã a sombrinha.

Eu a abracei fortemente, fechei os olhos e inalei seu delicado perfume ao me aproximar, eu sou totalmente contra as drogas (tirando bebida alcoólica que eu não considero com droga, é mais um calmante para mim), mas o cheiro da Lily pode ser considerado com certeza uma droga viciante, que cheiro mais gostoso. O ruim é que a abracei tempo demais.

—Dara, pode me soltar agora—Disse Lily.

—Opa—Disse eu abrindo os olhos e me afastando—Foi mal, tô numa coragem lascada de encarar essa chuva.

—Agora até deu uma parada, se quiser ir embora eu sugiro que vá agora—Disse Lily arrumando a gola da minha blusa, ela sorriu para mim de uma forma tão meiga— Tchau cunhada.

—Tchau cunhada—Disse eu finalmente indo contra a chuva.

Sombra chegou em casa às oito da noite, eu estava em meu quarto comendo pipoca com o Sr. Almíscar deitado ao meu lado, estava ouvindo música enquanto olhava o teto.

—Preciso de sua ajuda—Disse Sombra entrando em meu quarto visivelmente agitado.

—Fala então magrelo! —Disse eu me levantando.

—Namora comigo? —Disse ele desesperado.

—Oi?! Depois de 18 anos de vida resolveu gostar de mina?

—Não sua tonta, de mentira.

—Oi?!...Não... Oi?!

—Ai, minha avó convidou alguns funcionários dela e familiares para uma festa amanhã... Só que, tirando minha avó e irmãos... Todo mundo pensa que eu sou hétero.

—Hum... E para que uma namorada falsa se todo mundo já pensa que você é hétero?

—Porque sim, porr@... Me Ajuda Dara!!... Nunca te pedi nada—Disse Sombra me chacoalhando.

—Mentira! —Disse eu em tom de deboche.

—Tá bom, não te pedi nada essa semana.

—Mentira! —Afirmei novamente levantando a sobrancelha.

—Ok, não te pedi nada hoje, ou nas duas horas anteriores, se não for válido o argumento anterior—Disse Sombra quase esperneando já.

—Hum, você sabe que eu vou te ajudar de todo jeito né? —Disse eu sarcástica.

—Filha da P$%@! Fez eu me humilhar à toa.

—Sim sim.

—Vaca! —Disse Sombra bagunçando meu cabelo (odeio que façam isso).

—Viado... Ui, tudo começa com V—Disse eu rindo.

—Você não tem jeito mesmo, né Dara.

No dia seguinte, um pouco antes do meio dia, Sombra já estava preocupado com o que ia vestir, pior, estava preocupado com o que EU ia vestir também. Aff, nem eu me preocupo com isso, mas tudo bem, entendo a preocupação dele, quer passar uma boa impressão, mesmo que falsa.

Vesti um vestido não tão gótico para variar, quer dizer, pelo menos não era preto, era azul marinho. Sombra não me deixou colocar lente, mas não falou nada contra os piercings, ele mesmo foi com os dele. Sombra colocou uma bermuda simples, camiseta de banda e foi assim mesmo, aquela blusa deixava em evidência seu braço tatuado, que sempre é tampada pela camisa social que trabalha.

Quando chegamos à porta da casa da avó dele ele pegou minha mão e disse quase sussurrando “chega sorrindo”, eu atendi seu pedido e adentrei a casa parecendo realmente a namorada dele (sou uma boa atriz pode falar). O gozado é que basicamente quem não sabe de nossa homossexualidade, pensa que somos namorados, sem brincadeira, é só eu postar uma foto com ele no Face ou no Insta e chove de comentários como: “Você e seu namorado são lindos juntos”, “Caramba, vocês ainda estão juntos?, parabéns aí”, “Casal mais lindo que eu conheço”. Pior que tanto o Sombra quanto eu leva na brincadeira e às vezes até agradecemos os comentários (Rindo muito, claro), admito que somos até parecidos no estilo e nos conhecemos há muito tempo, mas queria saber o que faz as pessoas pensarem que somos um casal.

Voltando à festa, a avó do Sombra ficou caladinha ao nos ver, apenas me encarou(como sempre), aquela velha me odeia, diga-se de passagem, ela diz que sou uma má influência para o netinho dela... Fazer o que, o problema nunca é dos filhotes, sim dos amigos deles, quem sou eu para discordar do raciocino de uma mãe ou avó (que não deixa de ser mãe).

O Martin estava em um canto afastado de todos conversando com Megan do outro lado da tela do celular, como o Sombra estava muito ocupado se mostrando para seus colegas de trabalho eu resolvi ir ficar ao lado do Martin mesmo, pelo menos eu conhecia ele um pouco ao contrário de todos lá.

—E aí quatro olhos? —Disse eu tentando chamar sua atenção.

—Oi Dara, por que você ainda me chama de quatro olhos? Eu quase não uso mais óculos.

—O apelido quando pega, meu bem... Ele fica. Mas então, o que faz de bom?

—Nada, só estou conversando com minha namorada.

—Hum, que bom... Faz bem, a Megan é muito gente boa.

—É mesmo, sabia que sou apaixonada por essa garota desde o primeiro dia de aula do primeiro ano?

—WHAT!!! —Disse eu surpresa.

—Sim, mas pensei que nunca teria chance com ela... E olha hoje... Ela é minha namorada... Eu não posso deixa-la escapar... Não mesmo.

—Você é muito romântico e atencioso, sei que vai tratá-la bem. Mas só um toque, nem sempre a garota que você beijou a primeira vez é aquela que você vai casar, ter filhos... Enfim... Só fica o toque.

—Mas ela não foi a primeira garota que eu fiquei, ela só é dona da boca mais perfeita e do sorriso mais bonito que eu já vi... E pode ter demorado muito tempo para encostar naqueles lábios, mas com certeza cada segundo de espera valeu a pena.

“O sorriso mais bonito... Eu conheço uma garota assim, mas quando se é lésbica e a outra garota é hetero... Tudo fica mais difícil, infelizmente”.

—Cara, você é muito romântico... E às vezes até mais gay que seu irmão—Disse eu o atentando.

—É, eu até admito, sou muito escandaloso as vezes, tenho que melhorar isso.

—Com certeza... Mas...

—Eu não curto isso, e tudo bem também, porque... Meu jeitão faz sucesso com a mulherada—Disse ele piscando para mim.

—Oh se faz... —Disse eu rindo— Pior que a prova tá do outro lado da linha né.

—Claro, mas queria que ela estivesse aqui.

—Ela é uma garota de sorte.

—Na verdade o sortudo sou eu.

—Meu Deus! —Disse eu o abraçando—Para de ser tão fofo! Se não eu juro que te jogo na piscina!!

—Duvido! —Assim que disse isso eu o fuzilei violentamente—Não duvido não, não duvido não, eu juro que não duvido!!

Falando na piscina, alguns caras pegaram o Sombra pelos braços e pernas, o carregaram até a piscina e jogaram o coitado de um jeito tão feio na água, tadinho, o som dele caindo na água parecia mais o som de osso sendo jogados no chão. Como não havia mais ninguém na piscina, creio que ela estivesse bem gelada, isso e o grito dele ao cair na água comprovam minha teoria.

Eu peguei uma toalha sobre uma mesinha perto da piscina e levei para meu amigo, ele já havia nadado até as escadas.

—Uau... Isso é o que chamaria de “cair de cabeça”—Disse eu entregando a toalha.

—Sério? Eu diria que isso está mais para ser jogado de cabeça, Aff, acho que quebrei uma costela—Disse ele se sentando na beirada da piscina e olhando atenciosamente ao redor.

Tirei minha sandália e sentei-me ao seu lado.

—Então, você tem algum ficante na empresa? —Perguntei o mais discretamente possível.

—Não, eu não misturo amor com trabalho... Pelo menos nisso eu sou profissional.

—É, agora você é.... —Quando ia terminar de falar a frase vi alguém que não devia estar lá—Foi por causa dele que você me trouxe aqui? Por causa do Eduardo, o seu ex? —Disse brava, mas sem gritar.

Olhei para Sombra, ele encontrava-se catatônico. Não tive muito tempo para pensar, o cara ainda não havia nos visto, mas vinha em nossa direção, então eu segurei sua mão e o puxei para dentro da casa, subi as escadas e me tranquei com Sombra no quarto da avó dele, ele ainda continuava em silêncio.

—Você me trouxe aqui para isso Sombra? —Perguntei novamente, ele jogou-se na cama da avó dele e passou apreensivo as mãos sobre a boca—Responda!

—Eu não sei.

—Como não sabe?

—Eu sei lá, não esperava vê-lo aqui.

—Conta outra cara!

—Juro.

—aham, acredito muito—Disse eu sarcasticamente— Ex namorados não brotam do chão... Quer dizer, no seu caso até brotam, mas não esse ex em questão.

—Tá bom, eu vou abrir o jogo... O Eduardo agora é casado, ele casou-se com uma garota, quase que três meses depois que nós terminamos e... E quando eu ouvi que ele havia se casado eu meio que surtei, mas até aí tudo bem... O ruim é que minha avó o convidou para a festa, ela nunca soube que ele era gay, muito menos que foi meu namorado, para ela o Eduardo é só um antigo amigo meu. E... E...

—Você está fazendo isso para mostrar que está bem também—Disse eu.

—Isso, eu não sinto mais nada por ele, mas eu me sinto inferior sabendo que ele está casado, aparentemente feliz e eu... E eu... Estou feliz também, mas não como a sociedade diz que deveria estar.

—Ai... Por que você não me disse isso?

—Sei lá, não me sinto bem perto dele, muito menos falando dele—Vi suas feições entristecerem— Eu nunca entendi por que ele terminou comigo e...—Seus olhos estavam vermelhos, ele queria chorar.

Droga, estou sentindo-me uma idiota novamente, eu passei um tempão chorando por causa da minha Ex, durante todo esse tempo o Sombra estava do meu lado, me dando apoio, me distraindo, dando força. Quando esse garoto terminou com ele, Sombra simplesmente disse que estava bem, depois de uma semana mesmo ele foi numa balada, arrumou alguém e assim foi até hoje, não arrumou outro namorado, só ficantes e parecia feliz com isso. Eu devo ser muito ignorante, egoísta... Droga!... Podia ter feito mais por ele.

—Sem chorar... Você sabe que isso é uma regra minha.

—Que?! Eu não vou chorar— Ele levantou-se—Ai, vamos embora Dara, não vou conseguir ficar perto dele.

Sensibilizei-me por ele, tenho que fazer algo. Peguei o Sombra novamente pelo braço e o arrastei porta á fora, até o bar na sala de estar.

—O que você está fazendo? —Perguntou Sombra.

—Ué, é proibido beber com meu boy? —Respondi olhando as bebidas.

—Hã?

—Você é meu namorado hoje, então me trate bem. Mas que fique bem claro que se algum momento ficarem gritando “beija, beija!” e você me beijar, eu juro que vomito na tua cara.

—O que?! —Disse Sombra assustado.

—Se bem que todo mundo já pensa que somos um casal então não precisa de muito—Disse eu preparando doses de Whisky para nós.

—Não entendi ainda.

—Olha, nós somos um casal feliz e você vai esfregar isso na cara do cretino que um dia teve a audácia de te dar um fora, porque você é o melhor cara do mundo—Entreguei o whisky para Sombra—Envelhecido 18 anos, deve ser bom.

“HAHAHA... O whisky tem a  idade do Sombra”.

—Obrigado Lunática—Disse ele sorrindo para mim—Te amo, sabia?

—Sabia que um beberão como você ia gostar da bebida, mas você mal bebeu e já está distribuindo “eu te amo” para os outros?... Hardcore hein.

—Você sabe que não estou falando da bebida.

—Eu sei e eu também te amo. Você pode ser magrelo, varapau, lunático, mas... É o melhor amigo que eu poderia pedir, eu devia falar obrigada por isso—Ele me olhou tipo “out, que fofo”—Mas não vou, porque você também é muito chato às vezes.

Dara_Pov(Off)

....................***** ....................

Lily_Pov(On)

 

Estava no carro do Clarck, olhava as gotas de chuva escorrerem no vidro enquanto o carro corria pelas ruas ainda molhadas da chuva.

—Será que vai nevar esse ano? —Perguntou Clarck.

—Não sei—Respondi meio sem interesse, estava um pouco perdida em meus pensamentos.

O carro havia parado no sinaleiro, enquanto estávamos parados vi duas garotas, mais ou menos da nossa idade passeando de mãos dadas, achei isso tão fofo.

— Minha gata gosta de neve, não é? —Perguntou Clarck passando a mão sobre minha coxa.

—É, até que gosto—Disse eu ainda desanimada.

“Será que ela chegou bem em casa? Será que se molhou muito com aquela chuva? Ai, será que a Dara está bem?”

—O que houve Lily? Está passando bem?

—Estou, estou bem sim—Disse eu sorrindo falsamente.

—Sabe Lily, ultimamente... Você anda estranha comigo... O que houve?

“Ai Me$#@! Ele percebeu que eu... AAhhh Me$#@!!”.

—Estranha?! Euuu?!!! —Disse eu assustada.

—Viu... É isso que eu estou falando.

—Não é nada, eu só ando meio voada... Voada demais na verdade.

—Hum... Que bom.

Ai, eu não ando bem comigo mesma, hoje depois que a Dara foi embora eu fui direto para o vestuário, sentei-me ao lado de Alice, ela tem estado tristonha a semana inteira, apesar de permanecermos em silencio, quando ia saindo virou-se para mim e disse cabisbaixa “você é muito sortuda” e uma pouco mais adiante disse “mas você é tão cega”, acho que não era para eu ouvir a última parte.

Depois de ouvir aquilo eu fiquei pensando, ela deve estar com ciúmes de da Dara comigo, só pode. Obviamente eu me sinto mal por isso, estou estragando a felicidade da Dara, e se a Alice terminar com a Dara por minha causa? Desde o dia do parque de diversões, eu tenho certeza que elas são namoradas, aí eu vi as duas se beijando. Eu não sou homofóbica, mas parece tão errado beijar uma garota, só que quando eu vi as duas juntas, eu não sei dizer, senti uma pequena dor no meu coração... Aff, no momento eu senti... Eu queria... Aff, eu queria que ela estivesse beijando a mim, não a Alice... Droga, como posso ser tão egoísta assim? Eu deveria me afastar dela, tentar esquece-la um pouco, poxa, não é justo a Dara perder sua namorada por culpa minha... Mas eu não quero me afastar dela... Sorry Alice.

Passei a noite na casa do Clarck, nada de mais, a maior parte do tempo que passei lá foi assistindo filmes, devemos ter assistido três ou quatro filmes, foi bom. Foi bom ficar abraçadinha com meu namorado, comendo pipoca e assistindo filmes variados. Acabei dormindo assim, enrolada num cobertor que mal me cabia com o Clarck, foi aconchegante. Quando deu cinco da manhã eu acordei, levantei e fui até o banheiro lavar meus olhos.

Abri por um momento o porta remédios e vi uma caixinha que sabia que era da Dara, pois tinha seu nome, abri e estava vazia, mas sei que devia ter piercings lá, era possível até sentir seu perfume na caixinha. Devolvi a caixinha para seu lugar, lavei meu rosto e ao olhar no espelho vi o reflexo de Clarck bem atrás de mim.

—Vai fugir de mim? —Perguntou ele me abraçando e me beijando.

—Não, vou esperar até o café da manhã pelo menos.

—Hum... Delicia—Disse ele cheirando meu cabelo.

—Esse “delicia” foi da comida ou para mim?

—Hum... Acho que os dois.

—Você não tem jeito né Clarck? —Disse eu me virando de frente para ele e beijando-o.

—Olha, se você quiser me dar um jeito... Eu não tenho argumentos contra, tá.

—Bobo.

Depois daquela noite e da manhã, tudo parecia tão bem. Voltei para casa ás sete da manhã, fiquei em casa sem vontade de fazer nada e não fiz nada na verdade. No dia seguinte resolvi fazer algo produtivo, mas não quis sair de casa, então fiquei apenas lendo um livro que achei a capa legal, mas é uma porcaria, infelizmente. Era quase uma da tarde quando meu celular vibrou, era uma mensagem. Não conhecia o número, mas resolvi olhar do que se tratava.

[Desconhecido]: Dói muito os chifres?

Não havia foto e eu também não conhecia o número, não havia entendido nada. Pensei que pudesse ser a Dara me mandando alguma pegadinha, mas ela estava online também, até mandei um oi e ela me respondeu no mesmo instante basicamente, não é ela.

[Lily]: Não entendi.

[Desconhecido]: Ham, sei que você entendeu perfeitamente. Perguntei se é legal ser corna, traída, enfim...

[Desconhecido]: Saber que seu namorado tem outra.

[Lily]: Hã?! Como assim? Quem é você, eu te conheço por acaso? E o Clarck nunca me traiu.

[Desconhecido]: Aff, chego até a sentir dó de você.

[Desconhecido]: Seu namorado nunca te traiu... Perdão meu bem...Ele está te traindo agora mesmo.

Recebi três imagens logo em seguida, elas pareciam não querer abrir, rodavam, rodavam e não abriam. Quando carregou, eu vi apenas as miniaturas e como reflexo imediato deixei meu celular cair, minha mão parecia ter ficado bamba, Clarck estava naquelas fotos... Mas eu não podia acreditar.

Na primeira foto ele beijava uma garota morena, cabelo longo e de biquíni azul perto de uma piscina. Em outra estava agarrado com ela na piscina, só dava para ver os dois se beijando, mas aquilo não me deixava nada feliz. E na Ultima ela estava sentada numa mesa de costas para a câmera, mas dava para ver que ela estava sem a parte de cima do biquíni, aquela ainda vadiazinha estava tirando a camisa do meu namorado.

—Cachorro! Filho de uma... Idiota, como eu sou idiota! —Gritei eu segurando lágrimas de raiva.

[Desconhecido]: Você está bem? Não me responde há alguns minutos.

[Lily]: Isso é photoshop... Só pode... O Clarck não faria isso comigo.

[Lily]: Poxa, eu dormi na casa dele noite passada... Não é possível que seja ele.

[Desconhecido]: Ainda duvida de mim?

[Desconhecido]: Aff, ok então. Vá à casa do lado dele, na mesma rua, número 115... Eles ainda estão lá, na verdade essas fotos foram tiradas há menos de uma hora... Se tiver sorte você ainda os encontra transando na piscina.

[Lily]: Quem é você? Só me diz isso.

[Desconhecido]: Ham... Ninguém que você precise saber.

Meu coração começou a disparar, tremia, tinha medo, não sabia o que fazer, queria que aquilo fosse mentira, ou quem sabe apenas uma brincadeira de mal gosto. Eu estava confusa sobre Dara e o que sentia sobre ela, mas não queria ser traída... Poxa...

Peguei a bicicleta da minha mãe e fui o mais depressa possível até o endereço, que era a casa do lado esquerdo da casa do Clarck, cheguei até a porta e hesitei por um momento em bater, mas tomei um pouco de coragem e bati na porta. Demorou um pouco até alguém vir abrir, quando a porta se abriu eu quase caí para trás, era Clarck. Ele estava ali parado de frente para mim, com uma toalha enrolada na cintura, cabelos e corpo molhados; naquele momento, eu entrei em choque e não consegui segurar minhas lágrimas.

—Como você pôde me trair? —Disse eu baixinha.

—Lily, minha mãe te disse que eu estava aqui? —Disse Clarck surpreso.

—Me responda? Por quê?

—O que? Lily, você entendeu tudo errado, eu só vim nadar na casa do meu amigo.

Puxei sua toalha e por mais que ele tivesse segurado logo em seguida foi o suficiente para ver que não havia sunga, ele estava realmente nu.

—Você nada pelado na casa do seu amigo? —Disse eu em choque.

—Amor, não isso, é que eu estava tomando banho.

—Então cadê seu amigo?

—Aqui—Disse uma voz feminina.

Uma mulher chegou pelo corredor, segurando apenas uma toalha sobre seu corpo, tentando cobrir seus enormes peitos e partes intimas, podia ver claramente que estava nua.

—Como pôde me trair com ela seu cretino? —Disse eu apontando para a morena logo á minha frente.

—Hum... Meu bem... Acontece que você meu anjo...— A mulher tentou falar.

—E você cala a boca sua vadia, que eu não te perguntei nada.

—O que?! —Ele olhou rapidamente para trás— Lily, não é o que você está pensando.

—Aham, eu acredito.

Saí correndo na direção oposta, Clarck tentou segurar minha mão, mas eu desviei dele e puxei sua toalha a jogando de qualquer jeito no chão. Ele gritava meu nome, mas pareceu não sair do lugar, não posso culpa-lo, eu também não sairia só de toalha no meio da rua, eu se quer virei para olha-lo. Corri até a bicicleta que havia deixado jogada na calçada.

Quando estava descendo a rua vi Dara mexendo no jardim da avó dela, o que ela fazia ali? Eu a encarei enquanto passava.

—Lily!! —Disse ela surpresa, mas eu nada disse—Lily! Lily! —Gritou ela novamente, mas eu de novo não disse nada.

Então é isso? Droga, lembrei-me das vezes que ele perguntava por que eu estava estranha, cretino... Só queria saber se eu não sabia se ele me traia, talvez ele queria terminar comigo naqueles momentos mesmo. Só de pensar em todas as vezes que ele me deixou esperando, me deu bolo, me deu desculpas esfarrapadas... Provavelmente ele estava comendo a vizinha. Eu sou uma idiota, me sinto apenas um objeto sexual e de status, porque sei que ficamos famosinhos na escola por sermos um casal. Droga! Como sou ingênua, ele provavelmente sempre me traiu, porque desde que o conheço já havia visto aquela garota.

Fui tirada de meus pensamentos por uma lambreta que me fechou, era Dara. Ela parou a moto e veio até mim.

Lily_Pov(Off)

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Dara_Pov(On)

No domingo tive de ir à minha avó, ela me chamou para almoçar e eu não tive escolha a não ser ir. Depois do almoço fui ao jardim na frente da casa olhar as petúnias da minha avó, adoro petúnias e minha avó tem o jardim cheio delas, por causa da troca de estações o jardim estava um pouco sem vida, mas as petúnias ainda estavam vivas. Resolvi cuidar um pouco das plantas, quando estava regando as plantas vi uma figura conhecida ao longe.

Lily estava vindo em minha direção na rua, estava numa bicicleta, eu fiquei feliz ao ver que era ela, mas quando passou por mim vi que chorava, nos encaramos momentaneamente, assustei muito.

—Lily!! —Gritei meio desesperada, mas ela nada disse—Lily! Lily! —Gritei novamente, mas ela desviou o olhar.

Meu coração doeu por vê-la assim, não sei o que houve, mas deixei tudo o que estava fazendo para descobrir.  Fechei a torneira, corri para pegar minhas chaves sobre meu casaco na sala, peguei minha moto e tentei fazer o caminho que creio que ela seguiria para voltar para casa. Alguns quarteirões a frente a encontrei, gritei seu nome três vezes, mas ela não me ouviu, então resolvi para-la com a moto.

—Ei... Ei... O que houve? Por que você está chorando? —Disse eu a abraçando, ela soltou a bicicleta de qualquer jeito e se aconcheguei em seus braços.

—O Clarck me traiu com a Vizinha—Disse ela soluçando.

—O que?! —Disse Eu assustada—Mas... Mas... Mas que filho da p*$@ desgra$%*&...

“Eu sabia... Eu Sabia... Aquele desgr@$@#% estava comportado demais para meu gosto... Ele me paga, como ele tem coragem de fazer isso com um amor de pessoa que é a Lily... Ele me paga”.

—Pois é, eu o vi só... —Ela não conseguia falar direito— Nunca pensei que ela fosse capaz de me trair... Como eu sou boba.

Eu a apertei mais em meus braços e beijei sua testa, mal posso imaginar como ela está se sentindo, mas eu sentia raiva do meu irmão e ao mesmo tempo sentia a dor de Lily...

—Lily... Vou fazer ele pagar, não se preocupe—Disse eu olhando em seus olhos cheios de lágrimas.

Ela olhou para mim de uma forma penetrante e encostou sua testa a minha, meu coração disparou naquele momento, olhei para seus olhos e estavam fechados. Queria beijá-la, mesmo que não fosse o melhor momento, eu queria muito. Cheguei um pouco para trás e levantei seu queixo, o que a fez olhar para mim momentaneamente, me aproximei um pouco, estava quase perto de sua boca quando ela disse:

—Dara... —Disse ela de forma calma olhando em meus olhos.

—Sim... —Gelei novamente, ainda estava perto dela.

Dara_Pov(On)

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Lily_Pov(On)

Dara estava se aproximando de mim, e por um momento parecia que a dor de ter acabado de ser traída havia se dissipado no ar. Eu sabia que iriamos nos beijar... Eu queria isso... Mas é errado... Muito errado. Eu estava muito confusa, uma parte minha estava indignada por Clarck ter me traído, outra estava feliz por isso; uma parte queria que Dara estivesse ali e queria desesperadamente beijá-la, outra tinha medo de beijá-la e gostar disso, mas nenhuma parecia estranhar isso, o que me deixou preocupada.

“Eu não posso ficar com uma garota, ainda mais depois de ser traída, muito menos com a irmã do meu namora... Perdão, agora é ex-namorado”.

Mesmo com o coração palpitando e cabeça á mil eu consegui pensar em algo racionalmente, me lembrei do que havia pensado alguns dias atrás... E a conclusão que tinha chegado “eu tenho que me afastar da Dara se não quiser ficar mais confusa ainda”, então aproveitei o momento para isso.

—Dara... —Disse eu tentando parecer calma, mesmo estando desesperada.

—Sim... —Disse ela assustada.

—O que você fazia naquela casa?

—Ué, minha avó mora lá.

—Entendo... —Disse eu me afastando e pegando minha bicicleta.

—Ei ei... O que houve? —Pergunto me segurando pelo braço.

—Se você sabia que ele estava me traindo... Podia ter me contado a mais tempo— Disse eu a fuzilando com o olhar.

Eu sabia que Dara não tinha nada a ver com isso, ela só estava no lugar errado na hora errada... Mas não podia continuar assim... Não podia me deixar levar por esses sentimentos malucos.

—O que?! Eu não sabia que ele estava te traindo... Eu tinha minhas dúvidas, mas eu não sabia.

—Ham... Você é tão mentirosa quanto seu irmão... Podia ter me contado a mais tempo e sem mistério, eu não ficaria chateada.

—Mas... —Antes de deixá-la terminar a frase eu saí em minha bicicleta.

Eu saí novamente sem olhar para trás, comecei a chorar novamente... Mas agora não sabia dizer ao certo qual o motivo.


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