Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 20
Número desconhecido




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Quando cheguei de viagem a primeira coisa que fiz depois de dormir um boa noite de sono (obvio) foi falar com as gêmeas, porque eu mal cheguei e as meninas vieram me perguntando mil coisas sobre mim e a viagem, depois de contar tudo chamei a Magda para uma conversa mais reservada, mesmo não sabendo sobre o que queria falar ao certo, acho que que quero mais é conversar mesmo, e ela é provavelmente me entenderá.

—Então, o que você queria falar amiga? — Disse Magda se sentando.

—Bem, esse verão resolvi visitar minha tia avó Gertrudes como você já sabe (Sim, minha tia chama-se Gertrudes pode rir se quiser), na verdade fui intimada a ir visitá-la, ela realmente gosta muito de mim e meio que não teve como fugir dela. O dia que ela ligou para mim Clarck estava na minha casa, sentado ao meu lado na verdade.

—E? —Perguntou Magda.

—Então ele fez algo que eu não gostei.... Na verdade gostei não é a palavra certa...

— _ _ _ _ _ _***_ _ _ _ _ _ _

—Ah tia Gertrudes, é que.... Bem eu tinha combinado de viajar com o Clarck nessa semana.

—Quem é Clarck anjo? —Perguntou minha tia.

—Meu namorado, tia.

—Ahhhh... Traz ele também então, vão estar viajando do mesmo jeito e aqui tem piscina também anjo.

—O que?! —Dissemos nós dois ao mesmo tempo.

—Hum, pelo visto ele está do seu lado não é fofa.... Deixa-me falar com ele então...

O celular estava no viva voz, então ele poderia responder sem sair do lugar.

—Olá?! —Disse Clarck meio receoso.

—Oi fofo, você pode trazer minha sobrinha para mim querido?... Eu não a vejo a séculos.

Eu vi que ele pensou em hesitar e dizer sim, sei que ele adora praia e aquela era uma oportunidade única, mas ele virou-se e viu minha cara fechada.

—Hum, eu até poderia... Mas não tenho dinheiro para passagem, nem hotel, nem nada—Disse Clarck—Sinto muito tia Gertrudes.

“Chamando minha tia de tia Gertrudes, que intimidade hein... Você nem a conhece”.

—Isso não é problema, tanto eu quanto meus filhos viajamos muito, temos muitas milhas acumuladas. Podemos trazer e levar de volta vocês dois.

—O que?!—Dissemos nós dois, novamente.

—Mas tia Ger... — Tentei dizer, mas Clarck tampou minha boca.

—Eu levo ela para você tia Gertrudes— Disse Clarck animado.

“Clarck... VOCÊ NÃO FEZ ISSO!!!”

—Hum, então espero vocês aqui, tchau meus anjinhos.

—Tchau tia Gertrudes—Disse Clarck ainda tampando minha boca.

Assim que ela desligou eu tirei a mão dele de cima de mim, primeiramente eu fiquei sem palavras pelo que o Clarck havia acabado de fazer, depois quando consegui conversar eu disse:

—Você ficou doido Clarck? —Perguntei indignada.

—Perdão, mas isso vai ser ótimo para nós—Respondeu ele sorrindo.

—Nós?! Você só pensou em você agora, sabia? —Disse eu nervosa.

—Mas eu pensei.... Eu pensei que seria bom viajar com você, não era isso que estávamos querendo fazer nesse verão? Não íamos pegar o carro e cair na estrada? Pois é, eu nunca poderia te levar para tão longe, agora além de passagens grátis de avião temos também praia.

—Você não entende mesmo né? —Disse eu levantando-me para não brigar com ele.

Estava indo para a cozinha pegar um pouco d’água, estava debaixo do portal, foi quando eu senti duas mãos sobre minha cintura e um perfume gostoso no ar, Clarck me abraçou por trás e colocou sua cabeça em meu ombro, dando para ver perfeitamente seus olhos verdes e misteriosos me encarando. Naquele momento veio um pequeno flashback na minha mente, lembrei-me da Dara e do seu perfume doce que chega a ser enjoativo na minha opinião, lembrei-me da noite que ela me puxou quase do mesmo jeito para que eu não acordasse seu amigo e lembrei da cor intensa dos seus olhos também me encarando sobre uma luz fraca, aff tudo me lembra essa garota agora. Tudo isso começou aquela noite na sua casa, se eu não me conhecesse diria que estou sentindo-me atraída pela irmã do meu namorado, EU NÃO SOU LÉSBICA, EU NÃO POSSO SER, Meu Deus eu já não sei o que fazer!! Eu não sei dizer o que é pior, se é esse sentimento de confusão, se é ter quase certeza que tive ciúmes essa semana quando eu a vi beijando uma colega minha da natação, ou se é ver ela no olhar do Clarck.

 Essa última coisa é a mais bizarra de todas para mim, é difícil explicar, só sei que vejo a Dara nos olhos do Clarck e o Clarck nos olhos da Dara, mas eles não são nem parecidos, só os olhos que são igualmente hipnotizantes.No fundo eu sei que tudo isso é só uma fase que provavelmente eu vá esquecer logo, até lá espero não perder meu namorado por uma ideia idiota que com certeza não combina nada comigo.

Talvez ele esteja certo, tudo que precisávamos era um tempo juntos. Antes estávamos mais próximos, mas um pouco antes das férias começarem eu não sei dizer.... Quase não nos víamos mais, os nossos clubes estavam nos pressionando cada vez mais por causa dos interestaduais, estava na época de provas, essa correria desgasta qualquer um e qualquer relação.

—Ei Lily... Terra para Lily...Chamando Lily.... Tentando contato imediato com uma gata de um sistema planetário desconhecido—Disse Clarck brincando e acenando para mim que parecia distante, até que olhei para ele— Você está tudo bem?

—Estou sim, só pensando.

—Hum, perdão amor, se você não quer ir a gente liga agora mesmo para sua tia e eu falo para ela qualquer coisa, sei lá eu conserto isso—Disse Clarck—Mas é que eu achei a chance perfeita para ficarmos juntos, só nós e o mar, quem sabe um vinho ou... —Ele ia falar algo, mas eu o interrompi.

—Você tá certo.

—Oi?! Eu tô o que? —Disse ele assustado.

—Você está certo. Andamos muito distantes um do outro, não éramos assim, acho que é a correria da escola e os clubes e os campeonatos interestaduais no próximo semestre....  Enfim, é muita coisa junta.

Ele ficou balançando a cabeça para mim enquanto olhava o nada, parecia meio abobado.

—Eu nem acredito que você disse que eu estou certo.

—Ei, você só ouviu isso por acaso?

—Não, mas esse é o mais importante.

Depois disso os dias pareceram passar rápido até o dia do voou. Não é segredo para ninguém que eu morro de medo de avião, mas antes de embarcar, um pouco depois de despedir dos nossos pais a Dara chegou lá no aeroporto, veio correndo até nós e me entregou um bichinho de pelúcia, um sapinho que dava para passar os braços ao redor do meu pescoço, eu não gosto de coisas de pelúcia, mas adorei o presente.

—Você me disse que tem medo de avião, achei que fosse precisar—Disse ela encarando seu pai que estava do nosso lado.

—Ah, obrigada—Agradeci e então a abracei para me despedir—É muita consideração sabia?

—Imaginei que diria isso—Ela disse isso sorrindo de lado (Fofo).

—E para mim Dara? —Perguntou Clarck— Não trouxe nada não?

—Não. Mas cuidado para não perder o topete no mar, é difícil encontrar uma peruca tão malfeita com essa—Disse Dara sorrindo estridentemente.

—Tava demorando...—Disse Clarck normal demais diria eu.

—Estou brincando, mamãe me mandou te entregar uma coisa—Ela mexeu na mochila em suas costas— Toma, um protetor solar.

—Hã, por que você está me dando isso? —Disse Clarck olhando a embalagem.

—Toda vez que viajávamos, contando com a última ida ao acampamento, você sempre esquece o protetor solar e sempre pega do meu. Mas dessa vez não vou estar lá para te emprestar, então faz o favor de pegar isso!

—O-obrigado?

—De nada, agora tenho que ir, tchau pessoal.

Dara saiu sem mal olhar para trás, mas quando ela já estava um pouco longe de nós, virou-se e disse olhando para seu pai que a olhou chegar e sair sem dizer uma palavra se quer.

— E pai, eu te amo tá! —Dara disse isso com um olhar tão triste.

Depois de mais um tempinho, dentro do avião, depois que ele decolou (e eu tive um pequeno infarto), pedi para Clarck que conversasse comigo para me distrair, estava tendo um pouco de turbulência, abracei o braço dele e nossa conversa durou exatamente cinco minutos, que foi o tempo que ele levou para dormir. “Que belo namorado eu arrumei... Custava ficar acordado, poxa?!” Reclamava eu para mim mesma, então peguei o sapinho que Dara me deu e o abracei, provavelmente ela sabia que isso ia acontecer.... Adoro essa garota, adoro mais ainda porque foram quatro horas de voou, sem contar as paradas até o aeroporto até Los Angeles e o Clarck dormiu basicamente a viagem inteira, era só ele sentar no avião que ele pagava no sono.

Assim que descemos e pegamos nossas malas fomos esperar do lado de fora do aeroporto, era para minha tia estar esperando por nós lá, mas não estava.

—Vou ligar para tia Gertrudes—Disse eu pegando minha bolsa.

—Ok, vou ligar para me pai avisando que cheguei bem—Disse Clarck.

—Ok.

Clarck se afastou um pouco de mim, eu soltei minha mala para abrir minha bolsa e pegar o celular, ela estava do meu lado. Assim que peguei o celular passei a mão novamente sobre a mala, mas eu apenas senti o vácuo, olhei para baixo e ela não estava mais lá, fiquei um pouco em desespero, olhei em volta e não vi nada.

—Clarck!! —Gritei eu.

—Espera um momento amor, eu já vou aí—Disse ele tampando a saída de áudio do celular.

—Não, vem aqui agora.... Roubaram minha mala—Gritei desesperada.

—O que?!

Ele desligou o celular na hora e veio até mim. Tentamos achar quem havia levado a mala, mas não vimos nada, só achamos o sapinho que a Dara me deu jogado no chão, ele estava em cima da mala e caiu quando o ladrão a levou. Por sorte todo meu dinheiro, documentos e aparelhos eletrônicos estavam na minha bolsa, na mala estavam só minhas roupas mesmo, mas de todo jeito é chato ser assaltada. Fizemos boletim de ocorrência um pouco depois da minha tia chegar para nos buscar.

— _ _ _ _ _ _***_ _ _ _ _ _ _

—Tá bom amiga, você falou tanta coisa que eu não sei que ponto você quer chegar.

—Tô confusa!

—Tá, nota-se isso mesmo, mas sobre o que? Sobre namorar o Clarck, sobre sentir-se atraída pela Dara, ou o que?

—Eu não sei Magda— Tampei meu rosto— Eu acho que precisava mais era desabafar. Essa viagem foi incrível com o Clarck, eu estive com minha família e ao mesmo tempo consegui ter uma viagem romântica com meu namorado.

—O que te deixou mais confusa ainda né? —Perguntou Magda colocando a mão em meu ombro.

—Sim. Eu tenho certeza que o amo, mas durante a viagem...

— _ _ _ _ _ _***_ _ _ _ _ _ _

No sábado à noite minha prima Ruby me convidou para uma festa na casa dela, eu fui com a tia Gertrudes no supermercado, compramos tudo que precisava e na volta resolvi mandar umas fotos para a Dara. Ela tinha me pedido fotos de Los Angeles, mas quase todas que eu mandei eram selfs minha, espero que não se importe com isso.

Eu estava sentada perto da piscina, Clarck estava deitado na rede ao meu lado mexendo no seu celular assim como eu, mas ele podia ver com quem e o que eu conversava, eu não, já que ele estava deitado basicamente sobre a espreguiçadeira onde eu estava sentada. Mas aí meu tio pediu para Clarck o ajudar com a churrasqueira enquanto ele preparava a carne, Clarck foi ajudar e deixou o celular sobre a mesinha ao lado da minha espreguiçadeira, eu não iria nem mexer no celular dele, mas aí o aparelho começou a vibrar. Olhei quem era, o número estava como “privado”, resolvi atender mesmo assim.

—Alô! —Disse eu.

—Ah, número errado, perdão o incomodo moça— Disse uma voz feminina do outro lado da linha.

Logo em seguida a mulher desligou, achei estranho e resolvi olhar a lista de chamadas do Clarck, vi que havia vários números privados nela, fiquei mais preocupada e resolvi olhar no what’s app dele, tinha senha, mas por sorte era a mesma do celular e eu a conhecia. Olhei nas conversas e nada de espetacular, a última mensagem dele foi de um colega do basquete às 17:00, não olhei o que estavam conversando, mas mesmo assim... Sei lá, o pai dele costuma ligar com um número privado, levei um susto quando vi que não era ele.

— _ _ _ _ _ _***_ _ _ _ _ _ _

—Sobre isso o que você quer que eu diga? —Perguntou Magda.

—Sei lá, eu tô surtando um pouco... Nunca fui ciumenta, mas aquilo me fez ficar pensativa, tanto que eu olhei o celular dele mais três vezes durante a viagem, não tinha nada de mais as três vezes.

—Você gosta dele, tá na cara isso... Então por que essa dúvida, essa sofrência toda?

—Eu já disse que não sei por que, eu não me sinto no meu normal...

—Ok, sobre tudo que você me falou.... Sobre seu namorado, você não está errada de sentir ciúmes, é impressionante que existe um milhão de pessoas por aí, mas as invejosas querem aqueles que já estão comprometidos... E sobre a Dara, isso tudo se resolver com uma conversa.

—Você tá doida se acha que eu vou conversar com ela sobre isso.

—Quem falou em conversar com outra pessoa? Estou falando de um monólogo, converse contigo mesmo, talvez isso tudo seja só um pouco falta de conhecimento de você mesma.

—Pela milésima vez EU NÃO SOU LÉSBICA! Eu não gosto de mulher, isso é na verdade algo repulsivo de se pensar! —Gritei eu já sem paciência (perdi ela à toa aliás)

—Não estou falando disso—Disse Magda calmamente (senti uma pequena bofetada na minha cara pelo jeito que ela me respondeu).

“Droga! Esqueci-me da Magda e a namorada dela, fui uma cretina agora”.

—Perdão—Disse eu cabisbaixa (envergonhada na verdade) — Sobre o que você está falando então?

Levantei-me e comecei a andar pela sala, credo, estava parecendo mais um animal enjaulado.

—Em primeiro lugar, se ser lésbica ou não é tão importante para você.... Saiba que antes da Fernanda nunca houve outra, simplesmente aconteceu. O coração não escolhe quem gostar—Disse Magda sorrindo— E sobre o que estávamos falando... Sempre que me sinto perdida, uma meditação me ajuda a colocar a cabeça nos eixos.

—Desculpa de novo amiga, tô me sentindo uma idiota agora.

—Sei que não falou por mal—Disse Magda sorrindo para mim.

—Agora só duas coisinhas.... Não sabia que meditava e eu nunca meditei antes, não sei nem por onde começar.

—É simples, feche os olhos e converse com você mesma, só que mentalmente tá.

— Ai amiga... Você está certa—Disse eu.

—Sobre o que especificamente?

Parei de frente para a parede branca e encostei minha cabeça nela, não pergunte por que, nem eu sei a resposta, apenas deu vontade.

—O problema está em mim.... Mas tenho que ser franca, não sei como acabar com ele.

—Bom, às vezes o sintoma da doença é também sua cura—Disse Magda se retirando da sala.

—O que isso significa? —Disse eu a seguindo com o olhar.

—Pensa um pouco, você é tão inteligente, mas quando o assunto é sentimentos parece até uma mula—Respondeu Magda sem parar de andar.

Ela me deixou sozinha, estava tão confusa, então me joguei no chão e fiquei a observar o teto, o piso frio parecia queimar em contato com minha pele quente. Depois de tanto pensar nas palavras da Magda e rever tudo que eu havia dito e passado nos últimos dias, acabei chegando a uma conclusão:

“Eu realmente não sei meditar porcaria alguma”.


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