Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 17
Pesadelo Juvenil


Notas iniciais do capítulo

Eu estava escrevendo, começou a ficar grande demais então eu resolvi partir esse capitulo em dois.

Boa leitura queridíssimos!



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Estávamos todas sentadas no chão, Dara estava ao meu lado, Magda saiu do quarto por um instante depois voltou e sentou-se junto a sua irmã do lado oposto meu e da Dara.

—Ai gente, é algo simples… São oito da noite e minha mãe já subiu para dormir, então é só a gente ir para o quarto de visitas que é do outro lado da casa, enquanto os pombinhos ficam na sala… Simples—Disse Magda.

—Tá bom, mas e a parte que vocês serão boas companheiras e vão deixar sua irmã e sua amiga namorar em paz? —Disse Dara apontando para Magda e eu.

—Ué, em todo plano. Sabemos respeitar uma coisa chamada privacidade—Respondeu Magda.

—Isso foi uma indireta para mim por acaso? —Perguntou Dara.

—Ah, na verdade não. Eu realmente sei respeitar a privacidade da Megan.

—Aff, segredinhos de novo? —Perguntei em um tom mais alto que deveria.

—Quer saber a verdade Lily? —Perguntou Magda sem paciência.

—Ué, quero.

—Sou lésbica, quer dizer…. Eu acho que sou, e estou namorando uma garota lindíssima, modelo e que me ama e isso já faz quase um ano—Disse Magda um tanto nervosa.

Ui... Perai.... Ui... Era isso?  Caraca... Perai, a Magda tá namorando?  Meu Deus, isso é ótimo, nossa e eu esse tempo todo falando que ela estava sozinha demais, na verdade ela estava escondendo uma namorada.  É... O mundo de hoje é imprevisível.

Fiquei pensando alguns segundos enquanto Magda automaticamente caiu em lágrimas, quando voltei a mim disse animadamente:

—Puxa.... Não sabia que estava namorando, parabéns amiga.... Depois quero conhecer sua girl, tá?

—Sério?! —Perguntou ela parando um pouco de chorar.

—Claro que sim —Disse eu a abraçando e enxugando uma lágrima gorda que escorria em seu rosto—Te conheço desde criança, você acha que o fato de você amar uma garota vai me fazer ficar com raiva de você?

—Obrigada amiga.

—Aliás, Megan você sabia disso?

—Na verdade fiquei sabendo disso hoje também… Mas eu não entendo porque ela está chorando, eu só disse que ela não tinha cara de sapata e do nada ela começou a chorar e a se fazer de vítima.

—Você foi mais insensível que isso, idiota—Disse Magda chorando novamente.

—Viu, foi isso que aconteceu. Eu não te desaprovei e você começou a me insultar.

Dara viu as duas começando a discutir, levantou-se, foi até a penteadeira do outro lado do quarto e pegou uma embalagem de lenços de papéis para Magda.

—Sabe, você pode ter muita repressão do mundo e isso na verdade não importa, mas tendo repreensão da família aí as coisas ficam difíceis—Dara sentou-se novamente—E saber que sua família te ama, não importando esses por menores, causa extrema felicidade, mesmo que não consigamos demonstrar isso.  Quer dizer, eu pelo menos custo a conseguir demostrar felicidade, o Sombra brinca até que eu devo ser filha de um zumbi porquê…. Enfim.... Eu estou querendo chegar à seguinte pergunta, você está feliz Magda?

—Estou… E muito—Disse Magda pulando e abraçando Dara.

Magda soltou Dara e deitou sua cabeça no colo de sua irmã que estava ao seu lado.

—Eu te amo maninha, perdão por isso.... É que eu não consigo expressar em palavras minha felicidade. Mas eu tinha muito medo de perder sua amizade, seu companheirismo.... Você por completo.

—Out, que fofa! —Disse Megan acariciando o cabelo da irmã—Eu também te amo maninha e chorar faz bem também—Megan pegou mais um lenço para sua irmã— E mais uma coisa, se essa garota machucar seu coração.... Eu vou machucar muito a cara dela.

Megan fez uma careta para descontrair e Magda deu uma risadinha abafada do que sua irmã fez.

— Obrigada, mas agora vamos cuidar para que você não seja mais encalhada—Disse Magda enxugando as lágrimas—Vamos ver uma roupa legal para você.

—Nossa, encalhada.... Pegou pesado.

—Ah só uma coisinha, um banho não cairia mal...Você está cheirando à ovo—Disse Dara.

—Dara!! —Disse eu tentando censurá-la.

—O que é? Eu tenho que falar a verdade.

—Ela está certa…— Disse Megan se cheirando— Nossa, o cheiro de ovo tá um pouco brabo mesmo...Aaii.

—Mas não dá tempo de tomar banho—Disse eu.

—Bem, se eu correr dá sim.

Megan olhou suas roupas no closet, pegou um vestido florido, toalha, roupa intima e saiu correndo para o banheiro, mas voltou logo depois que fechou a porta para dar um breve aviso.

—Me esperem aqui, volto em cinco minutos—Disse ela antes e fechar definitivamente a porta.

—Então, o que vamos fazer quando ela for lá para baixo? —Perguntei a Magda, que agora mexia em seu notebook.

—Ver vídeo no YouTube? —Disse Magda.

—Ei, perceberam que a calcinha que a Megan pegou era preta e toda rendada? —Disse Dara sentando no banco ao lado da janela.

—Percebi, mas ela tem langerie mais provocante, então isso não é nada demais—Disse Magda sem nos olhar diretamente.

—Eu vi, mas o que tem a ver a cor da langerie? —Disse eu.

—Nada.... Deixa para lá... Bobagem minha.

—Fala então que bobagem é essa—Disse eu.

—Bem, o que ela quis dizer, mas já não quer repetir porque percebeu que não foi uma indireta tão indireta assim —Disse Magda ainda sem tirar o olhar do notebook— É que para Megan usar uma calcinha daquela cor e tão rendada como aquela, é que ela provavelmente queira mostrar para alguém.... Esse alguém no caso seria o Martin, mas eu duvido, porque igual eu disse ela tem coisas mais provocantes.

—Fiquei com vergonha depois de ouvir a Magda falando... É.…. Bateu uma vergoinha mesmo—Disse Dara com seu lábio inferior para dentro de sua boca.

— Nossa, que maldade... E não creio que fariam isso com a casa cheia e a mãe dormindo no mesmo andar—Defendi Megan.

—Ah, na verdade ele acha que não estamos aqui—Disse Magda.

—Puff, como se você fosse a guardiã dos bons costumes.... Se esqueceu da reunião de família minha cunhadinha querida? —Disse Dara.

—Hã?! o que tem a ver reunião de família com isso? —Perguntei.

Ela levantou a sobrancelha esquerda e fechou o olho direito, lembrei o que aconteceu naquele dia (Na verdade nem sei por que lembrei, mas veio à minha cabeça).

—Como você soube?!

—Quem você acha que te salvou sua pele ô gracinha? Quem você acha que pediu para o Sombra tocar?

—Oiiii?! Como? Quando? Onde?!...Meu Deus, realmente bateu uma vergonha aqui.

—Relaxa cunhada. Aê gente.... Eu vou pegar um copo d’água.... Alguém aceita? —Disse Dara saindo do quarto.

—Não, obrigada—Disse Magda.

Não consegui dizer mais nada, não tinha ideia que a Dara sabia que eu estava dormindo com o irmão dela aquele dia na festa, meu Deus... Sem palavras... Aliás, que motivos ela tinha para me ajudar?

Dara voltou quase que em dois minutos com uma garrafa d’água, que aliás, estava sobre o balcão da pia, ficamos vendo vídeos na internet com a Magda por uns dez minutos, até que do nada escutamos um grito extremamente agudo da Megan e de repente a luz acabou. Fomos correndo ver o que era, mas antes de chegarmos ao banheiro vimos a Megan nos puxando de volta para o quarto, ela nos esperou entrar, depois se apoiou na porta e a trancou, Megan estava muito assustada.

— O que houve? —Perguntou Magda.

—Tem um homem no banheiro, eu não sei como ele entrou aqui... Ai meu Deus, e se a mamãe ainda estiver lá em baixo? —Respondeu Megan quase sem fôlego.

—O que?! —Dissemos nós três ao mesmo tempo.

—Tem um estranho, um ladrão, talvez um estuprador... Aaaiii—Disse Megan visivelmente assustada.

—Talvez fosse o papai—Disse Magda.

—Atá... São oito da noite ainda, nem morta que é ele, sem contar maninha que ele teria me chamado se fosse ele.

—Tá bom, o que houve? —Perguntei puxando Megan para junto de nós.

—Foi assim, eu tomei banho correndo e me troquei, aí eu fui pegar a chave do quarto de hospedes, só que eu deixei minha toalha no banheiro, aí eu fui buscar, quando eu abri a porta vi a sombra de um homem alto e forte atrás da cortina que tampa o chuveiro, então eu gritei... E não sei por que, mas vi faíscas e do nada as luzes se apagaram, ele caiu no chão, fechei a porta rapidamente e vim correndo para o quarto—Disse Megan demasiadamente rápido.

—Calma maninha. Além do mais, mamãe dorme cedo e tem sono pesado.

—Espero que ela tenha trancado a porta hoje.

—Deve ter trancado, hoje é sexta e nosso pai não costuma voltar muito legal.

Dara andava de um lado para o outro, do nada ela parou e perguntou:

—Hum, vocês têm um taco de beisebol aqui? —Perguntou Dara animada—Se tiver, me dê ele, porque eu vou lá no banheiro ver o que era.

—Dara, você é completamente doida pelo jeito—Disse eu—E eu não vou te segurar dessa vez.

—Beleza, não pedi sua opinião mesmo. Então, tem um taco aqui?

—Tem sim—Respondeu Megan

—Ai gente, vamos pensar algo mais inteligente, prático e não tão arriscado—Disse eu.

—Tipo o que? —Perguntou Megan.

—Ligar para a Polícia?—Disse Magda.

—É uma boa ideia—Concordei com ela.

Todas pegaram seus celulares, menos eu porque o meu já havia acabado a bateria fazia meia hora (porcaria de aparelho!).

—O meu tá fora de área—Disse Megan.

—O meu também—Disse Magda.

—O meu não—Disse Dara.

—Ótimo, tenta ligar—Disse eu.

Ela tentou ligar três vezes, mas não conseguiu nada. Enquanto isso começou a chover, o que piorou tudo, porque obviamente criou sem dúvida um clima de filme de terror.... Na boa.... Esse é um dos piores dias da minha vida e com certeza a sexta-feira mais estranha de todas.

—Não consigo nada, não completa a ligação—Disse Dara.

—Aff, só pode estar de brincadeira— Disse Megan se jogando na cama.

Olhei em volta e vi que Dara não estava no quarto, aff como essa garota é teimosa, trancamos a porta e ficamos esperando ela voltar. Alguns minutos depois ouvimos outro grito e barulhos altíssimos, Dara voltou correndo logo em seguida.

—Então?!—Perguntei.

—Perdão amiga, acho que quebrei sua privada—Disse ela tremendo.

—O que? —Perguntou Magda.

—Eu cheguei ao banheiro e eu o vi o homem caído no chão, encostei com o taco de baseball nele e ele se mexeu. Eu assustei e comecei a bater nele, aí ele começou a se levantar enquanto pedia para eu parar. Então eu dei uma tacada extremamente forte na boca do estômago dele e depois na cabeça, ele caiu em cima da cortina do banheiro e bateu na privada.... Que acho que quebrou.

—Aff, só o que me faltava.... Que dia agitado hoje, tem certeza que isso tudo não é um sonho? —Perguntei a mim mesma enquanto sentava.

Eu me sentei ao lado de Dara que estava apoiada com as costas na parede abraçando seus joelhos flexionados.

—Está mais para pesadelo—Disse Dara cabisbaixa—Mas e aí... Conseguiram sinal?

—Não— Respondeu Megan sentada na cama, também cabisbaixa.

—Droga! —Dara reclinou-se para trás e bateu a cabeça na parede.

—Você me assustou, sabia? —Disse eu tentando distraí-la.

—Você se assusta fácil.

Encostei minha mão sobre o braço da Dara e ela recuou um pouco, estava tão gelada, deve ter sentido o choque térmico ao tocá-la. Acho que é como Clarck me disse terça à noite: “ela é durona, mas não tem juízo algum. Encara tudo com tanta coragem, ou burrice talvez”, o que aconteceu agora pouco foi um exemplo da total falta de inteligência dela, mas fazer o que, no fundo sei que foram boas as intenções dela, fúteis só que de coração. E se o cara estivesse armado ou fizesse uma maldade com ela, ai... Eu não consigo nem pensar em algo assim.

Olhei ao redor, as gêmeas estavam sentadas na cama tentando ligar para a polícia, Dara ainda estava assustada e totalmente muda.

—Você não devia ter se arriscado assim... E se algo de ruim acontecesse contigo? —Eu disse olhando o brilho dos seus olhos (aliás, só conseguia ver o brilho mesmo, estava ficando mais escuro).

—Bom, acho que ninguém se importaria.

—E é por isso que você faz essas loucuras, para chamar atenção?  Para que alguém se importe contigo?

—Não quero chamar a atenção de ninguém, aliás, ninguém se importa comigo.... Então por que perder o seu tempo?

—Eu me importo com você e não sou a única, você tem amigos, família....

Ela abriu a boca, quis falar algo, mas depois desistiu. Dara apenas abraçou suas pernas e disse sem demonstrar a menor emoção:

—Que legal.

—Eu não estou mentindo, caso você ache isso. Quando não te vi aqui no quarto eu quase dei um treco de preocupação, sem contar que quando você gritou eu pensei por um momento que poderia te perder e isso…. Doeu-me a alma.

—É lindo o que você disse, mas posso pedir para você parar de falar? É que eu não estou com a cabeça muito boa no momento.

—Ok.

Encostei a cabeça no ombro dela, ela me olhou arqueando sua sobrancelha, depois sorriu de lado e isso me deixou feliz, porque quase nunca a vejo sorrir.

Depois de tanto tentar ligar para polícia acabamos desistindo.

—Ai, alguma outra ideia? — Perguntou Magda.

—Wifi?—Disse Megan.

—Mas sem energia…. Como ter wifi? —Respondeu perguntando Magda.

—Pois é, se nós tivéssemos energia seria mais fácil.

Dara levantou a cabeça e começou a pensar.

—Será que eu consigo sinal no what's? —Perguntou Dara.

—Mas se a gente não conseguiu nem ligar—Disse eu.

 —Vou tentar, não custa né gente— Disse Dara.

Megan jogou o celular para Dara que estava ao meu lado e ela mandou uma mensagem para Sombra.

“Lunático, vêm aqui… Tem um psicopata na casa das minhas amigas”.

Como já era esperado não enviou a mensagem, então ficamos apenas sentadas olhando para a cara uma das outras pensando em como aquela noite poderia piorar, rezando para a luz voltar e para que aquilo tudo fosse uma ilusão. Então do nada o celular da Dara começou a vibrar, não era uma mensagem, era uma ligação, fomos para o lado do armário e deixamos no viva voz num volume mais baixo.

[Dara]: Lunático... Ai graças a Deus.

[Sombra]: Que foi lunática?

[Magda]: Tem um estranho na nossa casa.

[Megan]: Socorro!

[Sombra]: Uou...Epa...Epa...Epa...O que houve?

[Megan]: Eu fui tomar banho, saí do banheiro, quando voltei tinha um homem.... Não sei o que houve, mas a energia acabou. A Dara foi lá também e viu o homem no chão e acabou batendo nele com um bastão.

[Sombra]: Espera, eu não entendi bem a história, mas onde estava a Dara antes disso acontecer?

[Dara]: Ué, aqui no quarto.

[Magda]: Mas você saiu um pouco antes para pegar água.

[Sombra]: Puff.... Sei não, mas essa história tá com cara que tem um dedinho da senhorita Dara no meio. Tipo, ela sempre fica tentando me assustar com brincadeiras sem graça.

[Dara]: Eu não fiz nada! Juro.... Poxa, eu estou arrepiada até agora—Disse ela esticando o braço— Viram?

[Sombra]: Ai tá bom gente, mas por que não ligaram para a Policia?

[Magda]: Não conseguimos, sem sinal também.

[Megan]: Aqui está parecendo até o cenário de um filme de terror.

[Sombra]: Tem certeza que a Dara não tem nada a ver com isso?

[Dara]: Ah qual é?! Como eu poderia mexer no sinal dos celulares?

[Sombra]: Sei lá, só sei que me parece muito com uma pegadinha sua.

[Dara]: Ah para.

[Magda]: Não pessoal, o sinal aqui em cima é ruim mesmo para ligar. Mas estou com medo de descer e dar de cara com o ladrão.

[Sombra]: Ai gente, é difícil.

[Megan]: Pior que eu ia me encontrar com o Martin, mas tá chovendo, tem um ladrão em casa e não tenho sinal no telefone. Eu diria que isso que é uma fucking sexta-feira dos infernos.

[Sombra]: Dara, você está na casa da namorada do meu irmão?

[Dara]: Quase namorada, e sim estou aqui... Era para ele já ter chegado.

[Sombra]: Ah... Prazer.... Qual seu nome mesmo?

[Megan]: É Megan.

[Sombra]: Ué, você não é aquela garota que me ligou mais cedo?

[Megan]: Sim.

[Sombra]: Uau, você é muito bonita.... Meu irmão tem muito bom gosto, parabéns.

[Megan]: Ah obrigada.

“Não acredito, uma situação séria dessas e eles ficam jogando conversa fora? Anem gente!”

[Lily]: Gente... Gente... Não querendo ser estraga prazeres, mas vamos nos concentrar... Há um estranho potencialmente perigoso na casa e eu não quero ser ferida ou violada, então seria bom se alguém fizesse algo né.

[Dara]: Eu já bati nele, mas parece que tem outro no andar de baixo.

—Oque??!! —Gritamos nós três.

[Lily]: Só um momento Sombra.

—O que? Você não disse isso—Disse eu.

—Não disse? Perdão gente... Eu ouvi passos no andar de baixo quando voltava, devia ter dito... Mas por que vocês acham que eu voltei correndo? Podia simplesmente ter saído para buscar ajuda.

—Podia ser a mamãe—Disse Magda.

—Creio que não, ouvi o som de algo caindo e parecia ser vidro.

—Anem gente, que fiasco virou minha festa do pijama... E ainda tem o Martin—Disse Megan—Espera.... Ainda tem o Martin... Ele é homem, pode nos ajudar.

[Sombra]: Ahh... Eu estava ouvindo a conversa... Você disse meu irmão?

[Megan]: Sim.

[Sombra]: Hahahaha.... Esquece, ele é o garoto mais cagão que eu já conheci. Na boa, na minha família eu que gosto de homem e ele que é o viadinho quando o assunto é coragem.

[Dara]: Não seja tão duro com ele Sombra, o garoto anda até com muita coragem.

[Sombra]: Ai gente... Faz assim... Eu vou para aí daqui a pouquinho, deixa só eu me vestir. O endereço é esse na geladeira Dara?

[Dara]: Hã? Na geladeira?

[Sombra]: É o que você anotou hoje de manhã?

Dara bateu em sua própria cara.

[Dara]: Anem gente, só uma anta mesmo. É esse mesmo—Disse ela com a mão no rosto.

[Lily]: Liga para a polícia Sombra.

[Sombra]: Não, eu mesmo resolvo isso.... Tenho arma em casa para que, ora?

[Lily]: Meu Deus!

[Magda]: Por favor, não vá fazer nenhuma besteira.

[Sombra]: Sim senhoritas!

Não sei se ele desligou despois disso ou se a ligação caiu, mas sei que não conseguimos ligar de volta e nem ele ligou. Ficamos sentadas olhando a chuva cair, quando de repente vimos uma sombra do outro lado da porta, a maçaneta girou duas vezes, depois seja quem fosse desistiu, creio eu... Minutos depois ouvimos do outro lado da porta, xingamentos em francês, Magda que arranha um pouco disse que ele falou: “Que merd@ de chão, que merd@ de escada, que merd@ de casa”. Não havia dúvida que tinha um estranho em casa, dessa vez não eram ursos... Como eu queria que fossem ursos.

O tempo passou, já era quase nove da noite e nada da chuva parar ou do Martin aparecer (Por conta até da chuva, creio eu), nem do Sombra (Que já deveria estar aqui). Estávamos no escuro, sem nada para fazer, rezando para nada de mal acontecer. Nenhum socorro havia chegado, Dara estava encostada na janela na esperança de ver alguém, do nada ela virou-se para mim, me olhou bem nos olhos, vi seu olhar brilhar, então disse:

—Chega! Vou fazer alguma coisa—Disse ela pegando novamente o taco.

—O que, você está doida? —Disse eu.

—Cara, o que você quer que eu diga? Poxa... A chuva está parando é nossa chance de sairmos daqui.

—Mas nós não sabemos se eles ainda estão lá em baixo—Disse Magda com as pernas sobre a cama.

—Se a luz voltasse talvez fosse mais fácil— Disse Megan.

—É isso! Onde é o quadro de energia? —Disse eu.

—Ué.... Deu para voltar a ter ideias agora? —Perguntou Dara, sarcasticamente segurando aquele taco ridículo.

—Onde é o QDC dessa casa? —Disse eu ignorando Dara.

—QD o que? —Perguntou Megan.

—Quadro distribuidor de circuitos, ou o painel onde é possível desligar a luz de diferentes partes da casa sem precisar cortar a energia geral—Disse Magda—É no escritório no andar de baixo.

—Ótimo.... Então vamos lá—Disse Dara.

—Espera—Interrompi—E se tiver dado circuito geral?

—Bem, eu não sou muito boa com a parte de eletricidade, mas creio que geralmente para evitar que um curto-circuito danifique uma rede, são usados disjuntores—Disse Magda.

—Então talvez eles só tenham cumprido sua função e desligado a energia para evitar maiores danos —Completei eu —Magda você é um gênio.

Não sei por que, mas Dara começou a rir sarcasticamente e dessa vez me senti ofendida.

—Vocês duas são tão inteligentes, mas não acham que os caras simplesmente não tenham desligado a energia propositalmente? —Disse Dara.

—Verdade, tem isso também —Disse Megan.

—Mas Megan você não disse que ouviu um barulho logo após ver faíscas? —Perguntou Magda.

—Sim.

—Pois é, quando dá curto circuito geralmente acontece isso—Disse eu.

—Beleza.... Então onde é o escritório? —Perguntou Dara.

—No corredor ao lado da sala, onde disse que minha mãe estava trabalhando mais cedo—Disse Megan.

—Ótimo.... Se vocês não me verem mais, foi muito bom conhecê-las—Disse Dara indo em direção à porta.

Eu corri para impedi-la, pus-me na frente dela e estiquei meus braços, ela tentou passar por mim, mas eu não deixei. Dara se esticava para um lado, eu a seguia me pondo na frente, tentava pisar à minha frente e passar por mim e eu a virava de volta jogando a para onde estava originalmente. Até que uma hora que eu a garrei e ela me deu uma cotovelada, por reflexos involuntários eu a soltei, mas em uma fração de segundos eu me recuperei e a puxei com força de volta e a joguei no chão.

—Qual o seu problema? Me deixa passar—Disse Dara se levantando.

—Você acha que isso aqui é uma brincadeira? Á propósito... DOEEUU!!—Disse eu

—Eu sei que não é uma brincadeira, por isso mesmo eu peguei o taco de beisebol.

— Aff, você é uma criança.

—Não, eu só estou tentando fazer o que ninguém nesse quarto tem coragem de fazer. Encarar o problema de frente.

—Não garota, você está querendo se mostrar, ignorando totalmente a chance de você se ferrar legal.

—É um risco que eu tenho que correr, agora me deixa passar vai—Disse ela passando por mim.

Eu a segurei pelo ombro, mas não disse nada, ela olhou para mim e eu abaixei minha cabeça.

—Desculpa cunhadinha, mas é que geralmente quem pensa muito não faz nada—Disse ela tentando tirar minha mão sobre seu ombro, mas eu o apertei ainda mais.

—Por que você é assim? Tudo tem que ser do seu jeito, na sua hora, quando você quer.

—Eu não sou tão egoísta assim, e estou apenas tentando ajudar.

—Sei disso, mas mesmo assim isso me deixa preocupada...

—Nada que você disser vai me fazer permanecer aqui.

—Sei disso, por isso eu vou junto.

—Hã?! —Falaram as três.

— Mas... —Disse Megan.

—Megan, cadê sua lanterna? —Disse Magda.

— Na minha gaveta, mas não tenho pilhas.

—Eu tenho, comprei para fazer experimentos para a feira de ciências—Disse Magda—Eu vou também, vocês precisam de alguém que conheça a casa.

—O que?!Eu não vou te deixar ir sozinha... Vou também—Disse Megan pegando a lanterna.

—Ótimo, então vamos nós quatro agora? —Disse Dara—Beleza então.

—Espero que você saiba manusear esse taco Dara—Disse Magda.

—Não se preocupe, fui campeã regional três vezes seguidas de beisebol quando era mais nova.

“Como assim “Mais nova”? Como se você Dara fosse muito velha, tu tem apenas 14 anos, mas fala como se tivesse uns 114 pelo visto. Ainda bem que ela não falou “quando eu era criança”, eu iria rir sem mal perceber”.

Saímos do quarto enfileiradas, Dara estava na frente segurando o Bastão acima de sua cabeça, pronta para bater em alguém. As gêmeas estavam grudadas no braço uma da outra segurando seus celulares e eu estava bem atrás delas com a lanterna. Descemos a escada o mais silenciosamente, ligamos os celulares para iluminar o nosso caminho com uma luz baixa (Eu também não sei por que trouxemos a lanterna se temos celular tá), chegamos à sala que estava totalmente revirada, até o sofá havia sido virado. Finalmente chegamos ao quarto (eu tremendo mais que tudo) e lá havia um pouco de iluminação vindo da janela, iluminava exatamente o centro da sala onde havia uma ave empalhada, levei o maior susto ao vê-la, mas parece que foi só eu mesmo, trancamos a porta assim que todas entraram. O quadro de energia estava atrás da escrivaninha bem à vista, então deixamos Magda mexer nele a vontade, já que ela era a mais qualificada.

—Já tentei religar e não adiantou nada—Disse Magda.

—Tenta de novo—Disse Dara.

—E se isso não adiantar.... Não podemos fazer mais nada? —Perguntou Megan.

—Bem, ainda tem o padrão de energia do lado de fora da casa—Respondeu Magda.

—Mas ele é do outro lado da casa—Disse Megan.

Olhei ao redor, Dara estava novamente apoiada sobre o Taco como se ele fosse uma bengala, as gêmeas conversando e ao virar-me notei uma sombra estranho sobre o sofá, peguei o celular e mesmo com a luz baixa fui capaz de ver que havia uma pessoa lá, pelo cabelo vi que era um homem enrolado em um cobertor. Ninguém havia percebido ainda, cheguei na frente da Dara e fiz sinal para ela ficar em silêncio, então apontei o celular para o sofá e ela acenou positivamente entendendo o que eu queria dizer. Dara levantou o bastão devagar sobre sua cabeça, então se aproximou do homem sobre a luz fraca do celular o mais silenciosamente possível, mas quando estava bem perto Megan virou-se e viu a imagem do homem, então gritou de forma estridente e desesperadamente.

O homem acordou com o grito, Dara gritou também ao vê-lo acordar e ele simplesmente não fez nada. Então o que aconteceu foi até simples, Dara bateu fortemente no homem que já estava com o rosto machucado (Provavelmente por causa da Dara mesmo) várias vezes até ele cair inconsciente, as gêmeas correram o mais rápido possível até a porta para abri-la e eu permaneci iluminando Dara. Assim que Dara viu o homem cair, sem ao menos virar-se para mim ela me pegou pelo braço e me puxou para fora de lá, deixamos a porta aberta do jeito que a encontramos, fomos correndo em direção a porta da frente para escaparmos daquele pesadelo. Ao nos aproximarmos vimos à sombra de um homem do lado de fora da porta, nos afastamos na hora e as gêmeas começaram a gritar novamente, nesse momento Dara apertou meu braço fortemente. Eu não sabia o que fazer, meu coração estava disparado, então ouvi uma voz conhecida por baixo da gritaria histérica das meninas.

—Calem se Meninas—Gritei eu.

Passados dois segundos escutei uma voz masculina conhecida “Megan, Magda... Vocês estão bem? Abram a porta por favor”, era Martin. Abri a porta na hora e o vi com sua capa de chuva amarela, até seca comparada ao tanto que já havia chovido, ele segurava um buque de rosas enorme.

—Martin, é você? —Disse Megan pulando nos braços de Martin que acabou deixando cair o buque.

—O que houve aqui? Eu tentei te ligar para falar que estava chovendo demais e eu não viria, mas você não respondia.... Pensei que algo tivesse acontecido.

—Tem um homem dentro de casa e... —Disse Magda, mas foi interrompida por um som sobre as escadas.

Todos nos viramos ao ver a cara de assustado que Martin fez exatamente na mesma hora do barulho, era à sombra de um homem gordo no segundo andar. “Que merd@a está acontecendo aqui?”, foi tudo que conseguimos ouvir antes de sairmos correndo. Megan puxou Martin pelo pescoço mesmo e sua irmã foi atrás, Dara soltou minha mão e eu simplesmente não consegui fazer nada a não ser permanecer imóvel olhando para o homem que descia as escadas.

—Você ficou maluca? —Disse Dara voltando.

Ela enlaçou seus dedos gelados nos meus, eu olhei suas mãos momentaneamente, acho que eu estava longe, mas o choque que senti de seus dedos gelados em minha pele quente me fez voltar. Ela me puxou para fora, onde esbarramos com Sombra (De onde ele surgiu?), congelei de novo ao vê-lo, mas a Dara não parou de me puxar, quase dei de cara no chão. Passamos por ele e Dara simplesmente disse “Ele está ali, ele está ali”, Dara me levou até a moita que formava uma cerca viva ao redor da casa do vizinho de frente, onde já estavam os outros... Basicamente nos jogamos detrás daquela planta e ficamos apenas observando, sei  que foi uma ideia de girico, mas foi o melhor que conseguimos fazer.

—Que merd@ está acontecendo meninas? —Disse um homem de roupão, careca e gordo saindo pela porta.

—Opa, nem mais um passo meu amigo—Disse Sombra apontando a arma para o homem.

—Megan, que droga é essa?

—Pa...Pa...Papai?! —Disse Megan ainda pendurada no pescoço de Martin.

—Quem mais?! —Perguntou já respondendo o homem.

—Mas o que você faz em casa tão cedo? —Perguntou Magda.

Detalhe, eu nunca havia visto o pai delas e o Sombra ainda não tinha abaixado a arma e para piorar as duas ainda estavam conversando com o pai delas como se estivesse tudo normal.

—Sombra... Larga essa coisa—Disse Dara (Graças a Deus).

—Foi mal, sou meio lento para essas coisas—Disse Sombra antes de espirrar.

—E Martin o que você está fazendo aqui? —Perguntou o pai das gêmeas.

—É que...Senhor.... Eu...Senhor...

—Desembucha filho!

—As meninas disseram que alguém havia entrado na casa, viemos ver o que era—Disse Sombra antes de dar uma crise de espirros.

—E quem é você? —Perguntou secamente o pai das gêmeas —Aliás, que diabos está acontecendo aqui?


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Notas finais do capítulo

Sombra

http://yumesakura01.deviantart.com/art/Ah-Se-voce-soubesse-02-Sombra-586896584



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