Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 15
Mais da metade para mim.


Notas iniciais do capítulo

Hoje resolvi fazer um capitulo com o pov(point of view) de duas personagens, na verdade quase todo capitulo é da Dara, mas é válido... Novamente espero que gostem ^~^

Boa leitura.



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Lily_ POV. (On)

Quando cheguei à casa do Clarck e não vi nenhum carro na entrada, apenas uma lambreta que eu sabia muito bem de quem era.... Aliás, eu quase morri em cima dela.

Antes de abrir a porta fui capaz de escutar duas vozes, eram femininas, pareciam estar discutindo alguma coisa, pois falavam alto. Bati receosamente na porta, escutei a voz de Helena pedindo para que eu a abrisse.

—Ah... Lily é você... Entre meu anjo— Disse Helena.

Estavam na cozinha conversando, Helena estava na cozinhando algo, uma massa que não deu para identificar o que era e Dara estava literalmente sentada no balcão que dividia a cozinha e a sala de visitas.

—O Clarck não está Lily— Disse Dara.

—Ele deve chegar a qualquer momento— Completou Helena.

Eu percebi que elas aparentemente estavam tendo uma conversa importante, óbvio que eu não queria atrapalhar, então olhei ao redor e vi a sala de tv no lado direito do hall de entrada, que era onde eu estava. A sala estava vazia e acho que não atrapalharia se eu ficasse lá.

—Ah.... Eu vou esperar na sala então— Disse eu apontando para o cômodo.

Sentei-me e quase que simultaneamente a isso Helena veio até mim.

—Quer algo de beber?

—Ah não, estou bem.... Vou aproveitar para ler algumas coisas.

Eu peguei um livro, peguei meu celular, coloquei os fones de ouvido e fingi escutar alguma música. Helena voltou para onde estava e após alguns minutos vi que elas voltaram a conversar.

—Dara... Eu entendo todos os seus motivos, mas tente ver os do seu pai.  Você dirige por aí sem ter carteira, bebe, provavelmente deve ter uma tatuagem ou mais pelo corpo.... Acha que não são motivos suficientes para um pai se preocupar?

—Sim.... Eu sei que são... Mas em primeiro lugar, meus documentos dizem que eu sou um ano mais velha, então foi assim que consegui minha carteira de motorista... Não é falsa.

—Ok, sua carteira não é falsa.

“Aff... Não vou xinga-la... Mas então aquela moto é realmente dela e ela quase me matou por diversão... Valeu hein”.

—Segundo, eu só bebo perto de quem eu conheço e sinta-me segura... Geralmente perto do Sombra.

—Para isso eu acho que não desculpas, você tem só 14 anos. Eu por exemplo fui beber aos 21 anos mesmo, nunca experimentei antes disso.

—Ok, entendo seus argumentos. Mas em terceiro lugar... Eu só tenho piercings mesmo, ainda não tive coragem de tatuar minha pele.

—Uma pergunta.... Onde conseguiu esses documentos?

—O Sombra tem advogado, foi fácil.

—Ai... Olha só o que você está me dizendo... Ai.

—Tudo bem, eu já estou cansada de saber que eu sou a “ovelha negra” da família... Não precisa falar nada.

—Não é isso.... Eu nunca te vi assim meu anjo... Você de uma hora para outra se tornou mais independente, só isso, aliás, me assusto com isso. Eu ainda me lembro da garotinha loira, de faces rosadas que entrou sorrindo por aquela porta o dia que compramos essa casa.

Ambas se silenciaram, não aguentei e dei uma espiada na sala ao lado. Helena abraçava Dara que estava visivelmente quase chorando, voltei silenciosamente para a sala ao lado. Um tempo depois a conversa continuou.

—Perdão Helena por eu ter gritado contigo, você é quase minha mãe e eu me sinto tão amada perto de vocês.

—Eu acho tão bom ouvir isso.... Sabe, seu pai também te ama... Só que você sabe que é o do jeito dele... Mas voltando ao assunto de antes... Volta para casa Dara.

—Não consigo mais viver aqui depois do que aconteceu... Ai gente, todo mundo querendo me proteger e mesmo assim ainda acabou do jeito que acabou... Perdão.

—Eu também não queria que acabasse assim. Mas posso falar a verdade.... Eu achei bom quando seu amigo bateu no seu pai, ele estava precisando cair na real também.

Ouvi algumas risadas.

—Mas como eu trago o Sombra aqui depois daquilo?! É impossível!

—É, nisso eu concordo. Mas seu pai já conversou comigo várias vezes depois que você foi embora, ele está arrependido e todo choroso.... Poxa.... Já faz quase um mês que isso aconteceu... Volta para casa.

—Aaaiiii... Eu bem que queria, mas não posso.... Não consigo.

—Entendo... Bom... Mas foi bom você ter vindo conversar comigo. Obrigada!

—De boa, mas eu preciso ir agora Helena.... Foi bom conversar contigo.

—Ah não.... Fica mais um pouco.

—Não, já deu minha hora e eu também não quero dar de cara com o Clarck, ele já deve estar chegando.

— Está bom então. Tchau meu anjo.

Ela passou por mim, me deu um sorriso de lado e saiu sem se despedir. Meia hora depois Clarck chegou cheio de compras no carro, fui ajudá-lo meio que sem pensar uma vez se quer. Com certeza ele estava mais feliz hoje, isso me deixa feliz também.

Lily_ POV. (Off)

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Dara_ POV. (On)

Eu fui à casa do meu pai essa tarde, pensei que iria ouvir um sermão da Helena, mas foi até bom. Na volta para casa recebi uma ligação, não conhecia o número, então não atendi, afinal de contas eu estava dirigindo também, então era bom nem pensar nisso. Quando cheguei em casa vi que Sombra ainda não havia chegado. Fui até a cozinha, olhei a adega sobre a geladeira e a própria geladeira, a Helena tinha falado de bebida e eu acabei sentindo a boca seca. Todas as bebidas estavam ainda lacradas na adega, mas havia uma vodca já mexida na geladeira, peguei a garrafa e a virei dentro da minha boca, dei um bom gole, depois coloquei a garrafa de volta no lugar. Eu estava precisando de algo que queimasse minha garganta para me sentir mais alerta, não ando dormindo direito.... Se bem que eu nunca dormi direito, mas desde que vim para essa cidade não há um dia que eu não durma bem... Culpa?... Arrependimento?... Raiva?... Talvez um pouco de tudo.

Senti vontade de beber mais, mas contive meu desejo de beber para esquecer. Coloquei um presente sobre a bancada da cozinha para o Sombra e fui me deitar um pouco em meu quarto.

Deitei-me na cama e fiquei olhando para o teto por um bom tempo. Droga! Eu já não tenho para onde fugir, não posso voltar para minha cidade, mas aqui também está difícil de ficar. Aff, as vezes tenho vontade de pegar minha moto e ir à onde a vida me levar, deixar tudo para trás, se for olhar tenho pouco a deixar para trás... Ai Deus... O que eu estou pensando?!

Levantei meu corpo até ser possível sentar-me na cama e abraçar meus joelhos. Fiquei olhando o nada, pensando mil coisas, tudo lixo a meu ver. O que me tirou de meus pensamentos foi meu celular que vibrou sobre o criado-mudo, ao olhar vi que era uma mensagem no what’s app, não havia nome no identificador de chamada, quando abri a mensagem reconheci pela foto de perfil que era Alice, vi também que o número era o mesmo que havia me ligado mais cedo. Merd@! Como essa garota conseguiu meu número? Eu iria ignorá-la, fiquei um tempo olhando o celular, então ela mandou a seguinte mensagem “Vai me responder ou vai me deixar no vácuo?”.

[Dara]: Eeehh.... Estou pensando seriamente em te deixar no vácuo.

 [Alice]: Mas não vai não é? Porque você é legal (^__^;)

[Dara]: Ai, o que eu faço com você?

[Alice]: Sai comigo?!

“Eita, me surpreendeu agora”.

[Alice]: (@_@)

[Alice]: Por favor, tudo que eu peço é uma hora, uma horazinha.... Quero muito sair contigo.

[Dara]: Uau, você é bem direta garota.

[Alice]: Sei disso, gostei de você, mas faz um tempo que estou criando coragem para falar contigo. Será que você pode me dar a chance de ser pelo menos sua amiga? Eu venho te observando faz um tempo e te achei uma garota linda, muito legal e interessante.... Acho que podíamos dar certo juntas.

[Dara]: Em primeiro lugar.... Você chegou falando assim, mas nem sabe se eu gosto de garotas.... Segundo.... Quem te deu meu número?

[Alice]: Ah... Perdão falar tudo isso de uma vez, mas se não falasse agora provavelmente nunca mais sairia da minha boca, na verdade não saiu né... A única vez que a tecnologia me ajudou foi hoje... Mas não muito, porque estou tremendo que nem uma condenada aqui.

[Dara]: Ainda não respondeu, quem te deu meu número?

[Alice]: Eu tenho meus contatos (^_^;)

[Dara]: Bom, se não me dizer quem te deu meu número.... Eu que vou te bloquear dos meus

[Dara]: Contatos*

[Alice]: (*_*) Faz isso não moça.

[Dara]: Fala logo!!

“Que mania dessa garota de usar emotions, tenho raiva disso. Ela não tem cara de ser aquelas garotas que gosta de tudo rosa, então isso me irrita mais ainda... Na verdade eu não sei bem por que, só sei que ela por si só está me irritando”

[Alice]: As ruivas que andam contigo, sempre troco os nomes delas. Só sei que foi uma delas.

“Então meio que ela sabia sim que eu gosto de garotas mesmo, por que né... Por qual outro motivo as gêmeas dariam meu celular para ela, né? Eu meio que já imaginava isso que ela faria isso comigo, já conheço aquela ruiva, Megan fura olho... Ela vai se ver comigo”.

[Alice]: Por favor, não brigue com elas.... Eu fiquei tão feliz por saber seu número.... Por favor.... Saia comigo, só um passeio, sei lá.... Um almoço... Pode ser na escola mesmo... Please!!

Fiquei um tempão escutando ela me pedir para sair com ela, almoçar, dar uma chance. Eu só esquivava, dizia que não, mas por fim perdi a paciência.

[Dara]: Ai está bem... Amanhã a gente pode almoçar juntas, tá?

[Alice]: Sério?!

 [Alice]: Yeap!!

[Alice]: Acabei de quebrar sem querer minha luminária aqui no meio da agitação (*_*) Acho que minha mãe vai me matar.

[Dara]: KKKKKKKKK.

[Alice]: Ri não, estou realmente feliz.

Aff.... Agora mais um ser para eu ter que fugir, tenho que pensar em algo rápido. Estava pensando quando ouvi um grito vindo da sala, era o Sombra. Corri para ver o que era, o encontrei sentado no sofá olhando meu presente e tampando sua boca, não sei dizer se estava surpreso ou histérico.

—Vac@! —Gritou ele.

—Então lunático... Gostou da foto?

—Véi, na boa.... Onde você achou essa foto? Nas profundezas da Deep web?

—Não, só nas profundezas do meu HD externo.

—Nossa, eu de gueixa, tu de pirata.... Épico.

Lembra-se daquela foto que eu comentei, do Sombra vestido de gueixa? Pois é, essa foto na verdade é um self que o Sombra tirou e eu a achei. Ele usava um kimono vermelho, lápis nos olhos, cílios grades e cabelo preso em um coque com alguns adornos no cabelo. Seu cabelo era comprido até janeiro desse ano, na verdade ainda é comprido, o que sobrou no corte pelo menos é. Aliás, é só um comentário, mas sempre que o vejo ele está com o cabelo preso e bem arrumado; nesses momentos eu fico olhando o meu cabelo que sempre está uma merdinha, mas o dele permanece intacto não importa o que aconteça. Enfim, na foto ele estava me abraçando com o braço esquerdo e segurava uma taça em sua mão, comentário pessoal meu... Ele parecia uma garota bêbada. Eu por outro lado estava vestida de pirata, mas parecia muito mais um zumbi, havia só olheiras no meu rosto, minha alma deveria estar em outro lugar, passei aquela noite a energéticos.

—Gostou?

—Ahh amei.... Vou mandar ampliar e colocar na sala, o que acha? —Disse ele naquele tom de ironia barata que ele tem.

—Nãaaooo... Está exagerando um pouco.

—É, vi isso agora... Mas sério... Como achou isso?

—Só foi preciso procurar um pouco.

—Legal.

Ficamos um tempo conversando sobre todas as peripécias que realizamos ano passado. Sombra é realmente um amigo para todas as horas, alias... Já são seis anos que ele me suporta e fica ao meu lado. Eu o conheci porque minha mãe era muito amiga da avó dele e ia muito à casa dela, então eu o conheci uma vez que fui acompanhá-la. O moleque era muito diferente de como é agora, na verdade eu também estou totalmente diferente, ele tinha 12 anos e eu 8. Lembro que a primeira vez que o vi, foi assim que entrei na casa da avó dele, ele estava sentado na escadaria tentando montar um cubo mágico, parece engraçado dizer isso até para mim mesma, mas meu amigo sempre foi esquisito, só que naquela época ele não era doido... Era bizarro, acha que estou brincando? Não estou, o maluquinho tinha cinco cubos mágicos e era viciado nisso, depois de muita prática aprendeu a montar todos em menos de 1 minuto, eu em comparação não consigo montar um não importa o tempo que me derem.

Quando me mudei junto a minha mãe ano passado ele sempre vinha me visitar, basicamente todo final de semana ele estava na minha casa, jogado no sofá, viajava 110 km só para me ver, acho que era também uma maneira dele fugir daqui também(mas não deixa de ser um gesto adorável). Por esse e outros motivos o Sombra é o melhor amigo que uma garota podia pedir!!

Voltando ao momento presente, era quase nove da noite e eu já estava indo dormir (Sim, eu costumo dormir cedo no meu normal), foi quando recebi uma ligação, era Magda. Ela só disse “Me encontre antes da aula amanhã” e depois desligou. Ótimo, não sei por que, mas sinto que ela é outra que estou vendo que vai me dar trabalho... Será que o plano de fugir ainda é uma opção numa hora dessas?

No dia seguinte acordei ás 3:40, vi meu amado sol nascer e fui para a escola depois de tomar o café da manhã. Ao chegar à porta vi Magda que quando me viu quase me arrastou para dentro da escola, ela me guiou até uma sala qualquer e eu a segui.

—Fala ruivinha!— Disse eu sentando-me numa cadeira.

—Pelo amor de Deus, me diz que você não contou para ninguém— Disse ela visivelmente desesperada.

—Não.

—Ah...Ufa... Espera aí... Esse não foi um “não, eu não vou responder” ou “não, eu não vou contar” hein?

—Ai relaxa Magda... Eu não vou contar que te vi com aquela garota, como se eu fosse falar para alguém também.

—Shhh... Fala mais alto tá?!

—Desculpa.

—Ai... Eu já não sei mais o que fazer— Disse ela meio chorosa.

—Hum... Sai do armário? Assumi namoro? Sei lá.... Você sabe o que faz— Disse eu um pouco seca.

Fui grossa demais, sei disso... Anem, só o que me faltava, ela começou a chorar.

—Ai... Perdão Magda, não queria te ver chorar... Perdão.

—Como se isso fosse culpa sua, estou com essa garota há quase um ano e minha irmã não sabe disso. É quase impossível ter algo que eu não conte para ela, mas essa eu não consegui contar.

—Por quê?

—Sei lá, tenho medo de afastá-la de mim. E eu não queria que você me visse daquele jeito também.

Parecia que Magda iria desabar em lágrimas, fiquei com dó. Não é como se fossemos amigas há séculos, apesar de agora parecermos bem amigas (Dá até medo de andar com essas doidas às vezes), mas o fato é que eu odeio ver os outros chorando... Credo, eu sou fria demais as vezes... E só vejo isso tarde demais, como agora, por exemplo, eu fui indelicada e a fiz chorar. Parabéns Dara, você é uma idiota total!

—Hahahahahaha...— Ri eu tentando descontrair—Você realmente me assustou e eu não acho que vocês vão se afastar, acho que na verdade vai acontecer o contrário, porque a Megan sempre quer cuidar de todos, creio que vai fazer o mesmo com você.

—Tenho medo, amo demais minha irmã.... Na verdade, estou me lixando para minha família, minha preocupação é minha irmã, ela é minha melhor amiga, confidente... Aff sinto-me como se estivesse traindo a confiança dela.

—Ah para, todo mundo tem seus segredos e vocês são gêmeas... Pior, são gêmeas idênticas e espelhadas, poxa eu acho que o fato de serem gêmeas já as une demais, ainda tem rostos basicamente idênticos... Hahaha.... Eu acho que não existe força nesse planeta que possa separa-las.

—Espero que esteja certa— Disse ela abrindo um pequeno sorriso.

—Falando nisso.... Porque você deixou sua irmã dar meu número para a Alice?

—O que ela fez?

—Deu meu número de telefone para a Alice, aquela garota que eu comentei outro dia.

—Aff... Eu não deixei, ela fez isso escondido, a Megan conseguiu o número e falou com ela sobre você no final de semana. Ela deve ter dado o seu número para ela ontem durante a aula... Só não sei quando.

—Obrigada.... Ela ainda vai se ver comigo.

—Ai... Não posso falar nada... Mas por favor... Não conte para ninguém sobre mim...

—Já disse que não vou! —Gritei já sem paciência.

—Eita!

—Perdão, mas eu já disse que não vou contar.

—Desculpa.

—Não foi nada. Ah, se não me virem hoje na hora do almoço.... Não precisam me procurar.

—Por quê?

—Vou fugir da Alice, prometi almoçar com ela hoje.

—Nossa... Não acha exagerado demais.

—Não, eu não acho nem um pouco exagerado.

— Hum, você sabe o que faz né.

Aff, toda bagaça da Magda aconteceu sábado anoite... Eu não queria ir à essa festa que o Sombra basicamente me arrastou, isso é culpa minha e eu sei disso, fui chorar demais perto dele então ele literalmente me obrigou a mim me arrumar, me pegou pelas pernas e me jogou no carro. Se eu não tivesse ido, não teria visto a Magda se pegando com uma garota e não teria me metido nesse drama todo. Foi assim...

.......................*********........................

—Dara, eu vou sair hoje.... Quer vir junto?

—Não Lunático— Disse eu chorando enquanto assistia tv.

—Nossa, o que houve?

—Nada, é que eu estou vendo Marley e eu.

—Já chegou ao final do filme?

—Não, acabou de começar.

—Ué, então por que está chorando?

—É que eu lembro do final... Taaadddiiinhhoo do Marley.

E foi assim o filme inteiro, ele passava e me via chorando, perguntava o que havia acontecido e eu falava que era nada. Enquanto isso ele se arrumava, passava sua camisa social branca, tomava banho, fazia coisas úteis para simplificara história.... Por fim quando o filme estava quase acabando ele se irritou com aquilo e veio tirar satisfações comigo. Pegou o controle e desligou, agora bem na cena que o Marley morria mesmo.

—Eiii... Eu estava vendo!

—E eu com isso... O que houve? Você vai me dizer agora— Disse ele sério.

—Ah, me deixa Sombra— Disse eu cobrindo minha cabeça com o travesseiro.

—Aff, eu sou seu melhor amigo... Não posso saber não? —Disse ele sentando-se ao meu lado.

—Nada, só briguei de novo com meu irmão.

—Onde?

—Na casa da minha avó ontem... Idiota.

—Hum, se me pedir vou agora mesmo dar uma surra nele.

Ele conseguiu me tirar algumas risadas, tirei o travesseiro da minha cara e olhei para ele.

—Sua cara está inchada, você está deprimida.... Não aguento te ver assim.

Sem pedir permissão ele me pegou em seus braços e me levou até a frente do espelho.

—Olha pra você.

Estava parecendo uma mendiga, cabelo bagunçado, cara inchada, ainda vestia meu pijama, olheiras aparentes, sem lente alguma.

—Faz assim, você não tem jeito de protestar agora ok?... Então você vai tomar um bom banho, veste uma roupa decente, e sem aquela desculpinha que não tem roupa porque eu sei que tem. Então se maquia sem aquela economia que você faz de manhã, lapisinho básico não cola, quero ver você linda e por fim sai comigo fofa. Vou à festa de um amigo meu, vamos... Só para você respirar outro ar além dessa depressão.

Eu nada disse em protesto, apenas sorri... Com certeza ele é o melhor amigo que qualquer garota poderia pedir. Fiz igual ele me disse, tomei banho, me maquiei, vesti uma roupa bonita e fui me encontrar com o Sombra, ele vestia um terno cinza que lhe caía muito bem.

—Não.... Eu disse uma roupa decente— Disse assim que me viu.

—Ué, é uma ocasião formal?

—Não, mas eu consigo muito mais vestido assim. A roupa conta muito meu amor.

—Ai tá bom, mas eu não sei o que usar... Me ajuda.

Ele olhou de cima a baixo meu guarda roupa e pegou um vestido preto rodado com detalhes parecendo ossos que davam a volta da saia, o meio parecia um corpete preto e tinha uma rosa de plástico do lado esquerdo um pouco acima do busto, esse vestido é realmente bonito.

—Hum, esse é sua cara, lunática.

—Concordo.... Quantas horas?

—Ah, 23:25.

—Nossa, quase meia noite.... Não está tarde demais não?

—Hahaha... Eu estou achando é muito cedo.

—Ok então.

É... A festa estava animada, muita gente diferente, eu conhecia poucas pessoas lá. Bebi bastante, não fiquei com nenhuma garota, dancei um pouco, ah estava boa a festa. Mas por volta da três da manhã já havia me cansado da música, das pessoas, de tudo na verdade, queria mais era voltar para casa. Sombra por outro lado não queria, óbvio, ele estava desde o começo da festa se pegando com um homem de cabelos platinados e olhos negros, era o anfitrião da festa e se não estou enganada também o tal “amigo” que ele havia me falado, até faz sentido ele ter se arrumado tão bem.

Eu não queria ficar perto de ninguém, subi a escada um tanto bêbada e fui ao banheiro no segundo andar, porque havia uma senhorinha colocando a janta dela no banheiro de baixo e não parecia que iria desocupar tão cedo.

Então lá estava eu, abrindo a porta do banheiro, mas antes de abri totalmente vi que o banheiro estava ocupado, havia duas garotas lá dentro. Cara, na boa... Eu podia não ter aberto aquela porta, podia ter ficado lá em baixo, não estava nem com vontade de usar o banheiro, queria apenas lavar o rosto... Mas nãaaooo... Nãaaooo... Eu tinha que abrir a porta, obviamente para dar de cara com duas garotas se pegando, e eu ainda estou falando “se pegando” para ser educada.

A cena que eu vi quando abri a porta foi: Uma garota ruiva sentada no balcão da pia, ela usava uma camisa flanelada xadrez que estava aberta, pude ver que usava um sutiã branco, tinha belos seios a propósito. A outra estava de pé, era loira e beijava a apaixonadamente a garota sobre o balcão. Assim que vi a situação, pedi perdão e me virei fechando a porta sem olhar para trás, mas antes de fechar escutei uma voz conhecida chamar meu nome.

—Dara é você?

—Hã?!—Disse eu ainda olhando para frente— Magda é você?

—O que faz aqui Dara? Ah, pode se virar.

“Puts... Caraca véi... Eu vi os peitos da Magda, ixi deu merd@”.

AH.... Uma coisa sobre mim, eu xingo muito sim, mas geralmente só falo palavrões com o Sombra, no resto eu sou comportada na fala. Mas para basicamente tudo que faço eu estou pensando um palavrão para poder me expressar, não devia ser assim, mas sei lá, eu não estou ofendendo ninguém pelo menos.

—Ah! —Olhei para a loira que me encarava feio— Oi gente!— Disse eu sorrindo sem graça.

—Oi, o que faz aqui?

—Estou acompanhando meu amigo e .... Quer saber.... Eu vou voltar agora lá para baixo.

—Espera!

—O que?

—Isso... É... Por favor não….

—Não se preocupe, não vou contar para ninguém.

Após isso eu quase que saí correndo, tirei o Sombra a força do boy dele e forcei ele a irmos embora.

.......................*********........................

—Até mais Dara— Disse Magda sorrindo.

—Tchau ruivinha!

Aquela manhã de quarta-feira foi até calma, estava tudo bem até a hora que bateu a hora para ir almoçar, porque na correria hoje cedo eu não peguei nada para comer no almoço, não queria me encontrar com a Alice, então fiquei sem comer mesmo. Minha ideia era ir para meu ir “lugar secreto” que é nada mais que debaixo da arquibancada ao invés de ir ao refeitório. Fiz isso na quarta, mesmo que de estomago vazio. Quando voltei para casa vi que tinha várias mensagens dela, todas me questionando por que eu havia faltado, minha desculpa foi que faltei, mas disse que no dia seguinte nós almoçaríamos juntas. Na quinta e na sexta fiz a mesma coisa que na quarta, só que havia levado algo para comer, fui mais esperta. Na sexta me surpreendi quando vi Alice no meio da quadra carregando duas bandejas de comida e vindo à minha direção, não faço a mínima ideia como ela me achou aqui, nunca contei para ninguém que gosto de vir aqui.

 —Como me achou?—Disse eu incrédula.

Ela sentou-se ao meu lado e me entregou uma bandeja.

—Hum, sua última aula foi na sala de frente para a minha, vi você indo numa direção oposta ao refeitório- Disse ela me entregando uma bandeja.

—Ok, mas como soube que eu estava aqui.

—Intuição, seria aqui que eu viria se quisesse fugir de alguém.

—Ui.... Doeu à indireta. Eu não estava querendo...

—Hihihi, viu.... Mais uma semelhança entre nós. Não precisa arrumar desculpas para tentar explicar por que você não quis me ver, eu entendo... E acho que faria o mesmo também.

—Perdão.... É que...

—Eu estou te assustando, perdão por isso.  É que eu sou muito eufórica e animada com as coisas e sempre acabo assustando as pessoas por conta disso. Aff, foi mal.

—Nossa... Não sabia. E que risadinha fofa.

—Hihihi... Obrigada linda.

Tirando isso o resto do horário de almoço foi muito "emocionante", Alice almoçou sorrindo e eu fingia não a ver, na verdade até mantive certa distância dela.

—Então.... Foi tão ruim assim?  Ainda está viva? — Perguntou ela me olhando nos olhos.

—Ué.... Estou.

—Então esse foi meu trato... —Disse ela indo embora sem graça—Não vou te incomodar mais.... Tchau!

—Tchau!

Primeira impressão minha dela: doidinha que só, mas gente boa. E ah.... Duvido muito que ela não vá me irritar de novo. Depois da aula estava passeando pela escola, como sempre faço e vi a sala do clube de xadrez vazia, não sei por que, mas deu vontade de entrar. E isso mesmo eu fiz, entrei, abri o armário onde sabia que estavam os tabuleiros e peguei um para jogar comigo mesma, sei que para a maioria das pessoas às vezes é chato ser solitária... Mas eu gosto disso, sei lá... Acho que acostumei a isso.

Como eu disse antes, duvidava que a Alice me deixasse em paz e sinto lhe dizer que eu acertei. Eu estava de costas para a porta, escutei um som, alguém havia a abrindo, ao virar me para trás vi uma garota com cabelos bicolores.... Essa guria vai ficar me seguindo agora?

—Oi Porcelana Black.

—Hã?!

—Sem cultura, Porcelana Black é uma roqueira que tem o cabelo parecido com os seu.

—Ah, não curto muito rock.... Sou mais Heavy Metal e Hard Rock —Disse ela sentando-se (sem ser convidada) na cadeira a minha frente.

—Hum.... Eu também, todo mundo pensa que eu sou roqueira, sendo que minha paixão mesmo é o Heavy Metal.

—Sério?!—Disse ela levantando-se um pouco eufórica—Eu também amo um Metal bem pesado... Viu? Mais uma semelhança.

— E aquela história de não me incomodar e coisa e tal?!

— Não consegui, adoro ficar perto de ti.... Não sei por que, mas você exerce um tipo de força sobre mim.

—Hum... Como me achou aqui? —Disse eu fria evitando seus olhos.

—Bem, eu sou ótima observadora e percebi que no dia dos clubes de raciocínio lógico, você fica num dos ambientes dos clubes que demandam esforço físico.... Então como hoje é o contrário, suspeitei que estivesse num clube que demanda raciocínio, então eu basicamente fui olhando nas salas e te achei aqui.

—Uau.... Me surpreendi agora.

—Obrigada.... Pretendo te surpreender sempre. 

"Chega, já estou sem paciência com essa garota... pior que eu gostei do jeitinho dela, tenho que dar um fora definitivo nela."

—Alice, eu tenho namorado.

—Ah, que legal.... Podemos ser amigas?

—Claro.

" Uffa... Me livrei dela"

—Posso perguntar.... Seu namorado é aquele garoto alto que sempre vejo lá de fora num Dodge?

—Sim, ele mesmo.

Alice começou a rir sarcasticamente, estranhei isso.

—O que foi?

—Até onde eu sei o Sombra é gay.... Não sabia que ele havia “virado” homem.

—Aff... Tu conhece o magrelo.

—Sim.... Já fui a várias festas dele, aliás as melhores que eu já fui na vida, e algumas vezes te vi lá —Ela sorriu estridentemente— A verdade é que eu sempre quis te dizer oi e estar ao seu lado.... Então poxa.... Você veio para minha escola.... Isso é obra do destino.

Ela veio até mim, colocou as mãos em meus joelhos, eu afastei meu corpo para trás. Podia ver os brilhos em seu olho.

—Uau.... Eu não imaginava isso. Mas eu não sinto o mesmo por ti Alice, Desculpa.

—Tudo bem, mas talvez eu faça você mudar de ideia.

Alice foi chegando de vagar em minha direção, eu não disse nada porque no fundo eu até gostei da ideia de ficar com ela, mas é claro que não podia mostrar isso. Eu havia cedido?  Ah sei lá.... Foi uma semana cheia, já estava pouco me ligando, se a garota queria ficar comigo, acho que devia deixar. Eu cheguei meu corpo para trás o máximo possível, e esperei que ela se aproximasse de mim. Estávamos bem perto uma da outra, seus olhos estavam fechados e eu fechei os meus também, estava bem perto, podia sentir sua respiração. Então do nada eu simplesmente parei de sentir sua respiração quente e abri os olhos, vi que ela ainda estava com as mãos em meus joelhos, estava me olhando confusa.

—Perdão.... Estou indo longe demais.

Ela tirou as mãos sobre meus joelhos e me disse cabisbaixa.

—Perdão, não vou voltar a te incomodar—Disse ela andando em direção à porta.

—What?!—Perguntei quase gritando.

— O que?

— O que pergunto eu, você me atazana as ideias a semana inteira e agora dá para trás quando está quase me beijando?

—Sim, perdi minha coragem agora.

“Trouxa, mas tudo bem... Fiquei com dó agora”.

—Aff... Você gosta de mim? —Disse eu levantando-me e indo em sua direção.

—Sim, mas você já deixou bem claro que não. Agora estou sendo racional, perdão Dara.

— O escambal com seu racionalismo —Disse eu a puxando para perto de mim—Considere isso um presente de aniversário atrasado ou adiantado, sei lá quando você nasceu.

Ela me olhou assustada e finalmente me beijou, ficamos naquilo um tempo. Depois ela saiu abobada da sala, sorrindo mais que tudo e eu fiquei lá sentada olhando o tabuleiro sem dar uma jogada se quer.

Fiquei pensando tempo demais, ela tinha um cheiro doce e seu beijo lembrava o da minha ex, isso não é bom e eu sei disso, mas gostei. O estranho é que ela me lembrava de outra pessoa que ando pensando demais esses dias.... Olhei meu relógio e vi que eram 17:40... Put@ que pariu, a Lily vai me matar se eu não for á festa do pijama hoje. Guardei as pressas o que havia pegado, deixei tudo como estava antes e saí correndo para tentar chegar antes das 18:30 na casa das gêmeas que eu não faço nem ideia de onde seja, porque eu perdi o papelzinho que a Magda havia me dado ontem.

É hoje que eu vou morrer, estou vendo isso... Aff.


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Notas finais do capítulo

Então... O que acharam?

Digam me por favor, gostaria de saber^~^



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