Acordei não sei por que, logo em seguida escutei um barulho do lado de fora da cabana e vi uma sombra enorme passar pela janela. Olhei para o lado das gêmeas, elas dormiam profundamente na cama de baixo, estavam dormindo de costas uma para a outra, Magda estava virada para o meu lado e Megan para o lado da parede; sobre as cobertas era possível ver que dormiam de mão dada... São tão fofas. Escutei um movimento na cama de cima, Dara havia acordado também, desceu devagar e o mais silenciosamente possível as escadinhas do beliche, olhou ao redor, depois olhou para mim.

—Você ouviu também? —Sussurrei para ela.

—Já escutei faz um tempo na verdade, estava um tanto longe, mas agora está do lado da cabana.

—O que será que é?

—Não faço a mínima ideia.

Sentei na cama e olhei as horas em meu celular, era 2:17 da manhã. Dara foi até a porta tentar ver algo pelos vidros foscos da porta de madeira, quando chegou bem perto à sombra apareceu novamente por entre os vidros, ela esquivou-se para o lado e abaixou-se.  Seja o que fosse, subiu as escadinhas e fez às madeiras rangerem, as gêmeas acordaram, eu fiz sinal para ficarem quietas e elas entenderam, a sombra ficou sobre as escadas uns segundos.

Dara estava sentada do lado esquerdo da porta e sinalizou para eu ir até ela, eu fui o mais silenciosamente possível (igual a Dara só que mais indelicada, admito)e me sentei ao seu lado.

—Eu acho que sei o que é, mas preciso ir lá fora—Disse Dara olhando pela fresta da porta.

—Ficou doida?

—Não, isso eu já sou... Só quero ver o que é.

—E acha que eu vou deixar você fazer isso? —A peguei pelo ombro— E se for um urso?

—Tão silencioso assim?

—É verdade.

—Olha, deve ser só um filho da put@ fazendo gracinha fingindo ser um monstro.

—Nossa, por quê xingar?

—Aff, vai me ajudar ou não? Eu só quero sua ajuda para abrir e fechar a porta.

—Ai gente... Está bom, se acontecer algo não diga que eu não avisei.

—De boa Lily.

Ela saiu agachada depois de ouvir um som um pouco longe de nós, Dara ficou ao lado da porta uns segundos, depois não vi mais sua sombra. Que dor no coração saber que eu a deixei sair. Dois minutos depois ela voltou correndo e abriu desesperadamente a porta, trancou a mesma e sentou-se com coração acelerado ao meu lado, tremendo.

—É um urso.... Na verdade dois ursos.

— O que?! Como vieram parar aqui?

—Eu pensei que fosse algum retardado fazendo uma brincadeira de mal gosto, mas são ursos mesmo. Aff pensei que ia morrer.

—Bem feito.

— O que?! —Disse ela regalando os olhos.

—Eu disse que era ursos, e te avisei para não sair.

—Ah fica quiet...

Ouvimos o barulho de um deles e depois vimos sua sombra pela janela, fomos olhar. O urso estava comendo da lixeira ao lado da cabana.

—Eles são muito silenciosos para serem ursos, muito estranho.

—Também achei, mas são ursos mesmo. Eu vi um de costas se esticando na árvore, era do meu tamanho, havia pegado um pedaço de pau para dar uma lição no idiota por se vestir de urso. Quando fui bater nele outro urso apareceu e grunhiu, ou seja lá qual barulho um urso faz, aquilo parecia mais um rugido, enfim ele me mostrou os dentes depois que me assustou, acho que eram mãe e filhote.

—Devem estar com muita fome, estão tão quietos, basicamente não causaram nenhum estrago.

Não resisti e tirei uma foto daquele animal, nunca havia visto um tão perto de mim; apesar de sentir um pouco de medo, porque era fácil um animal daqueles conseguir entrar numa cabana, não deixava de ser lindo, um animal realmente majestoso. As gêmeas voltaram a dormir antes dos ursos ir embora, já a Dara e eu só conseguimos finalmente voltar para nossas camas quando eles foram embora.

—Não se preocupe. Eu vou ficar de olho, se eles voltarem ou qualquer coisa acontecer, eu te aviso —Disse Dara do beliche de cima.

—Ok.

Acordei às seis da manhã assustada com o som do sinal do acampamento. As gêmeas já estavam se arrumando quando eu acordei, Dara não estava na cabana.

—Bom dia gente! —Disse eu me espreguiçando.

—Bom dia—Disseram as duas sorrindo.

—Hoje é nosso último dia aqui —Disse Megan—Vou sentir saudades.

—Ahh qualquer dia a gente se reúne e volta aqui depois—Disse Magda.

—Ainda tem uma trilha hoje até uma cascata aqui perto—Falei ainda meio sonolenta.

—Aff, não aguento mais andar —Reclamou Megan.

—E hoje a caminhada é de cinco quilômetros —Disse Magda olhando um folhetinho— Correção 4,6.

—Ai, é hoje que eu morro mesmo —Disse Megan se jogando na cama.

—Não exagera!

— Ah hoje eu acho que vai ser legal, vamos embora antes de anoitecer…. Então vai ser coisa rápida —Disse eu.

— Aliás, vamos embora que horas?  —Perguntou Megan.

—Quatro da tarde —Respondeu Magda.

Eu queria contar sobre o sonho, porque fiquei muito curiosa com a Dara depois que acordei... Tipo, ela estava me encarando e logo depois disse que ia dormir.... Eu fiquei remoendo aquelas imagens, parecia tudo tão real, sem contar que eu nunca sonhei que estava beijando o Clarck, então porquê sonhar que estou beijando a irmã dele? Sei que tudo não passou de um sonho, mas estou abismada até agora com minha imaginação. Resolvi não falar nada por hora, tinha medo que a Dara aparecesse do nada (Como sempre aparece) e ouvisse isso.

Fomos tomar café da manhã, no caminho vi um loiro que conhecia muito bem, com as costas encostadas em uma árvore; as gêmeas foram na frente e eu fiquei para conversar com Clarck.

—Hum, está perdido moço? —Perguntei sorrindo.

—Acho que não mais, achei quem estava procurando.

—Aé... Onde está essa pessoa?

—É segredo de estado, não posso revelar.... Se não os federais virão atrás de mim.

—Bobo.

—Pelo menos te disse bom dia hoje.

—Você ainda não disse na verdade.

Ele me abraçou e sussurrou em meu ouvido “Bom dia”. Depois fomos para o refeitório, ainda estava meio vazio, resolvemos nos sentar sozinhos mesmo.

Quando estávamos na trilha a caminho da cascata eu fui ao lado de Clarck, em determinado momento os amigos dele o atentaram e eu quase sem pensar disse que ele podia acompanhá-los, Clarck me sorriu um lindo sorriso e eu retribui com um sorrisinho meigo. Queria falar com as gêmeas, aliás, são poucas coisas que eu não converso com elas, com elas é o mesmo esquema, então acho que tudo bem falar disso.

—Lii você deixou seu namorado ir andar com os amigos para vir falar conosco.... É algo tão grave assim? —Disse Magda.

—É verdade, o que houve? —Perguntou Megan.

— Eu sei lá, eu só estou muito encucada com algo que aconteceu...

—Hum, conte mais... —Disseram elas, assustadoramente juntas.

—Ontem eu tive um sonho muito estranho... E a parte mais estranha que eu lembro foi que eu estava beijando a Dara.

—Hã?! —Disse Megan assustada.

—Hum.... Interessante... —Disse Magda.

—Não, pior que isso foi um pouco antes de eu acordar e dar de cara com ela sentada no beliche de vocês, me encarando, depois ela ainda agiu estranhamente.

—Como assim “estranhamente”? —Perguntou Magda.

—Tipo, além de me encarar ela foi dormir logo em seguida, como se estivesse evitando conversar comigo.

—Hum.... Lily, você não acha que ela tenha feito algo enquanto você dormia? —Perguntou Megan.

—Na verdade não, porque meu sono é muito leve e ela disse que eu parecia estar tendo um pesadelo.

—Ah.... Eu me lembro de você me contar que havia um problema de família e que você estava curiosíssima para descobrir.... —Disse Magda, meio que em um de seus lapsos de genialidade—Você não acha que está pensando demais nela? Porque isso explicaria você sonhar com ela, não com isso, mas com ela.

—Você até que tem razão Mag —Disse eu a Abraçando— Acho que pensei muito nela ontem.... Mas veja pelo lado bom, ela quer ser minha amiga.

—Isso é bom —Disse Magda.

Megan deu risadinhas.

—Hum.... Minha amiga tendo sonhos lésbicos —Disse ela em um tom sensual levantando a sobrancelha, depois voltou a rir.

—Ah para!

—Desculpa Lily, não aguentei.

—Está tudo bem, acho que o jeito é esquecer agora né, se não daqui a pouco não vou conseguir ficar do lado dela.

—Só falo uma coisa.... Você conseguiu ganhar de mim em relação ao sonho mais esquisito de todos —Disse Megan—Eu sonhei uma vez que um porco espinho estava preso nas minhas costas e eu não conseguia tirá-lo de lá, quando acordei vi que eu só havia caído da cama.

Foi inevitável rirmos depois daquilo, até a Megan riu.

—Por que um porco espinho? — Perguntei.

—Sei lá, o chão estava frio e minhas costas estavam formigando.

—Só você mesmo maninha.

Acho que todo mundo já estava morto quando chegamos à cascata (Como não, foram 5 km percorridos), a guia nos explicou um pouco sobre a cascata, ficamos um pouco lá e depois voltamos. A parte boa é que nós viemos subindo uma ladeira, ou seja, a parte mais difícil tinha passado porque a volta seria uma descida, ou seja, qualquer coisa é só ir rolando (piadinha sem graça a minha).

O dia foi meio sem graça depois disso, porque todo mundo estava cansado de tanto andar nos dias anteriores, mas o que importa é que tínhamos aproveitado bem aquela viagem. A hora de retornar para casa chegou rápido...

—Martin... Leva minha mochila de volta para mim? —Perguntou Megan toda manhosa.

—Claro Megan —Disse Martin arfando ao pegar a mochila—Caramba, parece que está voltando mais pesada do que veio.

—É que eu comprei alguns suvenires na lojinha daqui.

Martin regalou os olhos, respirou fundo, mas não disse nada.

Encontramo-nos com o Clarck na portaria, antes de sairmos a Megan fez questão de tirar uma foto de nós todos juntos. Ficou bonita a foto, a Megan na frente de todos, porque foi ela que tirou a foto aliás, eu abraçada no braço do Clark, ele sorrindo. Martin forçando para ficar ereto por conta do peso na mochila e forçando também para sorrir (Mas sorriu), Magda sorrindo timidamente segurando sua mochila de lado e Dara dando um sorriso de lado enquanto segurava a alça da mochila. Enquanto andávamos ela foi olhar as fotos em sua câmera e nos mostrou como havia ficado.

—Nossa Megan, ficou muito bonita a foto —Disse Martin—Além de muito bonita você é uma fotógrafa nata.

**Cof** **Cof** Vai garanhão**Cof** **Cof**

—Obrigada! —Respondeu Megan sorrindo.

—Não é por nada não amiga, mas ficou boa mesmo, até a luz ajudou—Disse eu.

Eu olhei muito à frente, para Dara, devo ter encarado demais, Megan percebeu... Então me puxou para perto e me disse:

— Admite, você está obcecada com a menina? Se eu não te conhecesse diria que virou fã dela.

—Hã?! Não, eu só a acho muito estranh,a e sei lá é inevitável não olhar, sei lá, me sensibilizei por saber que ela foi expulsa de casa e ahh me sinto culpada por ter sido má com ela.

—Que lindo amiga, mas ela é muito legal mesmo...

—Acho que ela é a melhor cunhada que você poderia pedir —Disse Magda.

—Mas há algo que eu acho muito estranho nela, mesmo nós estando por perto, mesmo assim ela prefere ficar sozinha.

—Acho que isso já é dela mesmo, ela é assim —Disse Magda.

Foi uma viagem tranquila, quando retornamos para a porta da escola já era quase sete da noite, na hora que viramos a esquina para ir para nossa escola percebi que um Dodge preto antigo estava estacionado perto de mim, ao passar vi um homem deitado no capô do carro, mas não vi o rosto, o capuz de sua jaqueta também preta cobria sua face, mas pude ver que era um homem bem alto e provavelmente bem magro também, esse deveria ser o Sombra, o irmão do Martin.

Ao descermos vi a Dara ir rapidamente de encontro a ele, enquanto Martin seguiu pelo caminho oposto acompanhando as gêmeas. Tadinho, é uma longa caminhada até a casa delas, ele vai ter dor nas costas, muita dor nas costas. Cheguei em casa, jantei e depois me joguei em minha cama, acho que o final de semana foi muito corrido e tudo que eu mais quero é dormir agora e... Esquecer aquele sonho....