Ah Se Você Soubesse escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 11
O acampamento_ Parte 02




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Acordei cedo essa manhã, um raio de sol me acordou, senti uma brisa gelada em meus pés que estavam fora do cobertor, isso me fez arrepiar, peguei meu celular e olhei as horas, faltavam vinte minutos para as seis, lá amanhecia mais cedo pelo jeito, resolvi levantar.  Estava muito frio, olhei ao redor e as gêmeas estavam dormindo ainda, mas Dara não estava em sua cama. Troquei-me e resolvi sair da cabana, eu sabia que um sinal tocaria de todo jeito às seis da manhã. Estava muito frio, mas era um ar gostoso de respirar, ar puro, caminhei até a portaria e lá vi a Dara sentada na beira do lago, estava abraçando suas pernas dobradas e com a cabeça em seus joelhos, olhava fixamente a água. Acho que essa seria a hora perfeita para conversar com ela.

—Então você está aí aproveitando a vista?

Ela virou-se assustada e me olhou rapidamente, depois tentou esconder seu rosto com o capuz de sua blusa, eu vi perfeitamente que ela estava chorando e que não usava lente. Ela enxugou suas lagrimas, respirou fundo e depois disse sem se virar para mim.

—Aqui é muito bonito não acha?

—Sim, realmente.... Oh que milagre, você está sem lente de contato.

—Eu já ia colocá-las, mas resolvi parar para ver o nascer do sol e acabei ficando por aqui mesmo.

—Não sei por que quer colocar lentes, seus olhos são muito bonitos, quem me dera ter olhos como os seus e do seu irmão. Essa cor é muito hipnotizante e seus olhos são mais profundos ainda que os do seu irmão, são mais misteriosos.

Ela ficou em silencio por alguns instantes, depois me agradeceu, logo em seguida vi que enxugou mais lágrimas. Sentei-me ao lado dela, ela virou mais sua cara para que eu não a visse.

—Sabe, eu não gosto que as pessoas vejam a cor dos meus olhos... Não é nada pessoal, eu só não gosto —Disse Dara puxando um pouco mais seu capuz.

—Interessante... Mas eu já vi seus olhos aquele dia que você quase me matou e você olhou nos meus olhos.

—Droga é verdade —Ela virou-se para mim— Mas isso não quer dizer que eu não vá colocar minhas lentes hoje.

—Tudo bem, qual cor você vai usar hoje?

—Um olho castanho claro e outro azul, olhos heterocromáticos, acho tão lindos.

—Hum, legal... Então, você conhece bem esse lugar... O que tem atrás daquelas montanhas? —perguntei apontando para a Serra do outro lado do lago.

—Uma cabana super legal, área de pesca, bastante coisa na verdade, tem até área para os meninos fazerem corrida de bicicleta e brincarem de painting ball. Queria ir lá hoje, parece que já está programado para irmos lá,  mas o lado ruim aqui é que tirando as toalhas e a água, nada é de graça.

—Verdade, mas já estávamos preparados para isso, ah e eu quero ir também. Nossa, aqui tem tanta coisa.

—Lily...

—Sim.

—Sobre ontem, você me perguntou se podíamos ser amigas... Bem, eu não sei se você vai querer ser amiga de alguém como eu, mas eu queria ao menos tentar ser sua amiga.

—Fico feliz de ouvir isso.

Ela virou a cara para o outro lado, eu a abracei.

—Você com certeza é diferente de todas as ex-namoradas do meu irmão, espero que deem certo, você é muito legal.

—Eu também espero. Então vocês vinham muito aqui?

—Sim costumávamos vir muito aqui, boas lembranças. Sabe, quando meus pais se separaram acabaram morando perto, pois eu quis morar com minha mãe e meu irmão com meu pai, então para os pais não perderem os laços com os filhos resolveram morar perto.  Ficávamos há basicamente três ruas de distância um do outro.

—Eram muito próximos?

—Bastante, tanto eu com meu pai quanto como com meu irmão também, queria que nada tivesse mudado —Ela olhou para trás— Lily vou ao banheiro colocar a lente, depois a gente se fala mais.

Ela se levantou e eu fiquei sentada por uns minutos até ver as gêmeas passarem, fomos tomar café da manhã depois disso. No refeitório, eu estava na fila para pegar comida quando finalmente vi a Dara entrar para tomar café da manhã, sua cara estava evidentemente inchada de tanto chorar.

—Ai meu braço! —Reclamou Magda sentada a mesa.

—Você queria o que?  Dormiu com a Megan puxando ele para baixo —Falei me sentando ao lado dela.

—Aff Culpa dela—Disse Magda apontando para Megan com a mão esquerda—Não aguenta umas histórias de terror.

—Mentirosa, você estava tremendo grudada no meu braço na hora das histórias —Disse Megan rindo.

—Não, eu fiz só isso na hora que a Dara saiu da árvore e pra constar, você quase saiu correndo que eu vi.

Eu já não estava aguentando ver aquela cena, estava muito engraçado ver as duas brigando; a Magda gesticulando com uma colher e comendo com a mão esquerda (ela é destra), do outro lado da mesa a Megan comendo seus cereais com leite três vezes mais rápido que o normal por conta da discussão.  Não resisti e ri daquilo.

—O que foi? —Disseram as duas ao mesmo tempo,sérias.

Eu já havia dito isso, mas vou repetir…. Elas assustam pra caramba quando falam ao mesmo tempo.  Eu levantei minhas mãos deixando até cair a colher no chão e disse:

—Desculpa senhoras, comandantes e Generais.

Eu não resisti e comecei a rir novamente, Megan acabou cedendo ao poder do meu riso e começou a rir junto, Magda não gostou muito da brincadeira e gritou:

—Porr@, eu aqui com dor e vocês aí rindo? Que sacanagem hein?

Megan e eu paramos de rir na hora, nos encaramos, depois encaramos a Magda. Ela não costuma xingar, na verdade nenhuma das duas costuma.

—Maninha…. Você está bem?

—Ai Desculpa eu ter xingado… Mas está realmente doendo muito.

Não pensamos duas vezes, como lá não havia nenhum médico, a levamos ao mais próximo que tínhamos de um médico naquele momento… Sra. Maricopa, nossa professora de biologia. Ela estava do outro lado do refeitório comendo com os outros professores.  Depois de explicar o que havia acontecido, rir novamente ou ver as duas discutindo novamente para ver de quem era a culpa, a Sra. Maricopa finalmente olhou o braço da Magda. Ela disse que era uma simples luxação, nada de mais, mas que era bom manter o braço o mais quieto possivel. A Magda tomou um relaxante muscular, um anti-inflamatório e improvisamos uma tipoia para manter o braço dela quieto e fomos nos juntar aos outros para ir a casa no lago.                                          

Eu estava sozinha, o Clarck estava na frente conversando com dois amigos dele, as gêmeas começaram a conversar sobre viagens de família delas e eu meio fui que deixada de fora da conversa, então resolvi ir sozinha mesmo.

Estava quase no final daquela enorme fila de estudantes me sentindo um tanto sozinha, então o Martin que estava perto de mim chegou do meu lado e começou a conversar comigo. Foi até bom conversar com ele, mas eu estava intrigada e admito que curiosa para saber sobre o drama da família do Clarck, que em um momento acabei olhando para Dara (que estava há uma distância grande de mim) demais e devo ter olhado demais ou esboçado alguma reação diferente, porque ele comentou algo sobre ela.

—Sobre a Dara, eu a conheço faz bastante tempo... Se você está achando que fez algo errado sobre ontem... Saiba que ela é desse jeito mesmo... Igualzinha meu irmão, aliás, acho que por isso eles se dão tão bem.

—Hã, eu realmente não sei o que dizer.... Aliás, você tem irmão?

—Tenho, você já deve ter visto ele, aliás, ele passa muito tempo na casa do seu namorado por causa da Dara. O nome dele é Nicolas, mas todo mundo o conhece por Sombra.

—Não conheço, já ouvi falar dele, mas não o conheço.

Na verdade, eu acho que eu já o vi de relance uma vez ou outra, porque volta e meia vejo a Dara chegando ou indo embora em um Dodge preto antigo que eu não faço ideia qual o nome ou o ano, mas como os vidros do carro são fumês eu não consigo ver quem está lá dentro dirigindo.

—Uma pergunta... A Dara te assustou quando você a viu? —Perguntou Martin.

—Nossa!! E como não?

—Bem, então saiba que ele é quase uma versão masculina desnutrida e muito alta da Dara. Só para avisar caso você o veja.

—Eles são namorados?

—Não, mas bem que minha avó queria que fossem, teria menos desgosto dele.

—Ah então por isso ela te entregou aquela palheta aquele dia, vocês são amigos.

—Sim, na verdade foi meu irmão que me salvou... Mas ela que me entregou.

—Então você e seu irmão são bem próximos, que gracinha.

—Na verdade agora que estou começando a me dar bem com ele, sempre brigamos muito e mesmo assim, mesmo não querendo ele por perto, mesmo assim ele sempre arrumou um jeito de cuidar de mim e me proteger.

—Que lindo.

—Sim, acho que eu teria tomado muito mais surras na minha vida se não fosse ele.

—Ai creedoo.

—Sério, no ensino fundamental sempre teve muitos grandalhões que me batiam e queriam meu dinheiro do lanche. Ele nem perguntava o que havia acontecido, nunca quis dizer nada, mas ele não era bobo. Sempre que via alguém me batendo entrava na frente e quase sempre dava uma surra nos grandalhões que me perseguiam.

—Ele não era magrinho e alto?

—Sim, mas é um demônio quando o assunto é briga... Nem eu entendo na verdade como ele consegue, só sei que quando olhava já tinha três ou mais no chão. Ele levava muitos ralas e até surra de cinto da minha avó por chegar machucado em casa, mesmo que estivesse apenas me protegendo se eu falasse leva um coro também, então ele me mandava ficar calado.

—Nossa que história, não imaginava nada disso sobre você.

—É que nós não conversamos muito, mas estou tentando ser mais sociável.

—Está funcionando, você é muito legal... E só um conselho sobre a Megan.... Ela tem fascínio, amor, paixão por doces.... Se achar um lugar que venda algum por aqui, compre um pouco para ela, tenho certeza que ela vai adorar.

Ele agradeceu a dica, vi nitidamente que sua face ficou rubra, que fofo gente, espero que a Megan dê uma chance para ele.

Depois de tanto conversar, acho que o Clarck reparou que eu estava conversando com um garoto um tanto distante dele. Ele pegou o celular e me mandou a seguinte mensagem “Olha para mim”, meu celular estava no bolso da minha da minha calça, quando ele vibrou até levei um susto.  Olhei para ele, o doido andava de costas segurando no ombro de um de seus colegas, ele me mandou um olhar de “não acredito que você está fazendo isso”, dei de ombros como se dissesse “isso o que”. Peguei meu celular e mandei a seguinte mensagem “Se está reclamando vem aqui conversar comigo”, ele estava se apoiado em um colega, quando foi ler a mensagem parou de se apoiar, mas não parou de andar de costas, foi inevitável que ele caísse um tombo dos mais feios.

Os amigos dele riram até, mas nenhum o ajudou a levantar, ele levantou bravo e foi brigar com eles, eu continuei andando ao lado do Martin, acabei até passando por ele.  Quando viu que eu estava lá na frente, quase chegando à cabana Clarck saiu literalmente correndo atrás de mim. o Martin achou uma máquina que vendia doces e resolveu seguir meu conselho, Clarck chegou bufando por correr rápido, me pegou pelo braço e chamou minha atenção, eu fui ao seu encontro e o beijei sem pensar uma vez se quer e o abracei depois.

—Senti saudades sabia? —Disse eu na ponta dos dedos para poder envolver os braços em cima de seus ombros—Você não me disse nem oi hoje.

—Perdão, mas a hora que eu te vi você já estava com suas amigas, não quis te atrapalhar.

—A Magda machucou, não pude ir te ver, depois quando fui te encontrar você estava com seus amigos.

—Aff, eu tenho uma namorada, mas não parecemos um casal.... Isso é foda demais. Quer saber, vamos esquecer os amigos por hora, hoje sou só eu e você e mais ninguém, ok?

—Falou bonito.

—Aff, minhas costas estão queimando.

—Você caiu de um jeito feio mesmo.

A cabana não era bem uma cabana, era uma casa de madeira há três metros de altura do lago, sua entrada era numa subida que segundo a monitora a estrada daria numa outra área de recreação, onde havia uma pista de corrida de bicicletas, área para brincarem de painting ball, área de artesanato e trilha para ir mais ao topo.

Dentro da casa era muito bonito, tinha uma área muito legal com alguns fliperamas e até mesa de sinuca, havia um telescópio na sacada do lado do lago que dava para ver uma vista lindíssima do lugar, sem contar aquela que se podia ver sem telescópio. Entramos na cabana e logo de cara já vi a Magda sentada em um puff com fones de ouvido lendo um livro que parecia mais a bíblia de tão grosso que era.

— Princesa, vamos jogar billar? —Perguntou Clarck pegando dois tacos.

—Mas eu não sei jogar direito.

— Hum, sem problema, eu posso te ensinar.

Ele preparou a mesa, me deu um taco e deu a primeira tacada. Depois falou que era minha vez e quis me ensinar, mas logo de cara ele pegou na minha cintura (para não falar bunda) e eu vi que isso não ia prestar, então saquei quase que de qualquer jeito e acabei fazendo uma bela jogada sem querer, acertei duas bolas que estavam um tanto distantes.

—Eita, você não disse que não sabia jogar direito?

—Mas é verdade, essa é a primeira vez que jogo isso —Dei outra tacada, aceitei mais duas— Sorte de principiante.

Na jogada seguinte errei e não acertei nada.

—Vamos fazer assim—Clarck se apoiou no taco— Se eu ganhar você me paga um refri, se você ganhar... É o contrário.

Eu não sei por que ou como, mas eu consegui ganhar esse jogo, sem brincadeira, ganhei de forma justa e fazendo umas jogadas bonitas... Óbvio que o Clarck não se deu por satisfeito... Eu meio que humilhei né... Então ele disse a celebre frase dita por um humilde perdedor que não perde o espirito do jogo “Melhor de três?”. E lá fui eu jogar mais duas rodadas daquele jogo, ele ganhou facilmente a segunda rodada, ainda deu um riso e fez um conjunto de gestos que falavam “Eu sou foda” , e eu apenas dei de ombros dizendo “e eu com isso?”.

Por fim a última rodada eu até comecei animada, pensando em ganhar para dar um peteleco no orgulho dele, mas pensei de novo e... Não... Não mesmo... Vai que ele sugere “melhor de cinco”, se ele falar isso eu quebro esse taco ao meio e fujo daqui (como se eu tivesse energia para correr, estou com muita fome). Eu nunca fiquei tão ansiosa para um jogo acabar, e o Clarck só errava jogada.... Por fim eu perdi a paciência e peguei as três bolas que faltavam (que o Clarck não acertava nem a pau) e coloquei com minhas mãos na caçapa perto de mim.

—Ei, eu estava preste a acertar.

—Tudo bem, você ganhou, eu pago esse refri.

—Nossa, que persuasão, o que quer fazer depois?

—Sei lá, vamos comer primeiro, estou quase morrendo de fome.

—Exagerada!

Depois de comermos (Aleluia!) Fomos até a enorme sacada ver a paisagem e que coisa linda que eu vi, justo na hora que olhei para baixo vi a Megan e o Martin em um barco se beijando.

—Moleque esperto hein? —Disse Clarck.

—Concordo, que gracinha gente.

—Aposto que o Martin era bv, tenho certeza na verdade.

—Se era.... Tenho certeza que nunca vai esquecer, porque além do mais ela está quase engolindo o garoto.

—É verdade —Clarck riu— Falando nisso, você lembra seu primeiro beijo?

—Lembro, mas esse é uma coisa que eu conversaria com uma amiga minha, não com meu namorado, ok?

— Ok, só para constar... Eu lembro do beijo ,mas não faço a mínima ideia de como era a menina.

—Hum, só para saber então...—enlacei os braços sobre os ombros do Clarck e fiquei na ponta dos dedos para poder olhar seus olhos— Você por acaso lembra-se do nosso primeiro beijo pelo menos?

—Claro que lembro, você quase me bateu depois que eu te beijei, pior que você gostou do beijo, imagina se não tivesse gostado. Eu lembro que você “dizia” que não queria nada comigo, aí eu te beijei e você gostou, ficamos um bom tempo naquilo, mas do nada depois você me jogou seus livros e fichário e me mandou embora.

Ri ao lembrar daquilo, realmente neguei muito para mim mesma que gostava do Clarck quando entrei na escola, achava ele um mulherengo, que só pegava e depois jogava fora, o tipo de garoto que eu sempre detestei. Já estamos juntos há quase seis meses e isso me deixa feliz, sem contar que, tirando quando ele está perto dos “amigos” dele, o Clarck é muito companheiro e gosta de me agradar.

—Eu digo isso pouco, mas eu te amo Clarck.

— Eu também te amo Lily. E mesmo se não me amasse eu tentaria te fazer feliz, não importa quantas cacetadas eu levei o dia que eu te beijei, valeu totalmente a pena, porque não há melhor sensação no mundo que te ter em meus braços.

—Hum.... Você está muito romântico para o meu gosto. Se você daqui a pouco falar “Vamos para minha cabana” ou banheiro, moita ou qualquer lugar que você possa estar pensando aí em me pegar, desista tá.

—Não estou pensando nisso... Porque além do mais, eu vi um de meus companheiros de cabana descendo essa estrada agora pouco.

—Três letras WTF.

—Ué... Era para ser engraçado... Juro!

—Aff, me beija logo.

—Melhor ordem que você já me deu.

Depois de finalmente cansar de beijar o Clarck (mentira, isso não cansa) tive a curiosidade de olhar pelo telescópio, olhei o céu, depois olhei ao redor. Os pombinhos do Martin e a Megan estavam um pouco distante, ainda se beijando. Um pouco à cima de nós havia um grupo descendo a ladeira, todos pintados da cabeça aos pés, não creio que seja o painting ball, porque eles jogam isso todos protegidos, e os colegas que desciam estavam pintados da cabeça aos pés, até os cabelos estavam coloridos. Do outro lado do rio havia uma garota de biquíni deitada sobre uma toalha de piquenique olhando o céu, demorei um pouco para perceber que era a Dara, oh praga, para onde olho vejo essa menina, daqui a pouco vou ter pesadelos com ela, só falta isso.

—É a sua irmã do outro lado do lago?

—Hã, deixa eu ver! —Clark olha pelo telescópio— É sim, caramba ela nadou bastante até lá.

—Verdade, hoje ela está tão chorosa, isso não é normal.

Clarck me olhou um tanto triste, afastou-se do telescópio e apoiou-se com as duas mãos sobre o tablado que delimitava a sacada.

—Eu posso perguntar o que está acontecendo, ou é muito pessoal, coisa de família e coisa e tal?

—Você pode perguntar sim, eu não estou sabendo o que fazer mesmo.

Pus-me por trás de Clark e o abracei.

—Pô amor, você nunca falou assim, o que houve?

—Meu pai expulsou a Dara de casa e eu simplesmente não fiz nada... De novo. Droga, o que ela falou ontem acertou em cheio minha ferida, às vezes eu faço besteiras com toda a coragem do mundo e quando preciso resolver assuntos sérios eu faço que nem um moleque.

—Nossa, porque ele a expulsou? Ela vai voltar para a casa da sua mãe?

—Meu pai estava brigando basicamente toda noite com ela e eu o apoiando, mas quinta agora foi o ápice de tudo. Ela levou o amigo dela para dormir lá em casa, meu pai não gostou nada disso e eles brigaram feio, a discussão acabou com meu pai gritando “Já que é assim, você não precisa voltar nunca mais aqui... Debaixo do meu teto você não mora mais”. Então ela saiu com aquele amigo medonho dela e na manhã seguinte eu a vi aqui.

—Meu Deus, você acha que ele falou sério isso?

—Sim, eu ainda tenho esperança de que quando nós voltarmos ele vai estar mais calmo, só que meu pai é bem cabeça dura quando quer. Pior que isso é culpa minha, porque eu não fiz nada esse tempo todo, só piorei tudo. Sabe, ela anda sempre me provocando e me fazendo sair do sério, mas isso não é desculpa para o que eu fiz e agora eu estou me sentindo um lixo por isso.

Meu Deus do céu, eu não fazia ideia que a coisa fosse tão grave assim, sabia que eles haviam brigado, mas não sabia que havia sido algo tão feio. Isso explica porque o Clarck e a Dara estão assim, se minha mãe ou meu pai me expulsassem de casa eu provavelmente iria ficar abalada por um século, e mesmo não sendo algo que aconteceu diretamente com o Clarck é visível que ele está sofrendo também.

—Sabe, não foi culpa sua... E se foi ou não.... Você ainda pode mudar, fazer diferente, parece que vocês eram bem próximos, vocês podem ser de novo.

—Não podemos, além de ela ser alguém totalmente diferente agora, eu a machuquei tantas vezes que não é possível ter a confiança dela novamente.

—Você já tentou?

—Sim, isso já não era possível sem isso acontecer, agora é impossível.

Eu o beijei carinhosamente, depois o abracei o mais aconchegante possível, queria que ele pudesse sentir meu amor naquele momento, talvez isso o reconfortasse.

—Então, melhor de cinco? —Perguntei sorrindo.

—Não, mas eu te devo um refri ainda, você ganhou a primeira.

—Hum, que bom que admite a derrota.

Quando deu quatro horas os monitores deram um toque de recolher e voltamos para a parte da área de camping do acampamento. Fiquei quase meia hora esperando na fila para pode tomar banho, quando voltei para a cabana vi Magda tagarelando com sua irmã, ela parou e pulou para me abraçar, sua felicidade era aparente.

—Ê garota, você pensa que eu não te vi, oh eu te enxergo muito bem. Eu vi você e o Martin no lago.

—Ele me deu doces, e apesar de ser muito desajeitado.... Foi bom estar com ele.

—Foi subornada então? —Perguntei meio que de sacanagem mesmo.

—Não, nunca.... Eu tenho meus princípios sabia?

Magda pegou uma barrinha de chocolate e ofereceu a Megan em troca dela arrumar a cama.

—Maninha, eu só não faço isso porque você pegou esse chocolate da minha mochila tá, senão eu fazia.

Todas rimos.

—Nossa, até as iniciais deles parece nome de doce —Ponderei Magda.

—Nossa é mesmo —Concordei eu.

—Sério gente?

—Sim M&M.

—Verdade, o Martin é um doce de garoto, você ama doce e suas iniciais juntas é o nome de um doce. Perfeito amiga!!

—Hum, deu fome.

—Anem maninha, você só pensa em comida.

—Mas eu não como nada desde as três da tarde e está na hora da janta mesmo, aliás, se vocês não se importam eu vou jantar.

—Eu já jantei —Disse eu.

—Nossa, mas você nem nos esperou Lii —Disseram as duas ao mesmo tempo.

Nota pessoal: Assustadoooorrr deeemaaiiss!!

—Não meninas, perdão por isso, mas é que eu estava com muita fome e a fila do banheiro demorou muito, pensei que vocês já tinham jantado.

—Ahh que pena, queria que jantássemos todas juntas —Disseram as duas ao mesmo tempo novamente.

Nota pessoal: Novamente, Assustadoooorrr deeemaaiiss!!

—Foi mal, e eu estou com muito sono também, quero dormir um pouco.

—Mas já?! Ainda tem as histórias de terror ao redor da fogueira —Disse Megan.

—Tem, mas eu não vou... Só para avisar.... Não quero perder meu outro braço —Disse Magda quase gritando.

—Eu não tenho culpa se você é medrosa.

—Ah eu sou a medrosa aqui?

As duas saíram da cabana desse jeito mesmo, discutindo quem é que tinha medo, ou mais medo, sei lá, só sei que tinha a ver com medo. Depois que as duas saíram eu finalmente pude dormir....

.......................*********........................

Lily estava deitada em um leito de hospital toda machucada e Dara estava sentada na beirada da cama conversando com ela, diferente de todas as vezes que Lily a viu ela não usava piercing, lente ou até maquiagem, estava apenas ela ali, suas olheiras eram aparentes e sua face estava mais pálida que o normal.

—Por que você está fazendo isso comigo? —Disse Lily chorando.

—Você acha que eu queria isso? Droga, claro que não! —Gritou Dara segurando suas lágrimas.

—Tudo de uma vez, por que está acontecendo tudo de uma vez? Cara, é muita coisa para assimilar, entender, digerir.

—Eu sei tá, mas se eu não falasse isso agora... Não sei se teria outra chance. Pode me odiar, me xingar, gritar comigo, mas quero que saiba que eu te amo.

Lily nada disse, não conseguia falar na verdade, seus soluços mal lhe deixavam pensar ,muito menos falar. Ela tampou seus olhos enquanto Dara estava cabisbaixa, quando conseguiu se recuperar um pouco tentou esboçar algumas palavras.

—Sabe... Eu...Sabe...E...

Lily foi interrompida por Dara que a beijou, Lily realmente não esperava aquilo, mas cedeu aos lábios da mais nova, ambas choravam, entre uma tomada de folego e outra Dara dizia que a amava. Tantas emoções, tudo tão confuso e mesmo assim... Perfeito. Elas continuaram assim até que ouviram um barulho do lado de fora do quarto, alguém estava abrindo a porta...

.......................*********........................

Quando acordei a primeira coisa que vi foi o estrado da cama de cima do beliche, a segunda foi a Dara sentada no beliche ao lado tomando Coca-Cola e me encarando, pior que quando eu a olhei ela nem disfarçou. Levei um susto ao vê-la daquele jeito, acabei caindo da cama.

—Aff, você me assustou!

—Desculpa —Dara me estendeu a mão— Não era meu intensão.

—São quantas horas?

—Sete e alguma coisa.

—Nossa, eu dormi por quase uma hora. E as gêmeas você as viu?

—Passaram aqui, te viram dormindo e foram para a fogueira.

—E você?

—Estava deitada no chão ali de fora olhando as estrelas, aqui amanhece e anoitece cedo. Resolvi entrar faz uns 15 minutos, você parecia... Ah, sei lá... Podia ser um pesadelo. Está tudo bem?

—Está sim, só um sonho muito estranho.

—Hum, interessante.

—Seu irmão me contou o que aconteceu quinta-feira passada.... Eu sinto muito, e não sei muito bem o que posso dizer, mas sinto que vai dar tudo certo.

—Desculpa Lily, mas não quero falar sobre isso.... É que eu estou muito sensível hoje, aff qualquer coisa e estou chorando, então não quero chorar mais.

—Entendo.

—Acho que vou dormir também, foi um dia cheio.

—É verdade, eu acho que vou voltar a dormir também.

—Boa noite então.

—Boa noite Dara.

Dara já estava de pijama então apenas subiu no beliche. Eu fiquei olhando o tablado em cima de mim e pensando.... Que sonho foi aquele? Por que a Dara estava me beijando? Por que eu parecia gostar daquilo? Era tudo tão real, até os meus sentimentos, o coração acelerado, as lágrimas e a boca dela.... Passei meu dedo indicador esquerdo sobre meus lábios, era como se eu pudesse senti-la, mas como isso era possível se eu nunca... Aff.... Foi só um sonho bobo...  Só um sonho....


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