Eram pouco mais de 13:3o da tarde em Londres, Maura saíra da boutique deixando seu vestido no carro que acabara de alugar.

Maura decide ir almoçar.

Ela olha para o relógio e dá-se contas que se estivesse em Boston, deveria ter assumido seu cargo há poucos minutos atrás, e que provavelmente, estaria conversando com Jane sobre resultados de exames do dia anterior.

Maura tira seu iPad de sua bolsa, e chama o escritório de Susie, elas não haviam tido tempo de se despedirem, Susie talvez ainda sequer havia sido informada que teria que dividir o laboratório com outro Doutor, e Maura sabia que poderia chama-la por vídeo e ter a oportunidade de explicar ela mesma

–Hey Susie ? Uma Maura sorridente aparecia na tela do notebook da assistente sênior

–Doutora Isles ! –Susie não esconde a surpresa ao vê-la por vídeo, afinal ela a esperava no departamento , não por vídeo conferência .-Desculpe minha curiosidade chefe , mas aonde a senhora está tão cedo assim com um sol desses ? –Susie podia ver a claridade do dia pela vidraça impecavelmente limpa por trás de Maura

–Well , eu não tenho certeza absoluta , quantos aos metros , mas de resto tudo confere , e respondendo à sua pergunta : Eu estou a aproximadamente 5.264,44 Quilômetros de você !

–Desculpe desapontá-la doutora, mas embora eu tenha a melhor professora do mundo, eu não sei calcular rotas ou coordenadas! Susie sorri desapontada por não ter sido capaz de descobrir o atual endereço da chefe- Mas sei que é longe pra caramba!

–Eu estou em Londres Susie . Maura sorri ao ver o embaraço de Susie , ela era fofa e empenhada , Maura sentia orgulho de participar na formação acadêmica dela , sabia que mais adiante ela teria um futuro incrível na medicina legal

Susie no entanto faz menção de replicar apesar do espanto, mas é interrompida quando Jane bate à sua porta.

–Hey Chang

–Detetive , entre .

–Oi Susie, como vai?

–Eu estou bem obrigada e você? Susie não deixa escapar o suspiro de derrota da morena–Não estou nos meus melhores dias, minhas atitudes impensadas e meu medo exagerado de ir em busca da minha felicidade, enfim mandou lembranças.

–Desculpe ? Susie de fato não entendia a justificativa da morena por dois motivos , Jane jamais admitia fracassos e segundo porque nunca foi de dar satisfação de suas escolhas ou atitudes, quaisquer que fossem elas

–Deixa pra lá .

Jane não havia reparado que Susie estava em um vídeo conferência e se assustou ao ouvir aquela tão doce e encantadora voz, que tantas sensações lhe despertava

–Bom dia Jane! –Uma voz calma e gentil ao seus ouvidos, adentrara o ambiente mórbido e gélido-Você está linda, de vermelho! Maura dizia enquanto observava a reação da morena ao ouví-la

Jane vira assustada e busca a dona da voz, por um momento ela acredita que talvez Maura tenha atendido seu pedido, e ficado

–Maura? Onde ela está Susie, cadê ela? –Jane pergunta ansiosa pela resposta, mas logo perde metade da empolgação ao seguir a direção que Susie apontava, ela agora a via, linda como sempre, disputando com o sol quem clareava mais o seu dia. Ela não resiste e sorri, encantada pelo simples fato de vê-la, mesmo que soubesse a distância que as separava.

–Hey Maur –A voz de Jane saiu ainda mais rouca que o habitual-Você está linda, nem parece que enfrentou quase 10 horas de voo, há menos de 12 horas –Jane sorri para ela e seus olhos brilham ao ver o sorriso de Maura e suas bochechas coradas ao ouvi-la dizer aquilo

–Jane. Ela queria dizer algo mas, não consegue , ela apenas sorri e num gesto de cabeça dispersa os pensamentos com um sorriso bobo- Me diz , como foi sua noite?

–Passei a noite em Londres .

–Desculpe , o fuso horário me deixou um pouco menos inteligente , como assim passou a noite em Londres ?

–Sim Maura , eu não dormi , pensando em tudo o que aconteceu nas últimas 20 horas , e no quanto eu daria tudo para ter ido à aquele jantar e evitado que você dissesse sim ao governador-Jane deixa escorrer uma lágrima , ao sentir o peso da culpa sufocar seu peito e da saudade que já a tomava pressionar seu peito

–Jane , não se culpe , eu também tive minha parcela de culpa nisso, eu não deveria ter aceitado algo desse tipo quando não estava em pleno uso de minhas faculdades mentais.

–Maura , a culpa é minha , é toda minha ,se eu não fosse uma estúpida você provavelmente teria amanhecido na minha ca..-Jane se dá conta que Susie ainda está ali e tenta contornar

–na minha , ca... ma , não ,na minha cama não, na minha casa , isso que eu queria dizer ! -Jane completa a frase apesar da gagueira e fita Susie na esperança dela não ter percebido, mas é despertada pela gargalhada de Maura

Percebendo que Jane queria um pouco de privacidade Maura dirige-se à assistente

–Susie, será que você poderia fazer o inventário das gavetas que contém os fragmentos de ossos das vítimas do desabamento?

–Claro doutora, com licença . –Ela acena pra Jane como se pedisse permissão para retirar-se dali – Detetive ?

–Oh ,claro Susie fique à vontade –Jane sorri em consentimento –Posso abusar um pouquinho de você pedindo que deixe o notebook ligado ?

–Oh , claro que não ,fique a vontade não é nenhum abuso . –Susie enfim deixa as duas em privacidade

–Então quer dizer que a senhorita tinha planos para nossa noite? –Maura perguntava com um sorriso provocador, mas ao mesmo tempo encantador como só ela sabia oferecer

–Não só para essa, mas também para todas as que eu tiver até o último dia da minha vida

–Jane, eu esperei tanto por esse momento-Maura sorri encantada com as palavras de Jane

–Estar em Londres, fazendo parte desse corpo docente por 90 dias?

–Também!Eu não nego que eu realmente esperei muito poder fazer parte de algo assim, mas não queria que essa oportunidade só tivesse chegado agora, me impedindo de estar ao seu lado, quando tudo que eu mais quero é estar ai Jane, com você.

–Maura , como a gente vai fazer , eu preciso de você , se eu já precisava antes de ter você em mim como eu vou saber me acostumar sem você aqui ?

–Jane , nós esperamos todos esses anos na incerteza de sermos correspondidas , porque não aguentaríamos esses 89 dias ?

–Tem razão ... você me espera?

–Sempre!

Jane sorri e toca a tela do notebook, não resiste e beija próximo à câmera, e diz entre sorriso e rouquidão

–Eu te amo Maur

–Eu sei Jane, agora eu sei, e é a certeza de saber que será para seus braços que eu irei voltar, que me motiva a dar a esses alunos o melhor de mim.

Ontem quando nos despedimos, você deixou meu coração em pedaços quando me pediu algo que eu não poderia te dar

‘’FICA ‘’

–Eu não poderia ficar Jane, eles precisam de mim, e esse projeto realmente elevará meu currículo, mas se eu tivesse como evitar, eu evitaria, mas eu não pude, eu nem ao menos consegui falar com o governador.

–Maura , esquece o que eu pedi , faça exatamente o que você faz de melhor pelos próximos oitenta e nove dias , e guarde só a certeza da resposta que eu não te dei ontem.

“Espero”

–Pode ter certeza que eu te espero pelo tempo que for , agora que tenho a certeza do seu amor.

Jane se despediu de Maura, quando ambas beijaram suas câmeras, e as palavras eu te amo se encontraram nos infinitos quilômetros que as afastavam.

Jane fecha o notebook e vai para o andar do homicídio, o dia será longo, mas com certeza será melhor agora que todas as respostas que ficaram faltando no dia anterior foram devidamente dadas, não restando dúvidas que o amor delas sobreviveria a tudo aquilo, a toda aquela distância.

Naquele dia ,tanto Maura como Jane tiveram seus dias agitados.

Maura, saiu dali, deixou seu vestido na lavanderia do hotel, e seguiu para algumas horas no spá do softel ,eram por volta das 20 horas quando após uma apresentação solene Maura enfim assumia seu mais novo emprego pelos próximos 89 dias .Ela estava feliz , agora que tinha a segurança dos braços abertos de Jane à sua espera .

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Os dias se passavam de maneira arrastada, a distância entre seus corpos era torturante.

Maura e Jane, estavam empenhadas ao máximo em seus respectivos cargos, tudo que podiam fazer a falta da outra ser sentida o menos possível durante o dia elas faziam.

Era difícil para ambas, mas elas conseguiam se falar por vídeo chamada, quando Maura almoçava e Jane ainda tomava café antes de ir ao departamento, era sempre assim , elas sempre conseguiam tempo uma para a outra , sempre estavam conectadas .

Jane sentia tanto a falta de Maura, que se habituou aos horários dela em Londres.

Todas as noites ,seu celular a despertava por volta das 3: 20 da manhã , para que ela ligasse o notebook , para falar por mais alguns minutos, minutos que nesses últimos quarenta dias desde que Maura viajara , tornaram-se horas, elas adquiriram então o hábito de dormirem com seus notebooks ao lado delas em suas camas para que pudessem conversar até adormecer , muitas vezes após fazerem sexo virtual inclusive, mas era sempre a imagem dos olhos uma da outra enfim se cerrando que elas tinham por último antes de dormir.

A vida de Jane em Boston não andava muito bem, talvez a correria do departamento, que incluía atrasos de exames visto que tudo passava pela supervisão de Maura, fazia com que Jane se estressasse, e ela mal tinha tempo, ou apetite em dias assim, e para completar o estresse a estava fazendo sentir enjoos, chegando muitas vezes de fato à vomitar

Angela pegava sempre no pé de Jane, para que ela se alimentasse melhor, descansasse mais e bebesse menos, e que procurasse um médico já que esses enjoos eram constantes nesses últimos dois meses, mas cabeça dura como era Jane e sem a única pessoa a quem ela escutava ali por perto, ela estava se afundando cada vez mais.

À essa altura Jane já havia comunicado sua mãe sobre o que havia acontecido entre elas, sobre o amor que descobriram nutrir uma pela outra e a necessidade física e emocional que Jane tinha de Maura ali ao lado dela.

E o fato de saber de tudo isso , da tristeza de Jane por não ter a namorada por perto lhe cortava o coração, mas Angela nunca descuidava nos cuidados à sua filha , e por vezes nesses últimos 60 dias insistiu que fossem ao médico, afinal , enjoos matinais nunca fizeram parte da rotina de Jane , e também não é comum , salvo a mulher esteja grávida , o que não era o caso pensava ela, já que Jane não se envolvera com nenhum homem e agora estivesse comprometida com Maura , ela insistia cada vez mais ao passo que o mal estar aumentava, mas Jane sempre tinha uma desculpa para adiar essa visita ao seu médico.

E mais uma vez, após um dia estressante no departamento com crimes que não haviam sido solucionados porque Maura ainda não havia tido tempo de revisar o trabalho de Chang, ela em companhia de sua cachorrinha, mais uma vez adormeceu no sofá de seu apartamento, dessa vez ela havia bebido tanto que nem ao menos viu o celular tocar para chamar Maura por vídeo.

Essa era a primeira vez em que Jane não a via por vídeo nesses 68 dias que estava afastada da amada.

O fato de Jane estar off line , deixara Maura intrigada durante a noite . Mas mesmo tendo dormido pouco e após encontrar o reitor da universidade para entregar e explicar os relatórios dos alunos , ela enfim decide que era hora de almoçar e para sua grata surpresa Jane estava agora on line , provavelmente à sua espera .

–Hey meu amor, bom dia , senti sua falta essa madrugada–Maura sorri enquanto relaxa a cabeça em seus ombros

–Bom dia meu amor, dormiu bem? Desculpe por essa noite - Jane parece triste, envergonhada talvez

–Sim, foi uma noite calma e eu estava realmente cansada, nós não teríamos nos divertido tanto

–Não mesmo, infelizmente –Jane arqueia a sobrancelha e deixa Maura curiosa

–Porque diz isso Jane? Aconteceu alguma coisa? -Maura se assusta com o tom de voz da morena que não parece estar muito à vontade naquele momento.

–Jane, você está bem?

–Não Maura , eu acho que exagerei na bebida , e eu estou atolada de trabalho , hoje amanheci enjoada , levantei há algum tempo pra vomitar , e mesmo assim o mal-estar não me abandona

–Mas porque você está bebendo tanto? Ainda mais com tanto trabalho sob sua responsabilidade? O que está te perturbando Jane? Maura dirigia-lhe um tom de compreensão, como se dissesse , talvez se eu estivesse ai ao menos seu mal estar físico eu poderia evitar , ela sabia no fundo que sua ausência nesses 68 dias estava sendo sentida ainda com mais dor , assim como ela sentia também cada vez mais a necessidade de estar junto à janeiro

–Me conta Jane , o que te aflige meu amor ?

–É complicado Maur, você não vai entender.

–Se você não e explicar, não mesmo!

–Maur , eu ainda não estou pronta pra ...-mas Jane é interrompida pelo celular

–Rizzoli !

–(......)

Okay , vou já para ai .

–Jane, por favor ?-Maura insistia

–Maura agora eu não posso , assim que puder falo com você .

–Jane , Jane , JANE !

Jane acaricia a câmera e fecha o notebook deixando-a sem entender absolutamente nada.

Mas o que mais a preocupava era a tristeza que Jane carregava em seu olhar.Ela sabia que fosse o que fosse , estava desafiando a corajosa Jane Rizzoli .