Jane segue para a cena do crime , e se surpreende com tamanha crueldade naquele assassinato, o que a leva a vômitos intermitentes pela hora que cobria a cena do crime e o legista designado pelo governo não chegava para liberar o corpo .

Jane já havia visto cenas mais cruéis ,envolvendo crianças inclusive que era sempre o que mais a deixava abalada mas por algum motivo aquela cena lhe parecia grotesca , e ela vomitava sempre que olhava para o corpo. O que foi motivo de piadas entre os detetives que estranhavam a reação dela.

Jane realmente não estava bem, e pediu o resto do dia de folga, talvez devesse fazer a adiada visita ao médico enfim.

Jane tira o dia de folga como planejara, e visita seu médico.

Em Londres passavam das 17 horas quando Maura se ausentou da sala de aulas, deixando seus alunos assistindo a um documentário e foi até sua sala, uma confortável sala, e telefonou para Jane .

E para aumentar sua angústia , Jane não a atendia , sua chamada que caia sempre na caixa postal o que a deixava ainda mais preocupada. Ela sabia que algo estava errado e isso a incomodava, desde a hora em que viu Jane por vídeo chamada , o semblante da morena não lhe trouxera paz , seu olhar era triste , sua pele estava pálida , e ela sabia que esse vômito poderia ser apenas uma gastrite ou algo do tipo relacionado ao estresse , e no último caso , talvez o corpo da morena fosse muito vulnerável à quantidade de bebida que ela vinha ingerindo , o que de fato a surpreenderia , pois além de Jane ser uma atleta ela não bebe o suficiente para problemas relacionados à isso , e isso só aumentava sua intriga

Jane por sua vez havia visto todas as vezes que seu celular tocou e a imagem de Maura sorrindo lhe aparecia na tela, mas ela nem ao menos coragem de rejeitar a ligação teve.

Jane estava sem chão, ela nunca imaginou que suas suspeitas se confirmassem, e agora com elas diante de seus olhos, o chão lhe faltou.

O que seria da vida dela, quanto tempo ela teria para viver em paz com Maura até que isso as separasse para sempre?

Ela teria que se afastar do trabalho, teria que repousar, teria que se habituar a coisas que sua rotina no departamento de polícia jamais permitiria. O medo iminente de abdicar de sua felicidade, visto que aquilo por fim a separaria de Maura, e do seu emprego que ela tanto amava, tudo aquilo passava em sua cabeça e ela se desesperava.

Jane sentia medo, e o medo era algo que ela havia perdido de vez quando esteve entregue à Maura, mas agora esse medo a tomava novamente e ela teria uma difícil decisão a tomar , decisão que afetaria todos ao seu redor , mas em especial três vidas seriam diretamente afetadas por uma decisão dela.

Jane chorava copiosamente, quando por fim foi vencida pelo cansaço ela acabou adormecendo ali mesmo, no sofá.

Maura discorria com seus alunos a respeito de técnicas para o tratamento de queimados que foram criados por sua mãe biológica , e sugeria a eles, que dividiam-se em equipes de até 7 pessoas , tentassem descobrir formas de curativos que tivessem resultados inovadores , ou melhores do que os já conhecidos .Maura já havia feito aquele grupo de alunos progredirem bastante na área da ciência e ficava orgulhosa por fazer parte daquilo , ela de fato sentiria falta de lecionar, de conviver com jovens sonhadores como ela foi um dia , e que seria tão bom, se não melhores do que ela era num futuro não muito distante .Sim , ela definitivamente sentiria falta daquilo , mas nada no mundo que fosse tirado dela lhe causaria tanto estrago quanto só o fato de pensar em perder Jane lhe trazia .

Maura termina seu dia de trabalho , e vai para seu escritório preparar os relatórios semanais dos alunos, e quando se vê livre da burocracia que era os documentos , ela encerra o expediente , levando os relatórios ao reitor da Imperial College of Science, Technology and Medicine.

Eram pouco mais das 22 horas em Londres quando Maura enfim vai para sua suíte após um dia longo de trabalho , mas sobretudo desgastante pelo fato de não conseguir deixar de pensar em Jane , no que acontecia com a morena naquela manhã em Boston .

Maura aguardou Jane ficar on line , mas ela não ficou , seria aquela mais uma noite em que dormiria sem poder ver os olhos castanhos da morena cerrar-se ao tê-la como sua última imagem do dia ?

Maura esperou por horas , e quando deu –se conta que já passava da uma da manhã e que Jane de fato não apareceria , ela fechou o notebook e adormeceu não muito depois , mas não sem antes divagar sobre tudo o que vinha acontecendo , por que Jane estava estranha , porque não atendeu sua chamada ao celular , porque não apareceu na vídeo chamada ?

Perguntas , perguntas e mais perguntas eram só o que vinham à sua mente , mas o cansaço enfim a venceu e ela dormiu .

Em Boston , não fazia muito fio , nem tampouco muito sol , era uma temperatura amena , e Jane saltava da cama como havia se tornado rotina em todas as manhãs , nauseada , e após alguns torturantes minutos o mal estar enfim a abandonava, permitindo-a se dedicar ao seu trabalho até que o mesmo a acometia novamente .

Jane estava cansada daquilo, de tudo que sua vida havia se tornado nesses últimos 70 dias, ela tinha uma decisão a tomar e essa não podia demorar.

Jane liga seu notebook , e o posiciona de forma que se Maura a chame ela veja , já que estava compenetrada em alguns relatórios de um caso antigo sobre a máfia irlandesa que havia sido reaberto.

O barulho do Skype a assustava , e no sobressalto , Jane fita a tela , e engole seco ao ver sua amada no vídeo, como ela podia ser tão linda ?

–Bom dia Jane .

–Bom dia Maur , dormiu bem ?

–Como Jane ?

–Desculpa ? Eu sei que te devo uma explicação .

– Não Jane , você não me deve , mas eu ficaria imensamente feliz se você dividisse comigo seus anseios

–Maura ,é complicado , eu não sei por onde começar .

–Que tal pelo começo Jane ?

–Esse é o problema Maur-Jane busca palavras que possam introduzir o assunto que ela tem certeza que partirá o coração de Maura .

–Qual Jane ?

–Maura , eu só preciso ter certeza de uma coisa pra tomar uma decisão

–Você sabe que eu te amo independente de todo esse tempo que demorei para ter coragem de aceitar não é?

–Claro que sim Jane, eu senti seu amor, eu provei do seu amor e é isso que me mantém firme esses 70 dias distantes de você , é a certeza de que quando eu voltar , será para os seus braços que eu voltarei , a menos que você não me queira mais , porque ai sim , eu risco Boston do meu mapa mundi , nada que houver ai me importará se eu não tiver você como eu tive a última noite que estivemos juntas.

–Maura, eu não posso mais exigir que você volte-Jane não encara a tela em momento algum mas tem certeza que os olhares de Maura estão perdidos à procura de respostas para o que ela acabara de falar

–Jane ?

–Maura ,eu não queria isso , eu juro, se eu pudesse evitar –Jane chora , o que faz com que Maura fique ainda mais preocupada com o que Jane tem a lhe falar

–Jane , você está me assustando !

–Eu não posso Maura , eu não posso forçar lhe forçar a viver comigo , com todas essas reações que meu corpo sofrerá , eu não posso exigir que você se abdique do seu trabalho , da sua vida, da sua paz , para cuidar de mim , eu não posso Maura

–Jane , você foi ao médico ?

–Sim Maur , eu fui

– E o que ele disse, o que está causando todos esses vômitos, esses cansaços e a falta de apetite Jane?

Maura estava impaciente, sua hora de almoço estava se esgotando e ela ainda teria uma reunião com o governador e o reitor da da Imperial College of Science, Technology and Medicine.

Jane afasta-se do campo de visão da web cam por alguns instantes e volta com um envelope em mãos .

Jane , eu preciso que você me diga , eu tenho pouco tempo até o meu horário de almoço acabar e eu ainda tenho uma reunião com o governador e o reitor da universidade .

Jane acomoda-se em sua cadeira, respira fundo e com o papel em mãos, como se fosse ler para a médica seu diagnóstico, ela busca algo que está atrás do notebook, no balcão da cozinha, e o aperta como se descarregasse no objeto todo seu medo.

–Esse papel Maura, é o fim do nosso sonho de amor para uma vida inteira! Jane diz as palavras como se as mesmas fossem navalhas afiadas passando por suas cordas vocais, fazendo com que tudo que quisesse dizer dali em diante, fossem apenas um sussurro, e causassem -lhe uma dor que ela não seria capaz de explicar.

Maura teme o que vem a seguir, mas ela precisa perguntar para ter certeza de que tudo o que passara em sua cabeça era de fato o que Jane estava prestes a lhe confirmar

–Jane ?

–Sim Maur ?

–O que é isso em suas mãos?

–Há alguém entre nós Maura!

–Jane ,você está ,você está ...-Mas Maura é interrompida pela resposta de Jane , entre lágrimas e rouquidão

–Eu estou grávida Maura!

–O q. . oque ? Como Jane ? De quem ? Quem está entre nós ?

–De que importa agora Maura? Já está tudo acabado, mesmo, mais uma vez eu coloquei tudo a perder Maur , eu te perdi , eu tive a chance de ter o amor da minha vida em meus braços pro resto da minha vida e agora descubro isso

–Jane ,de quanto tempo você está grav...Maura estranha a sensação de referir-se a quem lhe jurou amor eterno a partir do momento que estiveram juntas –Há quanto tempo você está grávida ?

–Algo em torno de 11 semanas

–Well, por essa eu realmente não esperava –Maura divaga por alguns instantes, sem nada dizer , olha então ao seu redor , e fica visivelmente agitada , o que desperta preocupação em Jane

–Maura ? Está tudo bem ? Fala alguma coisa please ?

– Jane , eu preciso ir agora tudo bem ?

–Maura fica.

–Eu não posso Jane , eu preciso resolver alguns problemas .

–Maura ,Maura eu preciso que você saiba que... –Mas antes que ela concluísse a frase Maura encerra a chamada de vídeo antes que Jane pudesse dar a ela qualquer explicação , ou mesmo lhe dirigir suas desculpas.

Jane tinha certeza que aquela resposta, sobre o tempo de gestação e a proximidade de quanto o feto foi concebido com a data com a qual elas ficaram juntas pela primeira, provavelmente a fizera pensar que talvez ela a pudesse tê-la traído, afinal de contas, elas estavam afastadas a exatos 70 dias.

Jane passa o dia jogada na cama, com a certeza de que mais uma vez desperdiçara sua chance de ser feliz.

E a tarde virou noite sem que ela se alimentasse ao menos, ela dormiu ali mesmo, ela não tinha ânimo para levantar-se da cama mesmo com sol invadindo seu quarto, ela não levanta da cama , mesmo o relógio avisando-a que já passavam das 9 horas da manhã , e que a essa hora o horário do almoço de Maura já havia se encerrado ,e mais uma vez elas não se falaram, mais uma vez , ela não se explicou , mais uma vez ela foi privada de ver o sorriso que tanto lhe fazia bem , mas que por algum motivo ela insistia em tirá-lo do rosto de Maura.

Jane não irá ao departamento aquele dia, ela tirou um dia de suas horas acumuladas nesses 70 dias, pois ela não via motivos para folgar se não tinha Maura para se divertir com ela, o que resultou em alguns dias em seu banco de horas.

A última noite de Jane não havia sido fácil , tudo que ela queria era voltar no tempo para poder evitar a sequência de erros que havia cometido , e teria agido com mais coragem , nunca se negando a aceitar o amor de Maura e o que ela sentia por ela , teria evitado se entregar a braços aos quais ela não se sentia amada, dentre os quais numa noite de sexo, onde tentava unicamente sufocar o amor que tinha por Maura , ela dava início ao fim do amor que por fim viera a descobrir que era correspondido , mas agora era tarde , ela teria um bebê ,e o pior , ela sequer sabia quem era o pai , pois , em alguns dos encontros de auto afirmação , Jane chegou a encontrar caras que conheceu on line , caras interessantes , mas para uma noite apenas , para saciar o desejo que ela já nutria por Maura há tanto tempo.