Em seu apartamento, a noite de Jane também não havia sido fácil, eram agora pouco mais de cinco horas da manhã em Boston.

Fazia frio, mas nada como o frio que vinha fazendo nos últimos dias.

Jane estava sentada numa poltrona que ela havia movido aquela madrugada deixando-a de fronte à janela de seu quarto.

Jane admirava a vista, com uma caneca de café instantâneo em suas mãos, ela sabia que a noite para ela seria em claro e não privou, portanto, seu paladar daquela bebida quente, que ela tinha que admitir, não chegava nem perto do café tradicional que Maura lhe preparava.

A vista de Boston, da sua janela era de fato privilegiada.

A iluminação mesmo muito agradável, e ficava ainda mais encantadora e solitária durante a silenciosa madrugada.

Jane inalava o aroma do café e lembrava que há menos de doze horas, ela tomava café da manhã com a mulher que por tanto tempo ela sonhou, embora se negasse a acreditar que a teria por ventura em seus braços.

Assim como Maura lembrava do seu, ela lembrava de cada detalhe do corpo de Maura, de cada reação de seu corpo ao seu toque, e lembrava com um sorriso tímido no rosto, de como ela se entregou à mulher, sem receio , sem ressalva , ela simplesmente deixou que seus corações ditassem o ritmo ao qual deviam seguir , e como já era de se esperar , a sincronia delas , agiam em total harmonia em absolutamente tudo, elas eram sim o que faltavam uma na outra.Nada sobrava, nem tampouco faltou a partir do momento em que seus lábios e posteriormente seus corpos estavam colados um ao outro.

Jane nunca se imaginou, se entregando de maneira passiva como se entregou à Maura. Nunca em suas relações anteriores ela se deixava dominar, ela era sempre quem ditava as regras, e por mais que se entregasse, alguma coisa lhe faltava, agora Jane tinha certeza que não era algo que lhe faltava e sim alguém. Faltava quem a amasse mesmo com todos os seus defeitos, alguém que sabia tirar dela o sorriso mais doce e sincero que alguém podia ter, faltava quem lhe fizesse perder o ar só de vê-la, estremecer só de imaginá-la ... Não! Não lhe faltava de fato algo, e sim alguém. Faltava Maura ocupando em sua vida e em sua cama o espaço que erroneamente outros tantos ocuparam e que até então, até as últimas 24 horas atrás ela sequer dava-se conta disso.

Maura precisou chegar ao extremo para que ela enfim percebesse, que nunca conseguiria sobreviver sem a presença dela ali, somente ao ver Maura ameaçar deixar Boston, ela enfim deixou que seus desejos fossem maiores que seu acobardamento, tomando portanto Maura em seus braços pela primeira vez e como se impossível de imaginar , tudo o que aconteceu aquela noite foi muito além do que ela já havia imaginado.

Jane enfim conheceu o amor, mas sua felicidade durara tão pouco.

Ela teve que ver o amor da sua vida, aquele que entrava porta à dentro de seu apartamento havia poucas horas atrás causando um reboliço e fazendo-a enfim conhecer o paraíso, para no entanto, partir deixando-a para trás mesmo quando ela implorou que ficasse. Mas Jane após saber de seu irmão que os planos de Maura sempre dependeu dela, ela enfim aceitava que tudo aquilo foi sim culpa dela, eram sim as consequências de sua relutância em aceitar seu amor por Maura, e agora , ali sozinha tudo o que ela podia , era lembrar , lembrar de cada detalhe que a fez apaixonar-se por Maura nesses últimos cinco anos .

Jane jamais se imaginou vivendo fora de Boston, mesmo que suas raízes a remetessem a apaixonante Itália, ela nunca se imaginou vivendo lá ou em qualquer outro lugar

E notar que as raízes que ela estabeleceu ali eram fortes suficientes para ela não querer jamais abandonar o lugar , ela sentia remorso por saber que Maura, que poderia viver em qualquer país de primeiro mundo , escolheu viver ali, e aprendeu a amar aquele lugar , ela de fato amava Boston ,e não fazia planos de abandonar o lugar , até que se viu perdida , quando foi por ela rejeitada , se vendo obrigada a criar raízes em um lugar que ela até gostava , mas que hoje não fazia parte de seus planos .

Jane lembra que Maura sempre a convidava para irem durante as férias à Londres, e por um instante ela divaga em suas lembranças

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–Hey Maura

–Jane? Maura sorri ao ver a amiga entrar em sua cozinha

–Tem cerveja?

–Claro! Desde quando após você entrar na minha vida faltou sua Blue Moom na minha geladeira?–Maura responde sem tirar os olhos da tela do notebook

–Tem melhor amiga melhor do que a minha? Jane sorri, a beija no centro da cabeça e segue em direção à geladeira, deixando Maura por trás de um sorriso encantador, mas que mesmo assim replica o comentário dela

–Sim! A minha melhor amiga - Maura mais uma vez sorri, mas dessa vez Jane é capaz de ver seu rosto e suas encantadoras covinhas.

–Hey , passou o momento melação best friends forever . –Jane sorri e não evita uma piscadela ao olhar o olhar de Maura de encontro ao seu , e para não se perder neles , ela fita a tela do computador –Maura ?Você está comprando mais sapatos ? Jane ergue as sobrancelhas em espanto

–Não , eu não estou !–Maura se mostra ofendida.

–Maura , eu posso ver , urticárias Maur !

–Oque? Não ! Teoricamente eu não menti, eu até comprei mais dois pares de Louboutin, e um Chanel ,não nego, mas eu já finalizei, veja –Maura aponta satisfeita a tela do computador que estava em espera ,e após ela fazer log in novamente ela aponta o que era

–Maura o que você está aprontando? Jane logo pergunta ao ver a tela do notebook

–Estou planejando nossas férias!- Maura sorri e meneia a cabeça .

–Maura! Nossas? Desde quando?

–Vamos Jane ! Não está caro, e está dentro do nosso cronograma, e além do mais é meu presente para você ! Maura sorri e convida Jane a sentar-se ao seu lado-Pegue sua cerveja e sente-se aqui ao meu lado –Maura gentilmente dá tapinhas na banqueta ao seu lado, indicando à ela onde sentar

Ainda relutante, Jane tira a cerveja estupidamente gelada e ignora por alguns segundos o pedido da amiga de sentar-se ao seu lado, e fica encostada à máquina de lavar louças, pois ela não gostava de usar descanso de copos e Maura certamente a obrigaria, e ali, ainda encostada onde estava Jane dispara:

–Maura o que eu vou fazer em Londres?

–Jane, o que não faltam são bons lugares para serem visitados em Londres .

–Lugares ao meu gosto ou ao seu? Jane pergunta já imaginando que Maura só indicará lugares para alguém com o mesmo gosto cultural que ela

–Well, podíamos ir ao Big Ben que fica na torre do relógio do parlamento britânico à beira do Rio Tâmisa,é uma marca registrada e a mais proeminente de Londres. Ou ao palácio de Westminster que ...- Maura é interrompida por Jane

–Maura, eu lá tenho cara de quem quer ver um relógio ou um palácio?

–Bem, não, mas não custa tentar melhorar sua cultura

–Maura! C’mon , em Londres não tem nada que me interesse !

Tem sim! Tem a Abbey Road, aquela rua famosa de Londres aonde os Beat...-Jane a interrompe

–A famosa faixa de pedestres que os Beatles atravessaram? -Oh My God , porque você não disse antes ?

–Porque eu achei que o que você mais gostaria seria o Estádio de Wembley .

–Okay Maura,você ganhou , nós vamos à Londres , yay!

–Yay – Maura dá pulinhos e pula no pescoço de Jane! -Você não vai ser arrepender .

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Jane , agora ali sentada diante de sua janela lembrava com tristeza de nunca ter de fato ter conseguido essas férias, essa viagem nunca aconteceu, como tantas outras coisas que ela deveria ter feito com Maura e por medo ou qualquer outro motivo, nunca pôde de fato pô-las em prática.

Ela sabia que Maura amava Londres, mas ela podia jurar com base na noite que tiveram e na despedida delas, que Maura não estava se divertindo nem um pouco.

Ela olha em seu relógio, e se assusta ao notar que já são quase 6 horas da manhã, ela só tem 3 horas para dormir antes de entrar no departamento naquele dia.

Jane volta para sua cama, e abraça o travesseiro sobre o qual Maura dormiu após fazerem amor.

O prazer que ela sentia ao sentir o cheiro de Maura naquela fronha de seda, só se aproximava de ser equivalente ao prazer que de fato seu corpo e alma sentiu ao descobrir qual era o indescritível cheiro que ela exalava durante o sexo. Deus! Como era bom aquele cheiro!-pensava ela enquanto sem perceber mordia o lábio inferior ao lembrar do cheiro de desejo, de passividade, e ao mesmo tempo, o cheiro que denunciava sua posse do corpo dela, sim, Maura a desejava tanto quanto ela a desejou, e a cada segundo suas reações corporais a denunciava.

Perdida em lembranças , Jane enfim adormece ali, agarrada ao travesseiro onde dormiu pelas próximas duas horinhas ,levantado por volta das 8:30 da manhã.