Somnia et Circe escrita por Mare Noleto


Capítulo 1
01. We started bad


Notas iniciais do capítulo

E novamente, alterando a história, eu não tenho jeito, mas é torcer para agora ir
Seguinte:
Principal mudança é, eu não gostei do jeito que introduzi (ou fechei) a história desses dois, achei muito não a cara da minha bebê, então alterei algumas coisas e esse parece mais o jeito dela de lidar com as coisas
#AgoraVai



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Com os olhos fixos na TV, tateio a mesinha de canto em busca do copo de refrigerante. Na tela, um clássico de terror. O casal escuta o barulho de algo se estilhaçando, o som muito provavelmente vem do andar de baixo, que deveria estar vazio. — O casal se entreolha, e então, tomado pela coragem — ou burrice, como costumo dizer — o cara pega um taco de beisebol e resolve ver do que se trata, porque obviamente ligar para a polícia é algo totalmente ridículo a se fazer, mesmo que na melhor das hipóteses, o barulho tenha vindo de um ladrão. O cara desce a escada praticamente na ponta dos pés, se borrando de medo. — É quando a música de fundo começa a tocar e todos os pelinhos da nuca se arrepiam. Lá em baixo, mais um barulho, dessa vez, do outro lado da sala. Ele segue o barulho e se vê frente a janela aberta. A mesma reflete o medo em seus olhos. Ele se aproxima, pouco a pouco, um passo, mais um, e ... é só um gato.

O cara respira fundo, sorri e se vira.

Grito quando esbarro no copo, que despenca na mesa, e por instinto tento segura-lo, mas o mesmo termina por se partir em minhas mãos. Imediatamente sinto cacos de vidro perfurarem minha pele. Meus olhos rapidamente lacrimejam. Recolho a mão para junto do peito — que já começa a sujar tudo de sangue — e praguejando corro na direção do banheiro. Com uma das mãos alcanço a pequena bolsa de primeiros socorros e separo os curativos. Coloco a mão machucada debaixo da torneira e mordo os lábios para evitar gemer de dor. Sem todo o sangue é mais fácil visualizar o estrago. Há um grande corte na palma da minha mão, que se estende desde a base do polegar até o dedo mindinho, e mais um ou dois cortes minúsculos. Choramingo baixo enquanto puxo a mão para fora da água e coloco alguns curativos por cima do corte. Com a ajuda da outra mão — e caretas de dor — enrolo uma faixa, tanto para imobilizar quanto para estancar o sangue.

Com a situação controlada vou atrás de um pano e volto para a sala. Limpo com dificuldade a bagunça que ficou por ali, por conta da mão ferida, e irritada desligo de uma vez a TV — que está a passar mais um personagem qualquer prestes a morrer — e subo diretamente para o quarto.

Encontro o celular — o qual não fazia a menor ideia de onde estava — jogado em meio as cobertas e com incríveis vinte por cento de bateria.

— Ótimo, simplesmente ótimo — Murmuro

Me jogo na cama e me embrenho em meio as cobertas com o celular em mãos. Há duas ligações do meu pai e algumas mensagens avisando que chegaria mais tarde por conta de alguma complicação na delegacia, onde o mesmo atua como xerife. Respondo rapidamente que tudo bem e checo às outras mensagens. Uma do Matt e duas do Scott.

Curiosa, abro a conversa com Scott e leio rapidamente

“Hey Desirée, vou chegar tarde hoje, depois te explico, me cobre pf

E a outra:

Só mais essa, vai ♡

— Stiles”

Reviro os olhos e sorrio para a tela do celular

“Deu sorte, papai vai chegar mais tarde também, houve algum problema na delegacia. Tente chegar antes dele. ”

Envio, mas rapidamente escrevo outra mensagem.

“E onde está o seu celular???

— Desirée

O celular vibra logo em seguida com a resposta

Longa história, te conto depois. Vlw (; “

Suspiro e deixo o celular de lado. Encaro o teto por alguns minutos — me perco em pensamentos — e quando me dou conta há um som irritantemente alto tomando conta do ambiente. — Só então percebo que realmente adormeci. — Me mexo e todo meu corpo protesta pela noite mal dormida, uma leve dor se espalha por todos os membros e definitivamente aquilo não estava nos meus planos para o primeiro dia de aula do semestre. O despertador continua a tocar incessantemente, mal-humorada o derrubo no chão com apenas um tapa, esquecendo completamente do corte na mão. Seguro o grito, que insiste em sair, e fecho os olhos para conter a dor. Definitivamente aquele dia havia começado muito mal. Desejei fortemente voltar a dormir e ficar ali por um bom tempo, já que aquele não me parecia um dia promissor. Nem um pouco.

— O que houve com o despertador? — Olho rapidamente para a porta e meu pai me encara de volta, o olhar divertido.

— Não ria da desgraça dos outros — Resmungo irritada. Me viro na cama, para então escorregar até o chão, enquanto ele ri da cena.

Faço uma careta quando a mão machucada esbarra na lateral da cama e papai se aproxima para olhar.

— Como conseguiu isso? — Pergunta, a expressão em seu rosto dividida entre preocupação e confusão

— Me cortei ontem, o copo meio que quebrou na minha mão — Relembro com uma careta. Quanta estupidez a minha, esse é o tipo de coisa que se espera do Stiles, não de mim.

—Não parece um corte pequeno — Diz pegando a mão machucada, observando o tamanho do curativo, que por sinal ocupava uma grande parte da palma.

— E não foi, mas está tudo bem — Me levanto de uma vez, percebendo que não há chances de faltar na escola hoje. Jogo as roupas, que havia separado antecipadamente, na cama com uma das mãos e com a outra alcanço a toalha na cadeira. — Stiles? — Pergunto, estranhando o silêncio na casa.

— Ainda dormindo, foi dormir muito tarde ontem. — Há uma pausa. — Estou pensando em acorda-lo com um balde de água gelada, o que acha? — Tiro o elástico que prende o cabelo e entro no banheiro, mas dito essas palavras viro a cabeça para encara-lo. — Gosto da ideia

— Sabe a nova que seu irmão aprontou? — A voz frustrada ressoa abafada por conta da porta —que agora nos separa. — Dentro do banheiro me livro das roupas enquanto murmuro um distraído “não”.

— Ouviu um dos chamados e foi investigar escondido, acredita nisso? Se aventurou atrás de um corpo na floresta, sozinho. — Há uma pausa de poucos segundos antes que retome a fala. Ele faz isso com alguma frequência. — Seu irmão não sabe o que privacidade significa, certo? — Não consigo prender o riso, mas tento abafa-lo com uma das mãos — parece, porém, que papai escuta muito bem — e recebo seu suspiro como resposta. Pelo tom de voz do papai, Stiles vai precisar de alguns favores meus se quiser sobreviver pelos próximos dias.

— Azar o dele, nos esbarramos logo, não devia estar lá há mais que alguns minutos. — Acrescenta divertido.

Abro um pouco a porta, e encontro seus olhos pela brecha, que me encaram de volta, frustrados. — Posso ficar com o Jeep? — Resolvo tentar a sorte. Papai revira os olhos e prende uma risada, saindo do quarto em seguida. Levo isso como um sim bem-humorado

— Não esquece do balde d’água — Grito antes que a porta se feche, e ainda escuto sua gargalhada pelo corredor.

Tomo uma ducha rápida, já que é um dia relativamente frio e há uma espécie de problema com o resistor do chuveiro, e ele nunca fica quente o suficiente, logo, é totalmente sem graça demorar no banho.

Fecho a porta, me viro para o quarto, e para minha surpresa praticamente tropeço em Stiles. —Estamos cara a cara. — Meu irmão não parece nada feliz e definitivamente seus cabelos molhados não parecem obra de um banho recém tomado. Imediatamente abro um sorriso no rosto.

— Acho que alguém encontrou o papai pelo caminho — Cantarolo travessa, apontando para seus cabelos. Stiles ri sarcasticamente e se aproxima ameaçadoramente de mim. A intenção é válida, sua altura ajuda, cerca de 15 centímetros mais alto que eu, mas é o Stiles, é impossível ficar com medo dele, mesmo que ele tente. — Você me paga — Vocifera

Você me paga, depois da última que você aprontou, vai precisar de alguma ajuda minha, e não vai sair de graça — Exclamo exultante. Pisco para ele e me solto de seus braços rindo — Aliás, o que deu em você? E aonde estava Scott quando papai te encontrou? Ele acha que você estava sozinho

— Fica quieta — Sibila, se aproximando para tampar minha boca com uma das mãos, mas o rosto tem a mesma expressão de quando aprontávamos quando crianças, um certo orgulho pela travessura. Mordo sua mão e ele a tira rapidamente, com exclamações de nojo.

—Vaza, tenho que me trocar, anda — O empurro para fora do quarto e com a outra mão seguro a toalha junto ao corpo — E se ficar com gracinha vai andando para escola! — Grito por entre a fresta da porta, o qual ele devolve com palavras indignadas, das quais, definitivamente, não entendo uma única sequer.

Minutos mais tarde, uma buzina familiar soa alta — próximo a mim — me assustando. Olho rapidamente para fora, através das janelas, e meus olhos se encontram com um azul eletrizante, sorrio. Deixo de procurar as chaves do Jeep — como estava fazendo — e vou em sua direção, meio andando, meio correndo, com Stiles gritando algo do andar de cima.

 Matt vem ao meu encontro quando estou à poucos passos do carro. Seu rosto se abre em um lindo sorriso e seus braços me envolvem pela cintura, num abraço tranquilo. Levanto a cabeça e seus lábios encontram os meus — deposito um selinho — e logo me afasto para poder olhar em seus olhos.

— O que faz aqui? — Questiono curiosa. São raras as vezes em que ele passa para me pegar de manhã, uma vez que como eu e Stiles, está quase sempre atrasado para a escola.

— Não viu minha mensagem ontem? — Acaricia meu rosto com um sorriso terno no rosto. Balanço a cabeça em negativa — O celular descarregou — Minto, culpada por ter adormecido antes de ler sua mensagem.

— O que aconteceu com a sua mão? — Questiona

— Quebrei o copo, nada demais — Dispenso a preocupação rapidamente, com um aceno de mão, ansiosa por sua resposta.

— Preciso conversar com você — Seu olhar se prende ao meu e finalmente noto a tensão neles — e entendo — sem que seja preciso mais nenhuma palavra, que precisa de um momento a sós comigo. Há algo realmente sério acontecendo, ou prestes a acontecer.

A apreensão me aperta o peito, mas respiro fundo tentando me convencer de que não deve ser nada sério, apenas paranoia minha – como sempre – mas não consigo ignorar que por trás de sua postura relaxada se esconde uma tensão palpável, como quem está batalhando algum tipo de luta, mesmo que interna.

Não consigo calar a voz irritante que surge no fundo da minha mente, me atazanando e plantando dúvidas e medo, – medo de que ele termine comigo, de que eu tenha feito algo realmente sério, mesmo que nada me viesse a mente no momento – Céus, estou prestes a entrar em pânico. Respiro fundo e conto até dez mentalmente, buscando controle.

Mascaro os pensamentos negativos através de um sorriso e aceno positivamente.

De volta — dentro da casa — encontro com Stiles, que balança a chave do Jeep em minha direção. — Vai sozinho hoje, Matt vai me levar — Aponto na direção dele, lá fora — Não conta para o papai.

— Pode deixar — Stiles abre o rosto num sorriso de lado, mas preocupação aparece em suas feições. Num gesto mudo, pergunta com o olhar se está tudo bem — aceno com a cabeça — e me despeço com um beijo no rosto. Seus braços me puxam para um abraço e a sensação é tão familiar que é como estar em casa – não que eu não esteja em casa no sentido literal da frase –, como se olhar no espelho e ver seu reflexo ali. — Com a pequena diferença de que o reflexo é cerca de quinze centímetros mais alto. — Rio sozinha dos meus pensamentos.

Me solto dos seus braços quando a buzina soa novamente. Alcanço Matt e logo o carro ganha vida. Permanecemos todo o trajeto sem trocar nenhuma palavra, o peito apertado, como se estivesse sendo esmagado aos poucos – nunca ficamos tanto tempo em silêncio assim, isso não é normal para nós, logo nós que sempre fomos repreendidos por nunca fecharmos a boca durante as aulas, não que fosse algo do qual nos orgulhássemos, só era...natural.

Isso me deixa uma pilha de nervos e definitivamente não quero parecer descontrolada ou paranoica, então evito encara-lo.

A estrada ganha minha total atenção quando percebo minutos mais tarde que aquele não é o trajeto que leva a escola, mas ao contrário, o caminho que leva até a floresta. Confusa, quebro um pouco da tensão ao encontrar seu olhar, numa pergunta silenciosa.

— Precisamos de um lugar calmo para conversar — Suspira, desviando o olhar.

Não sei o que pensar, de alguma forma eu sei que ele tomou uma decisão. E essa decisão afeta nós. Sua postura parece mais relaxada, como se ter decidido algo, o tivesse dado um pouco de paz.

Isso me acalma um pouco.

Descemos numa clareira que beira a estrada. A luz do sol passa pelas folhas das árvores que nos cercam e cria um clima agradável, quase como se fosse um lugar encantado, um bálsamo para o descontrole que beirava a superfície do meu autocontrole. Matt pega uma de minhas mãos e caminhamos em silêncio até um tronco caído. Nossos olhos se encontram, sorrio e vejo meu sorriso se refletir em seu rosto. Desvio o olhar e deixo que o silêncio reine entre nós. Espero que tome a palavra e que termine de uma vez por toda com minha paranoia – ou que a confirme logo, sussurra uma voz no fundo da minha mente.

— Meus pais estão se separando — Volto minha atenção para ele, acariciando suas mãos em um gesto mudo de apoio. Contudo, ele não parece mal com isso, de certa forma ele teve muito tempo para se acostumar com isso. Eles já não eram um casal há anos, só não era oficial.

— M-meu pai, ele — Ele para por um momento e toma folego — ele vai se mudar, para a cidade natal dele. Nova Iorque — Seus olhos buscam o meu, tentando mascarar as emoções, mas inconscientemente sua voz transparece a animação que seu rosto tenta conter.

Acontece sempre que fala sobre a cidade dos sonhos, dos nossos sonhos.

Automaticamente me vem à mente lembranças de quando éramos mais novos, apenas duas crianças brincando. Seus olhos brilhavam tanto quanto brilham agora, e pelo mesmo motivo. —Nova Iorque — As palavras que me disse naquele dia, e reafirmou em todos os outros, surgem clara em minha mente, como se eu mesma as tivesse dito.

Um dia, um dia eu irei para Nova Iorque. E conquistarei o mundo

E tanta indecisão, de repente, parece tão claro para mim quanto uma daquelas placas de neon que iluminam as ruas da cidade – e sei também o que vem depois. Um gosto amargo me sobe a boca e lágrimas ameaçam cair assim que a resposta acende em minha mente. Desvio o olhar em desespero mudo e me levanto, de costas para Matt, para que não veja a umidade em meus olhos,

—Eu vou com ele — O ouço se levantando, suas mãos alcançam as minhas. Me solto — Por favor, é ... só por um tempo — Sua voz morre aos poucos, quase inaudível. Ele não diz em voz alta, mas sei que suplica por uma chance, para tentarmos manter o relacionamento à distância – e isso é o mais lógico, admito – mas ele me conhece bem o suficiente para saber que eu não tentaria algo assim – de novo— e caralho, ele estava claramente me jogando para escanteio, ele escolheu ir para Nova York, então que ele lidasse com a consequência de seus atos também, não era como se eu fosse a segunda opção para qual ele poderia correr se tudo desse errado por lá – e convenhamos que era exatamente isso que ele estava me propondo, ele não ficaria por lá só por um tempo, ele ia para ficar, e se ele voltasse é porque as coisas não saíram como o esperado, ou seja, segunda opção – definitivamente eu não aceitaria ser segunda opção de ninguém, fui ensinada a acreditar e gostar de mim mesma o suficiente para saber que é necessário me por em primeiro lugar ás vezes, mesmo que parecesse egoísmo ou drama, e essa era eu.

Me viro para encara-lo, contendo a vontade de chorar, de bater, de beija-lo— alguém disse descontrole emocional? Prazer, eu mesma.

— Você sabe tão bem quanto eu que isso não é verdade – mentiroso, é o que quero dizer, mas me controlo. Matt tenta se aproximar novamente, mas o detenho. – Eu sei o quanto ir para Nova York é um sonho para você, mas não pode me culpar por querer que você tivesse me encolhido ao invés disso, – Dou um sorriso, mesmo que não ache graça nenhuma, isso dói — mas se é o melhor para você... eu fico feliz por isso, mas não pode pedir que me prenda a você, se foi você que escolheu partir – Gesticulo com a mão em sua direção, a voz embargada – assuma as consequências – sussurro.

Então as lágrimas finalmente escorrem pelo meu rosto, livremente, e soluçando escondo o rosto com ambas as mãos. Não quero que veja minhas lágrimas. Não quero que ache que estou tentando prendê-lo. Ele quer ir. Sempre quis. E se não sou motivo suficiente para que fique, não somos certos um para o outro. Talvez em outro momento, mas não agora.

Seus braços me envolvem em um abraço reconfortante. Desisto de afasta-lo, por hora, e correspondo. Escondo o rosto em seu peito, seu cheiro me envolve, e é como sempre foi, como se estivesse à beira mar, sendo embalada pela brisa. O mantenho em um aperto forte, até doloroso, do qual ele não reclama, retribui até, como se quisesse me manter junto a si, tanto quanto eu. Só por mais esse momento.

Ele é – ou era — muito mais do que um namorado, é a porra do meu melhor amigo também, e saber que vou perder essa parte junto com o namorado é o que mais me dói o peito, que me dá vontade de prendê-lo junto a minha cama e não deixa-lo partir nunca, mas manter a relação a distância também não seria certo, não é como se pudéssemos excluir a parte do namorados e ficarmos só com “amigos para sempre”, não é assim que meu coração funciona e tenho certeza que o dele também não. No fim, é como se eu estivesse que escolher entre viver com um membro pendurado junto ao corpo – me proporcionando dor por tempo indeterminado, mesmo não funcionando, na esperança de que um dia ele volte a funcionar como deveria, magicamente – ou arranca-lo de uma vez – uma dor intensa, mas rápida, passa com o tempo.

—Eu não quero parecer egoísta, eu só — Num gesto de desespero que me é familiar, ele segura o cabelo com uma das mãos, mas não me solta. – Não quero te perder – Confidencia aos pés do meu ouvido.

O aperto fica mais forte.

Me afasto um pouco para conseguir olhar em seus olhos — Você é uma das pessoas mais importantes da minha vida. – sussurro com a voz embargada – Você é acima de tudo, acima do namorado, o meu melhor amigo – Acaricio seu rosto num gesto automático, ao qual o mesmo reage fechando os olhos, aproveitando do carinho, o que me faz rir um pouco – Mas você sabe que, ao menos por enquanto, manter isso só vai machucar nós dois.

Em uma tentativa de tentar fazer com que pareça mais descontraída e divertida, esbarro em seu ombro — um gesto brincalhão — como se realmente não tivesse tanta importância, como se o perder fosse algo comum.

Hey, olha só como isso é fácil. Não é como se eu estivesse me despedaçando na sua frente.

— O melhor para você é ir com seu pai, correr atrás dos seus sonhos. — Me esforço para que a voz não embargue, não tenho certeza se consigo, tudo parece tão estranho. – Mas o melhor para mim é manter distância disso... de você – Eu só quero poder ficar sozinha e chorar sem me sentir como se estivesse fazendo algo errado. Por que eu sei que é o melhor para mim. Para nós.

Repito como se fosse um mantra. É o melhor para nós. É o melhor para nós. É o melh-

—Talvez tenhamos confundido às coisas — Aponta, desviando minha atenção. Há uma certa confusão em seu rosto. — Mas eu amo você — Estamos tão próximos que sinto sua respiração. Seus olhos fitam minha boca. Então ele acaba com o espaço que há entre nós. Nossos lábios se encontram num beijo suave e quero desesperadamente que ele dure para sempre, mas ele não dura.

O barulho de passos, seguido do de folhas e galhos batendo um no outro — como acontece quando abrimos passagem por entre mata fechada, faz com que nos afastemos.

Olhamos na direção do som. Não vemos nada.

Matt me segura com mais força junto ao corpo, num gesto de proteção que me é familiar, o olhar ainda à procura de algo suspeito. Mas não há nada.

Voltamos ao carro sem trocar mais nenhuma palavra. Olho para a clareira e vejo de relance — por entre as árvores — olhos vermelhos, me fitando. Desvio olhar rapidamente, assustada, e encontro os de Matt. Minha respiração repentinamente acelerada, não sei se pelo beijo ou pelos estranhos olhos, talvez pelos dois.

— Vamos — Peço, voltando o olhar para fora novamente — Tem alguma coisa ali. Eu vi. — Aponto, mas não há mais nada. O carro ganha vida e logo estamos novamente na estrada.


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Notas finais do capítulo

Qualquer erro me avisem para que eu possa arrumar ♥



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