A Imperatriz e a Princesa escrita por Melissa França


Capítulo 6
Só esqueça todo o resto, toda a dor


Notas iniciais do capítulo

Hello, amorinhas! Bem vindos leitores novos, amando conhecer vocês, continuem aparecendo! *---*

Boa leitura!



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Havia sido difícil contar para Gabrielle seu passado. Dizer a jovem que antes de César, antes de Roma, houve um homem por quem ela se apaixonou, houve destruição e houve morte. Tudo o que a barda sabia eram as histórias passadas para amedrontar o povo, César conseguiu fazer com que o passado de Xena como a “Destruidora de Nações” fosse algo cruel e perverso para todos, mas também muito sutil e superficial. A maioria das pessoas apenas sabia que a Princesa Guerreira era desumana, mas nunca havia realmente tido conhecimento do que ela havia feito ou o que ela havia passado.

Quando a Imperatriz contou para Gabrielle que todos os contos arrepiantes sobre ela eram verdades, a moça ficou sem reação, porque a Xena que ela conhecia, a mulher que ela começara a desenvolver sentimentos, não era esta pessoa horrível, sem coração. Ela era selvagem, mas de uma maneira doce; séria, sem deixar de ser risonha; linda e completamente apaixonante. Gabrielle esforçava-se para ouvir toda a história, entretanto era difícil acreditar em tudo o que a amiga lhe contava. Segundo a guerreira, ela havia dizimado várias vilas, tomado vários escravos e matado diversos inocentes.

Xena, então, contou-lhe sobre Borías, o homem que ela amou antes de César. A Imperatriz insistiu que não era amor, que eles possuíam apenas uma forte ligação que a barda não poderia entender, mas Gabrielle sabia, pelo o olhar de sua amiga, ela sabia. Xena havia amado este homem, havia admirado a essência dele. A guerreira contou-lhe que ele morreu brigando contra o exército romano logo após ela dar à luz a um menino, um lindo e pequenino menino.

Os olhos de Xena estavam inundados de lágrimas com as recordações. O tempo depois do parto parecia ter corrido tão depressa. Ela havia percebido que Alti estava contra Borías, o que explicava o fato dela ter ficado tantos meses sem aparecer no acampamento. Seus soldados estavam sendo mortos um a um e o recente nascimento daquela pequena criatura em seus braços não permitia que ela lutasse. Ela e a criança foram para um lugar distante da guerra entre Centauros e Romanos, instalaram-se em uma caverna por um curto período de tempo e, logo em seguida, a mulher despediu-se do filho e o entregou para um dos quadrúpedes que havia restado.

Depois, Alti a capturou e César a achou preciosa demais para crucificá-la. Os dois logo se envolveram intima e romanticamente, tornando-se grandes aliados. O resto da história Gabrielle conhecia bem e não levou mais um segundo até que ela fosse consolar a Imperatriz.

– Entende agora? Se eu fugir, meu filho estará fadado a uma vida curta. – Xena se recompôs e soltou-se dos braços da barda.

– Eu sinto muito, realmente sinto muito por tudo isso. – A poetisa acariciava os cabelos negros da amiga, em uma forma doce de confortá-la.

– Ele é a razão de eu estar aqui sem lutar, Gabrielle. – A morena olhou diretamente para os olhos esmeralda, sem a intenção de derrubar lágrimas, os olhos brilhantes de Gabrielle, porém, pareciam levá-la para casa.

– Imperatriz, qual o nome de seu filho? – A barda possuía uma grande dúvida, dúvida esta que a estava corroendo por dentro. Seria possível tamanha coincidência? O destino dela já havia se cruzado com mãe e filho?

– Solan. – Havia um grande carinho na maneira de pronunciar o nome do menino, junto de um sorriso bobo e orgulhoso nos lábios. – Por que, Gabrielle? – Xena percebeu a inquietação da loira e tornou a perguntar. – O que foi? Você o viu? – O coração da guerreira encheu-se de esperança.

– Eu... eu cuidei dele por um tempo. – A jovem parecia ter perdido o dom com as palavras, todas pareciam voltar para sua garganta, recusando-se a serem ditas.

– Você... como? – Coincidência? Destino? Tudo isso era extremamente confuso, ambas pareciam estar perdidas por um tempo.

Gabrielle retomou o fôlego e tentou explicar:

– Há um pouco mais de um inverno atrás, César me levou até uma cabana, eu fiquei muito assustada a princípio, mas depois, descobri que ele havia encontrado um lugar para me esconder dos guardas. Ele me queria apenas para ele, então me deixou lá e, havia um menino na cabana. Um pequeno garotinho assustado, sozinho e doente.

– Solan. – Os olhos de Xena encheram-se ainda mais com teimosas lágrimas.

– Sim, ele. Era conveniente para César me manter longe do castelo por um tempo, seu filho estava com a saúde um pouco frágil, eu não fazia ideia de quem era ele, mas eu tenho um dom para curar as pessoas. Passei poucos meses com Solan, logo outra escrava foi levada para cuidar dele e eu voltei para César. – Uma expressão de vergonha chegou até o rosto da moça, talvez por esta razão a conversa tomou outro rumo.

– Como ele estava? – Ela percebeu que não conhecia o filho, não sabia nada sobre a criança que carregara durante nove meses no ventre, então mudou a pergunta. – Como ele é? – Uma curiosidade absurda envolvia Xena.

– Ele é ótimo. Ele sonhava em ser um guerreiro, sabia? Mesmo que nós não conversássemos muito, acho que consegui mudar esta ideia da cabeça dele. Solan é um pouco fechado, quando eu cheguei ele havia acabado de perder o pai.

– Kaleipus está morto? – Um profunda tristeza, totalmente mesclada com a alegria de conhecer o filho através das palavras da amiga, chegou em seu coração.

– Pelo o que ouvi de César e de Solan, sim. – Disse com os olhos baixos, em forma de solidariedade. – Pode ser que eu esteja enganada.

– Você conseguiu o curar? – Um olhar preocupado, cheio de afeto chegou aos olhos azuis penetrantes de Xena, um olhar diferente, um jeito materno.

– Ele ficou bom logo depois que cheguei, ele estava um pouco desnutrido. Eu tentei me afastar o máximo possível dele, não queria me apegar a uma criança, não quando eu era apenas uma escrava e não poderia continuar a conviver com ele. Mas ele é tão cativante quanto à mãe, possuí os mesmos olhos azuis e os mesmos traços. Ele é lindo, Imperatriz, lindo e apaixonante.

O coração da guerreira alegrou-se com as informações do filho. Ela ficou um pouco triste ao perceber que Gabrielle inicialmente tentara se afastar de Solan, mas se alegrou ao ver que mesmo assim seus olhos ainda possuíam um brilho especial enquanto ela falava do menino. Xena não podia culpar a amiga pelo ato, uma vez que, a tentativa de se afastar era totalmente compreensível para ela. Entretanto, algo chamou sua atenção. Gabrielle fez o contrário com ela, a barda se aproximou, se abriu aos poucos. Será que a jovem também conseguia sentir a ligação que suas almas possuíam?

– É estranho, você conhece mais do meu filho do que... – A morena não precisou terminar a frase, ela soltou um riso sem graça e esfregou o rosto com as mãos.

– Eu posso encontrar a cabana novamente, tenho certeza. Me dê uma chance para tirar ele do perigo, para levar ele para longe do domínio de César e... – Ela foi interrompida.

– Não, Gabrielle. Não é como se pudéssemos ganhar esta batalha.

– Mas nós podemos. Você não vê? Solan é a razão de você estar aqui, mas ele também é a razão para você sair daqui. Temos que sair deste lugar, para dar liberdade para ele. – A loira falava mais animada, contudo um pouco mais baixo do que o normal, para nenhum guarda ouvir.

– Eu não sei se posso, se devo fazer isso. César pode...

– Esqueça César. É claro que você pode, você é a mãe dele. Precisa protegê-lo, precisa amá-lo. – A voz saiu mais fraca e reveladora do que a jovem esperava.

Xena, então, percebeu que não se tratava mais de Solan, se tratava da criança ainda não nascida de Gabrielle. A jovem estava sofrendo e ela não podia fazer nada para ajudar, isso fazia seu coração sangrar, era como se seu corpo estivesse sendo dilacerado de dentro pra fora. A guerreira fitou a amiga por um instante, segurando seu queixo e trazendo os olhos dela novamente até os seus.

– É sobre seu filho, não é?

– Não, é Solan que me preocupa. Ele precisa conhecer a mãe maravilhosa que ele tem. – Mentira. Claramente uma mentira.

– Quer conversar sobre isso? – O olhar veio mais profundo que o esperado, pegando a barda desprevenida.

Gabrielle suspirou, desviou-se dos olhos de Xena duas ou três vezes e começou a mexer nas mãos em um ritmo vicioso.

– Ontem à noite, eu estava pensando em nomes de bebês. – Uma declaração de vergonha tomou o rosto dela, era como sonhar com o impossível. Imediatamente Xena entendeu o motivo da agitação da poetisa. – Mas, eu percebi que, eu não vou nomear meu filho, porque César vai tomá-lo de mim antes mesmo... – Ela suspirou antes de completar a frase. – Antes mesmo que eu possa o segurar em meus braços.

– Você pode nomear seu filho, isso não afetará nada. Quando ele nascer, talvez ele não fique com você, talvez ele nunca a conheça como mãe, mas... você precisa ter esperança, não desista. Eu sei parece impossível agora, mas acredite em um bem maior. Tudo bem, uma chance. Eu posso te dar uma chance, mas só. Não posso arriscar a vida de Solan, Gabrielle.

– Isso é tudo o que eu preciso. Eu conheço um lugar perfeito para levar ele, posso fazer um mapa para você e... – O rangido alto da porta fez com que ela se calasse e se colocasse em posição de serviço.

A atitude não passou despercebida aos olhos da Imperatriz, que gelou ao imaginar que regra Gabrielle havia quebrado para vê-la a hora que quisesse. Um profundo e amedrontador silêncio tomou a cela. Tudo o que se ouvia era o som de alguns guardas vindo pelo corredor. O famoso Dragão apareceu à frente de todos e posicionou-se com uma postura impecável.

–O Imperador quer a menina grávida, tragam-na. – Foi tudo o que Xena ouviu. Ela tentou estudar seu possível futuro oponente um pouco mais, entretanto tudo o que percebeu de diferente foi um largo bracelete em seu braço direito.

Em seguida, a Princesa Guerreira direcionou seu olhar para a pequena escrava e apenas podia dizer que havia muito mais do que medo percorrendo o corpo de Gabrielle. Ela estava apavorada. A loira deu um olhar de suplica para os soldados, mas estes apenas a puxaram para fora da cela da maneira mais grosseira possível.

Pedidos de ajuda para Deuses egoístas percorriam na mente de Xena, dúvidas sobre o porquê de a moça ser levada sem explicação pareciam querer deixá-la insana. Estaria ela apaixonada pela poetisa? A guerreira não tinha uma resposta certa para esta pergunta, entretanto um sentimento devastador fez com ela prometesse que caso a barda não voltasse até o por do sol do próximo dia, ela enfrentaria os guardas e derrotaria o Dragão para procurá-la. Um pensamento reconfortante, porém, veio em sua mente, ela esperava que Gabrielle não correria perigo, o bebê ainda não havia nascido e César não iria matá-la antes de ter o seu prêmio. Tudo ficaria bem, ou, assim ela pensava.


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Notas finais do capítulo

Então, o que estão achando? Decepcionados, surpresos? Exponham suas opiniões! Até o próximo capítulo! Beijinhos... *-*



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