A Imperatriz e a Princesa escrita por Melissa França


Capítulo 5
Há vida além das paredes


Notas iniciais do capítulo

Amorinhas, capítulo novinho, fresquinho.... Ouso em dizer que adorei ele!
*-*

Boa leitura!



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Com a chegada da primavera, uma nova rotina havia sido adotada por Gabrielle. Todos os dias, sem exceções, a barda levaria uma rosa vermelha para Xena logo pela manhã, a fim de aproximar a guerreira do mundo exterior. E, todos as vezes, a mulher de cabelos negros iria lhe dar o mais belo sorriso de todos em retribuição. Chegava a ser engraçado como havia confiança mútua entre elas, a grande Imperatriz de Roma vinculada a uma simples escrava, a ironia era tão grande que todas as vezes que pensava nisso um sorriso tímido nascia nos lábios da mais velha.

O problema, provavelmente, estava nisso, porque para Xena, Gabrielle havia se tornado muito mais do que uma escrava nos últimos meses, ela havia se tornado sua amiga, sua confidente, sua salvadora. A barda possuía um brilho nos olhos que refletia suas emoções e, por mais que ela não se abrisse totalmente, a morena podia decifrar cada um dos seus sentimentos. Ela sabia sobre o passado doloroso da moça, contudo havia uma chama de esperança em Gabrielle que ela admirava mais do que qualquer coisa.

A poetisa conseguia ver bondade nas almas manchadas pela escuridão, conseguia sorrir para a temida Imperatriz de Roma e conseguia transformar a mulher que todos odiavam em uma amiga. Inicialmente, Xena pensara que a moça só a tratava bem porque ambas possuíam um inimigo em comum, Júlio César. Com o passar do tempo, no entanto, a morena começou a ver que isso era da natureza da jovem e não mudaria, mesmo com os pesares que a vida lhe dera.

— Um dinar pelos seus pensamentos. – Gabrielle a despertou de seus devaneios.

— Eles valem mais do que isso. – Ambas sorriram. Xena fitou Gabrielle por um momento depois, tentando desvendá-la. – Eu me perguntava como você consegue.

— Como eu consigo o que? – O ambiente ainda estava leve.

— Sorrir com tanta frequência, estar aqui por mim, ser minha amiga... Coisas assim.

— Você não quer que eu seja sua amiga? – Ela indagou bem humorada.

— Você sabe o que eu quero dizer. Todos me temem, me odeiam e me amaldiçoam, até mesmo aqueles que não me conhecem, mas você-

— Eu sei do que César é capaz. Se você fosse aliada dele e tivesse o traído, ele nunca a trancaria aqui, ele a mataria. Você tem algum valor para ele, eu sei. – A barda respondeu mais séria.

— Você já comentou sobre isso outras vezes.

— Sobre o seu valor? – O momento perfeito para fingir-se de desentendida e mostrar o quanto Xena significava para ela.

— Não, sobre conhecê-lo bem.

— Os escravos sempre comentam sobre o Imperador. – Ela disse sem jeito, nitidamente escondendo algo, fazendo o sangue da morena ferver. – É como se nós o conhecêssemos pessoalmente.

— Pare de mentir para mim, está nítido nos seus olhos que há muito mais do que isso entre vocês. – Xena levantou-se alterada. – O que ele fez para você?

— Pare com isso! – Gabrielle seguiu os passos da Imperatriz e levantou-se também.

— Não, eu não consigo confiar totalmente em você dessa maneira. Sempre que eu penso em entregar-me, você vem com mais e mais mistérios. – A palavra entregar não foi despercebida pela loira, mas foi guardada para discutir em outra ocasião.

— O que você quer de mim? – Os olhos começaram a arder, as lágrimas estavam prestes a vir. – Eu sou uma escrava, não uma sacerdotisa.

— A verdade, Gabrielle! – A guerreira se exaltou. – Apenas me diga a verdade.

Antes mesmo que as lágrimas pudessem aparecer, a barda deixou a cela. Por um momento, ela pensou que fizera o certo. A culpa, porém, começou a se fazer mais e mais presente, ela sentiu-se traindo a confiança da amiga ao dar as costas a ela. Ela apenas queria poupar Xena da verdade, já era doloroso demais ver todos os seus conhecidos a olhando com piedade, ver a guerreira da mesma maneira destruiria a sua alma. Gabrielle esperou alguns poucos minutos para se recompor antes de voltar ao “quarto” da Imperatriz.

Xena estava com o coração pulsando mais rápido do que o normal, há tempos ela não ficava assim, era como se estivesse dentro de uma batalha interminável e, apesar de querer ver o fim dela, apenas rezava para não sair ferida e não ferir seu oponente, o que parecia impossível. Em um acesso de raiva de si mesma socou a parede de pedra próxima a sua cama, arrependendo-se segundos depois por tamanha estupidez. A dor foi embora rápido, no entanto, pois em seguida o rangido típico da porta foi ouvido.

Gabrielle viu Xena com a cabeça baixa, olhando fixamente para a parede e com uma postura indigna da formosa Imperatriz. Assim que a moça entrou na cela, a guerreira virou-se e começou um discurso de desculpas, mas a loira a interrompeu antes que ela pudesse completar.

— Eu tenho algo que César quer, mas ainda não pode tomar. – Xena estava visivelmente confusa, mas assim que a jovem alisou o ventre, a mulher de olhos azuis entendeu.

— O seu filho? – Horror ilustrava a feição da guerreira. – Por que ele iria querer o filho de uma escrava? – Ela indagou assustada com a realidade.

— Ele tem um plano, por isso me mandou para cá. – Sem jeito, a barda sentou-se.

— Eu não entendo. – A Imperatriz estava perplexa.

— É bem simples, de fato. Quando o bebê nascer, todos pensarão que ele é seu. – O olhar dela evitava os olhos azuis da Imperatriz, fugiam como lebres em dia de caça. – César alegou para toda Roma que você enlouqueceu, eu não queria que soubesse desta forma, me desculpe, mas é a verdade. – Gabrielle disse de maneira solidária outra vez, segurando as mãos de Xena, interrompendo seu conto novamente.

— Está tudo bem, eu não esperava outra coisa dele. – Ela deu um sorriso fraco, sem vida, desiludido. – Tanto tempo trancada aqui, acho que ele esperava que isso realmente acontecesse.

— Todos os romanos acreditaram na história dele, todos eles pensam que está demente, mas... – Havia hesitação em sua voz.

— Mas...?

— ...que espera um herdeiro para o trono. – A jovem finalmente disse. Os olhos marejados ao pensar que estava gerando uma criança que logo seria arrancada de seus braços, criança esta que nunca a conheceria ou a amaria.

— Um herdeiro? – Xena perguntou chocada, ela não conseguia entender a mente doentia de César.

— Um herdeiro legítimo, seu e dele. – Com uma imensa dificuldade as palavras foram ouvidas através dos soluços da barda pela mais velha e sentidas como facadas em seu coração.

A Imperatriz sabia que César era cruel, mas chegar a tal ponto era algo extremo demais. Ele precisava de ajuda, ela tentava entender a lógica do homem que ela se casara, mas não havia uma. Ele nunca criaria o filho de uma escrava em seu palácio, nunca permitiria uma criança sem o seu sangue chamá-lo de pai e ter o privilégio ao trono. Alguma coisa não se encaixava, a guerreira sabia que havia uma peça faltando no quebra cabeça, ela olhou mais uma vez para Gabrielle e a puxou em um abraço.

Naquele momento de cumplicidade, a barda não podia, não conseguia rejeitar o carinho da amiga. Tudo o que mais queria era se desfrutar do calor do corpo de Xena e ficar o mais tempo possível nos braços dela. Havia uma sensação de conforto, de amor que há tempos ela não sentia. A loira passou um tempo indeterminado na mesma posição, lamentando não apenas o fato de estar chorando a morte de um filho ainda vivo, mas sim, tudo o que havia acontecido a ela nos últimos anos, e Xena sabia disso. A mulher segurou o mais forte que conseguia a amiga em seus braços, embalou ela até que o sono e o cansaço a consumissem, para que, mais tarde, a conversa pudesse ter uma continuação melhor.

Quanto o sol se fez ausente, a poetisa deu os primeiros sinais de que iria acordar. Ainda nos braços da Imperatriz, Gabrielle abriu lentamente os olhos, assustando-se imediatamente com o tardar da hora.

— Perdoe-me, eu devo ir agora. – Disse com a voz rouca enquanto se levantava, cambaleando para fora do abraço. – Preciso preparar seu jantar.

— Você não é apenas uma serviçal do Imperador, Gabrielle. Você é tão prisioneira quanto eu. – Xena constatou tristemente.

— Não, se eu fosse uma prisioneira eu não poderia sair da torre e lhe trazer rosas.

— Não engane a si mesma, já é difícil perder uma batalha, mas ser derrotado e não saber é ainda pior.

— A batalha ainda não está perdida. E eu não estou me enganando. Você está.

— Te enganando? – Perguntou ofendida.

— Não, enganando a si mesma. – Disse carinhosamente. – Está há tanto tempo aqui, nem ao menos tenta fugir. Você sabe que poderia se quisesse. Nós duas damos conta dos guardas, até mesmo do Dragão, eu sei lutar, embora não muito bem, você tem medo de sair daqui e de não encontrar ninguém te esperando.

— Não é bem assim, Gabrielle.

— Claro que é, Xena. – Mesmo com a pequena altercação, a Imperatriz notou que pela primeira vez ela usara o seu nome e isso a alegrou. – Não me diga que sua fama de Princesa Guerreira foi baseada em mentiras, você era extraordinária em combate. Diga-me, o que te faz ficar aqui, o que César tem contra você que te faz renunciar a sua vida, a sua felicidade? – A barda ficava nervosa ao pensar que a amiga possuía a força e a habilidade para deixar o local, mas não o fazia. Doía pensar que ela e o filho não possuíam a mesma oportunidade.

— A felicidade de outra pessoa. – Ela disse calmamente. – A vida de outra pessoa. – Finalmente, Xena confiava plenamente na amiga para contar-lhe seu segredo, finalmente ela sabia que começara a sentir algo especial pela poetisa. – Eu tenho um filho, Gabrielle. Um filho que está sob a posse de César.

A barda apenas sentou-se, chocada demais para dizer qualquer coisa ou para entender qualquer coisa. Um filho. A Imperatriz de Roma tinha um filho.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acham que irá acontecer agora com Xena, Gabrielle e o bebê? E quanto ao plano sujo de César?

Bom, nós vemos no próximo capítulo! Até!



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