A Imperatriz e a Princesa escrita por Melissa França


Capítulo 18
Forjadas no amor


Notas iniciais do capítulo

Uns dois anos depois eu trago pros remanescentes leitores (tem algum ainda?) o final dessa história. Espero que apreciem! Beijoquinhas!



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O amor e o ódio são dois sentimentos antagônicos, partes da natureza do homem racional, inserido na vida humana logo no seu início. Ambos são capazes de revolucionar uma pessoa, mudar alguém por completo e ambos são terrivelmente perigosos.

Se há amor também há esperança de um mundo melhor, de um reino capaz de florescer em algo bom e honesto. Por outro lado, se transborda ódio, também transborda cegueira coletiva, o ser humano é impedido de enxergar um ao outro e deixa apenas o sentimento se enraizar. O ódio leva o homem a cometer atos cruéis, imperdoáveis e impensados.

Júlio César era um homem cheio de ódio, ele odiava todos os senadores que o mataram na última vida, odiava Brutus pela traição, odiava Xena por ter ressuscitado junto de Gabrielle e por ter a amado, vivido tempo o suficiente para também ser amada.

Nesta outra vida, o amor da guerreira e da barda ainda era o mesmo, talvez ainda mais intenso que anteriormente, pois agora possuíam dois amores dentro de si, o amor de duas vidas. Estar no mesmo lugar, com o mesmo homem, na mesma situação de prisioneira, tudo isso aterrorizava Gabrielle, entretanto, a moça não era mais a mesma, agora possuía uma força inimaginável. Ela não lutava apenas por si, lutava pela sua família, Xena, Solan e Helena, o amor a tornava forte.

Dois guardas seguravam Xena e Gabrielle com as mãos presas por uma corda para impedir uma possível fuga, ambas forçadas a ficarem de joelhos e cabeças baixas. Havia dois soldados na entrada da sala e dois próximos de César, o Imperador estava sentado com uma postura impecável no trono de ouro.

— Pela última vez, para onde aquele ladrãozinho levou a minha herdeira? – César rosnava de tanto ódio acumulado no peito. Autolycus havia encontrado Xena, Gabrielle e Helena em frente a um Joxer muito ferido, ele tirou Helena dos braços da barda e desapareceu na escura noite com a criança, por outro lado, o coração de leão fora levado ao calabouço para esperar a sentença do Imperador. 

O guarda segurando Xena soltou a cabeça dela, apenas para que a guerreira olhasse César com desgosto e cuspisse em sues pés. Em retribuição ao gesto desrespeitoso, Gabrielle recebeu um soco no estômago.

 – Eu sei o quão forte você pode aguentar uma surra, mas será que consegue ver a sua amada apanhar? – Ele retribui o cuspe com um sorriso.

A alma da antiga Imperatriz gelou, ela jamais poderia deixar Gabrielle se ferir, ela a amava mais do que qualquer outra pessoa poderia amar alguém. Xena voltou a baixar os olhos, fingir adestramento e respeito para César, ganhar um pouco de tempo para Autolycus fugir com Helena caso seu plano falhasse.

 – Helena está longe o suficiente para você nunca a encontrar. – Foi Gabrielle quem respondeu um pouco sem folego. 

 Xena sorriu de lado orgulhosa, ela olhou Gabrielle e, de alguma forma, confortou a alma da jovem barda, pois agora ela sabia: há um plano! César se aproximou mais, o estomago das duas revirou-se, um nó na garganta surgiu, a presença dele era repugnante.

— Eu vejo dois possíveis cenários aqui para nós. – O Imperador começou. – No primeiro, vocês me contam para onde o ladrão levou minha herdeira, eu a recupero e vocês vão para as masmorras, onde passarão o resto de suas vidas medíocres. No segundo cenário, vocês não colaboram, são mortas e eu acho Julia — ele frisou – mesmo assim. – Gabrielle revirou os olhos.

 – Discordo, há um terceiro cenário.

A corda segurando os pulsos de Xena cai no chão e ela golpeia com o cotovelo o estômago do guarda que a segurava, o desarmando. Em seguida, ela enterra a espada no peito do homem que segurava Gabrielle e rapidamente a liberta.

 – Vá até Alti. – A Imperatriz sussurra para a amada.

A barda corre para trás de uma coluna e observa os dois soldados que guardavam a porta do local correrem em direção a Xena, ela aproveita a oportunidade para ir até o quarto de Helena.

Os guardiões de proteção do Imperador também partem para a luta, contudo, um a um são derrotados pela Princesa Guerreira. Utilizando a espada do próprio exército de Roma, ela derrota implacavelmente todos os soldados que partem em sua direção. Com sangue nos olhos, César pega do chão uma espada pertencente ao chefe da guarda e parte para cima da mulher com um urro de ódio.

Sem muitos esforços, Xena bloqueia os avanços do homem e o derruba no chão.

— Dificuldades para se levantar, César? – Ela diz com um sorriso na face, sem reconhecer a si mesma. – Eu não vou perder dessa vez. – Vitoriosa, ela empunha a espada próxima ao pescoço dele.

— Mas você já perdeu, Xena. – Ele solta um riso, tentando recuperar um pouco de ar. – Se você me matar, você também irá morrer e vai deixar para trás todos que ama.

— Eu morreria feliz em saber que livrei o mundo de você, mas eu não preciso te matar, César, a masmorra te fará bem.

— Os Senadores nunca vão jogar o Imperador de Roma numa prisão. – Ele tenta argumentar.

— Oh, não. Talvez eles só te esfaqueiem outra vez. – Xena pega um pedaço de corda, que outrora prendera seu próprio braço, e amarra Júlio César.

— O que você quer?

— Eu pensei que tínhamos um acordo! – A mulher disse entre os dentes, demostrando sua raiva. Ela o joga no chão de bruços, de forma que o homem se mexe com dificuldades agora.

 – E tínhamos, mas você o descumpriu! – O Imperador a responde ríspido, com falta de ar e temendo pela sua vida.

 – Eu descumpri? Você prometeu que deixaria Helena em segurança! – Disse com confiança pisando nas costas do homem.

— Do que você está falando? – A voz dele era patética, quebrada e com a dor.

— Você tirou Helena dos braços mais seguros que ela poderia estar e a deu para os braços mais perversos a segurar. – Ela o soltou, mas ele não se moveu.

— Sabes que não gosto desse jogo de palavras, o que isso quer dizer?

— Pense, use sua imaginação, César. – Desdém pinga de forma amarga de seus lábios. – Quem no mundo faria de tudo para subir ao trono ao seu lado? Quem tem interesse na minha morte e na sua vida? É uma resposta tão simples, acho que você já sabe.

 – Alti?! – Ele a encarou com um misto de confusão e raiva.

 – Nós viemos recuperar Helena... – Ela foi interrompida.

 – Julia, o nome dela é Julia.

 Xena revirou os olhos.

 – Nós viemos aqui, porque Alti a queria morta, para poder separar nossos fios de vida. Não está claro, César? Ela quer subir ao título de Imperatriz e não ser apenas mais uma na sua cama.

Tudo fez sentido naquele momento, as peça faltantes se encaixaram, Alti sempre desejou o próprio triunfo, o que significava que ela não almejava o triunfo de Roma, sendo assim, a xamã era inimiga do Estado, era sua inimiga.

 – Onde ela está, onde está Alti? – O homem se levanta sentindo o ódio tomando seu corpo, correndo em suas veias e pulsando junto de seu coração. – Onde está aquela que me traiu?

 O coração da guerreira saltou, ela estava certa o tempo todo.

 – Ela está no quarto de Helena, nós a prendemos com a serpente que ela levou para matar sua herdeira. – Ela manipulava o Imperador, como sempre, parecia que estavam casados novamente.

Ele não a corrigiu desta vez.

— Leve-me até ela. – E seguiram para o quarto da menina.

César só conseguia pensar nas milhares formas de acabar com a vida de Alti. Como aquela mulher insignificante ousava tocar em sua herdeira? Ela iria pagar com a vida! Júlio César não aceitaria uma segunda traição, nenhuma outra mulher teria vantagens sobre ele.

Ao chegarem no quarto, Xena avistou Gabrielle, a jovem estava parada em frente a porta, um olhar perdido, ela já havia visto e vivido em um inferno, mas seu olhar de incredulidade quebrou o coração da guerreira.

— O que houve Gabrielle? – A guerreira já sabia a resposta.

— Alti... ela... ela queria matar minha filha. – Conforme as palavras saiam, os olhos de César transbordavam mais ódio.

— Abram esta porta, cortem essas cordas. – Ele gritava. – Eu preciso ver com meus próprios olhos.

Para surpresa de Gabrielle, Xena cortou com a espada as cordas que prendiam César e com um chute arrebentou a tranca da porta. César não tentou fugir delas, ele apenas adentrou o quarto com raiva e se deparou com Alti guardando a víbora no cesto.       

— Maldita xamã! – Ele gritou quando tomou a espada de Xena e cravou no peito de Alti.

A mulher soltou um grito estridente de dor, seu corpo mole caiu no chão e seu sangue escorreu pelo chão, manchando o tapete branco do quarto infantil.

— Nenhuma mulher engana Júlio César.

Sem aviso, o Imperador também foi de encontro ao chão, sua mão segurava o peito e uma expressão de dor tomava conta de si.

— O fio da vida de César...

— ...está ligado...

— ... ao de seu maior inimigo.

As vozes das fiandeiras foram o último som que ele escutou e a imagem de Xena confortando Gabrielle foi a última coisa que seus olhos viram. O ódio matou o Imperador de Roma, enquanto o amor salvou a Imperatriz e sua Princesa.


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Notas finais do capítulo

Tem o epílogo já, só clicar ali embaixo no próximo capítulo!
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