A Imperatriz e a Princesa escrita por Melissa França


Capítulo 15
Cheia de cicatrizes e falhas


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores! Esse que esse capítulo demorou e eu sinto muitíssimo, mas eles virão mais rápidos dessa vez, eu prometo. A meta é acabar no fim de fevereiro, vamos ver como tudo vai. Espero que gostem desse capítulo e me desculpem por fazer vocês esperarem.
Capítulo dedicado a Lucia Silva!

Boa leitura para todos!



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Xena estava paralisada perante a tal confissão. Gabrielle teria se tornado uma pessoa tão diferente assim a ponto de mentir para ela em tamanha escala? Mentir sobre a paternidade da própria filha apenas para... para o quê? Qual era a intenção dela ao fazer isso? A guerreira não tinha ideia de como lidar com a informação. Ela olhou com intensidade para Gabrielle, com o propósito de receber uma resposta, mas só o que houve foram tentativas de palavras que nunca saíram.

— Você pode, por favor, me dizer o que está acontecendo Gabrielle? – A morena indagou de maneira fria, mas ainda assim familiar.

— Nós não temos tempo para uma história agora, Xena. Precisamos salvar Helena. – Sua boca estava seca, seu coração doía.

— Me desculpe, Gabrielle. Mas eu preciso saber. Por que mentiu?

A jovem sentiu a necessidade de chorar, mas as lágrimas insistiram em não sair, o que foi bom, pois ela precisaria de forças para contar sua história.

— Eu não menti em tudo, foi mais uma omissão do que qualquer outra coisa.

Foi neste momento que todas as partes perdidas do quebra cabeças foram encontradas e montadas uma a uma.

{Flashback}

Era fim de primavera. Singelas gotas de água caíam do céu, um brilho amarelo iluminava os galhos das árvores e a cantoria dos pássaros era ouvida nitidamente dentro das casas. O lugar que Gabrielle e os demais escravos ficavam era sujo, escuro, úmido, não havia o belo cantar das aves, não havia brilho do sol, nem o frescor da chuva. Não havia amigos lá dentro, não havia família, apenas escuridão, que aos poucos trazia sombras negras a sua alma.

O dia supostamente seria igual a todos os outros, limpeza na cozinha, almoça, descanso, aposentos do Imperador. Entretanto, algo aconteceu, algo que foi o fator inicial da jornada entre a alma da barda.

 Gabrielle limpava a despensa quando o incomum aconteceu. Uns múrmuros se aproximavam da porta, vozes masculinas. Os passos pesados indicavam de que os homens estavam prestes a adentrar o local, a loira apenas continuou recolhendo as frutas que não serviriam para o banquete da noite.  A marcha parou, os soldados de César tomaram outro rumo, a casa do curandeiro.

Um, no entanto, adentrou rapidamente a despensa e caindo aos pés da jovem, assustando Gabrielle com tamanho barulho, ela soltou um rápido suspiro e ficou paralisada por um momento. O corpo do homem estava estendido diante dela. Estaria morto? Ferido? Seria um soldado? Se fosse, por que não estaria usando o uniforme de lealdade?

Perguntas e mais perguntas alimentavam a curiosidade dela. Quem seria aquele homem? Poderia ela confiar que ele não a machucaria? Gabrielle sacudiu a cabeça para se concentrar no que era preciso, ela o arrastou, na esperança de que não o machucaria, para longe da porta, fechou e trancou a mesma, pegou um saco de batatas e colocou em baixo da cabeça dele.

Após ajustá-lo, a barda parou. Analisou a face do homem, ele não parecia confiável. Tinha uma aparência medonha, a pele escura estava suja, com terra e sangue, seu rosto parecia ter sofrido algum tipo de queimadura do lado direito, mas não era algo recente, apenas havia cicatrizes restantes. Um corte no abdômen aparentava ser a causa da perda da consciência dele, muito sangue estava concentrado na roupa, mas nenhuma gota saía da ferida mais, como se este homem tivesse conseguido estancar de alguma maneira o corte.

Com um pano úmido, Gabrielle limpou o rosto do sujeito, logo depois o machucado no abdômen. Ela, então, foi até a cabana do curandeiro e pegou emprestadas uma agulha e uma linha, para selar o corte do homem. A poetisa aproveitou que o mesmo dormia e começou a remendá-lo.

— Órion e a senhorita? – Ele tossiu algumas palavras com certa dificuldade.

Gabrielle se assustou, espetou a pele grossa dele com a agulha e olhou para ele confusa.

— Me desculpe?

— Seu nome. – O desconhecido ganhava nome, voz, personalidade e grandes olhos negros. – Já sabe qual é o meu, mas quanto ao seu? – Ele dizia confiante, não hesitava em nenhuma escolha de palavra, a barda gostou desta atitude.

— Gabrielle. – Ela disse firme, fazendo uma pequena reverência.

— É um belo nome. – Ele a olhou curioso. – Há quanto tempo estou apagado, Gabrielle?

— Cerca de uma hora, menos talvez.

Ele tentou se levantar, o que fez a moça espetar novamente ele com a agulha.

— Eu sinto muito, mas necessitam de mim nesse momento. – O homem era forte, mas não parecia perigoso.

— Eu é que lhe devo desculpas, porque não irei deixá-lo ir com uma ferida aberta.

— Eu agradeço pelos seus cuidados, mas como capitão da guarda imperial, eu devo estar presente quando os outros soldados voltarem.

— Capitão da guarda, certo! – O “não mais desconhecido” ganhava um posto de importância também. – Acredito que até mesmo o senhor deve estar inteiro para poder lutar em nome de Roma e voltar para sua esposa. – Ela apontou para o anel em volta do dedo de Órion.

Ele lhe olhou ternamente.

— Não há esposa alguma, pelo menos, não mais. – Era um tom casual, mas que era acompanhado de um triste olhar.

Gabrielle sentiu-se mal por um momento, mas ele sentou e sorriu.

— Tudo bem, pode terminar, mas tente ser rápida, porque como eu já disse, meus homens precisam de mim.

A barda sorriu, sentou-se perto dele e começou a costurá-lo novamente. Sem imaginar que com aquele gesto iniciava uma bela amizade.

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Havia carinho na voz da poetisa, havia gratidão, mas não havia amor. Há cada palavra mais curiosidade sobre o tal homem dominava os pensamentos de Xena.

— Conte-me mais.

— Tem certeza?

A guerreira não respondeu, apenas acenou com a cabeça positivamente.

{Flashback}

— Uma surpresa, Órion? Sério? –A jovem dizia em meio a gargalhadas. – Da última vez eu acabei na cabana do curandeiro com seis picadas de abelhas! Você lembra?

— A culpa não foi toda minha, certo? E, eu prometo, sem mel desta vez!

— Vamos ver!

Órion puxava Gabrielle pela floresta, a barda estava vendada, seguindo os rumos do amigo.

— Pronto. – Ele foi até ela e gentilmente retirou o pano que cobria os olhos da moça. – Eu sei que esse é o seu primeiro aniversário aqui em Roma, eu só queria que fosse algo simples, mas especial. Como você mesma disse.

Gabrielle abriu os olhos devagar, com medo de tudo isto acabar rapidamente. Seus olhos vagaram pela floresta, até colidirem com uma mesa no centro. Havia maçãs, amoras, vinho, pão e um pergaminho junto de uma pena. O coração da poetisa se encheu de alegria, ela virou com os olhos brilhando para Órion, esperando alguma explicação.

— Você cumpriu sua promessa! – Ela disse algo depois de perceber que ele não o faria. – Me surpreendeu!

— Eu disse. O pergaminho é para você escrever sobre você, não sobre Meleager ou qualquer outro herói, tudo bem? Sobre você.

O sorriso de Gabrielle cresceu ainda mais e a barda correu para abraçar o amigo.

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— Depois disso eu adoeci, fiquei um tempo sem poder me levantar, o que foi até bom, fiquei livre de César por um tempo, mas... – Ela se permitiu um leve sorriso. – Foi nesse momento em que eu percebi que finalmente eu tinha alguém que poderia confiar.

— E poderia mesmo? – Xena indagou desconfiada, ela não estava certa de que o capitão da guarda, o qual ela nunca ouvira falar, realmente tive puros interesses com Gabrielle.

— Com toda minha alma.

{Flashback}

O cacarejo alto do galo, acordara Gabrielle de uma bela noite de sono. A jovem abriu os olhos aos poucos, a luz da manhã ainda não se fazia presente, mas os olhos dela demoraram a se adaptar com o ambiente.

 A loira se surpreendera ao perceber que não estava nos aposentos do imperador, entretanto, lentamente, ela se lembrou do dia anterior e uma explicação lhe preencheu a mente. Órion pediu a Júlio César uma escrava específica para passar a noite limpando seu cavalo, Gabrielle. Um sorriso involuntário iluminou o rosto da barda. Ela levantou da cama macia e logo seus olhos correram pelo pequeno quarto para o encontro de seu amigo.

O homem estava no chão, ainda dormindo. Talvez eu devesse acordá-lo, para ele deitar na cama e ficar mais confortável. Pensou Gabrielle, imaginando o quão dolorida as costas de Órion deveriam estar. Antes mesmo de ela dar dois passos em direção a ele, o mesmo se virou e sorriu.

— Eu já estava acordado, não se preocupe. – O negro a tranquilizou.

— Obrigada por me emprestar sua cama esta noite, mas, acho que isso não deve se repetir. Você enganou o Imperador hoje, mas amanhã...

— Será outro dia, com novas vidas e novas esperanças. – Ele se aproximou e tomou as mãos da moça em suas próprias. – Há tanta vida em você Gabrielle, precisa aproveitar isso.

— Como você consegue? – Ela olhou para os olhos negros dele. – Continuar acreditando em bondade mesmo vendo, vivendo em um mundo cheio de crueldade?

— Você não acredita?

— Um dia eu acreditei, hoje... eu não sei. – Disse balançando a cabeça.

— Sabe ao menos o porquê de não saber?

Gabrielle apertou os lábios. Ela sabia o motivo? Havia tantos.

— Eu perdi muito, perdi minha família, meu lar, minha liberdade, talvez... – A garganta dela estava seca. – Talvez eu tenha perdido a mim mesma no processo.

Órion olhou Gabrielle nos olhos, quebrando todas as barreiras para falar diretamente com a alma da jovem barda.

— Eu não acredito nisso. Você ainda é a mesma. Alguém que cuida e costura o abdômen de um desconhecido teimoso é alguém com uma bela alma, acredite. – Ele sorriu de maneira divertida, beijou a testa dela e a puxou para um abraço. – Todas as suas perdas te levarão para algo melhor, Gabrielle, você verá! Um dia, você voltará a ver significado nas menores coisas, como o bater das asas das borboletas.

Órion segurou-a em seus braços de maneira protetora, tentando lembrar quando esta mulher se tornara tão importante em sua vida.

— Além do mais, eu tenho alguém em que confio e amo. Dessa maneira fica mais fácil acreditar na humanidade.

Gabrielle deixou um pequeno riso de alívio escapar de seus lábios. Ela soltou-se um pouco do abraço do amigo e olhou para cima, fitando os olhos de Órion, olhos negros e brilhantes. A poetisa colocou as mãos na face queimada dele, se perguntando, imaginando como e por que ele possuía aquelas cicatrizes.

— Dói? – Ela sussurrou com receio.

O homem balançou a cabeça em negativo, sabendo o que iria acontecer em seguida. A respiração de Gabrielle se acelerou, a moça depositou sua mão esquerda na nuca do capitão, lhe puxou para mais perto de sua boca e lhe beijou os lábios, sem desejo ou paixão, apenas com necessidade. Necessidade de amar. Ele a afastou e tentou dizer o quão insensata esta atitude era, mas os olhos esmeraldas da moça o chamavam e ele apenas retribuiu tal beijo.

A barda retirou a blusa simples que o amigo usava e passou as mãos pelas costas de Órion, sentindo as marcas de chicotes que ele possuía, velhas cicatrizes que não destruíram o espírito livre e bondoso do homem. Como alguém tão piedoso poderia ser chefe da guarda?

Com forme o beijo se aprofundou, o fôlego se perdeu. Órion deitou Gabrielle em sua cama e sentiu o corpo da poetisa enrijecer.

— Está tudo bem?

— Está sim. – A voz estava desconfortável, claramente uma mentira.

— Gabrielle... – Ele se levantou. – O que foi?

— Não é nada. – Ela abaixou a cabeça. – É só que... eu nunca estive com um homem antes.

Ele a olhou com intensidade, um pouco confuso de fato. Ela já havia lhe contado coisas que desaprovavam esta afirmação.

— Quero dizer, nunca estive com um homem por vontade própria... – Ela o encarou.

— E você realmente quer estar comigo agora?

— Eu quero... – A barda murmurou e sorriu. – Eu quero. – Então, ela voltou a beijá-lo.

Eles se amaram pela primeira e última vez naquele dia, não foi o certo a fazer, mas foi o que as moiras do destino fizeram acontecer.

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Gabrielle parou, não porque ela precisava disso, mas porque ela precisava parar e analisar as reações de Xena. O que estaria passando na cabeça da guerreira neste momento? Não demorou muito para ela saber, logo a imperatriz a olhou e disse com um tom constante, sem quebras.

— Você não amava.

Não era uma pergunta.

— Não. Nem ele me amava. – Era uma frase dita com normalidade, sem ressentimentos. Era uma frase que continha verdades que não doíam, pois havia doçura em algum lugar. – Eu precisava sentir alguma coisa, além de dor e medo. Órion me trazia isso. Já ele, bom, ele precisava relembrar o que era estar com uma mulher que o aceitasse da maneira que ele era.

— Como ele se queimou?

— Salvando-a. – Uma lágrima solitária rolou por sua face, quando um sorriso terno veio para mascará-la. – Os homens de César mataram a esposa dele.

Um pouco atordoada, Xena retomou seu fôlego antes de conseguir falar novamente.

— E mesmo assim ele foi trabalhar para César? O que ele queria? Vingança?

— Não, ele não é do tipo de homem que almeja por isso.

{Flashback}

Uma brisa quente abraçava os corpos dos amigos. Gabrielle acordara assustada, perguntando-se o porquê de ter feito tamanha estupidez. Ao olhar para o lado, fitou Órion dormindo. Ela precisava sair de lá antes dele acordar, rapidamente a moça juntou suas roupas e se vestiu. Infelizmente, entretanto, este ato não foi o suficiente para evitar o que estava por vir.

Os guardas de César entraram, forçando a pequena porta de madeira que separava o quarto do Capitão da Guarda do resto dos soldados. Atrás dos homens uniformizados, o imperador se encontrava. Uma feição fria, obscura estampando sua face, um temor tomou conta do coração de Gabrielle. Por algum motivo, a jovem não temia por si mesma, temia pelo homem com quem ela se deitara.

Órion acordou subitamente e logo se levantou. Com o instinto aflorado, ele sacou sua espada que estava jogada perto da cama e se posicionou a frente de Gabrielle.

— Depois de tudo o que eu fiz para você, Órion. – César disse sinicamente, gotejando veneno.

— Tudo o que você fez? – O homem não iria fraquejar desta vez. – Tudo o que você fez foi colocar fogo na minha casa com minha esposa dentro.

A barda parou de respirar por um momento, ela se surpreendeu consigo mesma ao pensar que Júlio César não era capaz de tal.

— Não precisa me agradecer. – O monarca o provocou. – É uma pena que você nunca vai saber o que sua esposa lhe daria naquela noite...

Com uma raiva sem tamanho, Órion foi para cima dos guardas que faziam uma barreira frente ao imperador. Logo, ele foi detido e apagado com um golpe levado com o copo da espada de um dos soldados.

— Quanto a você a você, minha ratinha... – Ele ria situação, protegido atrás da grande barreira. – É muito mais esperta do que eu pensava, há quanto tempo isso vem acontecendo?

Finalmente, ele deixou seu lugar seguro e se aproximou dela. Sussurrando no ouvido de Gabrielle, trazendo ainda mais repulsa para a alma da moça.

— Eu já suspeitava de alguma coisa, mas eu lhe subestimei. – Ele parecia insano. – Sabe, eu deveria acreditar mais na Alti...

Gabrielle sentiu seu estômago embaraçar, ela queria vomitar no rosto de César e lhe bater o mais forte possível.

— Qual é o seu problema comigo?

O momento não permitia que ela falasse, contudo, a jovem se pronunciou.

— Não, não com você.

— Com quem então? – Ela indagou confusa.

— Isso é tão divertido. – Ele bateu as mãos. – Não se preocupe, você ficará em um lugar muito especial. – César olhou para Órion caído no chão. – Infelizmente não posso dizer o mesmo do seu namoradinho.

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— Nesse momento eu fui para a cabana onde César escondia Solan. Joxer tentou impedir que o imperador me levasse para lá, ele achou que iriam me matar, mas não. – Havia melancolia, uma nostalgia triste na voz da loira.

— Gabrielle?

— Sim?

— Por que você disse que o viu morrer?

{Flashback}

O eco da cabana trazia um ar de miséria e solidão para ambos os presentes. Solan dormia no único quarto do lugar, enquanto Gabrielle se debatia no chão da cozinha tentando, nem que apenas por um segundo, lidar com tudo o que acontecia. Ela não deixaria se abater dessa vez, Órion confia nela, confiava que ela teria fé novamente, o que ela achava improvável de acontecer, porém, ele parecia ter tanta certeza de que a luz não havia se apagado nela, que desde o último encontro deles, tudo o que Gabrielle pode fazer foi rezar pelo bem estar dele.

Dois soldados estavam a postos do lado de fora do local, enquanto o terceiro dormia junto do cão de guarda. A barda escutou cavalos galopando em direção a cabana e se levantou. Ela tentou ver entre as vigas do casebre quem era em uma hora dessas, mas só escutou múrmuros.

— Gabrielle?

O coração dela pulou, quem estaria a procurando? A barda não sabia se deveria se apresentar, contudo mais uma vez a voz se pronunciou.

— Eu estou com ele, Gabrielle. – A voz masculina insistiu. – Órion precisa lhe ver.

Tão descontrolado como poderia estar, seu coração começou a pulsar em um ritmo particular de medo. Ele estava vivo! Isso significava tantas coisas diferentes que era difícil explicar. A poetisa se apresentou, mandou colocá-lo em seu colchão e pediu que o guarda que o trouxera deixasse o local. Gabrielle deu uma boa olhada no amigo, as roupas estavam rasgadas, sua face possuía uma nova marca de queimadura e suas costas sagravam com o Tártaro.

— O que ele fez com você? – Perguntou entre as lágrimas.

— Ele me deu algo. – Órion tossiu sangue.

Com dificuldade e tremendo, o homem negro retirou um pacotinho de dentro do bolso de sua calça e sorriu. Ele entregou para Gabrielle, que desembrulhou um par de sapatinhos vermelhos.

— Ela estava grávida, era isso que ela iria me dar naquela noite. Sapatinhos de bebê, do nosso bebê...

Um riso, misturado com choro se estendeu por um tempo, ele havia terminado sua própria batalha, não tinha mais motivos para ficar ali. Gabrielle sentou-se próxima a ele e colocou a cabeça de Órion em cima de suas pernas. Não havia nada que ela poderia fazer para salvá-lo, a constatação de fato fez com que uma onda de tristeza a tomasse.

— Oh, Deus!

— Vai ficar tudo bem, eu prometo. – Ele disse sorrindo.

—Você vai voltar para eles, sua esposa e filho.

— Você conseguiu escrever alguma coisa no pergaminho que lhe dei? – Órion indagou com dificuldade.

— Consegui. Ficou ótimo, é sobre um novo herói. – A voz estava embargada.

— Eu disse para escrever sobre você... – Ele tossiu.

— Mas é sobre mim, pelo menos uma parte de mim.

— Pode ler?

Horas se passaram, a vida do homem foi escapando aos poucos enquanto Gabrielle lhe contava a história do bravo cavalheiro que ganhara cicatrizes nas costas e uma marca única no rosto por tanta bondade.

“... E no fim, a verdadeira razão por traz de suas cicatrizes veio de maneira rápida. Ele retirou seu uniforme e deixou que suas asas brotassem frente à moça. Ele era um anjo.”

Foi um belo conto, mas o destino já estava selado.


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Notas finais do capítulo

Não vou falar nada sobre esse capítulo, podem tirar suas próprias conclusões desta vez... xD

Até a próxima!



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