A Imperatriz e a Princesa escrita por Melissa França


Capítulo 14
Eu estou aqui agora


Notas iniciais do capítulo

Hey! Demorei, eu sei, sinto muito. Acontece que eu fiquei sem meu notbook durante esse último mês... Bom, espero que apreciem este novo capítulo!

Boa leitura!



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O tempo cura qualquer ferida. Gabrielle continuava repetindo esta frase em sua mente como uma oração, sem cansar de proferir uma, duas três vezes ela em seus pensamentos, tentava fazer com que se tornasse verdade, se tornasse esperança. O fato, é que o tempo realmente cura o mais profundo dos cortes, cura um coração partido, cura um membro quebrado, entretanto, há algo que nem mesmo o tempo pode fazer.

Apagar cicatrizes.

Cicatrizes não vão embora, continuam estampando a pele frágil, colorindo o coração com cores sombrias, as cores da dor e da mágoa. Cicatrizes não somem, por mais invisíveis que se tornem, elas sempre estarão lá, nunca te deixarão esquecer, não quando esquecer significa perder tudo o que restou.

A barda estava sentada na entrada da caverna, era noite. Havia um punhado de estrelas estampando o céu e a lua se fazia presente de maneira singela, não estava completa e mesmo assim estava tão bela, tão brilhante, que fez o coração de Gabrielle se acalmar um pouco. Entretanto, ela estava frenética, totalmente entorpecida com a ideia de que Xena havia aberto mão de sua filha, de sua Helena. Seria ela capaz de algum dia perdoar tal atitude da guerreira?

A jovem estava confusa, cinco dias haviam se passado desde que retornaram à caverna e três desde que descobrira sobre o acordo que Xena fizera com César, suas vidas pela menina. Logicamente, Xena possuía um plano para recuperar a criança, mas entristecia Gabrielle não ter tido conhecimento disso, doía em sua alma ficar tanto tempo longe de Helena.

Um ruído fez com que os olhos da moça deixassem as estrelas e seguissem rumo ao menino loirinho que havia acordado com pesadelos sobre sua mãe. Gabrielle abriu um sorriso caloroso, ela sabia que ele estava confuso e, por mais que tivesse sua própria batalha interna, sabia que precisava ajudar Solan.

– Pesadelos? – Ela indagou carinhosa.

– Alguns. – Ele sentou-se do lado dela, claramente incomodado.

– O que houve, Solan?

– Por que ela não me contou antes? – A voz do pequeno estava chorosa, mas não havia lágrimas em seus olhos. – Digo, ela sabia que eu era filho dela e não me disse nada.

Xena havia contado um par de dias antes sobre a verdadeira história dela com Solan, ela não queria mais mentiras e isso quebrava o coração de Gabrielle, ainda havia uma mentira com ela.

– Ela queria te proteger, querido. Você sabe, a viu chorando ontem, não?

Sua raiva aos poucos foi se transformando em culpa. Ela sabia que estava mentindo todo este tempo para a Princesa Guerreira, ela sabia que deveria ter contado a verdade desde o início, mas não podia desfazer este erro agora, não quando tudo estava desordenado.

– Eu vi, eu gosto dela, gosto muito dela, mas ela mentiu para mim.

– Eu sei, Solan. Os adultos fazem isso, eles mentem às vezes e nem sempre é uma mentira boa, mas eu posso lhe garantir que tudo o que sua mãe queria era o seu bem.

O menino abaixou a cabeça e por um momento ponderou. Ele sabia que o que Gabrielle falara era a mais pura verdade. Sua mãe não desistiria dele se não houvesse motivo, ela era boa e o amava profundamente, ele sabia.

– Assim como você só quer o bem da Helena? – Ele perguntou de maneira inocente.

A poetisa sorriu ao pensar, ela ainda podia sentir o calor que percorreu seu corpo quando tocou sua filha pela primeira vez, podia lembrar-se dos pequenos e redondos olhos azuis que a menina possuía.

– Sim, assim como eu quero o bem da Helena. Ela precisou ficar com o curandeiro por um tempo, para poder se recuperar do nascimento.

Xena contara ao menino que a criança nascera pequena e precisara ficar com um especialista, eles não queriam que Solan soubesse que César era o pai da pequena.

– Gabrielle, a Helena será minha irmã?

– O que? – A pergunta repentina do garoto fez a voz da barda falhar um pouco.

– Sim, se eu sou filho da Xena e ela é sua filha, isso nos torna irmãos.

Que lógica era essa? Pensou a barda.

– Os torna? – Ela perguntou um pouco mais divertida, soltando uma risadinha no final de sua pergunta.

– Achei que amava a Xena, sei que ela lhe ama. – Solan disse mais uma vez na inocência.

O rosto de Gabrielle ganhou um tom de vermelho, entregando sua resposta.

– Então, se vocês se amam, eu também sou seu filho, certo?

A jovem o olhou, seu coração lembrava-se do menino pequeno que ela cuidara e pulou para fora de seu peito. Quando Gabrielle conheceu Solan, tentou não se apegar a ele e agora o mesmo lhe pedia para ser seu filho. Que bela virada do destino!

– Sim, Solan. Você também é meu filho! – Ambos sorriram, ela o beijou no alto da cabeça e o puxou para um abraço.

Ele era irmão de Helena!

O tempo passou lentamente depois da conversa, parecia querer brincar com os sentimentos da jovem barda. Um par de dias havia trago mais aflições e impaciência para a alma de Gabrielle. Xena e Solan voltaram a ter uma relação amigável, ele decidiu que seguiria seu coração e daria uma chance à mãe. A Imperatriz se acostumou rápido com a ideia e logo seu plano para recuperar Helena já estava totalmente pronto.

A guerreira explicou o que ela faria, disse que em breve Júlio César iria apresentar Helena como a futura herdeira do trono e sabia que este seria o melhor momento para invadir o castelo, pois a segurança estaria centrada na cerimônia de nascimento da criança. Por fim, a mulher convidou Joxer e Autolycus para se juntarem a ela nesta jornada.

– E o que eu farei? – A poetisa perguntou, esfregando as mãos de tanta ansiedade.

Xena sabia que sua amada não iria gostar do que estava por vir, por isso, sem rodeios, falou:

– Ficará com Solan, me desculpe. Não posso arriscar te perder.

Gabrielle lhe deu um olhar de raiva e, como já esperava uma réplica de um dos amigos, os fitou.

– Xena está certa, bardinha. – Autolycus não estava do seu lado. – Deve ficar, deve viver para sua menina. – O ladrão completou.

– Não, eu vou junto com vocês! – Disse decidida, com uma fúria brilhando em seus olhos. – Ela é minha filha, não vou deixar que vençam esta batalha sem mim!

– Não se trata de vencer ou não, o que está em jogo é a sua vida. Você não vai! – Xena disse de maneira ríspida.

A maneira de superioridade encontrada na voz da morena fez com que um mal estar tomasse conta de Gabrielle, ela voltou-se aos dois amigos e pediu:

– Joxer, Autolycus, deixe-nos a sós, por favor.

Ambos os homens se olharam para Xena e partiram logo em seguida.

– Então, finalmente estamos assumindo os papéis de Imperatriz e escrava? – Ironia pairava no tom da mais nova.

– Por que isso, Gabrielle? – Xena continuava com indiferença.

– Porque eu não vou ficar aqui esperando enquanto vocês vão resgatar a minha filha, porque eu não aguento mais ficar sentada sem fazer nada enquanto César está cuidando dela, Xena!

– Gabrielle, pelos Deuses, se escute. – Ela disse mais alto. – Não faz sentido se arriscar assim.

– Não faz sentido? – Um fogo ascendeu na barda, uma raiva que a morena nunca havia presenciado nesta vida. – Não faz sentido eu querer estar junto de vocês quando Helena estiver livre daquele monstro?

– Você está agindo como uma criança, Gabrielle. Pare de tentar mudar minha mente, isso não vai acontecer!

A poetisa tentou encontrar Xena nos olhos azuis da mulher a sua frente, mas não conseguiu. Ela soltou uma risada forçada, debochando do espírito de Imperatriz que não havia ido embora da princesa guerreira.

– Isso não vai acontecer? Vai me impedir de ir, é isso que estás falando?

– É para o seu próprio bem... – A morena disse em voz baixa e virou-se de costas. Ela deu dois passos para fora, mas foi interrompida com os gritos de Gabrielle.

– Meu próprio bem?

– Eu sei o quanto isso é difícil para você, mas... – Ela foi interrompida.

E então, Gabrielle explodiu. Sem sua permissão, algumas palavras escaparam de seus lábios, saíram tão rápidas que não foram medidas, palavras essas que seriam odiadas futuramente.

– Não, você não sabe! – A frase saiu de maneira mais selvagem do que o esperado. – Eu perdi todos que me amaram, meus pais, Lila. Fui colocada em um navio e despachada em Roma, onde o grande Imperador me violentou incontáveis vezes. – Havia uma ironia negra, um tom que Gabrielle nunca havia usado. – Eu assisti bons amigos sendo castigados, passei fome, frio e, como se não bastasse, vi o meu melhor amigo e pai da minha filha morrer bem na minha frente. Então, não! Você não faz ideia!

O tempo parou. rodou, tudo se transformou. A noite estava fria, tão fria que o canto do vento era ouvido de forma nítida dentro da caverna, acalentava o sono de Solan e rachava o coração das almas gêmeas.

– O pai da sua filha? – Um misto de desgosto e surpresa embargava a voz Xena.

A noite era tão fria que parecia impossível tornar-se mais gélida. Apenas parecia.


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Notas finais do capítulo

Bom, está muito confuso? Espero que não, mas em breve teremos explicações! Até!



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