A Imperatriz e a Princesa escrita por Melissa França


Capítulo 13
Tudo ficará bem


Notas iniciais do capítulo

Oi, amorinhas! Espero que gostem desse capítulo, se não gostarem, realmente não as culparei...

Esse capítulo é dedicado para Ana Carolina, uma leitora atrasadinha, mas uma grande amiga! *-*

Boa leitura à todos!



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A chuva parecia estar mais violenta do que nunca, invadia as casas mais simples, arrebentando tudo o que atrapalhava ela a seguir seu rumo, rebatia nas paredes grossas do castelo do imperador e derrubava as árvores mais frágeis. Ela determinava quais hortas sobreviveriam para a próxima colheita, determinava a ausência da lua naquela noite tão fria e causava a chegada de mais nuvens negras em Roma. Entretanto, talvez a função mais importante desta tempestade sem hora, era a escolha especial e única que ela trazia, a escolha de quais almas ela levaria consigo para a terra.

O palácio de Júlio César era preenchido pelos gritos da jovem barda, Xena andava rapidamente pelos largos corredores do lugar, seguindo os passos pesados do imperador tirano, ela suava frio, um medo sem tamanho crescia em seu coração, medo do que iria encontrar, medo do destino tão certo e cruel.

Os gritos de Gabrielle eram de agonia, pertenciam ao um misto de frustração, por não ser tão valente quanto desejava, e medo profundo do destino moldado impiedosamente pelo pai de seu filho. Os gritos não eram apenas uma libertação de toda a dor e medo que a moça sentia naquele momento, eram também gritos que clamavam por piedade.

O pequeno quarto era iluminado por velas, contudo, mesmo assim, continuava com um toque sombrio, um toque de luto, de perda, um sinal de que algo daria errado naquela fria noite, um sinal de que a morte visitaria em um futuro próximo.

Gabrielle abria e fechava os olhos em um ritmo frenético, queria se concentrar em seu filho, se concentrar em sua dor e esquecer o mundo fora daquele quarto, contudo, isso se fazia impossível, sua dor física não parecia superar a dor e o desespero de sua alma. Dois guardas seguravam o corpo dela para baixo, forçando-a manter-se deitada, não que ela tivesse forças para resistir, mas eles precisavam cumprir ordens. Um curandeiro estava no canto do quarto, totalmente horrorizado observando a situação, um olhar de compaixão estampando seu rosto. A parteira também sentia pena, no entanto, já estava impaciente e pedia pela quarta vez para que a jovem começasse o trabalho de parto.

– Vamos, criança. – A mulher pediu outra vez, tentava manter a voz serena. – Seu menino logo estará aqui, você só precisa começar a empurrar, por favor.

A poetisa balançou a cabeça negativamente, sua respiração descompassada impedia que ela falasse. Gabrielle não iria entregar esta criança para César, ela não deixaria seu filho nas mãos daquele bastardo, nem mesmo que isso custasse a sua vida. Um pensamento egoísta, que fez com ela temesse uma punição vinda das três parcas do destino.

Gabrielle perdia-se em meio a tanta dor, a tantos medos, seus olhos tremiam com as lágrimas não derramadas, seus lábios estavam pálidos de frio, entretanto, mesmo nessas condições, ela conseguia orar, pedir aos Deuses egoístas uma chance para ela e seu filho.

Quase desistindo de lutar, ela viu a porta do quarto se abrir e sentiu pura esperança preencher seu coração ao fitar tão conhecidos olhos azuis, talvez finalmente os Deuses ouviram suas preces. Xena, veio nos salvar! Ela pensou e um sorriso imediato brilhou em seu rosto.

A Imperatriz não disse uma palavra, seus olhos contavam tudo o que era necessário, ela foi em direção aos guardas e rapidamente os retirou de perto de Gabrielle, eles não deixaram o quarto, no entanto, apenas foram para perto do curandeiro esperar a vinda do bebê. Com uma garra desesperadora e uma vontade imensa de sair dali, a barda agarrou nos braços de Xena e implorou para que ela a tirasse do local, sua voz estava rouca, quase sem vida. Com um sorriso forçado, mas que, de alguma forma, foi reconfortante, a guerreira explicou que tudo ficaria bem, sentou-se atrás de Gabrielle e começou a sussurrar palavras suaves para a jovem, palavras que eram tão doces quanto uma canção.

– Por favor, deixe ele dentro de mim, Xena... – A barda suplicou. – César vai tomá-lo de mim se... se... – A voz estava fraca de mais, as palavras eram inaudíveis e quase não chegavam aos ouvidos da guerreira.

– Shhh... – Ela cochichou no ouvido da loira. – Tudo ficará bem, você só precisa se preocupar em trazer seu filho a salvo para este mundo, tudo bem?

Gabrielle estava suada, seu cabelo encontrava-se completamente molhado e unia-se ao seu rosto, a moça acenou com a cabeça para Xena e olhou em direção a parteira. A mulher, que não aparentava ter mais de cinquenta anos, deu as instruções para que tudo corresse perfeitamente durante o parto. Minutos intermináveis foram embalados pelos gemidos de dor da barda, os gritos demoraram a cessar, entretanto, quando finalmente isso ocorreu, o quarto não foi preenchido pelo choro tão esperado de um recém-nascido.

Há coisas na vida que você não almeja , não planeja, prefere fechar os olhos a ver, prefere abrir mão a ter.

O silêncio ensurdecedor parecia colocar uma expressão de pavor no rosto de cada individuo presente no local. A parteira olhou para os guardas, balançou a cabeça em negativa e, antes de voltar sua atenção para jovem mãe, baixou seus olhos.

– Uma menina... – Ela levantou o corpinho rosado da criança.

O coração de Gabrielle se agitou sem aviso, não batia mais em seu peito, estava ali, aparentemente sem vida, nas mãos de uma mulher desconhecida. Seu corpo estava imóvel, como se um poder desconhecido tivesse a tomado. Suas mãos tremiam, assim como seus pálidos lábios.

– O que houve? – A barda retirava forças para falar de algum lugar inexistente até aquele momento. – Por que ela não está chorando?

As lágrimas de Gabrielle vieram com força e, sem que percebesse, elas se misturavam com seu suor, cobriam seu rosto delicado e escorriam sem direção exata. Os soluços da moça ficaram mais evidentes, assim como o ritmo acelerado de seu coração, sua alma parecia estar quebrada em pedaços tão pequenos, que nunca seria capaz de ser restaurada.

– Eu sinto muito. – A mulher não olhou para a poetisa, focou sua atenção no bebê que mal respirava.

Xena segurou Gabrielle de maneira ainda mais protetora e sentiu seus olhos encherem-se de lágrimas também, ela e Solan haviam passado uma tarde inteira falando sobre a criança, ele estava extremamente animado com a vinda do miúdo, assim como ela. Seria tão irônico o destino? Teria tirado a vida de tão inocente ser apenas para que ela pudesse, finalmente, matar César? A parteira cortou o cordão umbilical da recém-nascida e a enrolou em um pano, entregando para um dos homens levá-la, talvez ela tivesse uma chance de sobreviver com os cuidados de um curandeiro.

O homem mais velho, que até o momento não havia se pronunciado, segurou o bebê nos braços e sorriu para tão pequeno ser. Ele fitou os dois guardas e caminhou em direção à porta, foi impedido, entretanto, pela voz embargada de Gabrielle.

– Não. – Ela suplicou. – Deixe-me segurá-la, por favor.

– Sinto muito, mas o Imperador nos deu ordens específicas para não fazer isso. – A parteira disse.

– Deixe me ajudá-la. – A barda choramingou. – Eu irei fazê-la respirar.

A parteira fitou os guardas com compaixão, ambos abaixaram os olhos e viraram-se de costas, dando liberdade para ela fazer o que era necessário, o curandeiro sorriu tristemente, também aprovando a atitude. Ele se aproximou da jovem mãe com receio e lhe entregou o pacotinho.

Por um momento, tudo se transformou. Seus braços pareciam abraçar perfeitamente a pequena, sua filha parecia tão saudável, estava um pouco inchada, contudo, a parteira garantiu que todos os bebês nasciam assim, seu pulso era fraco, mas suas bochechas eram bem rosadas.

– Ela é tão linda... – A moça disse melancolicamente.

Sentindo o mais puro e verdadeiro amor preencher seu coração, Gabrielle sorriu. Um sorriso que escondia as lágrimas de tristeza e trazia as de alegria. Ela havia se recusado a chorar a morte de sua filha quando ela ainda estava em segurança em seu ventre, ela recusava-se a chorar agora também, quando a menina finalmente estava em seus braços respirando.

A barda olhou para cima e encontrou os olhos de Xena, tão orgulhosos como poderiam estar, escondendo um sorriso inapropriado para o momento.

Observando o pequeno ser em seus braços, ela teve a sensação de que estava diante da criatura mais pura do mundo. Sua filha era a menina mais linda que seus olhos já encontraram, tão linda, tão inocente, tão serena. Seus cabelos castanhos emolduravam seu rosto pequeno e delicado, sua pele alva contrastava com o vermelho de seus lábios que possuíam um tom único. A respiração da criança estava extremamente fraca, por isso, os olhinhos dela eram um mistério até o momento, como ainda estavam fechados, sua cor deveria permanecer como um enigma a ser desvendando, um sinal de que a barda precisava salvar sua filha para ter a resposta para tão simples pergunta.

Gabrielle começou a desembrulhar sua menininha aos poucos e a colocou sobre seu seio nu, aquecendo o coração da pequena em seus braços. Ela esfregava as costas da criança carinhosamente e cantarolava algo baixinho, um enrolar de palavras que se tornou uma canção doce e agradável para Helena.

– Mamãe está aqui com você, não precisa ter medo...

Há cada segundo que passava, o bebê parecia receber um novo sopro de vida. Havia um lugar no coração da poetisa que sabia o que estava fazendo, Gabrielle encheu-se de esperança ao sentir sua filha reagir aos poucos. O que começou com alguns poucos e baixos gemidos, se tornou um choro alto e forte, tudo o que a barda podia fazer era rir. Um riso cheio de alívio e encanto. O mundo parou para ela, se tornou pequeno e indefeso, já não era mais o mesmo, o mundo se tornou Helena, sua pequena menina de olhos misteriosos.

– Não chore, vai ficar tudo bem. – A barda dizia de maneira tão calma, que parecia um anjo sussurrando. – Não irei deixar ninguém te machucar, eu prometo...

Lenta e gradualmente, o choro cessou, se tornando apenas alguns gemidos de fome. Finalmente, a criança tentou abrir os olhos. Parecia saber que estes eram seus últimos segundos com a mãe e queria presentear a mulher que lhe dera a vida por diversas vezes com um singelo, mas grandioso presente. Por um momento, Gabrielle fitou o esforço de sua filha para abrir os olhos e soube, por mais distante que elas ficassem, Helena sempre estaria com ela, então, a jovem prometeu que iria usar todas as suas forças para acompanhar de perto o crescimento da menina.

Por fim, a pequena abriu seus olhos. Azuis. Lindos olhos azuis tão típicos de bebês desta idade, olhos tão azuis quanto os de Xena, o que foi uma ironia para a poetisa, já que, legalmente, a menina seria da Imperatriz e não dela. A parteira olhou para Gabrielle e a barda sabia o que aquele olhar de piedade significava.

– Eu preciso de mais tempo. – Ela choramingou. – Eu não estou pronta ainda.

– Sinto muito. – A mulher se aproximou.

A barda olhou pela última vez para a criança e beijou o alto de sua cabeça.

– Vai ficar tudo bem, Helena, você vai ver. – A parteira tirou o bebê dos braços da mãe e deixou o quarto, sem olhar para trás, tinha medo de não conseguir cometer tal crueldade se o fizesse.

Gabrielle se desesperou, agarrou-se em Xena e caiu em um choro agoniado, tudo o que ela pôde fazer, foi esconder seu rosto no pescoço da amiga e não ver a filha partir. A guerreira estava imóvel, não possuía as palavras necessárias para confortar a amada, tudo o que ela fez foi abraçar a moça o mais forte possível, tentando juntar todos os pedaços de sua alma.

Há coisas na vida que você não almeja , não planeja, prefere fechar os olhos a ver, prefere abrir mão a ter. Mas, às vezes, essas mesmas coisas se tornam seu maior tesouro.

Do lado de fora do quarto, César esperava ansioso pelo nascimento de seu herdeiro. Andava de um lado para outro, esfregava uma mão na outra e suava frio, temendo que acontecesse algo de errado no parto.

A escrava de confiança que ele obrigara a trazer ao mundo o futuro Imperador de Roma, veio trazendo um pacotinho de lençóis. Seu coração acelerou, finalmente ele conheceria seu herdeiro, teria em posse a criança que tinha o seu sangue.

– Uma menina. – A mulher revelou quando já estava perto o suficiente. – Ela é pequena, precisará de cuidados especiais.

O homem não se importou com a saúde fraca de sua filha, pois uma intensa decepção o tomou ao descobrir o sexo da criança, no fundo de sua alma escura, ele esperava por um menino, um forte governante. Isso, entretanto, não o impediu de sorrir. Ele levou o bebê para seus braços, a embalou por um segundo e logo reparou nos cabelos castanhos dela.

– Tão parecida comigo. – César sussurrou orgulhoso, depois se voltou para a mulher e falou. – Seus serviços estão dispensados, escrava. Diga aos soldados para escoltarem as duas intrusas para fora do castelo e a deixarem bem longe.

O Imperador não olhou para trás, apenas caminhou em direção ao quarto preparado para a filha de Roma. Ele entrou no lugar deslumbrante e se espantou ao ver Alti a sua espera perto do berço, o berça que embalaria as futuras noites de sua menina.

– Já a nomeou? – A xamã gostava de saber o nome de todas as suas vítimas e a filha de Gabrielle não seria uma exceção.

O homem abriu um largo sorriso, parecia estar orgulhoso de sua nova conquista.

– Júlia, este será o nome dela! – Ele proclamou, erguendo a menina.

– Você deveria chamar o curandeiro, ela ainda parece estar fraca. – A mulher fingiu preocupação.

– Irei chamá-lo imediatamente, cuide dela enquanto isso. – Ele entregou o bebê para mulher. – Afinal, você será a madrasta dela depois de tudo.

Alti sorriu, um sorriso amargo e cheio de segundas intenções.

– Claro, eu irei cuidar dela com toda a minha alma.

O Imperador sorriu e deixou o quarto, ele só não sabia que a alma de Alti era a mais escura de todas.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado deste capítulo, de verdade! Eu demorei a aceitar ele, mas espero que com vocês seja diferente! Bom, digam suas opiniões através dos comentários ou pelo Facebook. Até!



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