Cantiga de outro Verão escrita por DezzaRc, A Little Dreamer


Capítulo 6
Parque


Notas iniciais do capítulo

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Música do capítulo: Ainda há tempo - Criolo



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O tempo fechou completamente, o que fez a ruiva desanimar e se trancar em casa. Teve a ideia de sair para um barzinho com a amiga, Jacque, mas tudo o que conseguia pensar era no quão quente seu sofá branco ficaria com ela enrolada no edredom, enquanto assistia comédias românticas surreais. Por mais que Nina amasse histórias de romance, no final delas ela sempre se sentia mais vazia do que quando começara a ver. Por que algo assim não acontecia na vida real? Por que os relacionamentos não podiam ser para sempre como na época de sua querida avó? Por que o mundo se limitava a reciclagem do lixo e se esquecia de reciclar as pessoas também?

Mais do que os tempos modernos, Nina odiava dias chuvosos. Já se foi o tempo em que ela apreciava as cidades frias e sonhava em viver em uma delas, na base de casacos grossos e chocolate quente todos os dias. Depois de tantos dias obscuros, o sol nascia para alertá-la que a vida era muito mais que as tempestades sombrias. Que no novo dia, algo bonito e quente poderia acontecer com ela; os raios solares espantavam os vultos da tristeza, a mantinha desperta e renovava suas forças para um dia melhor. Dias de chuva ressaltavam seu mau humor, e o pior, trazia seus medos à tona mais uma vez.

Enquanto aumentava o volume da TV no máximo para não ter que escutar as gotas crépidas contra as janelas do apartamento, Nina se lembrou do garoto sorridente e excêntrico que assistia desenhos naquele volume ensurdecedor. Será que ele também tinha medos e o som alto da televisão espantava as figuras que o assombravam? Ela soltou um suspiro amargo e negou. Guga era apenas um garotinho no final das contas. Nina, na idade dele, vivia o paraíso.

Ela não soube ao certo a hora que adormeceu no sofá confortável, mas despertou com o sol no rosto e o corpo todo suado devido à temperatura que tinha aumentado estupidamente. Não deu dois passos até o celular tocar em um lugar desconhecido, embaixo da pilha de papéis na mesa de jantar. Nina espreguiçou-se, ainda um tanto cansada, e arrastou os pés magros no piso frio em busca do aparelho. Quando, enfim, encontrou-o no meio daquela lixaria, ela sorriu para o visor. Marcelo, seu melhor amigo.

— Basta chover para as gatinhas se esconderem na toca. Saiba que você perdeu uma noite daquelas, Florence. Tocaram sua música e você nem estava lá para performar!

Nina deu um sorriso sonolento pelo apelido que os amigos a colocara, apenas porque seu cabelo se parecia com o da cantora britânica Florence Welch.

— Espero que hoje esteja de pé, pretendo me manter o mais longe possível desse apartamento.

— O que acha? Farei um almoço especial. Pode se refugiar na minha casa antes que pergunte. Adoro quando você dá esses revertérios e se lembra de que ainda está viva.

Nina mordeu os lábios e resolveu não contrariar o amigo, pois sabia quem estava errado naquela história. Jacque, Marcelo e Julia eram seus amigos de longa data, apesar de a primeira a entender como ninguém. Os três sempre estavam lá quando ela precisava, embora não pudesse dizer o mesmo de si mesma caso algum deles estivesse com problemas. Não que fosse uma amiga ruim, longe disso, mas sentia que não conseguia tranquilizar ninguém com suas frases feitas ou até mesmo os tapinhas sem sentido nas costas da pessoa, quando, em resposta, uma única frase de qualquer um deles a fazia ter uma paz de espírito imensurável. Talvez Nina se contentasse com qualquer demonstração de afeto e se sentisse bem com pouco. Ou talvez tudo que precisasse era de alguém que se importasse com o que ela queria dizer ao mundo, mesmo que isso representasse lágrimas e declarações frustradas.

Não era disso que todos necessitavam? Alguém que lhe estendesse a mão e ouvisse com sinceridade? A ruiva, de alguma forma, não se sentia verdadeira com os amigos.

Enquanto tomava o café preto fumegante e assistia aos noticiários daquele domingo ensolarado, Nina ponderou inventar uma desculpa qualquer e ficar em casa. Pensou nos trabalhos da faculdade que não finalizou, no livro que deveria continuar a ler e no próprio manuscrito que faltava boas páginas para receber o tão esperado fim, e até mesmo no plano de aula do workshop de escrita, ainda que ele já tivesse sido feito antes mesmo da oficina começar.

Sabia que era idiota por querer trocar o ar puro e a diversão daquele belo dia que se iniciava por horas intermináveis e solitárias em frente à tela de um computador. Quantas vezes fizera isso por puro desânimo de sair? Perdera momentos que poderiam ser os melhores de sua vida, novas experiências, amigos, lugares que poderia ter conhecido... Tudo pela simples preguiça ou o maldito “e se”. Havia qualquer dia para se iniciar um trabalho de faculdade, viagens no transporte público para serem preenchidas com uma boa leitura, noites de insônia para se escrever um livro, e por que refazer algo que já sabia de cor? A desanimação não a venceria e Nina iria sair, quer seu humor quisesse ou não.

Tomou um banho gelado para terminar de despertar. Revirou o guarda-roupa com tecidos nos variados tons de preto e branco até encontrar uma caixa com presentes intocados dados por seus amigos, e escolheu um vestido florido que marcava a cintura. Jacque deu-lhe quando completara 21 anos, se a ruiva o usou em um churrasco no ano anterior fora muito. Depois de pronta, Nina tirou a cortina da frente do espelho que mantinha escondido na parede do quarto e se obrigou a admirar o reflexo do seu trabalho.

Seus olhos pousaram nas pernas finas descobertas que mais pareciam dois cabides desengonçados, subiram para o ombro ossudo exposto e pararam no rosto pálido de traços infantis. Ela não gostava nem um pouco do que via e, das outras vezes, seus olhos até se encheram de lágrimas.

Por mais que a dissessem que era linda, Nina se sentia muito longe dessa proeza, principalmente quando estava diante das garotas de 23 anos da faculdade. Ao lado delas, a ruiva parecia uma pré-adolescente castigada pela puberdade. Essa fase estava há anos de distância da garota refletida no espelho, e qualquer esperança de que o tempo fosse bom para ela não existia mais. Cansada dos pensamentos que a atormentavam diariamente, a garota soltou a cortina e deu às costas ao sentimento destrutivo, achando melhor sair dali antes que desistisse de vez do passeio.

Trancou o apartamento e agradeceu aos céus por não ver nem sinal de um advogado prepotente, nem um garotinho sorridente de cabelos brancos. Como tudo não era flores, o elevador parou no andar debaixo do seu e, para azar da ruiva, a vizinha fofoqueira do prédio — e esposa do síndico — entrou para envenenar sua manhã não mais tão ensolarada assim. Silvia analisou-a dos pés à cabeça sem nem ao menos disfarçar, e com um sorriso mais falso que seus brincos de pérolas, desejou-lhe um “bom-dia”.

— Sua mãe sabe que um jovem solteiro está dividindo o mesmo andar que você? Não é de minha conta dizer isso, mas ouvi que a irmã não vale um centavo e que vieram de uma família desestruturada. O que se pode esperar de um rapaz com esse histórico, não é mesmo? Até boatos de que era um usuário de drogas escutei! Estou realmente preocupada com você, Nina. Eu disse para Jorge não aceitá-lo aqui no prédio. Ele me ouviu? Não! Depois que nos livramos daquele casal de pecadores, agora meu marido me vem com essa.

Nina desejou que o chão se abrisse aos pés da mulher mesquinha e que fosse sugada por um buraco negro de onde nunca mais voltaria. Era ridícula a maneira como a vizinha parecia sentida pela sua causa, quando sabia que às suas costas a própria dizia que a ruiva era uma perdida na vida, e após a morte do pai resolveu se rebelar e morar sozinha para trazer quantos rapazes quisesse para seu apartamento e farrear até o sol nascer. Silvia era amiga de todos moradores cara a cara, mas bastava alguém se virar para a mulher de 52 anos enfiar a faca sem dó. Ela enganava apenas sua pobre mãe, que apesar dos alertas da filha, achava que Silvia era sua melhor informante do que Nina fazia e deixava de fazer longe de sua asa maternal.

— Não se preocupe, Dona Silvia. Sei me cuidar muito bem. Há moradores piores que ele por aqui, disso tenho certeza — Nina terminou de dizer com o sorriso mais doce que conseguiu dar e correu assim que as portas do elevador se abriram, sem esperar resposta da cascavel.

A ruiva pensou seriamente na hipótese de se benzer depois de cruzar com aquele mau agouro. Balançou a cabeça negativamente com a cara de pau da vizinha de ainda vir para cima dela com um “me disseram”, e se repreendeu por querer saber se era verdade ou não que Hugo já fora usuário de drogas. Se fosse, como a velha enxerida tivera acesso a tais informações? O advogado arrogante não parecia ser o tipo de pessoa que se intimidasse facilmente, muito menos cederia respostas a um interrogatório pessoal.

Não queria nem imaginar quando a vizinha soubesse quem entrou em seu apartamento no dia anterior.

♦♦♦

Sentado no banco da praça sob a sombra de uma árvore, Hugo sentiu-se de volta à infância. Os gritos finos e ensandecidos das crianças brincando no parquinho era o que dava vida àquela manhã de domingo, assim como os ambulantes afoitos tentando vender balões coloridos, pipoca caseira e algodão doce. Ele sorriu assistindo o sobrinho brincar na caixa de areia com mais três crianças da mesma faixa etária que ele acabara de conhecer; lembrou-se dele próprio em um lugar semelhante no antigo bairro, juntamente com a irmã, quando ainda tinham liberdade para ir e vir nas vielas da comunidade. Sua mãe os observava do banco, uma bolsa térmica repleta de lanches ao lado, enquanto conversava com a mãe de um dos seus amiguinhos. Ora ou outra ela os repreendia, pedia que tomassem cuidado e não saíssem de suas vistas, ou apenas perguntava se não estavam com fome.

Apesar de dolorosa, era boa a sensação de ser cuidado por alguém, de saber que uma pessoa daria sua própria vida por você, o sentimento caloroso de se sentir amado. Hugo não lembrava o que era isso há três anos, desde que o destino resolvera ser cruel mais uma vez com o jovem carente e alertá-lo que pessoas como ele vieram ao mundo para batalhar e fazer por merecer. Ele provara o mérito ao tomar frente na criação do sobrinho e acalmar o coração preocupado e doente da falecida mãe, que poderia fazer a travessia em paz sabendo que o único netinho estaria em boas mãos. Esse não era o único pedido da falecida Suzana; queria que a filha tomasse jeito na vida e o filho se tornasse um homem bem-sucedido, não só no quesito financeiro quanto amoroso. Minha mãe fizera pedidos demais, Hugo pensava, talvez até impossíveis de se realizarem.

Olhou o relógio de pulso e percebeu que eram quase dez horas da manhã. Precisava preparar um almoço rápido para o sobrinho e deixá-lo na casa da irmã logo depois. Guga costumava passar a semana na casa de Helena e os fins de semana com ele, mas vez ou outra se deparava com o garoto largado na sua porta ou até mesmo sozinho no apartamento da mãe.

— Hora de ir, campeão — o moreno disse assim que se aproximou de onde o menino estava. O corpo alto e esguio sombreou o castelinho de areia que as crianças se empenharam para colocar de pé. — Passamos duas horas aqui, chega por hoje.

Guga nem tentou fazer birra, já que sabia que com o tio não tinha vez. Ao invés disso, apanhou seu balde de areia e a pá e despediu-se dos novos amigos. Hugo ficou satisfeito com a desenvoltura do garoto e soube que um dos meninos com quem o sobrinho brincava morava no mesmo prédio que eles, pois conversara com o pai da criança ainda há pouco. Seria bom fazer amizade com os novos vizinhos, nunca sabia quando precisaria de algum deles, como aconteceu com a ruiva.

— Você está parecendo o homem areia — Hugo comentou sorrindo e bateu de leve no short de Guga para tirar boa parte da sujeira do corpo do garoto. — Estica a mão para lavar. — Ele abriu a garrafinha de água que tinha trazido e despejou o líquido nas mãozinhas pegajosas do menino.

— Quero pipoca doce, papa.

— Tava demorando...

Mesmo a contragosto ele atendeu ao pedido do sobrinho. Não era sempre que podiam fazer esse tipo de passeio, pois Hugo estava ocupado com algum trabalho da faculdade, um caso do estágio ou mesmo na escrita do seu livro. Era difícil conciliar seu tempo durante a semana agitada e ainda dar conta do lazer. Ultimamente, suas diversões se resumiam a atividades com o sobrinho, mal tinha tempo para ele mesmo e isso era preocupante.

Enquanto guiava Guga para que se mantivesse na calçada, ele notou a garota ruiva vir em sua direção. Nina ainda não tinha o visto e, pelo jeito, nem perceberia com a cabeça baixa fitando algo no visor do celular. Mais uma vez se surpreendeu por não encontrar um Iphone ou até mesmo uma capa cheia de bichos ou flores, mas a essa altura do campeonato deveria saber que Nina não era nada do que ele achava que fosse. O sobrinho mesmo distraído com a pipoca nas mãos ia chamar à ruiva, mas o tio foi mais rápido e fez sinal para que ficasse em silêncio. O moreno lançou um sorriso cúmplice para o garotinho e mudou o lado que caminhava, de modo que a garota se esbarrasse nele no último segundo.

— Oh, me desculpe! — Nina disse rápido sem se dar conta da situação.

Tudo que sentiu foi o impacto do próprio corpo contra a rocha dura de músculos que cheirava a sabonete e homem. Seu rosto oval batia abaixo do pescoço do estranho, o que a fez erguê-lo para fitar o estrago que tinha acabado de fazer. Entretanto, o som doce de uma risada infantil chamou-lhe a atenção para a criança ao lado do rapaz. A cabeleira branca irreconhecível.

— É assim que um Paulista é furtado a cada minuto em São Paulo. São 56 assaltos por hora, sabia?

Nina desviou os olhos do garotinho e fitou o dono da voz grossa. Ela se arrependeu na mesma hora por corar e ter feito papel de idiota na frente dele. Afastou-se de imediato quando percebeu que mãos quentes circulavam seus braços para que mantivesse o equilíbrio.

— Obrigada pela aula prática. Você com certeza acabou de salvar essa sucata ambulante — referiu-se impaciente ao modelo antigo de seu celular, tentando desviar da muralha que era o corpo daquele homem.

Hugo soltou uma risada rouca que fez Nina se sentir desconfortável. Novamente, a sensação dele estar sendo simpático com ela apenas por ter olhado seu sobrinho a incomodou. Foi então que se lembrou do garotinho e percebeu que ele comia um saco enorme de pipoca doce e assim que notou o olhar da ruiva, abriu um sorriso cheio de casquinha de milho nos dentes miúdos.

— Oi, garotinho — cumprimentou-o simpática, bagunçando a cabeleira loira. Desde quando interagia com crianças, ela não sabia. — A pipoca tá tão boa que nem oferece, né? — Em resposta, Guga estendeu o saco de pipoca um tanto babado. — Estou só brincando com você, que rapaz educado!

Hugo aproveitou a distração da ruiva para dar uma sondada na moça. Talvez fosse sair com o namorado mauricinho que iria buscá-la de carro na praça ou teria uma tarde com as amigas fúteis. Não pôde evitar quando a imagem da garota chorando no cemitério invadiu sua mente, não fazia ideia onde àquela memória poderia se encaixar na vida da ruiva. Tinha que admitir que ela estivesse agradável naquele vestido de verão que mostrava boa parte das pernas longas.

— Você vai brincar comigo hoje, tia Nina? — Guga perguntou de repente, o que pegou os dois adultos de surpresa.

— Nina está ocupada e você também, ou se esqueceu de que vai pra um aniversário com sua mãe daqui a pouco? — Hugo contornou a situação, sem graça com a pergunta do garoto. Não passou despercebido o uso do seu apelido por uma pessoa que de íntima, ela não tinha nada.

— E outro dia?

— Guga!

— Vou adorar — Nina se intrometeu, sem saber por que tinha acabado de fazer isso. Ela devia se manter longe do advogado, não dando corda para seu sobrinho de três anos. Tudo o que não precisava no momento era virar babá. — Agora preciso mesmo ir — emendou depressa, rezando para não ver os dois tão cedo. Seria bom demais para ser verdade. — Até mais.

Os dois deram passagem para que Nina fosse embora e seguiram caminho até o prédio. Hugo deixou que Guga assistisse desenho na sala e preparou um arroz com frango grelhado e salada. Não chegava a ser um péssimo cozinheiro, aprendeu coisa ou outra que evitaria ambos de passar fome. Depois de tudo feito, ajudou o sobrinho a comer, deu banho no garoto e o deixou sentado no sofá, devidamente pronto para a festa. Enquanto ele mesmo almoçava, a campainha tocou. Helena.

— Cadê meu garotinho? — indagou, passando pela porta aberta. O salto alto e extremamente fino só faltava perfurar o piso do pequeno apartamento.

— Está assistindo TV.

— Como não adivinhei com a altura dessa televisão — revirou os olhos e retirou um espelho da bolsa, limpando uma mancha de batom no queixo.

Antes que seguisse até a sala, Hugo segurou seu braço com força.

— Sei qual é seu joguinho sujo por trás desse passeio e não estou nem aí, desde que nada de ruim aconteça com o Guga.

— Você não consegue falar comigo sem me machucar? — retorceu a boca. — Quando foi que deixei algo de ruim acontecer com essa criança?

— Pura sorte ou proteção divina.

Helena soltou-se do aperto do irmão e resolveu buscar o filho antes que escutasse mais um dos sermões monótonos de Hugo, como se já não tivesse gravado na memória cada lição de moral dada por ele. Pela primeira vez na vida, o filho bastardo iria servi-la para algo, só esperava que o fedelho não estragasse tudo e fosse o bom garoto que fingia ser na presença do irmão. Para um garotinho de três anos, ele era realmente esperto; sabia para quem deveria abrir os dentes e para quem deveria morder.

Um grito fino e ensurdecedor a fez cobrir os ouvidos e amaldiçoar toda a geração daquela criança maligna. A bela morena vestiu o papel de mãe e retirou da bolsa uma caixa embalada. Guga estava sentado no sofá, a miniatura do safado do pai a quem desejou no âmago nunca ter conhecido. Se havia uma pessoa que só trouxera desgraça à sua vida, esse alguém era aquele homem maldito. Isso apenas atenuava o fato de que toda vez que olhava o filho, lembranças odiosas surgiam em sua mente, atormentando-a e torturando-a, seu inferno pessoal.

— A mamãe trouxe uma surpresa.

Guga nem ao menos a olhou. Ela respirou fundo.

— É o carrinho de controle que você viu na TV e pediu ao titio. Não quer ver?

Hugo observava a cena, enojado, os braços cruzados no peito. A irmã era mesmo uma figura patética e digna de pena. O sobrinho iria continuar com a birra e Helena não faria nada imprudente sob as vistas dele, então achou melhor agilizar o processo para que pudesse dar conta de seus afazeres e poupar o estresse de ambas as partes.

— Vamos, Guga. Você não queria o brinquedo? Ontem mesmo estava até comentando sobre ele.

A sala caiu no silêncio, exceto pelo barulho da televisão ligada. Guga enfim desviou os olhos da tela, mas ao invés da mãe, os orbes azuis fixaram-se no tio que o fitava atento. Hugo franziu o cenho com a forma intensa que o sobrinho o olhava, parecia querer dizer mais que demonstrava, o que fez seu estômago retorcer em uma sensação ruim. Uma criança de três anos não deveria ter um semblante tão carregado, ainda mais seu garoto sorridente a quem tanto amava.

Guga, enfim, deslizou do sofá e se pôs de pé.

Naquele momento, seu tio soube que ele iria não pelo brinquedo, mas pela obrigação que girava ao seu redor. Hugo encarou a irmã que levava um sorriso falso no belo rosto anguloso. Helena abraçou o filho sem se dar conta do que se passava na sala, e Guga continuou encarando-o com o mesmo olhar sobre o ombro da mãe.

Algo acontecia ali, e o advogado temia descobrir o quê.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo quentinho nessa sexta-feira chuvosa da minha cidade. Muito obrigada a todos que estão comentando e adicionando CdoV nos seus acompanhamentos e favoritos, se puderem divulgar para azamigas, vou amar também. s2 E essa treta do Guga, Hugo e Helena? Quais são os segredos que essa família desestruturada (como diria dona-Silvia-língua-de-cobra) esconde da gente?
No tumblr oficial do livro, tem a playlist completa (e totalmente brazuca), assim como spoilers e uma caixa de mensagem para vocês baterem um papo legal com a autora que vos fala (euzinha). Aqui o link caso esteja interessado (a) em me mandar um oi: http://cantigadeoutroverao.tumblr.com/.

Semana que vem tem mais #Hugo&Nina! õ/

Beijão!!!