Cantiga de outro Verão escrita por DezzaRc, A Little Dreamer


Capítulo 5
Piedade


Notas iniciais do capítulo

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Música do capítulo: Deixa o Barco Ir - Dani Black



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Nina estava terminando de mexer o macarrão que fazia para ela e a mãe comer. Como prometido, Dona Graça viera lhe visitar essa semana, e mais uma vez vinha com a ladainha da filha desistir de tudo e voltar para casa. Nina, como sempre, se manteve calada. Só ela sabia o quão difícil foi dar aquele passo, e não voltaria atrás de jeito algum. Sua mãe não sofria tanto pela morte do pai quanto ela, sabia que boa parte de sua vontade de tê-la ao seu lado era puro egoísmo da parte dela. Se Nina não seguisse a própria vida agora, talvez nunca o fizesse.

Ela terminou de preparar a refeição, o cheiro do molho de tomate inundando a sala. Nina pediu licença à mãe e foi ao quarto resolver algumas coisas antes do almoço, enquanto Dona Graça permaneceu na sala assistindo ao jornal do meio-dia. Ela aproveitou para checar os emails e notou que recebera um novo comentário na sua última matéria para o Litera. Não pôde conter o sorriso com o que leu. A ruiva gostava de receber críticas construtivas para melhorar o trabalho, achava cruel quem lhe mandava ofensas sem nenhum fundamento, mas nada substituía a satisfação de ler um comentário positivo de algum leitor amável. Os dois não passavam de estranhos, mas, por alguns segundos, eles pareciam conectados por um pensamento comum: a concordância mútua de ideias.

Nina teve uma tarde de sábado agradável com a mãe. Elas almoçaram e jogaram conversa fora. Fazia tempo que não se divertiam daquela forma, talvez desde antes da tragédia que levou seu pai embora. Nina se sentiu grata pela mãe não ter tocado no assunto, pois ainda era uma ferida aberta em seu peito que sangrava constantemente.

Dona Graça perguntou pelo livro da filha, que apenas desconversou e disse que estava tudo bem. Assunto amoroso era algo que ela preferia não tratar com a mãe, nunca tiveram intimidade para tal assunto. Nem sabia como reagiria quando sua mãe lesse uma história sua. Podia até ser besteira, pois várias pessoas liam constantemente seus textos e até alguns contos que ela arriscava postar na internet, mas a opinião de pessoas conhecidas a fazia ficar nervosa. Era como se Nina tentasse ser alguém que não era e isso a incriminasse de alguma forma. Ela teria que superar os medos bobos se queria mesmo ser escritora, era de navegar na vida de pessoas que nunca poderia ser que ela viveria. E os personagens nem sempre seriam bons moços e evitariam os tabus da sociedade.

As duas também tiveram que enfrentar uma tarde de músicas fúnebres do apartamento de cima, como todas as tardes em que ela precisava passar por aquilo. Dona Graça disse que a filha deveria ir reclamar com o síndico, mas depois que Nina explicou a história dele, sua mãe ficou sentida e até com pena do velho homem. Afinal, cada um tinha sua maneira de lidar com o luto.

Pouco depois das cinco, ela resolvera ir embora.

— Seu aniversário está chegando, Nina — comentou, enquanto colocava a bolsa no ombro. — Eu estarei aqui e chamarei seus amigos. Nada de se fechar para o mundo, você precisa viver.

— Mãe...

— Nada de “mãe”, mocinha. Eu entendo seu luto, mas se você não der um passo para superá-lo, irá viver com essa coisa corroendo seu peito pelo resto da vida. Seu pai não iria querer vê-la nesse estado zumbi. Reaja!

Nina coçou a cabeça, incomodada com a invasão da mãe em sua vida. Ela sabia que não fazia por mal, mas preferia passar por aquilo sozinha, exclusa no próprio mundo. Entretanto, do jeito que conhecia a mãe, devia se preparar para o próximo dia 20, pois sua casa estaria cheia, querendo ou não.

— Sem estardalhaços, por favor.

Dona Graça sorriu e abraçou a filha carinhosamente. Ela sabia que os filhos eram criados para o mundo, ela própria precisou dar um passo além e deixar os pais para se mudar para um estado desconhecido em busca de uma nova vida, e foi assim que se firmou e se tornou quem era. Porém, era difícil quando os papéis eram invertidos e se estava no lugar dos pais vendo os filhos irem embora. Enquanto para os filhos aquela era uma experiência libertadora e divertida, para os pais era como se perdessem uma parte de si que jamais recuperariam.

Quando Nina abriu a porta, levou um grande susto ao se deparar com Guga sentado à porta do apartamento de Hugo, uma mochila pequena nas costas e um carro de corrida ao qual brincava nas mãos. Ele estava sozinho e não parecia incomodado com aquele fato, pois brincava sem se dar conta do que acontecia ao seu redor.

— Que criança adorável! Quem é, Nina? — Dona Graça sorriu ao ver a figura loira em sua frente. Sonhava em ter o próprio neto nos braços em breve, mas se dependesse da filha, aquilo talvez nunca acontecesse. Nina não tinha nenhum instinto materno, para seu desagrado.

— Filho do vizinho — respondeu nervosa, sentindo-se desconfortável. — Ele deve estar por perto.

— É uma graça o filho dele, os pais devem ser muito bonitos.

Nina queria que a mãe entrasse logo no elevador e ela voltasse para o refúgio de casa antes que Hugo retornasse de não-sei-onde. Ela não queria se deparar com aquela figura intimidadora novamente, portanto, iria evitar ao máximo o contato entre os dois e rezar para que ele desistisse da oficina. A ruiva chamou o elevador ao mesmo tempo em que Guga levantou a cabeça e lançou um de seus sorrisos radiante para as duas. Se possível, Dona Graça se derreteu mais ainda aos encantos do menino.

— Você é uma gracinha! — elogiou com a voz doce e o olhar abobado para a criança. — Cadê o papai?

Para a felicidade de Nina, o elevador chegou e, por alguns segundos, ela ficou temerosa em encontrar Hugo dentro dele. Mas suas suspeitas esvaíram-se quando a caixa abriu e não havia ninguém. Ela colocou a mão na porta para que esta não se fechasse.

— O elevador chegou, mãe.

— Tchau, coisa linda! — Dona Graça se despediu do garotinho com um aceno, que apenas sorria para as duas, sem nada dizer. — Tchau, filha. Dia 20 estou de volta, não se esqueça.

Com um beijo no rosto de Nina, ela finalmente entrou no elevador e partiu. Nina fitou um Guga ainda sorridente e se perguntou se ele não tinha aprendido a falar. Com três anos isso era preocupante. Ela continuou o observando, sem saber o que fazer. Por que raios a criança estava ali sozinha?

— Onde está o papai? — repetiu a pergunta da mãe, achando-se forçada por se dirigir a uma criança com palavras meigas. Ela nem ao menos sabia ser agradável com alguém.

— Saiu — a criança respondeu com a voz dengosa, o que fez Nina se sentir aliviada por ele saber falar. Guga devia ser a cópia fiel da mãe, pois com o pai em nada se parecia.

— E a mamãe? — continuou, segurando a porta do próprio apartamento.

— Saiu.

Nina respirou fundo, tentando ficar calma.

— E eles te deixaram aí sozinho?

Guga voltou a brincar com o carrinho no chão.

— Mamãe disse pra eu esperar o papa quietinho, senão eu ia apanhar.

A ruiva o encarou com os olhos arregalados. Guga imitava os sons costumeiros de carros se movendo, o “vrum-vrum”, e ela apenas o olhava, estarrecida. Será que isso era comum? Os dois pareciam serem separados, isso explicava o fato de Guga estar aparentemente indo visitar o pai. Nina rapidamente se lembrou da ligação que tinha escutado do vizinho com uma mulher chamada Lúcia. Helena, a mãe do garoto, era a pior mãe do mundo, e agora Nina provou um pouco do veneno dela e concordou de imediato. Seu vizinho não era de fato um completo cafajeste, pois não estava traindo a mulher, como achava, uma vez que eram divorciados. Apesar disso, a imagem daquele homem continuava suja em sua mente.

— Seu papai vai demorar pra chegar? — Nina indagou, preocupada em deixá-lo sozinho ali no meio do corredor.

Num sei.

Ela suspirou cansada e esfregou os olhos. Não iria se perdoar se o deixasse ali só. Mesmo que não gostasse de crianças, jamais maltrataria uma, nem ficaria calada ao ver alguma ser destratada. Algo a dizia que havia muito mais por trás daquela família problemática e ela não estava nem um pouco interessada em escavar os segredos sórdidos dela.

— Você gosta de chocolate?

Ele levantou os olhos azul piscina e balançou a cabeça, contente.

— Venha aqui então, você pode assistir enquanto come.

Guga levantou sem pestanejar e Nina se sentiu angustiada pela aceitação rápida do garoto a ela. Por que seria diferente? Ele devia ter uns três anos, não fazia ideia das maldades do mundo. Para uma criança inocente, todos eram bons, e mais uma vez se sentiu aliviada por ter sido ela a primeira pessoa a encontrá-lo ali.

A ruiva tirou a mochila das costas dele e pediu para que se sentisse à vontade no sofá. Até tirou o tênis do garoto e ele pediu para tirar a camisa, porque estava calor. Ela o fez, achando a situação engraçada. Seus amigos com certeza iriam fazer piada com sua cara se soubessem disso.

— O que você gosta de assistir?

Nina pegou o controle remoto e ligou a TV de plasma.

— Bob Esponja — Guga respondeu sentado no sofá, as pernas curtas cruzadas uma na outra, enquanto apoiava o cotovelo no braço do estofado. Ele realmente levou a sério quando ela disse para se sentir em casa.

— Hoje é seu dia de sorte, então. — Nina ficou aliviada pelo desenho estar passando naquele horário. — Vou buscar seu lanche.

— Aumenta o volume — pediu um pouco tímido.

Nina achou o pedido estranho, pois o volume já estava a uma altura considerável, mas não comentou nada e apenas fez o que o menino pediu. A ruiva seguiu até a pequena cozinha que era mais um corredor que tudo e pegou um prato no armário, despejando alguns bicoitos recheados dentro, um pedaço de chocolate e encheu um copo de suco de acerola para ele. Será que Hugo demoraria muito para voltar? Ele sabia que o garoto o aguardava? Preocupada, ela resolveu ligar para Hugo, mesmo a contragosto. Iria pegar o número do celular dele na ficha de alunos do curso. Pior que falar com o prepotente era fazer algo de errado com a criança e depois ser responsabilizada.

Guga ficou animado com o lanche e Nina achou a coisa mais fofa do mundo quando ele disse “obrigado” para ela. Nesse quesito, era mesmo uma criança bem educada. Não puxara ao pai, no entanto, para sorte do garotinho. Ela sentou ao lado dele com o notebook no colo e abriu a pasta de alunos do workshop no gerenciamento do site do curso. Não demorou muito até que encontrasse a ficha de Hugo e leu por cima suas informações. Estudante, estagiário em um fórum, tinha 25 anos, três a mais que ela, e estava solteiro. Ela pegou o celular e digitou o número dele, incerta. O que iria falar? “Olá, seu filho está em minha casa. Quando você volta?”. No mínimo, ele acharia que o pobre Guga tinha sido sequestrado.

Ela observou a criança que comia em silêncio ao seu lado. Diferente dos outros garotos de três anos que ela tinha conhecido, assim Nina achava que ele tivesse, esse era estranhamente quieto. A ruiva estava acostumada com os pestinhas da vida, não sabia lidar com a espécie “civilizada”. Mas algo a incomodou no comportamento reservado dele, apesar do sorriso estampado constantemente no rosto gorducho. Ele parecia ser uma criança traumatizada com algo, e ela não estaria nem um pouco surpresa se fosse, com os pais que tinha.

Respirando fundo, completou a ligação e esperou que Hugo atendesse.

♦♦♦

Aos sábados, Hugo dava aulas de história de forma voluntária em um cursinho preparatório do antigo bairro que morava e, em troca, Guga tinha bolsa para uma escolinha perto de lá. Ele tinha sorte de ter passado em uma universidade federal e todo dinheiro que ganhava usava para sustentá-lo e ajudar o sobrinho. Mal conseguiam se manter dessa forma, embora o dinheiro do estágio fosse acima da média da maioria graças a um concurso, mas ele tinha esperanças de que as coisas melhorariam quando se formasse.

Naquele momento, tinha acabado de explicar sobre a Ditadura Militar e esperava os alunos copiarem a matéria, quando seu celular vibrou na mesa. Hugo observou o número desconhecido na tela, mas não atendeu em respeito aos alunos.

Uma garota negra e baixinha o chamou no fundo da sala para tirar dúvida e ele foi ajudá-la. Em geral, gostava daquela turma pela maioria dos alunos serem esforçados e saberem o que queriam da vida. Grande parte deles era da própria comunidade carente, e todos desejavam desesperadamente mudar de vida, assim como Hugo pôde fazer com a dele um dia.

Ao retornar para seu lugar, o celular tinha três chamadas perdidas e uma mensagem de texto. Hugo rapidamente abriu o conteúdo e quase caiu da cadeira com a assinatura do remetente.

Marina, sua vizinha.

Ele rapidamente pediu licença à turma e saiu para atender uma das ligações mais sem sentido da sua vida. O que a ruiva queria com ele, afinal?

— Alô? — disse a voz feminina, incerta, do outro lado da linha.

— Marina?! — Hugo achou a pronúncia do nome dela estranha em sua língua. Era a primeira vez que o dizia em voz alta.

— Hã... Oi, Hugo — Nina pigarreou. — É que seu filho estava sentado sozinho do lado de fora do seu apartamento, e eu queria saber que horas você vai voltar para casa. Eu o trouxe para dentro, mas como nunca cuidei de uma criança, não sei bem o que fazer e...

— Meu Deus... — foi a única coisa que conseguiu falar, interrompendo o vômito nervoso de palavras da ruiva. Não podia acreditar que Helena tinha feito aquilo novamente, e na mesma semana.

— Ele está aqui em casa assistindo TV, está tudo bem... por enquanto.

Hugo fitou o relógio de pulso, faltava pouco menos de uma hora para o fim da última aula e então poderia ir embora. Mas isso implicava deixar o sobrinho na mão de uma estranha até que chegasse. Entre ficar sozinho no corredor e ficar na casa da vizinha desconhecida, Hugo realmente preferia a segunda opção, apesar de estar com o coração na mão.

— Me desculpe, Marina — lamentou-se, desesperado. — Não sei o que Helena tem na cabeça, eu... — passou a mão no rosto, nervoso. — Olhe, você pode ficar com o Guga por mais uma hora? É apenas isso que te peço, por favor! Sei que nem nos conhecemos e... — Ele pensou na desavença entre os dois, mas achou melhor deixar quieto aquele fato. — Se você não puder, eu entendo, dou um jeito de sair agora mesmo.

Nina fitou o garoto que parecia mesmo entretido no desenho, sem nenhum sinal de rebeldia nem que iria aprontar. Talvez não fosse um grande desafio assim olhá-lo por mais alguns minutos.

— Tudo bem. Liguei mesmo porque suspeitei que você não soubesse que ele estava aqui sozinho. Guga avisou que os pais tinham saído.

— Queria muito dizer que essa é a primeira vez que isso acontece, mas infelizmente não é. Tenho que voltar para a aula agora, depois te explico tudo — disse exasperado, querendo largar a turma naquele momento e correr para casa. — Obrigado mesmo, Marina.

Hugo ainda passou algum tempo fitando o celular na mão. Era engraçado como o mundo dava voltas. Até poucas horas atrás, estava julgando aquela garota que pouco conhecia, mas que muito tinha a lhe dizer. Agora, a pessoa mais importante de sua vida estava sob os cuidados da ruiva e ele a devia um grande favor por não deixar o menino a mínguo do lado de fora do apartamento dele. A verdade era que Hugo sempre esperava o pior do ser humano. Era difícil acreditar que alguém valesse a pena nesse mundo movido por interesses próprios e mesquinhos.

Ele voltou para a aula e rezou para que os minutos corressem.

♦♦♦

Nina não queria admitir, mas estava se divertindo com o pequeno Guga. Ele era mesmo um amor de menino; educado, curioso e sorridente. O melhor de tudo foi que não dera nenhum trabalho e ainda demonstrou bastante interesse quando ela lhe mostrou um livro de história com figuras coloridas e começou a ler para ele. Aquele garoto, com certeza, tinha respeito aos livros. Fazia quanto tempo que ela não ria verdadeiramente para alguém? Guga era mesmo uma criança especial.

A campainha tocou e ela o deixou rabiscando um desenho. Seu coração deu saltos quando se deparou com um Hugo preocupado encostado no portal da sua porta. Seus olhos escuros estavam fundos, como se ele não tivesse dormido, parecia cansado e abatido. Ela observou os cabelos desarrumados, com certeza ele tinha revirado os fios várias vezes durante o dia. Talvez fosse uma mania sua, daquelas de quando se estava nervoso. Nenhum dos dois esboçou a sombra de um sorriso e a situação era no mínimo cômica.

Hugo a analisou da cabeça aos pés, e notou que a ruiva estava descalça e vestia um short curto até demais, o que lhe dava visão privilegiada de suas pernas longas e brancas. Não seria hipócrita em dizer que aquela imagem não o agradava, pois seria uma mentira deslavada. Ainda que fosse uma patricinha mimada, era uma belíssima mulher.

— Oi, Marina — cumprimentou-a, tímido. — Vim buscar o Guga.

Nina ponderou se o convidava ou não para entrar.

— Ele está desenhando na sala. — Ela resolveu dar espaço, um convite mudo para que ele entrasse e, depois de laçar-lhe um olhar grato, Hugo passou pela ruiva e sorriu ao ver o pequeno entretido com vários lápis de cor. — Ele lanchou, assistiu TV, li para ele e agora está aí desenhando.

Guga levantou os olhos e deu um gritinho animado ao se deparar com o tio. O garoto desceu rápido da cadeira de forma desengonçada e correu para os braços de Hugo, que o levantou no ar e o apertou com força contra o peito. Nina assistia a cena encantada e estupefata. Como um cara grosso poderia ser tão carinhoso?

— Hora de irmos, campeão. Onde está sua camisa e seu sapato? Não pode ver uma garota bonita e já está tirando as roupas? Vamos com calma, amiguinho.

Hugo colocou o sobrinho no chão para que pegasse suas coisas. Nina apenas corou com o elogio do rapaz encabulado no meio de sua sala, que fitava o lugar com interesse.

— Venha que te ajudo — Nina disse, pegando a camisa do pequeno e o ajudando a se vestir.

Hugo analisou seus gestos e ficou surpreso com a naturalidade deles. Ela não parecia estar fingindo a atenção que dava ao garoto, e Guga estava realmente animado com a presença dela. Ele também achou que entrar no apartamento de uma garota mimada era o mesmo que mergulhar em um balde de tinta rosa e tons berrantes, além da decoração excessiva e repleta de figuras infantis. Hugo ficou confuso ao entrar em um lugar extremamente impessoal e frio. Nem parecia que uma garota vivia ali. O ambiente era simplesmente morto, o que o deixou mais confuso ainda.

— Posso levar o desenho comigo, tia Nina?

A ruiva ajeitou o cabelo estilo tigela do garoto e sorriu para ele. Hugo achou engraçada a forma que o sobrinho se dirigiu a garota ruiva. Quanta intimidade.

— Claro que sim, ele é seu.

Ela pegou a mochila do garoto pendurada na cadeira e entregou para Hugo. Ele sentia que lhe devia algumas explicações, enquanto Nina apenas desejava que ele saísse o mais rápido do apartamento, pois estava se sentindo claustrofóbica ao dividir o mesmo teto com aquele homem cuja presença a intimidava.

— Vamos, Guga. Se despeça da vizinha e agradeça por ela ter cuidado de você esta tarde — Hugo disse autoritário, mas ao menos tempo atencioso. Guga correu para Nina, que o recebeu com um abraço caloroso e um beijo no topo da cabeça.

— Obrigado, tia Nina!

O garoto correu para a porta e Hugo o seguiu. Nina abriu para que a criança passasse, mas o tio, no entanto, parou na soleira, muito próximo a garota ruiva, que se sentiu incomodada com a proximidade do rapaz.

— Nem sei como lhe agradecer — ele fitou o sobrinho, que estava entretido brincando com o carrinho de corrida na parede. — A mãe do Guga é uma desmiolada que não pensa nas coisas que faz.

— Você devia pedir a guarda dele na justiça, tem direito como pai.

Hugo a fitou, confuso, mas logo depois se deu conta de que não tinha como ela saber a verdade.

— Sou tio do Guga, não pai. Acredite, se eu pudesse já teria feito isso há muito tempo. Mas infelizmente preciso da ajuda da minha irmã.

Nina disfarçou a surpresa com a informação obtida e se sentiu estranhamente aliviada. Mais do que nunca, ela desejou virar e bater a porta na cara dele. Hugo ainda permanecia no meio da soleira e ela estava apoiada na maçaneta, impaciente. Não queria que ele fosse educado com ela apenas por ter olhado o sobrinho dele. Ele deveria tê-la tratado bem desde o segundo em que seus olhos se encontraram. Esse tipo de gratidão Nina dispensava.

— É mesmo uma situação complicada — comentou, girando o corpo para dentro do apartamento, dando fim a conversa. — Até mais, Hugo.

A ruiva não esperou que o moreno respondesse e bateu a porta atrás de si. Hugo, ainda anestesiado pelo momento, ficou algum tempo fitando a madeira, pensativo. Não podia negar que ele merecera tal tratamento dela. Ele saiu de seus devaneios quando Guga o chamou de seu apartamento.

Nina, realmente, era uma caixa funda de surpresas.


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Notas finais do capítulo

Hey, você! Postei mais cedo porque vou viajar amanhã e não teria como postar por lá. Quem aí acha o Guga um fofinho levanta a mão. õ/ Será que agora a relação entre Nina e Hugo melhora de vez ou a ruivinha vai continuar com um pé atrás? Pelo final aí eu acho que não, hein... Você segue o tumblr oficial da história? Já visitou? Não sabia que existia? Se respondeu “não” para mais de um ou tudo, acho digníssimo você acessar esse link aqui: http://cantigadeoutroverao.tumblr.com/

Obrigada a todos que estão comentando, recomendando e dando votinhos na história. Vocês não sabem o quanto isso me faz feliz. s2 Beijos e até sexta que vem! ;)