E de repente... escrita por Amanda


Capítulo 26
Capítulo vinte e cinco




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No final do dia Hermione já havia esgotado toda a sua reserva de paciência, o trabalho depois das três da tarde parecia não fluir e tudo lhe irritava. Quando terminou o último relatório limitou-se a fechar a pasta colorida, apenas soltou a pena e relaxou o corpo sobre a cadeira.

Quando Theo invadiu sua sala sem cerimônia alguma, não conteve o sorriso singelo, e quando este puxou uma cadeira para sentar-se mais perto simplesmente sentiu vontade de abraça-lo.

— Estou detonado. — Disse. — Como foi sua tarde?

Hermione já havia tirado os sapatos que apertavam seus pés e machucavam os dedos, escolheria algo mais confortável para usar no dia seguinte.

— Foi bastante produtiva. — Suspirou a resposta, cansada. — E a sua?

Theodore, num movimento simples e charmoso, puxou os pés de Hermione para seu colo, e enquanto contava sobre seu dia no trabalho, massageava-a delicadamente. Parecia tão acostumado com aqueles movimentos, que relaxou-a em poucos minutos.

— Acredita que Blás me mandou uma carta pedindo para comprar comida? — Tirou o papel do bolso. — Está passando dos limites!

Hermione riu.

— Podemos passar no supermercado e comprar algumas coisas. — Sugeriu e recebeu um beijo rápido, e no fundo queria continuar por mais algumas horas daquele jeito, mas a porta rangendo foi o sinal para que separarem-se.

— Estou atrapalhando? — Harry colocara a cabeça para dentro da sala, e ajeitou os óculos com um cutucão na armação. — Queria falar com você, se puder...

Hermione lançou um olhar para Theo, que assentiu e despediu-se com um beijo em sua testa. Passou por Harry e acenou com a cabeça, como se concordasse, sugerindo que ambos sabiam o significado daquela conversa.

Assim que a porta se fechou, Harry sentou-se no lugar antes ocupado por Theo.

— Ouvi um auror comentando sobre Alisha. — Harry tinha a expressão de quem já sabia de tudo e Hermione temeu que fosse verdade. Precisava aguentar um pouco mais, ninguém podia saber, nem mesmo e principalmente Harry. Ele continuou: — E acho que você a conhece bem, ela saiu da sua sala esses dias.

— O que está insinuando, Harry?

— Você sabe do que estou falando, é inteligente o suficiente, Hermione. — Apressou-se em dizer. — O que está acontecendo?

Não podia mentir, se Harry já tivesse conversado com Alisha, estaria em maus-lençóis. Omitir. Era uma boa solução e tentaria.

— Ela queria conversar comigo, disse que acordou em um lugar e não se lembrava de ter ido para lá. Apenas isso.

Vamos Harry, concorde e saía dessa sala. Implorava mentalmente, não sustentaria aquilo por muito tempo. Vamos!

E como esperado, Harry concordou, mesmo parecendo insatisfeito com aquela resposta. Deu de ombros e pediu para que qualquer outra informação lhe fosse passada, e saiu antes de Hermione soltar o fôlego que prendia com força. Queria saber o que significava aquele olhar entre ele e Theodore, mas se perguntasse demoraria mais tempo para se ver livre daquela tensão, preferiu ignorar — por ora.

Theodore.

Entrara na sua vida de uma maneira tão rápida e quase imperceptível, sentia-se livre e de uma maneira estranhamente completa, como se ele fosse o último sopro que lhe enchia os pulmões. Necessário.

Fevereiro estava chegando, mais rápido do que gostaria de admitir, e sentia-se atormentada por ter que tomar uma decisão. Theodore havia tomado conta da sua vida, preenchera todo o vazio que sentia e jamais notara, mas sua avó sim.

Marie sempre fora muito perceptiva, e como avó de Hermione, notara rapidamente os talentos da neta. Soube então sobre bruxaria, e ao contrário do que todos pensavam, apenas sorriu e se acusou extremamente orgulhosa. Quando perdeu a filha, ganhou uma nova companheira, mas sempre soube que a neta tinha tanto o coração quanto a cabeça na sua cidade natal. Londres. E sempre que tinha a oportunidade, repetia isso.

— Mérlin! — Bufou e ajustou a bolsa no ombro, calçou os sapatos e caminhou desconfortavelmente para fora da sala. Encontrou Theo conversando com outro rapaz, escorado numa mesa, exalando todo seu charme apenas bagunçando o cabelo com uma das mãos.

— Herms, podemos ir ou...? — Aquele apelido saíra tão natural, que Hermione conseguiu apenas sorrir e balançar a cabeça. Acenando para o rapaz enquanto Theo guiava-a pela cintura até o elevador.

Passaram no supermercado assim que saíram do Ministério, aparatando entre alguns carros no estacionamento. Hermione sorriu e puxou-o pela mão para o interior, onde escolheram um carrinho. Sentira falta de fazer compras para casa.

Nos corredores, analisavam embalagens, e Hermione explicava ao rapaz algumas coisas. Alimentos não bruxos. Na hora de pagar pelas compras, Theodore remexeu-se desconfortável, bagunçando os cabelos como sempre fazia em situações como aquela.

— O que foi? — Hermione perguntou, enquanto ajeitava as embalagens dentro de sacos de papel.

— Herms, eu não tenho dinheiro trouxa. — Sussurrou, colando os lábios no ouvido de Hermione e causando, sem intenção alguma, arrepios.

Por um momento, pareceu estar fora do ar, mas ouviu a senhora que cuidava do caixa pigarreando e sorriu desconcertada. Theodore precisava parar de fazer aquilo.

— Eu pago e você cozinha! — Assim que acertou tudo, agarrou algumas sacolas e saiu ao lado de Theo.

Se não fosse por aquela missão doida que estava lhe tirando o sono, poderia considerar-se sortuda. Estava vivendo plenamente ao lado de Theo e só queria continuar assim. Queria uma vida tranquila e normal. Fazer compras, rir de rótulos engraçados enquanto decidem o que terá para o jantar naquela noite, chegar em casa e deixar os sapatos num canto qualquer e os cachecóis por cima do sofá. E quem sabe derrubar talheres de cima da mesa num súbito momento de amor.

— No que está pensando? — Theo perguntou assim que aparataram em frente a sua casa.

— Nada importante. — Deu de ombros e tropeçou em qualquer calombo escondido sob a neve. Ainda tentou recuperar o equilíbrio, mas caiu, felizmente, seguiu abraçada às compras, deixando-as intactas.

— Mérlin! Você está bem? — Theo correu para ajuda-la, e Hermione que apenas ria, aproveitou o momento para jogar-lhe uma bolinha de neve. E com a perfeita mira que dispunha, acertou-o bem no meio do rosto.

Gargalhava.

— E eu achando que havia se machucado! — Limpou o rosto com a ponta do cachecol e esticou a mão para ajuda-la a levantar.

— Pare de ser chato. — Hermione passou a mão em seu rosto, agora mais rosado do que antes, e beijou-lhe rapidamente. — Divirta-se!

Correu para longe do rapaz, e abaixou-se para capturar mais neve.

— Ora, se é assim que você quer! — Encheu a mão de neve e lançou-a sem rumo, torcendo para que acertasse Hermione já adiantada.

Esqueceram-se por um momento de tudo que acontecia, inclusive das compras jogadas em qualquer lugar. Theo correu atrás de Hermione, mas parou quando a viu segurando uma grande bola de neve, não conseguiria esquivar-se. A garota ria, e parecia ter apenas dezesseis novamente, sorria como uma adolescente que divertia-se com os amigos ao lado do lago negro. Fora por essa Hermione que se apaixonara a primeira vista, aquela garota que não dominava a chave de portal e caiu rolando por metros, mas que no fim sorriu e ajeitou o cabelo.

Distraído pela imagem ficcional, só reparou que tinham companhia quando a bola de neve o acertou com força no ombro.

— O quê?

Draco lançava uma segunda bola de neve para cima e capturava-a rapidamente, tinha o habitual sorriso lateral no rosto e parecia divertir-se com a cena, mas havia uma seriedade sem fundamento que pesava suas sobrancelhas.

— Seus reflexos de auror estão enferrujados. — Comentou e deixou a bola já moldada cair. — Preciso falar com Hermione. Agora!

Theodore encarou-a, a sobrancelha esquerda arqueada parecia intimá-la a contar-lhe tudo, ele queria saber do que se tratava aquilo. Já Draco, tinha uma expressão forte, decidida a passar por cima de tudo para ter uma conversa com Hermione.

Ele sabia.

— Claro. — Hermione limpou a roupa, evitando olhar para Theodore. Sabia que se o olhasse, mesmo que por poucos segundos, contaria todos seus planos.

Assim que entraram Draco puxou-a pelo braço — sem delicadeza alguma — até o escritório. Passaram por Blásio que teria falado qualquer besteira, mas calou-se diante da cena que corria lentamente, Draco Malfoy arrastando Hermione como uma criança que acaba de fazer besteira. Theodore não deixaria aquilo passar, correu atrás, mas a porta se fechou e foi trancada com um feitiço antes que conseguisse pensar em fazer mais alguma coisa.

— Droga! — Passou as mãos pelo cabelo e fez menção de chutar a porta.

— O que aconteceu? — Blásio aproximou-se, não entendia o que estava acontecendo. — Theodore!

— Eu não sei, ele só... Viu a expressão dela? — Hermione parecia assustada, mas não com Draco.

Enquanto isso, Hermione massageava o braço, sabia que ficaria vermelho por um tempo. Draco parecia exaltado, caminhava de um lado para o outro com um animal enjaulado, simplesmente não parecia ele mesmo. Perturbado.

— Draco...

— Onde você está com a cabeça? — Gritou, fazendo-a recuar alguns passos.

— Do que está falando? — Hermione elevou a voz.

— Recebi uma auror ferida. Conhece Alisha? — Hermione sentou-se, não podia ser. — Ela me contou tudo, e sabe o que mais me surpreendeu? Você!

Hermione ainda sentia-se mal pela garota, devia ter contado à Harry, ele conseguiria proteção para Alisha. Mas calou-se por puro egoísmo, para terminar o caso!

— Você não pode estar cogitando ir nesse encontro. É suicídio! — Tornara sua voz calma novamente, ou esforçava-se para assim parecer. — Não seja estúpida!

A porta se abriu com força, e Blásio passou com a varinha na mão. Evidentemente irritado, olhava fixamente para Draco, como se fosse pular em seu pescoço a qualquer momento. Hermione queria intervir, mas Theodore passou correndo a abraçou-a.

— Qual seu problema? — Blásio perguntou para Draco. — Está estressado? Não desconte em nenhum de nós, precisa parar de agir como uma criança mimada.

— Não se meta, Zabini!

— Eu deveria deixar que Theodore o derrubasse por segurar Hermione daquele jeito.

Os olhos de Draco clarearam, voltando ao tom cinza, só estava preocupado com a amiga, mas passara dos limites e sabia disso.

— Machuquei você? — Voltou-se para Hermione que era abraçado por Theodore. A garota negou e sacudiu a cabeça, de certa forma, desculpando-se pelo aperto.

Blásio controlava Draco, sempre o controlou. Nunca cedeu às vontades do Sonserino, e quando necessário, lhe dava as broncas que Lucius nunca se importou em aplicar. Depois da guerra ajudou o amigo, o apoiou e quando achou não ser mais necessário, viajou para começar sua vida. Construir alguma coisa.

— Pense no que eu disse. — Falou para Hermione, que recebeu a mensagem e assentiu. Deu duas batidinhas no ombro de Blásio e empurrou-o para fora. — Vamos beber alguma coisa!

Blás antes de passar pela porta lançou um olhar carinhoso para Hermione, e por um momento parecia Harry. Protetor e preocupado. Depois disso, apenas deixou-se ser abraçado por Theodore, que ao contrário do que imaginava, apenas ficou ali, colado em seu corpo, misturando suas respirações com calma.

Sentia-se suja por mentir, principalmente para Theodore que sempre fora sincero quanto aos sentimentos e seus segredos. Não merecia ser confortada, mas era tudo o que queria agora.

Queria Theo.


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Notas finais do capítulo

Spoiler: péssimas escolhas!
O que estão achando???



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