Ninguém é de Ninguém. escrita por Dark Swan


Capítulo 6
Capítulo 6.


Notas iniciais do capítulo

olaaaaaar, já vi que tem algumas pessoas acompanhando a história e eu queria saber muito o que vocês estão achando e tals.. Aguardo comentários, bjs.



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Robin ficava repetindo pra só que sempre foi honesto, cumpridor de seus deveres, trabalhador. Respeitara todas as regras da sociedade, nunca fizera mal a ninguém. Pelo contrário, sempre que podia ajudava as pessoas. Por que Deus o estaria castigando? E se ele não conseguisse emprego? O que faria da vida? Odiava viver à custa da mulher. Era a humilhação máxima. Enxugou os olhos. A chuva passara. Eram quase cinco horas, e ele precisava buscar as crianças. Fazia isso quando Granny saía para trabalhar. Foi ao banheiro e olhou-se no espelho. Seus olhos estavam vermelhos. Não podia sair assim. Procurou um colírio, pingou-o nos olhos, lavou o rosto, passou até um pouco de pó de arroz de Regina para encobrir o vermelho das pálpebras. Penteou os cabelos e saiu. Quando ele voltou com os filhos, Granny já estava na cozinha.

— Ainda bem que o senhor recolheu a roupa. Eu estava na casa da D. Catherine pensando nesse varal cheio de roupas. Fiquei com medo de que o senhor esquecesse.

Enquanto ela providenciava o jantar, Robin entretinha os filhos. Eram quase sete horas quando Regina chegou. Olhou o rosto do marido e notou logo que ele havia chorado. Ele fingia estar bem, brincava com as crianças. Contudo, podia enganar qualquer um, menos ela. Se ao menos ele melhorasse o humor! Ela chegava cansada, mas não se importava de cuidar do bem-estar da família. O que a incomodava era o ar de vítima do marido.

Ela fazia o que podia, e sentia-se bem por poder colaborar nessa situação difícil. Mas ele sempre estava com um ar de insatisfação. Claro que ela entendia que ele não podia estar feliz com uma situação daquelas. Entretanto, de que adiantaria ele agravar mais as coisas fazendo cara de vítima? Isso a irritava muito. Nunca imaginara que o marido fosse tão frágil. Ele sempre se mostrara auto suficiente, trabalhando no próprio negócio, tomando decisões, parecendo saber sempre o que fazer. Por que mudara tanto? Ser enganado por um malandro pode acontecer a qualquer um, mas entrar na depressão, ficar remoendo o caso, só agravava o problema. Ela até pensava que ele não conseguia emprego por causa disso. Uma colega dissera-lhe que, quando a pessoa está com energia ruim, tudo dá errado.

A energia de Robin estava horrorosa. Ela sentia isso. Não tinha vontade de ficar perto dele. Quando ele se aproximava, chegava até a sentir certa aversão. Por quê? Ela se casara por amor. Achava que amava o marido. Então, o que estava acontecendo com ela? O fato de Robin estar atravessando uma fase ruim não a incomodava. Ele era moço, saudável, tinha a vida toda pela frente. Tendo construído um negócio próprio uma vez, poderia fazer isso de novo. Era só não entrar na lamentação. Mas a cara dele era de tristeza. Ficava constrangido quando ela lhe dava dinheiro. Por que ela podia aceitar dinheiro dele quando ele tinha e ele não podia aceitar o dela, agora que ele precisava?

Mulher prática, Regina não podia compreender por que Robin fazia tanto drama. O clima em casa era pesado, ele estava sempre aborrecido, calado. Quando falava, era sempre para se queixar. Ela estava ficando cansada daquela situação. Afinal, pensava, ninguém é de ferro. Trabalha, trabalha, e em casa não tem nenhuma alegria? Até quando suportaria? Fingiu não perceber e tratou de fazer o jantar enquanto Granny cuidava da roupa. O cesto de passar estava lotado.

Serviu a comida, lavou a louça, viu a lição de Roland. Tomou banho, mandou as crianças dormir. Granny continuava passando roupa.

— Você deve estar cansada. Passe as que vamos precisar e deixe o resto para outro dia.

— Não, senhora. Amanhã aparece mais e eu nunca vou acabar. Não vou poder dormir pensando neste cesto cheio.

— Faça como quiser. Eu vou dormir.

— Se eu deixar o rádio ligado baixinho, não vai incomodar? A música me distrai e nem sinto o tempo passar.

— Não. Para falar a verdade, eu também gostaria de deitar e ficar ouvindo música. Mas Robin anda com o sono difícil. Se eu deixar o rádio ligado, ele não vai conseguir dormir.

— O Sr. Robin anda muito nervoso. Hoje quando eu cheguei ele estava com uma cara... Para mim foi conversa da D. Cora. Quando eu virei a esquina, vi que ela estava saindo.

— Tem certeza de que era ela mesma?

— Tenho.

Regina suspirou. Então era isso. Ela com certeza fizera Robin sentir-se mais atormentado do que o costume. Se ao menos ela os deixasse em paz! — Infelizmente, não posso fazer nada. Não quero me meter no relacionamento deles. Evito o quanto posso envolver-me com ela.

— Eu garanto que ela tirou o Sr. Robin do sério. Ele já anda tão triste com a situação...

— Tristeza não resolve. O que ele precisa é tomar uma atitude mais séria.

— Ele tem se esforçado, D. Regina. É que a situação anda difícil. Cada dia que passa tem mais gente desempregada.

— Ainda bem que você é minha amiga e tem me ajudado. Estou anotando o que devo para você, e assim que as coisas melhorarem pagarei tudo. Não sei o que faria sem seu apoio.

— Eu me sinto bem aqui. Enquanto me quiser, ficarei.

— Por mim você fica o resto da vida.

— Se não fosse o dinheiro que preciso mandar para minha mãe todo mês, eu nem ia trabalhar fora. Não gosto de ver a senhora chegar cansada e ainda ter que trabalhar tanto em casa.

— Você é uma moça tão prestimosa, tão boa. De repente aparece alguém e você acaba casando, nos deixando.

— Isso não vai acontecer, não. Já dei muita cabeçada na vida. Gosto de namorar, arranjo distração, mas nunca mais quero morar com homem nenhum. Chega o que já passei. Comi o pão que o diabo amassou. Regina sorriu.

Granny era objetiva e direta. Não se deixava levar por ninguém. Era uma mulher forte, prática, sabia o que queria.

— Você pode se apaixonar de novo! - Falou Regina.

— Apaixonar até que é bom! Não tenho nada contra, não. Mas morar junto é que não. No amor eu quero a melhor parte, que é o namoro, quando tudo é bonito, gostoso. Juntou as camas, pronto: começa a confusão. Já tenho quarenta anos, sou solteira, livre. Enquanto o namoro está bom, eu fico; quando começa a azedar, eu puxo o carro.

— Se você fosse casada, se tivesse filhos, não faria isso.

— Faria, sim. Filho meu, se fosse pequeno, levaria comigo; se fosse crescido; ia ter que escolher de que lado ia ficar. Não tem papel no mundo que me faça ficar amarrada a uma pessoa que está me incomodando.

— Você é corajosa.

— Sou. Enfrento o que vier na vida. Tenho disposição. Quando eu larguei do Joseph e vim trabalhar aqui, eu estava um lixo. Magra, acabada, cansada, desiludida, de tantas que ele me fez. Eu jurei que nunca mais homem nenhum iria fazer isso comigo de novo. E não faz mesmo. Eu amava muito o Gilberto, moreno, bonitão, dançava que era um gosto. Quando eu ia com ele no salão, as outras ficavam com olho comprido que a senhora tinha que ver. Mas, quando percebi que ele estava me fazendo de boba com a Kristin, dei a volta por cima. Despachei o Gilberto na hora.

— Mas você não gostava mais dele?

— Eu amava muito. No começo sofri como um cão. Victoria me disse que eu era boba, que ia deixar ele livre para ficar com a Kristin. Que eu deveria segurar ele de qualquer jeito. Mas eu não ouvi mesmo. Fiz o que eu queria. Mas aí aconteceu uma coisa engraçada. Ele, que já andava cheio de dedos comigo, arranjando desculpas para não sair, mudou. Nunca mais quis ver a Kristin. Ficou atrás de mim, não dava sossego, olha, até me incomodou.

— Então você o perdoou.

— Que nada! Quando aconteceu isso, enjoei dele. A paixão acabou. Ele não se conforma até hoje. Quando passo com o Charles, ele fica olhando, com aquele olho comprido... Eu faço de conta que nem percebo. O Charles sabe que nós já namoramos e fica nervoso quando vê ele. Regina riu.

— Todas as mulheres deveriam aprender com você. Você gosta mesmo do Charles? Não está com ele só para fazer ciúme a Gilberto?

— Não. Eu gosto mesmo do Charles. Ele me compreende e sabe namorar como ninguém. Enquanto estiver bom, eu fico com ele. Regina olhou para Granny, dizendo:

— Você me fez relaxar com suas histórias. Eu estava muito tensa. Obrigada.

— Eu notei. Sabe D. Regina, não leve a vida tão a sério. Tudo passa neste mundo. Logo Sr. Robin arranja trabalho, fica mais alegre, tudo melhora. O segredo da felicidade é escolher a comédia e largar o drama.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo.



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