Ninguém é de Ninguém. escrita por Dark Swan


Capítulo 7
Capítulo 7.


Notas iniciais do capítulo

Como eu disse no primeiro Cap. a narrativa principal é do Robin e vai ficar assim por um bom tempo. Nesse cap de hoje veremos um pouco da personalidade forte que conhecemos na nossa Regina. Espero que vocês gostem e a Emma aparecerá em breve. Bjo!



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Granny ainda falava com Regina sobre a visita de Cora e suas intromissões.

— De que adianta se irritar se não pode fazer nada, se tem que viver perto dela por causa do Sr Robin? Se poupe, D. Regina. Cuide da sua saúde, da sua paz. Faça dela uma piada e verá que a implicância desaparece. Agora, eu até gosto quando ela chega, só para ter o gostinho de ver a cara que ela faz quando não consegue achar nada errado.

— Gostaria de ser como você. Vive de bem com a vida. Regina respondeu com um suspiro.

— A vida é boa mesmo, mas tem muitos lados para se ver. Depende de que lado você se põe. Eu repito: prefiro a comédia do que o drama, e isso sempre me ajudou. Até no cinema, na televisão, no rádio, eu prefiro o que é engraçado, alegre e me dá disposição.

— Você gosta de história de amor, que eu sei. Regina sorria ao falar.

— Gosto muito. Mas às vezes me irrita quando a mocinha é bobona, sofre sem reagir. Não gosto de gente fraca.

— Eu também não. As vezes você se engana com as pessoas. Pensa que elas são fortes e se decepciona quando elas mostram que são fracas.

— Ninguém é fraco, D. Regina. Todo mundo tem força, só que amolece, quer tudo fácil, espera que os outros façam as coisas para eles e acabam esquecendo que têm. Mas a força continua lá. Quando a vida provoca, quando cria uma situação dura, uma doença, um acidente grave, a pessoa encontra ela rapidinho. Lembra da Eva? Ela vivia se queixando, sempre pendurada no marido, dizia que era doente, fraca, que não podia fazer nada dentro de casa. O coitado chegava cansado do trabalho, ainda tinha que fazer a janta. Quando desabou aquele armário em cima do filho dela e o menino ficou preso embaixo, ela estava sozinha. Quando os vizinhos chegaram, ela já tinha tirado o menino. Ninguém sabe onde ela arranjou força para levantar um armário tão pesado. Olha que depois precisaram de dois homens para colocar ele no lugar.

— Sempre me perguntei como uma mulher tão fraca tinha conseguido fazer aquilo!

— É que de tanto se fazer de fraca a pessoa acaba acreditando que é mesmo. Mas é só uma ilusão. A força está lá. E só puxar para fora que ela vem. E por isso que eu não gosto de gente que se faz de fraca. E tudo mentira, só para você fazer as coisas que elas querem. Quando você não entra na ilusão delas, ficam contra você.

— Você está certa. É isso mesmo.

— Eu tenho meu modo de ver e nunca me arrependi. Levo a vida como eu gosto. Regina sorriu e sacudiu a cabeça concordando.

— Vou dormir. Boa noite.

— Boa noite, D. Regina.

Quando ela entrou no quarto, percebeu que, apesar de estar com os olhos fechados, Robin não estava dormindo. Lavou-se, vestiu a camisola e deitou-se. Ele tentou abraçá-la, ela virou de lado, fingindo não perceber. Estava cansada e indisposta. Não queria ouvir mais nenhuma queixa. Ele passou o braço em volta dela, dizendo:

— Você está muito cansada?

— Estou. Amanhã terei que levantar muito cedo e adiantar algumas coisas antes de sair. Ele suspirou angustiado.

— Tenho a impressão de que está me evitando. Reconheço que não estou sendo boa companhia. Tenho andado angustiado. Ela suspirou resignada.

— É impressão sua.

— Não é, não. Você está me evitando. As vezes penso que está com raiva de mim, me olha de um jeito...

— Você está enganado.

— Sei que errei, fui ingênuo, me deixei levar por aquele safado. Mas, que diabo, não foi de propósito. Não arranjei emprego ainda. Está difícil porque não tenho profissão definida, mas estou tentando de todas as formas.

— Sei disso. Não o estou culpando de nada.

— Você não fala, mas eu percebo que no fundo você está me culpando. Isso me derruba.

Regina tentou controlar-se. Era quase uma da madrugada. Ela teria de se levantar às seis. Precisava dormir pelo menos algumas horas para ter disposição. Ter boa aparência, ser agradável, fazia parte de suas funções como secretária. Quis contemporizar:

— Você está nervoso e imaginando coisas. Vamos dormir que é tarde.

— Nunca pensei que você fosse agir assim. Enquanto eu tinha dinheiro, você me tratava com atenção e carinho. Agora que estou por baixo, precisando do seu apoio, você mal fala comigo. O que foi, deixou de gostar de mim? Foi a gota d’água. Regina sentou-se na cama, acendeu a luz do abajur e encarou o marido, dizendo com raiva:

— Estou querendo evitar uma discussão, mas já que insiste é bom saber. Não é a falta de dinheiro que me incomoda. O que me irrita mesmo é ver você se queixando o tempo todo, como se fosse um homem deficiente, incapaz. Por mais que eu tente ajudar, você está sempre com essa cara de vítima, como se o mundo fosse uma tragédia e você não pudesse fazer nada para sair dela.

Apanhado de surpresa, Robin enrubesceu. — Não posso estar feliz atravessando uma crise destas.

— Se não pode sentir-se feliz, pelo menos finja, porque eu, as crianças e até Granny temos o direito de viver em um lugar agradável. Onde está sua força? Onde está o homem que abriu caminho na vida, fez seu próprio negócio, construiu duas casas?

— Como queria que eu ficasse depois do que aconteceu?

— Queria que mostrasse sua capacidade não ficando com essa cara compungida, implorando nossa piedade, para ganhar nossa estima, tentando apagar a própria sensação de culpa. Seu orgulho é tanto que não pode admitir sinceramente que caiu no conto do vigário, como qualquer pessoa?

— Você está me arrasando.

— Não. Eu estou falando a verdade. Ela dói, mas é bom que perceba o quanto está se rebaixando com essa atitude. O que passou já foi. Agora, é tentar começar de novo, batalhar com coragem. Mas você não esquece o que aconteceu. Fica pensando nisso todo momento, se lastimando, se afundando na depressão. Como arranjar trabalho desse jeito? Quem vai confiar em sua competência quando nem você acredita nela?

— Você está sendo cruel.

— Foi você quem provocou. Eu não queria dizer nada.

— Bem se vê que eu tinha razão. Você estava com raiva mesmo.

— Estava. Você está agravando a situação.

— Está decepcionada comigo. Não sou o que você esperava.

— Se quer continuar falando dessa forma, vamos parar por aqui. Vamos dormir. Tenho que levantar às seis.

— Não precisa me lembrar que agora você sai cedo e eu fico em casa, podendo dormir até mais tarde. Regina franziu o cenho irritada.

— Sabe de uma coisa? Não dá para conversar com você. Vou dormir no sofá do quarto das crianças. Apanhou o travesseiro, algumas cobertas no armário e saiu determinada.

Robin teve um ímpeto de ir atrás dela, mas desistiu. Não queria fazer uma cena e acordar as crianças. Apagou o abajur e tentou dormir. Sua cabeça doía e ele sentia-se oprimido. Por que acontecera aquilo com ele, por quê? As lágrimas desceram pelo seu rosto e ele as deixou correr livremente. Não percebeu que alguns vultos escuros se aproximaram dele, envolvendo-o. Sentiu aumentar sua angústia enquanto pensamentos tristes o acometiam: — “Ela não me ama! Nunca me amou. Vivi enganado todos estes anos! Se ela me quisesse, agiria diferente agora que eu estou no chão. Nunca pensei que a mulher que eu amo, a mãe dos meus filhos, a quem sempre fui sincero e respeitei, me tratasse desse jeito. Minha mãe tem razão. Ela é uma mulher muito independente. Vai ver até que está gostando de outro! Sei lá, naquele escritório, com tantos homens de dinheiro, podendo darem-se ao luxo de serem amáveis o tempo todo. Vai ver até que ela mudou porque já arranjou outro!” A esse pensamento, Robin trincou os dentes com raiva. Por que a deixara trabalhar fora? Se a tivesse obrigado a deixar o emprego quando se casaram, ela estaria dentro de casa, como deve ser uma esposa. Ele estava tão envolvido pelas energias escuras que o circundavam que nem considerou que, se ela não estivesse empregada, eles estariam passando fome. Ele só tinha olhos para seu ciúme, sua revolta, sua dor.


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Notas finais do capítulo

#TeamRegina aqui. Robin também me dá nos nervos, mas vamos ver no que vai dar. E esses vultos que se aproximaram dele? #MEDO! Até o próximo.



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