Enquanto a última semana de férias de Alex passava, Matheus era atormentado por outros tipos de pensamentos, pensamentos que ele tentava afastar – até com mais intensidade que Mayara – desde que ele voltara da Itália. Matheus não havia revelado para ninguém o motivo de sua volta, mas também não esperava que seus problemas não resolvidos aparecessem tão rápido.

O rapaz estava sentado jantando com a família, quando seu celular toca *número desconhecido* escrito na tela, Matheus ignora a chamada e finaliza sua janta. Depois vai ao seu quarto e fecha a porta para olhar bem o celular. 7 chamadas não atendidas e 3 mensagens: ”Estamos aqui.” “Se pensa que não estamos te vigiando, você está enganado.” “Nos pague logo, seu tempo está acabando.”  Matheus termina de ler as mensagens e rapidamente as apaga. Algumas gotas de suor deslizam por sua testa e ele as seca com o dorso da mão, ao mesmo tempo que tenta controlar a respiração. Seus pensamentos estavam a mil, até que ele recebe uma nova mensagem, era uma imagem.  Ele a abre e seu coração dispara. Era uma foto tirada à distância, de Mayara passeando com Muffin. Nesse momento o medo se intensifica e se mistura a um sentimento de raiva e Matheus da um soco na parede, não satisfeito ele soca a parede mais algumas vezes, ralando seus dedos e manchando levemente a parede com sangue. O rapaz para, respira brevemente e encosta as costas na parede, com a cabeça baixa. Ele começa a deslizar pela parede até sentar-se no chão e, ainda com a cabeça baixa ele pega o telefone e liga para Mayara. Ela não atende.

Matheus sai do quarto e faz menção de sair de casa, mas percebe que Alex não estava em casa.

—  “Melhor ligar para ele, só por precaução” – pensou.

—Oi mano.

—E aí cara, onde você está? – Perguntou Matheus apreensivo.

—Estou com a May, porque? Da oi pra ele — Matheus escutou Alex falando com Mayara ao fundo, e depois uma voz feminina. —Oi.

Ele respirou aliviado.

—Não era nada cara, eu só ia te chamar para ir em um bar hoje. – Matheus finalizou e depois desligou o telefone..- “Enquanto eles estiverem juntos, pelo menos ela estará segura.” – Ele pensou sem muita convicção, mas no momento era o melhor consolo que ele tinha.

Matheus voltou ao seu quarto e tentou ligar para os números que deixaram as ligações e as mensagens, mas nenhum estava disponível e ele logo concluiu que eram celulares descartáveis.

Matheus começou a revirar seu quarto em busca de algum dinheiro, mas achou somente 200$, e como não estava trabalhando, não havia mais dinheiro à sua disposição. Ele começou a pensar em maneiras de conseguir dinheiro rápido, mas todas envolviam repetir erros que ele não estava disposto, ainda.

Em certo momento seus pensamentos voltaram-se à Ana, que era rica. Mas como fazê-la dar para ele 10.000$ sem receber perguntas sobre o destino daquele dinheiro? Algumas coisas passaram pela sua cabeça, até que ele parou em um pensamento que ele gostaria de nunca ter que tornar realidade; pedi-la em casamento. Era algo inimaginável, casar com uma garota que ele sequer gostava. Mas ele sabia que Ana, apesar de muito extrovertida e aparentemente desapegada, nutria sentimentos por ele. Talvez desse certo, afinal ele precisava esquecer Mayara, e dessa forma poderia protegê-la e quem sabe a longo prazo, esquece-la. Mas no fundo de seu coração ele ainda tinha esperanças de ficar com ela. Sua cabeça estava a mil e ele precisava tomar uma decisão, tinha que ser logo.

...

A última semana de férias passou sem grandes acontecimentos para Mayara, que passou bastante tempo com Alex – na casa dela, é claro, Mayara não ousava pisar na casa de Alex e arriscar dar de cara com Matheus -  e até que estava dando certo, quando eles estavam juntos ela quase não pensava nele; mas o problema surgia quando ela estava sozinha em sua casa, era nesses momentos que ela voltava a pensar nele, e para afasta-lo da cabeça, fazia qualquer coisa, desde cozinhar, limpar a casa, sair com Muffin, até sair com as amigas e ligar para Alex para conversarem.

Era o último dia de férias e Mayara havia passado o dia com Alex, já era noite então ele já não estava mais com ela, por isso ela pegou o celular e ligou para Matheus, que atendeu já na primeira chamada.

—Oi, você está bem? – Matheus pergunta do outro lado da linha.

—Não!! Ela responde nervosa, como você que eu fique com você ligando para o Alex quando ele está aqui?

—Desculpe. — Ele respondeu.

Ela estranhou, normalmente ele iria retrucar e tentar irrita-la como sempre fazia, ela esperou mais alguns instantes mas nada aconteceu.

—Bom não importa, só não faça mais isso. – Ela disse tentando não parecer surpresa.

—Olha May, eu sei que sou provavelmente a última pessoa que você quer ver agora, mas nós realmente precisamos conversar.

O tom de voz de Matheus estava sério, de uma maneira que ela nunca havia escutado antes, isso a preocupou um pouco, mas ela não podia se deixar levar, ou então sucumbiria aos seus sentimentos.

—O que? Você tá louco! – Ela disse, e desligou.

Minutos depois apareceu uma mensagem na tela de seu celular. “Se você não concordar em me encontrar, vou contar tudo pro Alex.” Na mesma hora Mayara pegou o telefone e ligou novamente para ele.

—Você vai me ameaçar agora? – Ela perguntou incrédula.

—Você não me deixa outra escolha.

Mayara estava com muita raiva, mas não queria arriscar perder tudo, então concordou.

—Ok. Você pode me pegar na faculdade na segunda feira, depois que minhas aulas acabarem. – Ela respondeu hostilmente, e desligou.

...

Matheus colocou o telefone sobre a cômoda e sentou se na beirada da cama. Ele se sentia muito mal por ter dito aquilo para ela, mas era o único jeito que ele encontrou para vê-la.

O dia se estendeu sem mais mensagens ou ligações, à noite Matheus tentou dormir, mas sem sucesso. Passou a madrugada se revirando em sua cama e pensando em maneiras – que não envolviam o matrimônio - de quitar sua dívida. Quando era cerca de 9:30 ele conseguiu dormir um pouco, mas ás 12:00 seu despertador tocou, e ele precisou se levantar para ir buscar Mayara. Tomou um banho rápido e vestiu-se com uma camiseta branca e uma calça camuflada. Foi até a cozinha mas não estava com vontade de comer nada, seu estômago estava embrulhado desde o dia anterior. Desistiu de comer e pegou seu carro para dirigir até a faculdade.

O campus da faculdade era bem grande, mas ele não conseguia ver muito além da entrada, que era composta por duas pilastras de mármore por onde circulavam carros e pessoas. Todo o terreno do campus era cercado por um muro, também feio de mármore, impedindo que qualquer um conseguisse invadir. Só era possível entrar pelo portão da frente.

Matheus estacionou o carro na frente dos grandes portões e Mayara já estava lá esperando por ele. Aos olhos dele ela estava ainda mais linda do que a ultima vez que a vira, o vento batia em seus cabelos e ela tentava tirar os fios teimosos do rosto. Ao avistar Matheus ela muda de expressão e fica mais séria, se dirige até o carro e entra.

—Oi. – Ela diz seca.

—Olha, me desculpe pelo que eu disse. – Ele diz enquanto começa a andar com o carro.

—Nem começa com essas desculpas esfarrapadas. – Ela responde nervosa.

—Tudo bem. – Ele recua. – Precisamos conversar.

—Sobre? – Ela pergunta debochada.

—Sobre o porque eu voltei para o Brasil.