Eu escolhi. Escolhi Neji e agora esperava que tudo melhorasse. Continuei a treinar e também treinava com ele às vezes, mas como Hikaru me disse que eu despertei o Mangekyou, quis saber o que era isso exatamente. Eu sou metade Hyuuga, metade Uchiha, jinchuuriki e agora tenho mais um nível do Sharingan. Era óbvio que eu não poderia perguntar o que era isso para qualquer um. Eu pensei em ir até a Hokage, mas ela não deveria saber também. Eu queria detalhes, queria saber a forma exata de treinar e o que eu poderia fazer com esse novo nível. Queria meu pai ali comigo...

À noite e depois de treinar até quase desmaiar, eu estava em cima do monumento Hokage. Como sempre em cima da imagem do Terceiro Hokage. Pensava em uma possibilidade, mas não sabia se seria viável.

– Não prefere descansar?

Olhei para o lado e vi Neji agachado ao meu lado. Deixei um sorriso escapar e me voltei para a paisagem.

– Estou pensando. – Disse suave.

– Em que?

– Tem... Outro nível do Sharingan que eu não conhecia.

Ele sentou ao meu lado e continuou a me olhar.

– Qual?

Fechei os olhos e quando os abri, ativei ambos. Olhei para Neji e ativei o Mangekyou. Ele me olhou surpreso.

– Sugoii... – Disse, pegando em meu rosto para ver melhor – Parece um cata-vento.

– Uhm... – Corei por ele estar perto e desativei os olhos – H-Hai.

Ele percebeu e corou levemente. Eu desviei o olhar e abracei meus joelhos.

– Hikaru me disse que eu o despertei. – Dizia – E quando eu estava presa, Itachi também disse isso e pareceu surpreso.

– O que quer dizer?

– Eu não sei nada sobre isso. – Disse – Nada sobre esse lado da minha família. Estava pensando em ir ao complexo dos Uchihas pra tentar achar algo na casa do meu pai, mas não sei se seria permitido.

– Hum, hai. – Ele disse, compreendendo – Mas agora é melhor você descansar.

– Nande?

– Eu vi você treinando hoje. Quase desmaiou no rio.

– Hum, pára de me espionar... – Resmunguei.

Ele sorriu levemente.

– Melhor eu ir.

– Hai. – Disse, mas não queria que ele fosse embora.

Neji pegou gentilmente em meu rosto e me fez olhá-lo, me beijando em seguida. Corei e ele levantou.

– Ja ne. – Ele disse gentilmente, desaparecendo logo depois.

Corei e me encolhi. Aquele baka...

...

Não consegui dormir aquela noite. Não conseguia sentir sono, ficava pensando no que teria na casa do meu pai. O complexo Uchiha estava fechado há anos, ninguém ia lá. Não teria problema se eu apenas desse um olhada, ne? Eu olhava para o teto do meu quarto e acalmei o olhar. Me sentei na cama e me decidi. Se fosse para ficar mais forte eu iria sim à casa do meu pai. Me levantei e troquei de roupa, saindo de casa.

Eu não podia sair pulando pelos telhados. Era à noite e quase todos estavam dormindo, mas claro que havia a patrulha dos shinobis vigiando a cidade. Eu andava quase me esgueirando pelas paredes das casas, não queria que eles me achassem. Eu olhava para eles, alguns nos tetos, e continuava meu caminho. Quando cheguei, a entrada ainda estava selada e eu precisei me abaixar para passar pelas faixas. Andava por aquelas ruas e tentava imaginar como seria com várias pessoas vivendo ali, em vista que o lugar era enorme, com casas e lojas de comércio. E agora parecia assustador à noite. Não fazia ideia de onde era a casa do meu pai, mas procurei até achá-la. Foram quase três horas entrando, vendo o que tinha nas casas e saindo, passando para a próxima.

Quando finalmente cheguei, vi que a casa dele era simples e pequena, não havia muita coisa. Passei pela porta, estava tudo empoeirado e visivelmente abandonado. Passei pela sala, havia duas portas e entrei na da esquerda, vendo que era a cozinha. Vi o chão e vi as marcas de sangue. Foi ali... Fechei os olhos, eles marejaram. Saí dali rápido e fui em direção à outra porta, entrando. Vi um quarto e logo ao lado da porta, em cima de uma estante simples, um porta-retratos. Andei e fiquei a frente daquilo. Havia alguns livros empoleirados, pergaminhos velhos... E no porta-retratos estava a foto da minha mãe. Uma lágrima escorreu de um dos meus olhos, o que confirmou que era a casa do meu pai. Abaixei, ajoelhando um dos joelhos no chão e abaixei a cabeça, fechando os olhos. Me perguntava constantemente o porquê. Eu... Teria uma família de verdade se nada disso tivesse acontecido. Se eu não tivesse Hikaru dentro de mim e se Itachi não tivesse matado ninguém, talvez meus pais estivessem juntos finalmente. Nande...?

Abri meus olhos e quando levantei, o chão cedeu abaixo do meu pé.

– Ett...! – Exclamei.

Meu pé abriu um pequeno buraco no chão de madeira e eu o tirei, vendo se havia me machucado. Olhei para aquilo, a madeira não estava podre. Era na verdade uma tábua que soltei sem querer com o pé e debaixo havia um fundo falso. Me aproximei e ativei meus olhos. Com o Byakugan vi que tinha vários papéis ali dentro. Franzi o cenho e pus a mão, pegando alguns papéis. Desativei meus olhos e vi algumas fotos, cartas e pergaminhos antigos. As fotos fizeram meus olhos marejarem de novo, eram fotos de quando meus pais namoravam. Eles eram jovens e sorriam felizes. As cartas eram várias da minha mãe e algumas do meu pai, dizendo claramente em todas elas “se eu tiver coragem de te entregar essa carta...”. Acalmei o olhar, me emocionando. Peguei um dos pergaminhos e tinham alguns jutsus escritos neles. Franzi o cenho em dúvida, havia detalhes minuciosos de como se aplicava os jutsus. Abri os outros pergaminhos e vi o mesmo.

Mexi naquele fundo falso de novo e peguei mais três pergaminhos e um caderno pequeno e azul escuro com uma fita vermelha para marcação de página. Pus os pergaminhos no chão e abri o caderno, analisando. Eu estava sentada em cima dos pés, no chão e lia o que estava escrito. Acho que era como um diário, mas não exatamente do dia-a-dia do meu pai. Mas um diário de Jutsus. Franzi o cenho em dúvida, havia vários jutsus que eu não conhecia. Passei várias páginas e vi no topo de uma em especial, onde a fita vermelha estava marcando, que estava escrito “Mangekyou Sharingan” com um grande risco embaixo das palavras. Arregalei os olhos e fechei o caderno, pegando tudo que havia ali, incluindo as fotos e cartas, e tentando guardar tudo dentro das minhas roupas.

Fechei o fundo falso e voltei para casa com alguns pergaminhos nos braços, indo direto para meu quarto quando cheguei, pondo os pergaminhos em cima da cama e tirando tudo aquilo de dentro das minhas roupas. Perdi aquela noite de sono lendo o caderno. Comecei a ler desde o principio, e pela data, meu pai deveria ter uns 15 anos.

“Tentativa nº 1

O objetivo é criar um novo jutsu com o equilíbrio perfeito do chakra e poder parecido do Mangekyou Sharingan.

*Tenho que ficar mais forte, gosto de Yukino, mas acho que ela é mais forte que eu.

Resultado: Falha.

*Muito chakra gasto, pouco resultado.”

Passei algumas páginas.

“Tentativa nº 15

Depois das várias falhas e minha insistência, percebi que não há como criar um jutsu parecido com o doujutsu Mangekyou Sharingan. Ou tenho que despertá-lo ou criar outro jutsu.

Resultado: frustação.

*Sem ideias de jutsus próprios.”

Li as páginas seguintes e mais algumas.

“Tentativa nº 27

Tive uma ideia, mas precisaria ter o Byakugan também. Não posso pedir que Yukino tente pra mim. Não seria problema ensiná-la um dos jutsus do clã, mas meu objetivo é impressioná-la e não o contrário. Não, tive que tentar sozinho. Aprimorar o Katon, Goukakyuu no Jutsu. Ao invés da grande bola de fogo, tentar fazer uma proteção de esfera de fogo em volta do usuário.

Resultado: Falha.

*Precisaria saber o Kaiten como Yukino.”

Passei mais páginas, eram inúmeras tentativas e na página que parei meu pai já deveria ter 19 anos.

“Tentativa nº 45

Eu sabia que não iria ser fácil, mas esperava que não demorasse tanto. Yukino está mais forte e bonita. Seu Taijutsu é perfeito, o que a faz ser mais bela em aparência e em sua luta. Depois de uma missão que ela se feriu e vários ninjas continuaram a atacá-la, acho que despertei o Mangekyou. Matei todos e a salvei, mas mesmo assim ela ter ficado ferida foi por minha culpa. Descobri que o despertei e voltei a treinar. Com ele ficou mais fácil e finalmente completei meu jutsu. Jutsu Esfera Solar.

Resultado: Completo.

*Necessidade de Mangekyou Sharingan, equilíbrio do chakra, concentração, persistência.

Modo de efeito: Quando feito, nada passará pela esfera, o usuário será completamente protegido, porém há gasto de um terço do chakra, o significa que o usuário precisa ser bastante forte caso seja jovem.”

Sorri, vendo que ele conseguira. Continuei a ler e passei mais algumas páginas.

“Tentativa nº 54

Com o Tsukuyomi, uma das Três Grandes Técnicas do Mangekyou Sharingan, eu posso prender meu oponente em uma ilusão sob meu controle. Porém há um enorme gasto de chakra e meu olho dói depois. Não posso utilizar dessa técnica com frequência. Receio de ocorrer algo.

Resultado: Completo.

*Pensando em pedir Yukino em casamento.”

Sorri.

“Tentativa nº 59

Com o Amaterasu, a segunda grande técnica do Mangekyou Sharingan, eu vi que estou realmente forte. É uma técnica de Fogo de mais alto nível, acho que estou orgulho de mim mesmo. Consigo produzir chamas negras, incendiando meu foco de visão.

Resultado: Completo.

Efeito colateral: um dos meus olhos sangrou pela pressão da técnica.

*Yukino disse ‘sim’.”

Sorri feliz e passei mais páginas.

“Tentativa nº 77

Com o despertar do meu Mangekyou, aprendi a fazer mais jutsus. Consegui duas das três grandes técnicas do Mangekyou com um pouco da ajuda do meu pai em relação a informações. Porém com Yukino grávida e nossa briga quando eu contei, não estamos mais nos falando. A última técnica é o Susano’o. Preciso fazer sozinho.

Resultado: Falha.

*Preciso de mais Chakra, ficar mais forte.

*Yukino está morando na casa de Hiashi e da esposa dele. Tenho que ficar mais forte para protegê-la.”

Passei mais páginas, tensa.

“Tentativa nº 87

Meu Susano’o ainda está incompleto, não consigo fazer muita coisa, apenas me proteger e lançar jutsus em direção ao oponente.

*Me mudei, estou morando sozinho e preciso casar com Yukino. Todos estão falando que ela engravidou de qualquer um.”

Mais páginas.

“Tentativa nº 95

Estou quase lá. Nossa Naru nasceu e eu estou realmente feliz, mas agora todos sabem que ela não é filha de um Hyuuga por causa de seus olhos. Eles são diferentes, é tudo minha culpa. Agora Yukino quer me proteger. Não posso deixá-la fazer isso. Preciso levar as duas comigo para casa ou fugir daqui.”

Páginas e páginas.

“Tentativa nº 109

Quero desistir... Yukino morreu. Alguém invocou aquele maldito lobo e usaram Naru para selá-lo. Ela tentou salvá-la, mas aquela coisa a matou. Não sei como Naru sobreviveu e agora eu quero morrer pra ficar com Yukino. Mas eu tenho Naru, não posso deixá-la sozinha. Hiashi disse que poderia cuidar dela até certo tempo. Quando ela estiver um pouco mais crescida, vou trazê-la para minha casa e ensinar a ela tudo o que sei. Eu a amo, ela é tudo o que me restou de Yukino.”

Meus olhos marejaram e eu passei as páginas para chegar logo na última. Não tinha forças para suportar aquilo que lia.

“Tentativa nº 477

Consegui completar meu Susano’o e posso finalmente proteger Naru. Ela está grande e eu estou orgulho por ela ter entrado na academia ninja. Quero esperar até ela ter 8 ou 9 anos para contar a ela que sou seu pai. Com 7 anos ela já está tão parecida com Yukino! Vou conseguir protegê-la, principalmente com o que está acontecendo no meu clã. Não quero saber de nada daquilo, quero apenas levar minha filha para um lugar seguro. Ela vai ser uma grande ninja, eu sei. Estou feliz, agora falta pouco.”

Virei a página e não tinha mais nada. Abaixei o olhar. Faltava pouco, então foi aí que houve aquele massacre. Nande...? Balancei minha cabeça para não chorar. Vasculhei os pergaminhos e li todos os jutsus do meu pai, incluindo o que ele escreveu sobre as Três Grandes Técnicas do Mangekyou Sharingan. Agora com o que eu tenho dele, o tenho ao meu lado também. Agora sim, agora sim eu vou ficar forte!