Enquanto eu estava desacordada, Neji ligou seu comunicador para ver se os outros estavam dentro do alcance e avisou a Gai-sensei que estávamos bem, que estava tudo bem. Gai-sensei disse a ele sua localização e Neji me esperou acordar. Depois do gesto de Neji, meu coração doeu um pouco, pareceu surgir um vazio nele. Eu acho... Que o magoei. Neji era sério e maduro, sempre foi. Então mesmo depois daquele gesto e de não olhar mais nos meus olhos, ele não demonstrava sinal algum de que estava magoado. Mas eu sabia, eu sabia... E queria chorar por isso.

Fomos para onde os outros estavam e quando chegamos, Gai-sensei me olhou sério. Abaixei o olhar pela recriminação e logo vi o corpo de Gaara no chão. Mordi o lábio para não chorar, meus olhos estavam marejados e vi que Chiyo-Baa-sama fluindo chakra para o corpo dele.

– O que ela está fazendo? – Naruto perguntou irritado.

– Ela está trazendo Gaara-kun de volta. – Ela disse o olhando com seriedade.

Arregalei os olhos, todos estavam em silêncio e um vento passou por nós. Olhei para Gaara, não sabia que reação ter. Na verdade eu não sabia mais de nada! Sakura explicou que era uma técnica que apenas Chiyo-Baa-sama conhece. Eu olhei para ela, que continuava a fluir chakra para o corpo de Gaara e comecei a pensar. Não é possível ela fazer aquilo, certo? Trazer alguém dos mortos precisaria de... Arregalei os olhos enquanto a fitava. Precisaria de algo em troca... Ne? Neji estava com o Byakugan ativado, então fechei meu olho direito e ativei o Byakugan no esquerdo. A maneira como o fluxo de chakra dela fluía... Aquela técnica não poderia existir! Chiyo-Baa-sama estava se sacrificando... Meus olhos marejaram sem eu perceber. Como ela estava fraca com a luta dela e de Sakura, Naruto pediu a ela que usasse também o chakra dele. Ela estava realmente fraca, não conseguiria continuar. Naruto pôs as mãos em cima das dela e o chakra voltou a fluir. Abaixei o olhar e apertei meu braço com a mão, Neji percebeu.

“Gaara...”, pensava querendo chorar.

Aos poucos, o chakra começou a fluir no corpo de Gaara, Chiyo-Baa-sama a fechar os olhos lentamente e Sakura a apoiá-la. Vários ninjas da Aldeia da Areia chegaram onde estávamos e assistiam o que acontecia. Ficamos cabisbaixos e Naruto acordava Gaara, que se sentara e abrira os olhos. Eu desativei meus olhos e os arregalei levemente, não acreditando que ele voltara.

– Gaa... – Gaguejei.

Algumas garotas gritaram por ele estar de volta e foram até ele, empurrando Naruto. Eu... Não conseguia descrever como fiquei. Estava feliz de fato, mas também não parava de pensar em o que Neji provavelmente pensava naquele momento. Eu estava com o olhar baixo e quando o levantei vi Gaara me fitando por um momento. Corei instantaneamente e abaixar o olhar. Uma das garotas foi falar com ele, o que o fez desviar o olhar de mim. Cerrei as mãos, nervosa e quase engolindo a seco quando percebi Neji se virar e começar a andar.

– Uhm... Onde você vai? – Perguntei suave.

– Nenhum lugar. – Ele disse sem nem sequer se virar.

De novo... De novo aquela sensação de vazio no meu coração. Por que aquilo estava acontecendo? Por que eu estava sentindo aquilo?

...

Todos ficaram desolados e perplexos com o sacrifício de Chiyo-Baa-sama. Naruto pensou que ela estava desacordada, mas Kankuro contou a ele sobre a técnica. Depois de fazermos um minuto de silencio por ela a pedido de Gaara, fomos para a Aldeia da Areia.

Todos nós, dezenas de pessoas, voltamos para a Aldeia da Areia. Ao começarmos a fitar os muros, ouvimos pessoas comemorando. Todos da aldeia estavam esperando pela volta do Kazekage. Eu estava ao lado de Neji, que sorria levemente. Ele era realmente maduro, isso eu tenho que admitir. Com certeza ele desconfiava e de repente até já confirmava isso, mas mesmo sabendo que eu talvez gostasse de Gaara, ele ficou feliz pela volta do Kazekage a aldeia dele. Começamos a ver as pessoas e quando nos aproximamos mais, elas correram em nossa direção. Naruto e Kankuro apoiavam Gaara nos braços e andavam com ele em direção à entrada. O aglomerado de pessoas fez um corredor para eles passarem e Gaara pediu para esperar, pedindo em seguida para levarem Chiyo-Baa-sama na frente. Quatro ninjas a carregavam numa maca e Sakura estava ao lado. Eles começaram a andar e entramos na vila.

...

Estávamos na sala do Kazekage. Kankuro e Temari insistiam para que ficássemos.

– Temos coisas importantes a reportar a Hokage-sama. – Sakura disse.

– Hum.

Eu estava calada ao lado de Neji. Gaara me fitava.

– Onegai. – Ele disse ainda me fitando – Eu insisto. Vocês precisam descansar.

Gai-sensei apoiava Kakashi com o braço. Ele não conseguia mexer muito o corpo depois de usar tanto o Sharingan. Ele ia dizer algo, mas Gaara voltou a falar.

– Vocês podem descansar essa noite e partir amanhã cedo.

Abaixei meu olhar, ele não parou de me olhar nem um momento. Gai-sensei e Kakashi cederam e passamos o resto da tarde e a noite na Aldeia da Areia. Descansamos à tarde e jantamos com o Gaara, Kankuro e Temari. Eles pareciam até contentes de nos ter lá. Depois de comermos, eu fui para o quarto que me instalaram e comecei a reparar nele. Ela da cor da areia, mas ao mesmo tempo decorado de certa forma. A cama era confortável, melhor que a da minha casa, ironicamente. Havia um espelho na parede e percebi que a janela era redonda. Eu sorri, achei engraçado como nossas vilas eram diferentes em certos aspectos. Estava na cama e fiquei olhando para o teto até que alguém bateu na porta. Levantei em dúvida e a abri.

– Sakura? Naruto? – Os olhava em dúvida.

– Hehe. – Naruto riu – A gente veio falar com você.

– Hum?

Eles entraram e eu fechei a porta. Sentamos na cama e os dois começaram a falar.

– Quando eu lutei com Sasori junto com Chiyo-Baa-sama, ele disse que tinha informações sobre Sasuke. – Sakura disse.

Arregalei um pouco os olhos.

– Nani? – Gaguejei.

– Hai. – Ela sorriu – Ele disse que em alguns dias o espião dele, que está com Orochimaru, vai para a ponte do céu e da terra.

– Ele disse quem era? – Perguntei.

– Não... – Sakura disse cabisbaixa – Mas podemos conseguir informações com o espião. Vamos falar com Tsunade-sama quando voltarmos.

Eu abri um sorrio alegre. Estávamos perto de achar Sasuke, de trazê-lo de volta!

– Sugoii! – Naruto exclamou animado – Vamos voltar amanhã e dizer isso a ela, depois vamos trazer Sasuke de volta!

– Oe, Naruto. – Sakura disse – Tsunade-sama que vai dar as ordens.

– Run. – Ele resmungou.

Eu deixei escapar um sorriso.

– Ne, Naru. – Sakura disse – Está tarde, melhor irmos dormir, ne.

– Hum, hai. – Disse.

Eles levantaram e me deram boa noite, saindo do quarto em seguida. Eu sorri feliz. Estávamos tão próximos de encontrar Sasuke! Se passaram mais de dois anos, quase três. Como será que ele estava? Será que ele cresceu tanto quanto nós? Claro, ne. É o Sasuke! Eu quero tanto contar a ele logo que sou do mesmo clã que ele, que meu pai era um Uchiha. Com certeza depois que ele descobrir vai voltar conosco para a vila! Com certeza!

Desabotoei minha blusa branca com detalhes vermelhos e a tirei, ficando apenas com o short e a blusa preta que eu usava debaixo daquela. Alguém bateu na porta e eu pensei que fosse Sakura ou Naruto de novo, talvez tivessem esquecido de me dizer algo. Abri a porta e o olhei em dúvida.

– Uhm... Gaara?

Ele estava em pé em frente a minha porta. Eu o olhava em dúvida e surpresa. Ele estava com outras roupas, roupas informais.

– Uhm... Nani? – Perguntei suave.

– Posso falar com você um momento? – Ele perguntou.

– Hum, hai. – Disse com o olhar baixo, sem jeito.

Me afastei dando espaço para ele passar e fechei a porta. Fiquei encolhida. Ele andou um pouco e parou, virando e me olhando.

– Que bom... Que está bem. – Disse, mas minha voz ficou inaudível aos poucos.

Ele me olhou e pareceu demorar a entender o que eu disse já que quase não escutou.

– Hum, arigatou. – Ele disse – Nee...

– Anou! – O olhei corada – Gaara, uhm...

Ele me olhava em dúvida.

– Você me odeia? – Ele perguntou de repente.

– Hã? – Exclamei suave, sem entender – N-Nani?

Ele continuava a me olhar, esperando pela resposta.

– Uhm, iie... – Disse sem jeito, desviando o olhar – Eu... Anou... Você me pediu desculpa, ne.

Quando o olhei de novo, ele estava perto de mim, perto demais! Isso me fez recuar pelo susto e me chocar com a porta.

– Nani...

– Hum, gomen. – Ele desviou o olhar e pareceu pensar – Naru, gomen.

– Uh? – O olhei em dúvida.

Ele me olhou com o olhar calmo e os olhos meio abertos.

– Eu te machuquei... Te beijei...

– Uhm, hai. – Abaixei o olhar – Hum, tudo bem...

– Ne. – Ele disse, me fazendo olhá-lo – Não foi com seu consentimento, então...?

– Hum?

Ele me olhou nos olhos e se aproximou mais, o que me fez recuar mais, mesmo sem poder por causa da porta.

– Anou...

– Quando eu estava morrendo eu não pensava em ninguém especificamente. – Ele dizia – Mas... Agora eu só quero beijar você de novo.

Arregalei os olhos, corando exageradamente.

– Nande...?

– Não sei. – Ele disse.

Abaixei o olhar e apertei os olhos, ainda corada. Me encolhi e senti Gaara pôr as mãos nos meus ombros, o que me fez arregalar os olhos de novo. Ele abaixou um pouco até minha altura. Eu olhava aqueles olhos e me sentia extasiada, mas ao mesmo tempo confusa. Não sabia se queria beijá-lo, mas... Eu queria saber se gostava dele. Ele me olhava como se pedisse permissão e aproximou o rosto lentamente. Eu me encolhi mais um pouco, nervosa e abaixei o olhar, corando levemente. Ele encostou os lábios nos meus e eu senti seu toque com ele pondo o braço em volta de mim em seguida. Apertei a manga de sua blusa assim como meus olhos e não sabia o que sentia naquele momento. Era bom, mas não era como quando eu beijei Neji. Cada um deles tinha um jeito de me beijar, mas eu não sabia o que sentir naquele momento. Beijar Gaara não me ajudou em nada!

Ele cessou o beijo e me olhou, parecendo não saber o que fazer.

– Está tarde. – Eu disse suave.

– Hum. – Ele concordou.

Gaara pôs uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e me deu boa noite, saindo em seguida. Eu estava com as mãos cerradas na altura do peito e escorei na porta, me deixando escorregar e sentar no chão. Aquele beijo realmente não me ajudou em nada a me decidir, apenas piorou...

...

Na manhã seguinte, logo que amanheceu nós nos arrumamos e fomos para a saída da vila. Estávamos na frente do muro com Gaara, Kankuro e Temari. Sakura estava cabisbaixa por termos nos despedido de Chiyo-Baa-sama no túmulo dela, mas ela tentava sorrir. Gaara esticou a mão para que Naruto a apertasse. Eu sorri levemente, anos antes isso não aconteceria. Naruto a apertou e soubemos que uma aliança real foi feita. Não uma aliança para segundas intenções ou para se aproveitar de proteção de aliados, mas uma aliança de amizade. Uma verdadeira amizade.

Na volta para casa o sol estava bem quente e Gai-sensei apoiava Kakashi no braço, ele ainda não conseguia se mover. Olhei para Neji, que andava sem mostrar expressões. Ele apenas estava com aquele olhar calmo. Me senti culpada pelo beijo na noite anterior, mas não podia contar a ele. Já havia acontecido aquele gesto dele depois que me descontrolei, ele com certeza já suspeitava. Se eu contasse que deixei Gaara me beijar com certeza eu o magoaria. Eu não queria isso! Eu na verdade... Pensei em Neji quando beijei Gaara...

Esse beijo só piorou tudo, mas... Acho que talvez, apenas talvez... Eu goste mais de Neji.

– Ah! E-Etto...! C-Chotto! – Kakashi exclamou.

Olhamos para trás e o vimos no ar. Quando ele caiu, Gai-sensei o pôs em suas costas, segurando suas pernas. Fizemos cara de tédio e ele começou a correr perguntando a nós se poderíamos alcançá-lo agora. Ainda fazíamos cara de tédio e olhamos para Lee: joelhos dobrados, mochila na frente do corpo e os braços para trás. Arregalei os olhos torcendo a expressão.

– Neji. – Ele disse.

– Nem pensar! – Neji exclamou indignado.

Pus a mão na frente da boca, deixando a risada escapar. Neji me olhou e pareceu acalmar o olhar. O peguei me fitando e corei, desviando o olhar.

– Nee? – Cantarolei tentando parar de corar e voltei a andar – Vamos, logo. São três dias de viagem.

Naruto riu confiante, voltando a andar e nós seguimos viagem. Talvez... O beijo não tenha sido uma má ideia. “Talvez...”, pensei, deixando escapar um sorriso.