Capítulo 31

O tempo está passando
Muito mais rápido do que eu
E estou começando a me arrepender
De não passá-lo com você

Nickelback - Never Gonna Be Alone

Segurei o colar de lobo em minhas mãos. Me perguntava se Damon o usava também como havia dito que faria.

Com um sorriso não verdadeiro, toquei a campainha. Ouvi os passos apressados de dentro da casa e finalmente a porta foi aberta. Jeremy me abraçou como se não me visse há anos, mas fazia apenas um mês. O abracei de volta, sentindo falta de seu cheiro e do toque amável de um irmão mais novo.

– Eu senti sua falta, Lena – Ele disse, acariciando meus cabelos, sem me soltar.

– Eu também senti a sua, pirralho – Ele bufou indignado, mesmo que fizesse anos que eu o chamava assim. Jeremy costumava ser mais baixo que eu, mas quando possuía dezesseis anos, ele cresceu de repente e deixou de ser um pirralho, mas apenas para irrita-lo, eu continuava a chama-lo assim.

Entramos em casa, a casa onde eu cresci, mas saí por um tempo para morar sozinha. Agora eu me arrependo. Sabendo de toda a verdade, gostaria de ter passado mais tempo com Jeremy, um tempo que por mais que fosse ignorante, era bom e inocente para nós. Eu deveria contar para ele?

Jeremy não havia mudado nada desde que éramos crianças. Mesmo sendo quase três anos mais novo que eu, ele sempre gostou de agir como o mais velho. Eu estava sentada sobre o banco na frente do balcão na cozinha, vendo-o preparar minha vitamina favorita com um sorriso.

Ele me estendeu o copo, e se sentou ao meu lado, me encarando de braços cruzados.

– O que houve com você? – Jeremy perguntou de repente.

– Do que está falando? – Tomei um gole da vitamina, segurando com força o copo, não o encarei.

– Você está... Triste – Ele disse com o cenho franzido – Me diga a verdade. Você não foi trabalhar, não é? Onde você estava?

– Jeremy – Eu ri, tentando convence-lo – Eu estou bem. Por que eu estaria triste?

Deixei o copo vazio na pia e fui até ele, espremendo suas bochechas com as minhas mãos. Sua expressão não mudou como costumava acontecer quando eu fazia isso, o forçando a fazer um bico.

– Vou me mudar para cá, ok?

Eu não esperei por sua resposta e saí da casa, indo até o carro. Que explicação eu daria sobre aquele carro? Diria que era alugado? Jeremy nunca acreditaria. Antes que eu pudesse pegar as malas, ele se intrometeu e pegou-as para mim, levando-as para o segundo andar, para o meu antigo quarto.

Ele não estava diferente, ainda possuía uma parede rosa e as outras brancas. A cama de casal havia sido colocada quando eu completei quinze anos. Possuía uma mesinha de estudos com uma cadeira giratória também rosa. Eu gostava de rosa, pelo visto!

– Você sente muita falta dos nossos pais? – Até então, eu não havia notado que Jeremy ainda estava no quarto. Ele se sentou na cadeira rosa e me encarou.

– Você sente?

– Sinto – Jeremy sorriu – Você se lembra na bagunça que a nossa mãe fez para decorar esse quarto quando você resolveu muda-lo completamente? – Nossa mãe, Jeremy?

– Me lembro – Me perdi nas lembranças, apesar de todo o ódio que eu sentia agora de Miranda, eu tinha que admitir que ela sempre foi uma boa mãe, a melhor – Fiquei rosa por dois dias porque a tinta não saía.

Me sentei na cama, lembrando-me de alguns momentos da minha infância e adolescência. Miranda e Grayson sempre estiveram lá, registrando cada passo que eu dava. Será que alguma vez enquanto me viam crescer eles se arrependeram? Ou será que foi totalmente indiferente roubar uma criança?

– Não vai me contar o que aconteceu? – Ele tornou a perguntar. Jeremy se levantou e veio até mim, se abaixando em minha frente – Nós brigávamos muito né? Quando éramos crianças e até na adolescência.

– Você não saiu dela totalmente ainda, Jeremy – Eu disse.

– É verdade. Eu tinha dezesseis anos quando nossos pais morreram e você dezenove, foi difícil para nós dois, mas eu me lembro o quanto você sofreu. Ano passado, quando você saiu de casa, foi por não aguentar ver mais esse ambiente que costumava estar com eles?

Era por isso. Aquela casa carregava todas minhas boas lembranças. Quando nossos pais morreram, as lembranças perderam o sentido, a casa ficou fria. Eu não conseguia respirar ali dentro. Então, um ano depois de sua morte, eu saí de casa. Abandonei Jeremy, um adolescente de dezessete anos que estava terminando o ensino médio ainda. Como ele não me odiava?

– Elena...

– Me perdoa, Jer – Eu pedi, segurando seu rosto entre minhas mãos – Me perdoe por ter ido embora e deixar você aqui, sozinho.

– Não tem nada para perdoar, Elena. Eu sempre soube me virar sozinho, você lembra – Ele sorriu – Nunca precisei dos nossos pais para nada, diferente de você, que sempre foi tão unida com eles.

Enquanto conversava com Jer sobre o passado, percebi que cada um nesse mundo tem sua dose de erros, e não são eles que te definem. Eu havia errado ao sair de casa e ter deixado meu irmão mais novo sozinho. Katherine também havia errado ao me propor me passar por ela. E quando ao erro de Miranda e Grayson?

Era irônico, não? Como eu sempre precisei deles mesmo não tendo nenhuma ligação sanguínea, já Jeremy, seu filho de verdade, nunca necessitou deles mais que o normal em uma relação pais e filho.

– Vou esperar até você querer me contar o que aconteceu – Ele disse, se levantando – É bom ter você em casa de novo.

Acho que Jeremy era o meu maior orgulho na vida, e foi observando-o que notei que ele nunca deixaria de ser o meu irmãozinho. Não compartilhávamos o sangue, mas possuímos as lembranças e o nosso amor, ele nunca me deixaria e eu nunca o deixaria, não novamente, eu não lamentaria mais os erros do passado e viveria meu futuro, independentemente o que me esperava lá na frente.

Acabei dormindo sem querer, cansada. O sono que começou calmo passou a me trazer angustia quando comecei a ter um pesadelo.

Nele, Damon dizia o quanto me odiava por ter mentido e se distanciava cada vez mais de mim, indo para não sei onde, mas para longe de mim, inalcançável, intocável.

– Não vá... – Sussurrei, sentindo as lágrimas escorrerem – Fica comigo.

– Você não merece nada de mim – Ele disse, sua voz cheia de nojo e repulsa.

Acordei chorando aos soluços, angustiada por causa do pesadelo. Jeremy veio para meu quarto dois segundos depois, os olhos arregalados ao me ver chorando, coisa que só havia acontecido quando nossos pais morreram. Mesmo sem jeito, Jeremy me abraçou, dando tapinhas em minhas costas.

– Você está bem? – Ele me olhou assustado após eu me acalmar.

– Estou – Suspirei – Foi apenas um sonho ruim.

– Com os nossos pais? Voltar aqui te trouxe pesadelos?

– Não foi com eles...

Jeremy não perguntou mais, sabendo que eu não responderia, e após beijar minha testa saiu do quarto, mandando eu tomar um banho e tentar dormir novamente, como se ele fosse o mais velho. Revirei os olhos divertida, aceitando a toalha que ele me estendeu.

Saí do banho enrolada em uma toalha e outra na cabeça, mas antes que eu pudesse me vestir, meu celular tocou. Corri para atende-lo, vendo que era Elijah.

– Elijah? Por que está me ligando?

– Elena... – Mas não era Elijah, era Katherine com uma voz idêntica a minha e completamente desesperada – Você precisa vir ao hospital.

– Por que?

– Minha mãe... Não, nossa mãe... Ela descobriu tudo e passou mal. Ela está mal, Elena.

– Como ela descobriu?

– Ela ouviu uma conversa entre Damon e Elijah.

– Damon sabe? – Indaguei indignada, sentindo meu coração saltar no peito – Como você pôde deixar ele descobrir?

– Eu não tive escolha, ele reconheceu que você não era eu. Vem logo, Elena, nossa mãe está pedindo para ver você, ela está muito mal.

Katherine desligou a chamada, não me deixando nenhuma escolha.

Damon e Isobel haviam descoberto, era questão de tempo até todos estarem sabendo, até mesmo Jeremy. Suspirei, indo me vestir com pressa para correr para o hospital, rezando para que Isobel estivesse bem.