Capítulo 32

Bem, eu conheço a sensação
De se encontrar na beira do abismo
E não há cura
De se cortar com uma navalha afiada
Eu estou lhe dizendo que
Nunca é assim tão ruim
Aceite isso de alguém que já esteve onde você está
Caído no chão
E você não tem certeza
Se você pode aguentar mais

Nickelback - Lullaby

Depois de longos minutos, Katherine e Elijah se soltaram, encarando-se como se conversassem por aquele simples e intenso olhar.

Damon observou ambos de cenho franzido, ele não era de todo frio e como os outros dois, ele também estava preocupado com Isobel, porque em parte ela estava assim por sua culpa.

– O que aconteceu com ela? – Katherine perguntou, limpando as lágrimas e ajeitando o casaco – Onde está minha mãe?

– Ela descobriu, Katherine – Elijah respondeu, sentando-se no banco, bagunçou os cabelos que costumavam estar sempre arrumados, sinal de sua preocupação.

– Descobriu? Como? – Mas antes que eles falassem algo, ela soube. Encarou Damon que estava encostado na parede de cabeça baixa e o cenho franzida. Raivosa, ela se aproximou, apontando o dedo para ele – O que você fez? Se acontecer algo com ela, eu juro que...

– O que? – Damon a olhou com raiva, segurando seu pulso – O que mais você vai fazer?

Katherine o olhou ultrajada, tirou sua mão da dele e voltou para o lado de Elijah que estava sentado.

– Ela vai ficar bem, não é? – Perguntou Katherine, suas mãos tremiam e sua respiração vacilava.

– Claro que vai – Elijah beijou a cabeça de Katherine e a abraçou, tentando reconforta-la – Mas quando ela acordar, você não poderá esconder mais nada.

– Elijah – Katherine suspirou, sentando-se ao lado dele – Eu queria contar, eu não queria mais mentir, mas a Elena... Eu não a conheço nem um terço, eu sei, mas mesmo assim...

– Eu sei, eu sei – Elijah suspirou, pensando em como suas vidas haviam virado de cabeça para baixo.

Os três não falaram mais nada. Katherine era amparada por Elijah e Damon encarava a cena encostado na parede de braços cruzados, seu olhar era indecifrável, frio como a neve, como ele era antes. Elena o havia mudado uma vez, sua ausência o mudaria novamente? Mas em sua mente, tudo que se passava era como ele pôde deixar-se enganar tão facilmente por uma garota qualquer. Agora ele conseguia entender todos os gostos dela.

Minutos depois, o médico apareceu, ele possuía uma expressão dura, o que assustou a todos.

– Responsáveis por Isobel Pierce? – O médico chamou e os três se aproximaram.

– Eu sou filha dela – Disse Katherine – Como ela está, doutor?

– Ela passou por algum nervoso recentemente? – Ele perguntou.

– Ela recebeu uma notícia ruim – Elijah respondeu, coçando a nuca.

– Ela está bem sim, só precisa descansar. Sua pressão caiu e ela teve um desmaio, deixaremos ela aqui em observação esta noite e amanhã ela terá alta.

– Podemos vê-la? – Katherine perguntou.

– Claro.

Katherine e Elijah entraram, Damon preferiu ficar do lado de fora, dar um tempo aos três.

Katherine entrou agarrada ao braço de Elijah. Isobel dormia profundamente sobre a maca, olhando-a agora, eles pensaram que realmente ela parecia melhor. Katherine se culpava por não ter contato antes sobre Elena, foi um dos muitos erros seus.

– Está tudo bem, você ouviu o médico, não precisa ficar assim – Disse Elijah, beijando a cabeça de Katherine.

– Eu deveria ter contado à ela, Elijah.

– Não é tarde ainda. Acho que vocês três precisam disso, principalmente Elena e Isobel – Elijah respondeu sério – Vou deixa-las. Quando Isobel acordar, não esconda nada, Katherine.

Katherine assentiu, sabendo que Elijah estava certo, como sempre. Após ele sair do quarto, ela se aproximou da maca e sentou no banquinho que havia ali, segurando a mão de Isobel.

– Sinto muito, mãe – Katherine suspirou, deitando a cabeça na maca.

Katherine acabou adormecendo e quando acordou o céu já estava escuro e uma brisa suave vinha da janela. Ela se levantou e fechou-a, deixando a cortina aberta. Ligou o aquecedor e acendeu as luzes, só então percebeu que Isobel estava acordada, o olhar sério e a expressão dura.

– Mãe...

– Eu já refleti muito enquanto você dormia, Katherine – Disse Isobel, sem encarar a filha – E não consigo ver sentido no que ouvi Damon e Elijah conversando no escritório. Eu espero que você possa me explicar!

Katherine suspirou, tentando tirar forçar para falar toda a verdade. Era difícil para ela admitir que estava errada, que o que fez foi imperdoável. Desta vez, ela não tinha em quem ou o que colocar a culpa. Foi ideia dela, apenas isso! Como Isobel reagiria? Ela ficaria bem, certo? Eram essas coisas que passavam por sua mente enquanto ela caminhava até o banco com passos vacilantes e as mãos tremendo.

– Ok, eu vou contar – Ela suspirou, jogando os cabelos para trás e respirando fundo – Não era eu nesse último mês.

– Do que está falando, Katherine? – Isobel indagou, confusa.

– A garota que você conviveu nesse último mês... Não era! Era a minha irmã gêmea.

– Katherine... – Isobel suspirou – É impossível você ter uma irmã gêmea...

– Não é não! E eu tenho – Katherine sentiu as lágrimas escorreram enquanto ela despejava a dura verdade sobre Isobel – O nome dela é Elena e ela foi tirada de você por Grayson e Miranda.

– Grayson e Miranda? – Isobel não queria acreditar. Os amigos que ela tanto almejou, cuidou, foi fiel, fizeram isso à ela. Quanto tempo enganada? E a criança que tiraram dela?

Enquanto imaginava tantas possibilidades e lembrava do último mês, ela começou a chorar, sentindo seu coração se dilacerar no peito. Lembrando-se do sorriso doce que a suposta Katherine havia lhe dado, ela notou que aquilo era verdade. Cada pequeno detalhe, cada pequeno gesto, eram diferentes de Katherine. Agora tantas diferenças faziam sentido, mas não acalmavam seu coração de mãe.

– Por que... – Isobel fungou, coçando a garganta – Como isso aconteceu?

– Eu sinto muito, mãe – Katherine a abraçou, contaria tudo com mais calma, mas depois, agora Isobel não estava em condições de ouvir tanta coisa – Descanse, por favor.

– Não! – Isobel se desvencilhou do abraço da filha e a olhou com determinação – Eu quero vê-la... Deixei-me vê-la! – E tornou a chorar sendo amparada por Katherine que lhe acariciava os cabelos – Eu quero vê-la, Katherine.

– Eu sei, eu sei, eu vou trazê-la...

Minutos depois Isobel dormiu de exaustão com o rosto inchado de tanto chorar. Katherine olhou-a com pesar, se perguntando como poderiam haver pessoas tão cruéis no mundo ao ponto de destruir e desmembrar uma família. Será que se Elena houvesse crescido com eles, Isobel seria diferente, mesmo após a morte de John? Possibilidades que Katherine nunca saberia a resposta porque não havia jeito de obtê-las.

Ela saiu do quarto, encontrando Elijah ainda ali. Damon já não estava mais, o que a deixou aliviada. Para o que estava indo fazer, era melhor que ele não estivesse.

Katherine pegou o celular de Elijah já que havia esquecido o seu na pressa de chegar no hospital e discou os números do celular da irmã. Alguns segundos depois ela ouviu sua voz.

– Elijah? Por que está me ligando? – Katherine notou que ela parecia melhor do que da última vez que a havia visto.

– Elena... Você precisa vir ao hospital – Elena estranhou ao ouvir a voz desesperada de Katherine.

– Por que?

– Minha mãe... Não, nossa mãe... Ela descobriu tudo e passou mal. Ela está mal, Elena.

– Como ela descobriu?

– Ela ouviu uma conversa entre Damon e Elijah.

– Damon sabe? – Indagou indignada, sentindo seu coração saltar no peito – Como você pôde deixar ele descobrir?

– Eu não tive escolha, ele reconheceu que você não era eu. Vem logo, Elena, nossa mãe está pedindo para ver você.

Logo depois Elena desligou. Katherine não sabia qual era o estado de sua mãe, mas sabia que sua saúde era fraca. A única coisa que se passava pela sua cabeça era conceder esse desejo à ela: ver a filha perdida.

– O que houve? – Elijah que antes dormia, acordou, recebendo o celular de volta.

– Vá para casa, eu ficarei aqui – Disse Katherine.

– Não, eu vou ficar aqui.

– Elijah... Por favor – Elijah nunca antes havia visto Katherine tão... fraca, desolada, sem chão.

Mesmo sem querer, ele assentiu. Elijah a abraçou apertado e após um beijo em sua testa ele foi embora, deixando-a sozinha no corredor.

Katherine sentou-se no banco, sentindo seu corpo fraco. Há quanto tempo não comia? Estava tão preocupada com sua mãe que havia esquecido de si mesma. Isobel era tudo para si, não iria perde-la.

Katherine tornou a vestir o casaco e foi para a entrada do hospital esperar Elena, que após longos minutos chegou. Elas se encararam longamente, mas não disseram nada. Katherine segurou a mão de Elena e juntas elas foram até o quarto de Isobel.

– Eu vou deixar vocês – Disse Katherine.

– Você parece cansada – Elena observou – Vá para casa, eu fico com ela hoje.

– Tem certeza?

– Caro.

Katherine assentiu, deixando o quarto.

Elena suspirou e se aproximou. Isobel parecia diferente, era estranho vê-la em uma maca de hospital com a pele tão pálida como uma doente. Ela se sentou no banco e segurou a mão de Isobel entre as suas.

– Eu estou aqui, mãe – Elena beijou a mão de Isobel, fechando os olhos, só então percebeu as lágrimas que escorreram e sorriu. Era saudade. Saudade de uma mulher que há dois meses não era nada dela, mas agora era sua mãe – Não vou sair daqui.

E juntas, pela primeira vez em vinte e um anos, elas dormiram, sentindo a tranquilidade de estarem uma do lado da outra.