Clube de Fanfics escrita por Jane Viesseli


Capítulo 4
Segredo por Segredo, Meu Voto de Confiança pelo Seu!




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Kenichi, o diretor, era um nekomomo alto e esguio, com intensos olhos castanhos e orelhas pretas como os seus cabelos. Seu andar silencioso tornava-o quase letal para os alunos, que nunca notavam sua presença até ser tarde demais, como naquele exato momento em que Tayui e Seiji foram flagrados saindo de uma sala de aula redecorada com a destruição.

― Senhor K, que bom te ver, os garotos do basquete trouxeram sprays de tinta pra escola – começa Tayui, sagaz como sempre, tentando dar tempo à Seiji para inventar uma desculpa sobre o corte em seu lábio e a aparência desarrumada. – Como eu sei que pichação vai contra os princípios da escola, acho melhor averiguar…

― Sprays de tinta são o meu único problema no momento, Tayui? – questiona o diretor como se sugerisse alguma coisa, sem retirar os olhos de Seiji, que o encarava de volta.

― Sim, Senhor K, é só isso, eu juro! Você sabe que eu não uso mais os computadores da escola para entrar em sites impróprios, não sabe? Eu sou um novo homem depois da suspensão do ano passado, eu juro! – alega, levantando a mão direita para enfatizar o seu duplo juramento.

― É bom ver que, pelo menos com alguns, as medidas disciplinares funcionam! – ataca, desviando o olhar de Seiji por um momento. – Acho que você precisa ir, Tayui… Agora!

― Sim, Senhor K. É pra já, Senhor K. Nos vemos mais tarde, Seiji – despede-se rapidamente, sem de fato esperar por uma resposta.

Tayui acelera o passo em direção ao pátio. Ambos os nekos permaneceram onde estavam, silenciosos e estáticos, até que o kitsune já não pudesse mais ser visto.

― Pra minha sala, agora!

Seiji chia entre dentes, seguindo o diretor a uma distância segura e perguntando-se o motivo dele vir procurá-lo pessoalmente, quando nunca o fazia. Já não bastava ter ignorado suas mensagens de texto desde o começo do ano, implicitamente mostrando que não queria falar com ele? O que mais Seiji tinha que fazer para ser deixado em paz?

Levou poucos minutos para que ambos chegassem à diretoria, uma sala pequena e sóbria, com móveis simples, um computador, uma planta que permanecia com muito esforço, uma grande janela e sem nenhuma outra cor a não ser branco e tabaco. Atrás deles, esgueirando-se por trás dos objetos e escondendo-se em algumas salas de aula, com o caminhar mais suave que conseguia ter, vinha Tayui, os seguindo.

Não precisava ser um grande gênio para detectar a hostilidade trocada entre os dois nekos em um simples olhar. Entretanto, era necessária uma mente perspicaz e, ao mesmo tempo, corajosa, para se voltar contra o diretor e segui-lo a fim de descobrir o que estava acontecendo. Foi por este motivo que o kitsune os perseguiu até a diretoria e postou-se do lado de fora, colado contra a parede e a porta fechada, com as orelhas em pé e atentas a qualquer coisa que fosse pronunciada no interior da sala.

Kenichi aponta a cadeira com o dedo, numa ordem silenciosa para que Seiji se sentasse, mas ele recusou-se a obedecer, acendendo uma pequena centelha de raiva no interior do diretor:

― O que eu te falei sobre brigas, Seiji?

― Eles começaram, iam pichar as minhas coisas – explica na defensiva, também sentindo a raiva crescer em seu peito ao perceber que Kenichi não fazia questão nenhuma de acreditar em suas palavras. – Você ouviu Tayui, eles realmente tinham sprays de tinta… Eu gosto das minhas coisas, sabia? Não podia simplesmente ficar parado e vê-los estragar tudo!

― Não quero brigas aqui dentro, já lhe alertei sobre isso! Você abusa de seu privilégio de não ser expulso desta escola e mais ainda da minha paciência!

― Da sua paciência? É você que fica me mandando mensagens a todo momento… Eu não nomeei o seu contato como “Proibido” a toa, sabia? Fiz isso para, propositalmente, não contactá-lo!

― Não é como se eu gostasse de entrar em contato com você também, mas tive de fazê-lo desde que decidiu entrar no clube de fanfics, e este é o real motivo de tê-lo trazido aqui.

― O que tem o clube? Não estou fazendo nada ilegal, o regulamento da ESNyah não me proíbe de participar de dois clubes de incentivo estudantil e Misaki já disse que não se importa com minhas ausências, devido aos treinos…

― Não dou a mínima para o que o regulamento diz, você é um ímã para problemas e é isso que me preocupa! Quero apenas que fique ciente de uma coisa: eu só permiti a sua permanência no clube de fanfics porque Misaki precisa de outra pessoa na administração! Se não fosse por isso, se por algum motivo houvesse outro humano ou kemonomimi interessado nesse cargo, pode ter certeza que eu o tiraria de você!

― Por que isso agora? – Irrita-se ainda mais. – Eu estou fazendo tudo certo, não descumpri nenhuma regra e estou até fazendo amizades com os membros do clube.

― Não importa o quão bem você esteja indo agora, continua sendo uma péssima influência para todos os alunos, Seiji. É inteligente com computadores, mas vive arranjando encrenca; é o melhor rebatedor do time de beisebol, mas vive participando de brigas armadas; tenho até medo de imaginar quando isso começará a afetar negativamente o clube de fanfics e todos os que participam dele…

Seiji se cala por um momento, chocado. Era normal que Kenichi soubesse de algumas de suas confusões, afinal, a maioria delas aconteceu ali mesmo, na ESNyah, mas, em hipótese alguma, ele deveria saber da existência dos Eventos. O neko não sabia quando o gosto por violência havia começado no time de beisebol, somente que, quando ingressou, o Evento já existia e ele foi obrigado a participar, selando um acordo de confidencialidade junto a todos os jogadores da equipe.

Kenichi definitivamente não deveria ter ciência daquilo.

― O que foi, Seiji? Está surpreso por eu saber do seu segredinho sujo? – provoca. – Pois eu sei! E fique feliz por me fazer de desentendido e por não ter expulsado você e todos os seus amigos tolos, porque o que fazem é errado e passível de expulsão!

― Me deixe em paz, Kenichi, por que pega tanto no meu pé?

― Não tenho culpa se o meu pai me deu um irmão idiota! – ataca Kenichi, fazendo Tayui congelar do lado de fora e abrir a boca num perfeito “O”.

― Meio-irmão! – rebate Seiji. – Meio parentesco com você já é o suficiente pra mim, não tente transformar essa porcaria em algo completo!

― Tsc! Seu neko de merda – rosna o diretor, completamente ciente do quanto os seus nervos saíam do controle quando estava na presença de Seiji.

― Se era só isso que pretendia me dizer, considere dito! – esbraveja, dando as costas para o diretor e caminhando em direção à porta com passos pesados.

Tayui se afasta da porta com um solavanco, apressando-se em direção a primeira porta que encontrou pelo caminho e se escondendo, caindo aleatoriamente dentro do laboratório de química. Coincidentemente ao seu momento de fuga, o sinal para o retorno das aulas ressoa, ajudando-o a evitar Seiji e dando-lhe ainda mais tempo para digerir tudo o que tinha escutado.

Calmamente, após ouvir os passos acelerados de Seiji desaparecendo do corredor, Tayui saiu do laboratório de química e se afastou da diretoria, misturando-se aos demais alunos antes que pudesse ser questionado sobre a sua localização, já que sua próxima aula seria na quadra e ele estava bem longe dela… Lutas arranjadas? Ser meio-irmão do diretor? Era muita coisa para processar e o kitsunemomo tinha até o fim das aulas para decidir o que fazer com aquelas informações, pois se recusava a ir embora sem questionar Seiji a respeito.

O kitsune sequer compareceu às atividades do clube naquele dia, acreditando não ser capaz de ficar dentro da mesma sala que Seiji, sem confrontá-lo com o assunto de mais cedo. Em vez disso, ele escondeu-se num ponto qualquer da entrada da ESNyah, aguardando o final de todas as atividades para que pudesse abordar o neko sozinho.

Tayui sabia que eles não eram grandes amigos e que Seiji depositava mais confiança em outros kemonomimis do que nos kitsunes. Aquilo não era algo que precisa ser falado, uma vez que era perceptível no comportamento do neko, que nunca o deixava se aproximar – mesmo que ele quisesse… Entretanto, depois de tanto tempo trabalhando juntos para o bem do clube e de Misaki, o kitsune sentiu-se no direito de abordá-lo diretamente sobre as suas brigas, com medo de que as previsões do diretor se tornassem reais e isso viesse a prejudicar tudo o que eles estavam lutando para manter em pé.

Quando todas as atividades terminaram, Tayui observou com paciência a saída de todos os alunos, até que só restassem Misaki e Seiji para trás. Ele aguardou a nekomimi se afastar, pois a conhecia bem demais e sabia que ela retornaria para o interior da escola em busca de algum objeto esquecido, e quando isso aconteceu, o kitsune encontrou sua chance de agir.

― Seiji, precisamos conversar! – intima Tayui, saindo de seu esconderijo sem conseguir esconder que algo o incomodava, fazendo o neko se aproximar no mesmo instante.

― O que aconteceu?

― Temos que falar sobre sua conversa com o Senhor K – inicia, irritando-se logo em seguida ao ver o semblante de Seiji, que planejava fingir não saber do que ele estava falando. – Eu estava lá, Seiji. Segui vocês dois e ouvi a tudo o que disseram, portanto, não ouse fazer essa cara de desentendido para mim!

― O quanto você ouviu? – questiona na defensiva.

― O suficiente sobre as lutas arranjadas para me preocupar. Isso pode interferir no clube de fanfics de alguma forma?

― É claro que não! Não dê ouvidos ao que o Sr. Kenichi diz, eu nunca permitiria que algo de ruim acontecesse ao clube ou à Misaki. Posso não ser um escritor, mas gosto desse mundo, gosto desse clube e gosto de todos aquelas pessoas…

― Você promete? Isso é algo muito sério, Seiji. Uma coisa é você se desentender com alguém dentro da escola e brigar, mas lutar organizadas estão muito além disso. Eu tenho a sua palavra de que isso não vai interferir no clube, ou trazer problemas à Misaki, ou a qualquer outro membro?

― Sim, eu prometo! Você tem minha palavra de que não vai trazer problemas ao clube, ou à Misaki, ou a qualquer outro membro! – diz com convicção, desejando que ao menos Tayui acreditasse em suas palavras e cresse que ele não era a má influência que Kenichi tanto afirmava.

― Eu acredito em você – afirma Tayui, engolindo em seco e lhe dando um voto de confiança, mesmo que parte de sua mente lhe mandasse ter cuidado. – Por que não me contou que é meio irmão do diretor? – lança de repente, não querendo que tal informação passasse despercebida, pois se Seiji continuasse a tratá-lo como um kitsune a quem não podia confiar, ele também não seria capaz de confiar nele.

― Se contar o que ouviu aqui, para alguém, vou bater em você até suas orelhas caírem, entendeu? – ameaça Seiji, não lhe dando nenhuma informação nova, mas também não negando o fato.

― Eu não pretendia contar, apesar de achar que Misaki deveria saber – admite seriamente, percebendo que Seiji não estava para brincadeiras naquele momento, mas sentindo-se aliviado por ele não ter fugido do assunto. Aquilo poderia não significar grandes coisas para outro kemonomimi, mas para Tayui, representava o princípio da confiança entre eles. – Em vez disso, vou confidenciar a você o meu segredo… Eu guardarei o seu e você o meu, o que acha?

― Segredo por segredo? Me parece justo!

― Antes de tudo, quero que saiba que nunca contei isso a ninguém, nem mesmo à minha mãe ou à Misaki, porém, contarei a você como uma prova de confiança.

― Certo, eu entendo – confirma Seiji, balançando a cabeça positivamente.

― Eu tenho um Riddikulus.

― E que droga é um Riddikulus? Um inseto exótico? – Faz uma careta.

Riddikulus é uma magia da série Harry Potter, usada para combater o Bicho-Papão…

Seiji estreita os olhos por alguns segundos. Tayui não era do tipo que fazia uso de meias-palavras, sempre que queria dizer algo, o fazia claramente; mas, naquele instante, ele estava sendo vago e misterioso, como se quisesse que o neko refletisse sobre tudo o que dizia, para conseguir compreender o real significado de sua mensagem e a profundidade de seu segredo. E foi exatamente o que Seiji fez, refletiu, chegando a conclusão que: se ele admitia que tinha uma magia para combater o Bicho-Papão, é porque ele tinha um Bicho-Papão, algo que o perseguia e o amedrontava.

― Quem é o seu Bicho-Papão? – questiona Seiji, num misto de mistério e curiosidade.

― A morte! – confessa Tayui com seriedade. – Eu tenho medo de morrer.

― Impossível, você frequentemente faz piadas sobre morrer – diz Seiji, confuso.— Nunca quer levar recados urgentes porque correr pode matá-lo, fica mendigando bolinhos dos outros porque se passar vontade vai acabar morrendo, não quer fazer dieta porque a falta de açúcar pode deixá-lo triste e levá-lo a morte e, na semana passada, você se recusou a ajudar na limpeza do clube porque poderia morrer com o esforço de limpar o chão…

― O Riddikulus é assim… Transforma o seu medo em algo engraçado para que você não tenha mais medo dele – explica, dando uma risada amarga. – Tenho uma doença cardíaca que pode me matar a qualquer momento, um coração hipertrófico que pode parar de uma hora para outra, no que os médicos chamam de morte súbita. Num minuto estarei aqui e no outro, não… Minha mãe tem medo que eu morra e, todos os dias, acordo com medo de que seja o meu último… Faço piadas sobre a morte para não ter medo dela, para tentar aliviar a tensão que paira sobre a minha família, porque quando tiver que acontecer, vai acontecer e ninguém poderá fazer nada para impedir.

― Tayui, eu…

― Ninguém é quem realmente aparenta ser, não é? – Sorri levemente. – Esse é o meu segredo, Seiji, e você é a primeira pessoa para quem o conto. Estou dando o meu voto de confiança a você, da mesma forma que você agora precisa confiar em mim quanto ao que eu descobri sobre sua vida conclui, deixando o neko completamente perplexo com o peso de seu segredo, pois nunca havia imaginado que por trás de sua inteligência, de suas piadas sobre a morte ou do seu gosto exagerado por histórias hentai, habitava um medo tão profundo. – Cuide bem do meu segredo, porque vou cuidar muito bem do seu…

Tayui dá alguns passos em direção ao portão principal, parando momentaneamente ao perceber que não estava sendo seguido e encarando Seiji com um semblante debochado, tentando desfazer o tenso clima que pairava no ar:

― Vamos comer, onii-chan, ou, em vez de morrer do coração, morrerei de fome! Dessa vez eu pago… Vai ser o meu pedido de desculpas pela ligação a cobrar!

― Tsc! Idiota! – Ri levemente, seguindo-o em direção a saída e sentindo, pela primeira vez, que poderia confiar em Tayui sem medo. – Eu não sou onii-chan de pessoas pervertidas!

― Ah, olha quem fala! Aposto que hentai, lemon e orange foram as primeiras palavras que você decorou do vocabulário fanfiqueiro, porque são todas relacionadas a sexo – acusa, apontando-o com o indicador.

― Mas o que… Como você sabe… Eu não… – gagueja Seiji, sentindo o rosto queimar com o palpite certeiro do kitsune.

― Ahá, eu sabia. – Ri. – Seiji, seu tarado!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
A briga do capítulo anterior, na verdade, foi para dar abertura aos acontecimentos desse capítulo... Lembro a todos que "Clube de Fanfics" será uma fanfic de apenas 10 capítulos (isso já era planejado desde o começo), mas espero que gostem da história mesmo assim.
Estou me sentindo meio enferrujada pra escrever ainda, mas espero que curtam o que preparei para o enredo.
Até a próxima atualização.



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