Laissez-aller escrita por Eckl


Capítulo 4
Carmem


Notas iniciais do capítulo

Demorei de novo, né? Foi mal, mas é que eu acabei me desestimulando. Mas cá estou eu novamente. Dessa vez vamos dar uma olhada em Carmem e seus sentimentos confusos por dois de seus amigos. Esse capítulo não é muito dramático, é meio que neutro, mas eu até que gostei de escreve-lo. Não esqueçam que o capítulo agora sai primeiro no tumblr da fic (http://ecklsplace.tumblr.com/). Passem lá apara apoiar a página. Sigam, deem likes (mas não rebloguem!). Lá temos mais alguns detalhes sobre as personagens e sobre a história em si. Ah, é! A house party do Davi continua nesse capítulo (e acho que vai continuar por mais uns dois ou três capítulos).



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Uma. Duas. Três. Sete. Dez. Uma dúzia de mensagens fizeram o celular da garota vibrar ruidosamente sobre a mesa de madeira desgastada. A cada vez que o enfadonho barulho chamava sua atenção, Carmem se enfurecia. Não precisava ler para saber qual o conteúdo das mensagens, porque os amigos estavam a incomodando desde as duas da tarde. “Carmem, não esqueça a festa do Davi.” “Não vai furar de novo, Cá!” E não eram apenas mensagens de texto, só da Maria Joaquina já haviam sido oito chamadas. Mais duas da Valéria e uma surpreendente do Jaime.

Para Carmem, a expressão vida fácil não tinha muito sentido. Desde que se recordava, sua família tinha dificuldades para fechar o orçamento no fim do mês e por diversas vezes uma ou outra conta ficava sem ser quitada. E ela cresceu assim. A família sempre viveu de maneira simplória e Carmem sempre foi a mais simples das garotas. E a mais fofa, a mais amada e a mais esforçada. Até porque nada para ela vinha fácil, tudo era suado, tudo era difícil, tudo necessitava um esforço que seria demais para qualquer uma de suas amigas mais financeiramente saudáveis, mas não para ela que já estava habituada demais à situação financeira em que vivia com seus pais e seu irmão. E o mais interessante é que nenhuma das dificuldades ou lutas ou pormenores de sua vida dividida entre escola, curso e trabalho, o sorriso no rosto da garota era imutavelmente gracioso.

“Nada de festa até eu terminar esse projeto.” Mentalizava a menina que lia e escrevia freneticamente. Além de tudo, Carmem é aplicada. Não é inteligente como Daniel nem rica como os outros e, para manter a bolsa de estudos, precisa que suas notas estejam sempre altas. Por isso estava ignorando a festa e seus amigos, mesmo que quisesse estar lá com eles. A técnica estava funcionando bem até que seu celular vibrou mais uma vez por volta das onze e meia da noite. Em primeiro impulso ela ignorou novamente, porém ao ver qual número a incomodava dessa vez ela avançou tão rápido para apanhar o aparelho que quase o derrubou.

— Alô. Paulo? – Ela tentou não demonstrar em sua voz o que sentia.

— Carmem. Onde você está?

— Em casa terminando o projeto de Biologia. Por quê? – Indagou. O misto de certa dúvida e empolgação começando a crescer nela.

— Certo, certo. Quer que eu vá te buscar? – Se ofereceu Paulo do outro lado da linha.

— Hmm... – A garota ponderou por alguns instantes. O projeto era importante demais para ser abandonado. Todavia a suposta seriedade monótona na voz do outro lado a fazia querer jogar tudo para o alto e ir com para onde quer que ele a levasse. – Se não for incomodar...

— Não vai. – Ele a interrompeu. – Espera só um pouco que estou chegando.

— Paulo, não... – Ela foi interrompida mais uma vez quando o rapaz encerrou a chamada. Sem muitas alternativas, ela tomou um banho muito rápido e pôs um vestido, arrumou o cabelo em um perfeito rabo de cavalo, colocou as lentes de contato, deu uma desculpa qualquer para sua mãe que ainda achava que sua garota estava acima de qualquer suspeita e entrou no táxi com Paulo assim que o rapaz chegou para apanhá-la.

— Então... – O rapaz se aproximou dela. A mão esquerda pousou discretamente na perna da garota. Paulo cheirou-a no pescoço e mordeu-a no lóbulo da orelha. A menina suspirou de leve e entrou em estado de quase êxtase por alguns instantes. Apesar de ser uma garota forte, aquela era uma das poucas fraquezas de Carmem: Paulo. O calor do corpo dele, cada toque, cada palavra a deixava inebriada e ela embarcava fácil em qualquer viagem abstrata que ele a guiasse. A mão boba do garoto perambulou pela perna dela enquanto sua boca já beijava a de Carmem, que retribuía quase que toda submissa.

— Paulo, espera... – Depois de uma intensa batalha intensa, a vontade da razão conseguiu subjugar os anseios do corpo e a jovem afastou o menino de si enfim. – Eu não quero começar tudo de novo... – Ela foi interrompida novamente, dessa vez por um simples dedo nos lábios.

— Começar o que? Carmem, eu gosto muito de você. – Ele retirou o dedo dos lábios dela assim que percebeu que ela o ouviria. – Eu sei que eu errei feio várias vezes, mas eu me arrependi. – A expressão no rosto dela não demonstrava nenhum sinal de que ela acreditava nas palavras dele. – Acredita em mim, Carmem, por favor, acredita. Eu me arrependi de verdade. É sério.

— Você se arrepende muito desde que a gente era criança, Paulo, e, sinceramente, nunca vi mudança real. – Ela disse sem encarar o garoto, que já preparava a carinha de coitado que tanto a desarmava.

Quando ela achou que ele iria iniciar mais de seus discursos sem fundamento nenhum e repletos de promessas vazias, ele a surpreendeu agarrando-a pela cintura e a puxando para mais perto, colando seus corpos e seus lábios e num beijo quase lascivo. Por mais que a razão gritasse que aquilo não era uma boa ideia e não seria nem em um milhão de anos, seu corpo a traiu e lá estava Carmem mais uma vez nos braços de Paulo correspondendo o beijo no mesmo calor. A mão boba dele entrou em ação mais uma vez passeando livre pela perna dela a partir do joelho parando por preciosos segundos para apertar a parte interna da coxa. Exatamente onde o calor era maior e a umidade também foi que a mão se deteve. O indicador e o médio se contentaram em dedilhar a área mais sensível entre as pernas da garota sobre o tecido macio de sua roupa de baixo. Carmem não mais conseguia conter seu corpo e sua respiração estava descompassada e ruidosa. Ela se amaldiçoava em pensamentos por estar mais uma vez se deixando entregar ao que parecia ser o mais prazeroso dos erros enquanto a outra mão de Paulo já se ocupava sem cerimônias de um dos seios dela.

— Se os dois não quiserem ficar por aqui mesmo, é melhor parar com isso no meu táxi. – Foi apenas com a ríspida voz do taxista que Carmem conseguiu despertar do transe em que se encontrava para afastar Paulo de si. A respiração ainda estava descompassada e a garota arfava como se ali o ar fosse difícil. Ainda bastante embaraçada, ela se desculpou com o homem que dirigia e deu umas tapinhas no braço do garoto ao seu lado ao perceber seu sorrisinho satisfeito.

— Eu não sei por que você insiste tanto. – Ela repreendeu o jovem com uma cara que mesclava vergonha e raiva.

— Porque você gosta. – Ele respondeu ainda sorrindo. – E nem adianta negar.

— Cala a boca, Paulo.

O resto do caminho foi todo com ela encarando a paisagem do lado de fora da janela e dando as costas ao garoto enquanto ele tecia comentários e listava as qualidades que faziam dele um namorado perfeito. Ela fingia ignorar, porém organizava o que ela concordava e o que discordava da lista dele em sua cabeça. E antes que ele a convencesse a se deixar levar novamente, o carro parou à porta da casa de Davi, onde um pequeno tumulto estava formado. Ao perguntarem a uma garota ruiva que estava por ali arrumando os cabelos, a resposta não pareceu chocar nenhum dos dois.

— A louca da Valéria... – E tudo pareceu se explicar automaticamente na cabeça dos dois, que interromperam a garota ao sair em busca da amiga. Eles bem sabiam que Valéria enfurecida era igual a problemas king size.

Na grande garagem da residência dos Rabinovich, área principal da festa, apenas Adriano e Davi se mostravam como rostos mais amigos. Adriano viajava tão alto que seus olhos já estavam a ficar esbranquiçados, portanto de nada adiantava interroga-lo, então Davi se fez a escolha mais obviamente sensata. Sem necessidade de uma interpelação, o judeu começou a contar o acontecido assim que os dois se aproximaram dele.

 

.  .  .

 

Parcialmente deitado na cama de Davi, Mário ainda estava levemente atordoado quando Paulo e Carmem entraram. Valéria estava sentada à beira da cama murmurando desculpas e perdões aos amigos. Cirilo e Maria Joaquina estavam lá também batendo papo com Jaime, que estava completamente desgrenhado. Antes de ir até o amigo na cama, Carmem se dirigiu até Maria e a abraçou em cumprimento. Um sorriso amigável foi direcionado a Cirilo.

— Antes tarde do que never, Cá! – Joaquina disse descontraidamente.

— A culpa por eu estar é do Paulo, que foi me buscar em casa. – Carmem respondeu já virando sua atenção para Jaime. – E você, Jaime? Estava na confusão também?

— Tecnicamente. Quem mais aqui consegue segurar a Valéria quando ela entra no modo Hulk?

— O que aconteceu exatamente? O Davi me contou lá embaixo, mas algo me diz que ele está omitindo muitos fatos importantes. – Carmem lançou a pergunta para qualquer um dos três que quisesse responder.

Maria Joaquina fez um resumo do que de fato acontecera sem parar para respirar em nenhum momento. Ao final, Paulo se encontrava atrás de Carmem com um dos braços em volta de sua cintura. A garota percebeu os olhares confusos dos três amigos quando ela não se desvencilhou do rapaz.

— Paulo, chega né. – Disse ela ao se separar dele para ir checar como Mário estava. Felizmente ele já estava melhor, apenas a cabeça doía onde Valéria o acertara.

A noite parecia estar caminhando para a normalidade ao passo que a festa voltara a acontecer, os convidados a enlouquecer na música, no álcool e no que mais que os deixasse em estado de êxtase festivo. Isso até um dos primos do Davi adentrar o quarto para falar que um garoto loiro que parecia estar muito alterado estava passando mal num dos banheiros da casa. Todos ali trocaram olhares. Todos ali tiveram o mesmo pensamento: Adriano. Mas apenas uma pessoa dali saiu em ajuda dele. Paulo não ficou nem um pouco feliz quando Carmem deixou o aposento em direção ao local onde Adriano estava.

 

.  .  .

 

No banheiro, Adriano estava debruçado sobre o vaso sanitário vomitando. Carmem rapidamente se pôs ao lado dele. Era óbvio que ele não estava em seu estado normal. Se bem que “estar em seu estado normal”, no caso do garoto, era algo um tanto quanto insueto. A mistura de maconha e álcool não era muito boa. Adriano estava sempre com um cigarrinho de marijuana e mais da erva em um pacotinho em algum de seus bolsos. Ele frequentemente está alto pela maconha e quando não está, é visivelmente sequelado. Todavia, ele conseguira chegar ao coração de Carmem de alguma forma que nem ela entendia. E a ciência de que ele era muito apaixonado por ela era algo que a garota tinha. Mas ela sempre tivera medo de não conseguir corresponder tais sentimentos a altura e acabar por machucar o rapaz.

— Drico, você tá muito mal? – Ela perguntou em um volume de voz baixo quando já estava bem próxima dele.

— Carmem? – Ele ergueu a cabeça para olhar para ela. – O que você está fazendo aqui? – A expressão de doente no rosto dele se fundiu com um profundo embaraço. Carmem era a última pessoa no mundo que ele queria que o visse naquele estado. A pele branca do rapaz empalidecida pelo mal estar ruborizou rapidamente. – Não... Eu... Você... Não... Sai... – As palavras se embaralhavam completamente e se perdiam no trajeto cérebro-boca, o que resultava nuns vocábulos soltos que não faziam o menor sentido. Ele, depois de uns instantes e mais alguns jatos expelidos, se levantou, lavou o rosto, se apoiou em uma parede e se dirigiu a Carmem. – Desculpa, Cá. Não era pra você me ver nesse estado. – A tontura não o deixou caminhar direito quando tentou ir em direção à saída.

— Para, Drico. Deixa eu te ajudar. – Disse ela se colocando sob um dos braços dele para auxilia-lo em seu caminhar. Após algumas recusas, ele finalmente permitiu e ambos caminharam até um dos quartos indicados por Davi. Ela o ajudou a deitar e sentou na cama bem perto dele. Os orbes do rapaz eram os mais bonitos que Carmem já vira e o olhar o mais puro e sincero.

— Você já pode ir. – Disse Adriano um tanto quanto sério, que, depois de um tempo e vários copos d’água, já estava voltando à sobriedade. – Não precisa ficar aqui tomando conta de mim. Vai lá curtir a festa com o Paulo.

— Não seja bobo. Por que eu não ficaria aqui? Você não está bem e eu não vou te deixar sozinho.

O rapaz desviou o olhar e uma lágrima escorreu solitária por sua face. O desconforto por Carmem estar ali naquele momento era enorme e a garota percebeu. Entretanto ela não é o tipo de pessoa que abandona os que gosta, mesmo contra a vontade deles. Ela estendeu a mão até o rosto dele e o acariciou. – Você não precisa se envergonhar, Drico. Por quantas coisas a gente já passou? A gente já se conhece há tanto tempo que nem faz sentido você ter vergonha de mim. – O sorriso dela era tão confortante que ele se envergonhou por estar envergonhado. Ele quis se desculpar mais uma vez, mas ela o impediu. – Não precisa se desculpar, querido.

— Fica comigo, então. – Ele pediu.

— Eu já estou aqui. – Ela respondeu com o mesmo sorriso aconchegante.

— Não... Eu quero dizer... Aqui. – Ele indicou o lugar ao lado dele na cama.

Ela não conseguiu esconder a surpresa pelo modo repentino como o pedido surgiu. Estranhamente, ela queria abraçar Adriano e ficar ali até que tudo se ajeitasse, até que ela conseguisse organizar tudo que sentia, pois confusão era a palavra mais adequada para descrever como ela estava em relação a seus sentimentos. Ela sentia uma poderosa atração por Paulo e nutria intensos sentimentos por Adriano e qualquer que fosse a maneira que olhasse essa situação, ela sempre via alguém saindo ferido. Eram poucas as vezes que ela deliberadamente deixava de ouvir sua razão e seguia seu coração e aquela foi uma dessas vezes. Sua cabeça dizia para resistir e apenas ficar ali como uma amiga a apoiar um amigo, mas seu coração pedia pelo loiro que ali a encarava com um olhar acolhedor.

Com um sorriso, ela deitou-se ao lado de Adriano, a cabeça sobre o peito do rapaz e os braços em volta dele calorosamente. Ele, por sua vez, abraçou Carmem com carinho. E eles conversaram sobre tudo que era agradável para se falar naquele momento e riram de leve e trocaram carícias e se aninharam ainda mais um no outro. E se deixaram ali, como se nada mais fosse tão importante, como se aquele momento e aquela pessoa fossem os únicos em todo o mundo. E eles cultivaram sentimentos.

— Ei, Carmem, sabe de uma coisa? – Adriano perguntou despretensiosamente.

— O que? – Carmem indagou ainda deitada na mesma posição e com o mesmo sorriso satisfeito.

— Eu te amo.


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Notas finais do capítulo

Gostaram?! Espero que sim! Já tenho meio que um esqueleto do próximo capítulo, mas só vou postar se tiver estimulado o suficiente. Comentem, favoritem, RECOMENDEM e favoritem e comentem e RECOMENDEM. Ah, é! Não esqueçam de recomendar! Hahaha! Também não esqueça de visitar o tumblr oficial da fic (http://ecklsplace.tumblr.com/). Vamos apoiar a história? Opiniões? Dicas? Sou todo ouvidos (olhos, no caso). Até mais, meus amorecos!